sábado, 31 de dezembro de 2022

Subsequent Pleasures - XYMOX

                                            

  Clan Of Xymox Demo's
1 A Day (Where Are You) (Xymox)   6:00
2 Stumble And Fall (Xymox)   6:12
3 No Words (Xymox)   5:31
4 Stranger (Xymox)   5:45
5 Equal Ways (Xymox)   6:03
6 7th Time (Xymox)   6:55
  Subsequent Pleasures
7 Going Round (Xymox)   4:40
8 Moscovite Musquito (Xymox)   4:33
9 Strange 9 To 9 (Xymox)   4:32
10 Call It Weird (Xymox)   3:51
11 Abysmal Thoughts (Xymox)   4:35   

As origens dos neerlandeses Clan of Xymox remontam à cidade de Nijmegen, no ano de 1983. Durante o período inicial, o projeto de Ronny Moorings e Anke Wolbert designava-se apenas como Xymox e foi sob esta denominação que em 1984 gravaram e editaram, em nome próprio, um registo vinil de 12" composto por cinco músicas, limitado a 500 cópias e intitulado 'Subsequent Pleasures'. 

Considerado pelos Xymox como um trabalho inexperiente, pela falta de domínio técnico dos instrumentos e de todo o processo de gravação, feito em casa com um gravador portátil de quatro pistas, levou a que os próprios olhem para 'Subsequent Pleasures' apenas como um registo experimental que se limita a revelar o período de iniciação da banda, pelo que nunca se ponderou a sua reedição. A salientar que por esta altura, os Xymox já se tinham mudado para Amesterdão.

Ainda neste mesmo ano, de 1984, os Xymox adquiriam mais um elemento, Pieter Nooten, e iriam gravar uma nova demo, desta vez em estúdio utilizando um gravador de oito pistas. Seria com esta demo que os Xymox se iriam apresentar perante a prestigiada editora independente britânica 4AD e foram a primeira banda a assinar com a 4AD depois dos Dead Can Dance ... num período de dois anos. O primeiro registo oficial foi editado em 1985 já sob a designação Clan of Xymox. 

Em 1994, apenas como Xymox novamente, a banda cedeu aos pedidos dos fans e decidiu comemorar a excelência dos dez anos de "Subsequent Pleasures" com a sua reedição, a que juntou ainda as demo, gravadas no mesmo ano, que deram origem à edição do seu primeiro registo oficial já com o selo da 4AD. É uma edição em formato CD, própria para colecionadores ou para curiosos afetos aos primórdios do projeto de Ronny Moorings, e não desilude. As duas gravações estão bem separadas e permitem perceber que, apesar da inexperiência, o projeto Xymox estavam bem delineado logo desde o seu início. 

A ordem do registo inicia com as seis demos que deram origem ao álbum 'Clan of Xymox', sendo notório o aproveitamento total da maqueta. A comparação com o resultado final obtido na produção da 4AD é agora inevitável e facilmente se conclui que apesar de bem polidas, arranjadas e trabalhadas com novos sons para o registo de 1985, as demos originais, dada a limitação técnica da banda, são extremamente ricas em termos de criatividade e genuinidade o que as torna num magnífico complemento à edição original da 4AD.  

Seguem-se as cinco composições que integram a edição caseira de 'Subsequent Pleasures', satisfazendo assim a vontade daqueles que nunca tiveram contato com a edição única de 1984. Uma peça de trabalho experimental, resoluta e afirmativa, impregnada de uma pureza extraordinária. Os Xymox aventuravam-se nos desígnios de uma pop escura e maquinal, assombrada pela sombria ambiência dos sintetizadores, a que não falta o manifesto de alguma ousadia punk. Esta é uma vertente mais sombria da New Wave e do Post-Punk designada como Dark Wave. E o estilo gótico mora mesmo aqui ao lado.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2022

In Love We Trust - CLAN OF XYMOX


1 Emily (R. Moorings)   3:53
2 Hail Mary (R. Moorings)   4:56
3 Desdemona (R. Moorings)   4:37
4 Judas (R. Moorings)   5:21
5 In Love We Trust (R. Moorings)   4:29
6 Sea Of Doubt (R. Moorings)   5:04
7 Morning Glow (R. Moorings)   5:31
8 Home Sweet Home (R. Moorings)   4:36
9 Love Got Lost (R. Moorings)   4:36
10 On A Mission (R. Moorings)   5:14 

A forte dedicação do neerlandês Ronny Moorings ao seu projeto Clan Of Xymox manteve viva a atividade de um dos nomes mais adorados do período gótico da década de 1980, até aos dias de hoje. Longe do circuito mainstream que rege a popular divulgação da música pop/rock e afins comerciais, a devoção aos Clan of Xymox estende-se entre uma minoria que desde cedo percebeu estar perante algo especial. Este é um circuito mais fechado que acaba por restringir a divulgação da banda mas cria uma ligação de intimidade com algo que é tão "nosso" e de mais ninguém. E ao fim de tantos anos, sempre em permanente atividade, impõe-se o devido respeito por aquele que é um dos nomes pioneiros da dark wave.

Editado em 2009, "In Love We Trust" é um álbum adorável e algo inesperado, pelo qual é fácil apaixonarmo-nos. Tem uma coesão extraordinária, sem deslizes, envolta pela subtileza de atmosferas fantásticas que carregam uma aura possante, nebulosa e sombria, dominada pela fluidez dos sintetizadores em perfeita sintonia com a voz de Moorings e com as guitarras a fazerem aparições discretas mas fundamentais no resplandecer de uma paisagem ofuscante. As músicas surgem contextualizadas na delicada textura de uma pop gélida feita de canções obscuras e melancólicas, como o estilo pede, nas quais se podem encontrar momentos cativantes como "Emily" e "Hail Mary", a assombrosa profundidade de "Desdemona", o sombrio caráter dançável de "Judas", a sólida linearidade de "In Love We Trust", a expressiva emotividade de peças como "Sea Of Doubt" e "Home Sweet Home", o brilho sujo de "Morning Glow" e até a revelação de uma faceta electrónica mais intensa em "Love Got Lost" e "On A Mission".

Ao décimo trabalho, os Clan of Xymox estão mais recomendáveis do que nunca ... e a história tem continuação ...

sábado, 26 de novembro de 2022

Nº4 - THE SPOTNICKS


   Lado A
1 Piercing The Unknown (Gusten/Winberg)   2:05
2 Autumn in Japan (Gusten/Winberg)   2:45
3 Playboy's Bunny Hop (Gusten/Winberg)   2:00
4 Look Up To The Evening Star (T. Izumi/R. Ei)   2:20
5 Drum Diddley (Moorhouse/Rees)   1:50
6 The Old Love Letters (H. Hayakawa)   2:48 
   Lado B
1 Crying In A Storm (Y. Nakajima/R. H. River)   2:25
2 Memory Of Summer (D. Suzuki)   1:55 
3 Husky (R. Bryant)   4:52
4 From Russia With Love (L. Bart)   3:31
5 Happy Silence (H. Miyagawa/K. Yasui)   2:10
6 Ode To Dawn (T. Izumi/T. Iwatani)   2:25 

Os Frazers formaram-se no ano de 1958 na cidade de Gotemburgo, Suécia, mas pouco tempo antes da edição do primeiro single, em 1961, decidiram mudar o nome para Spotnicks. O grupo alcançou notoriedade com alguma rapidez e no espaço de um ano já fazia concertos na Alemanha, Inglaterra, França e Espanha, chegando a tornar-se, à época, na banda Sueca de maior renome mundial; ao que não deixa de ser curioso o facto de que o management da fase inicial dos Spotnicks fosse gerido por Stig "Stikkan" Andersson, que alguns anos depois viria a ser o manager de outra banda Sueca de enorme projeção mundial ... os ABBA. 

Na capa de um dos primeiros EP os Spotnicks surgiram vestidos de astronautas, visual que se tornou numa imagem de marca e que a banda teve de carregar consigo para os concertos durante algum tempo. À data da edição deste registo, em 1966, a banda já não usava essa imagem.

Musicalmente, os Spotnicks eram como que uma banda "gémea" dos britânicos Shadows e dos norte-americanos Ventures. Rock'n roll instrumental, límpido e harmonioso, com laivos de música surfNos primeiros anos de atividade funcionaram como um quarteto, composto por duas guitarras, baixo e bateria, passando ao formato de quinteto em 1965, com a adição de um teclista. O registo aqui apresentado terá sido editado em 1966, foi apenas denominado como "Nº4", e trata-se de uma compilação elaborada pela editora francesa Président tendo como base os três EP de 7", que a Président também editou, retirados do álbum original "In Tokyo" editado no mesmo ano pela editora sueca Swedisc. 

No entanto, a falta de algum rigor com esta edição incorre em que o alinhamento apresentado na capa do álbum não coincida na sua totalidade com o alinhamento apresentado no próprio disco. Não só o tempo de duração das músicas não coincide com a maior parte delas como a última faixa, "Ode To Dawn", não consta realmente desta edição.

Uma última curiosidade associada a este período dos Spotnicks é a presença do baterista inglês Jimmie Nicol, relevante nesta edição pela prestação bastante expressiva em "Drum Diddley" e "Husky". No entanto, a história de Jimmie Nicol com o rock ficaria marcada pelo breve episódio em que foi baterista dos Beatles por um curto período de tempo, durante o qual Ringo Starr esteve hospitalizado e a banda britânica precisava de assumir os compromissos de uma digressão que iria passar por três continentes, em Junho de 1964. O sonho de Nicol terminou ao fim de duas semanas, quando Ringo regressou para ocupar firmemente a sua posição atrás da bateria. 

Entre várias mudanças e algum pára-e-arranca, os Spotnicks foram mantendo a sua atividade ao longo das várias décadas seguintes e só pararam definitivemente em 2020, com a morte dos guitarristas Bo Winberg e Bob Lander que eram os últimos elementos originais ainda vivos. Os Spotnicks fizeram o seu último concerto em Março de 2019.

sexta-feira, 11 de novembro de 2022

X - KYLIE MINOGUE


1 2 Hearts (J. Eliot/M. Stilwell)   2:52
2 Like a Drug (Mich H. Hansen/J. Jeberg/E. Andrina/A. Powers)   3:15   
3 In My Arms (K. Minogue/C. Harris/R. Stannard/P. Harris/J. Peake)   3:30
4 Speakerphone (C. Karlsson/P. Winnberg/H. Jonback/K. Ahlund)   3:52
5 Sensitized (G. Chambers/C. Dennis/S. Gainsbourg)   3:55
6 Heart Beat Rock (K. Minogue/K. Poole/C. Harris/J. Lipsey)   3:22
7 The One (K. Minogue/R. Stannard/J. Wiltshire/R. Small/J. Andersson/J. Emmoth/E. Holmgren)   4:03
8 No More Rain (K. Minogue/K. Poole/C. Karlsson/P. Winnberg/J. Quant)   3:58
9 All I See (J. Jeberg/Mich H. Hansen/E. Serrano/R. Calhoun)   3:02
10 Stars (K. Minogue/R. Stannard/P. Harris/J. Peake)   3:40
11 Wow (K. Minogue/K. Poole/G. Kurstin)   3:11
12 Nu-di-ty (K. Poole/C. Karlsson/P. Winnberg)   3:01
13 Cosmic (K. Minogue/Eg White)   3:07

De matriz deliciosamente pop, 'X' foi editado em 2007 e marca o saudável regresso da Australiana Kylie Minogue aos discos depois de um interregno de quatro anos em que a cantora teve ainda de lutar contra o infortúnio do cancro da mama, e é com uma enorme satisfação que se percebe que a luta foi ganha e que Kylie Minogue regressou forte e confiante, com um trabalho incrível, cheio de fulgor e vivacidade.

O registo combina várias tonalidades de uma pop moderna, muito bem produzida, eletronicamente processada num vasto catálogo de cores vivas, que deslumbra pelo imponente cintilar de canções milimetricamente calculadas para serem notáveis. Foram vários os nomes envolvidos no trabalho de produção do álbum, o que ajudou ao desenvolvimento de um registo versátil cuja dinâmica percorre sonoridades distintasÉ também notória uma participação ativa de Kylie Minogue no processo de construção musical, reveladora de uma clara vontade em definir e explorar os seus caminhos.

A ilusão rock de "2 Hearts" dissipa-se logo na segunda faixa com a electropop de "Like a Drug" e a aventura prolonga-se na excitação pop de "In My Arms" até adquirir contornos de hip-hop na postura fónica de "Speakerphone" e estabilizar na compleição estrutural de "Sensitized" que evolui sobre um sampler de Serge Gainsbourg. Os contornos de hip-hop voltam a fazer-se sentir em "Heart Beat Rock" e se as canções perfeitas existem "The One" é certamente uma delas. A ambiência celestial de "No More Rain" parece saída de uma fantasia, é depois interrompida pela sobriedade de "All I See" e integrada na orgânica convencional de "Stars", sendo recuperada na magia do glamour pop de "Wow". "Nu-di-ty" remete para Nelly Furtado e "Cosmic" é uma bonita canção de índole particular que encerra discretamente o registo.

A mestria e o arrojo com que este trabalho foi gerido faz de "X" um daqueles registos tão íntegros em que é difícil encontrar um ponto fraco por onde possa quebrar, ou ceder.

domingo, 30 de outubro de 2022

The Confessions Tour - MADONNA

 

1 Future Lovers/I Feel Love (Madonna/M. Ahmadzai/D. Summer/P. Bellotte/G. Moroder)   8:00
2 Like a Virgin (T. Kelly/W. Steinberg)   4:12   
3 Jump (Madonna/S. Price/J. Henry)   4:52
4 Confessions (Madonna/P. Leonard)   3:53
5 Isaac (Madonna/S. Price)   6:44
6 Sorry (Madonna/S. Price)   5:02
7 Sorry (Remix) (Madonna/S. Price)   3:44
8 I Love New York (Madonna/S. Price)   5:35
9 Let It Will Be (Madonna/S. Price/M. Ahmadzai)   4:44
10 Music Inferno (Madonna/M. Ahmadzai/L. Green/T. Kersey)   7:40
11 Erotica (Madonna/S. Pettibone/A. Shimkin)   4:54
12 Lucky Star (Madonna)   3:49
13 Hung Up (Madonna/S. Price/B. Ulvaeus/B. Andersson)   9:48
 
As digressões de Madonna foram sempre um Acontecimento, assim mesmo com um "A" bem grande. Um espetáculo de grande aparato visual, para encher o olho e vender o produto, que atrai inúmeros fans e curiosos, e que surpreende pelo profissionalismo empregue em todos os detalhes de produção; desde uma escolha rigorosa de todos os elementos que integram o espetáculo até aos pormenores de uma cuidada preparação do repertório selecionado. A dimensão da 'Confessions Tour' tem a capacidade de surpreender pela força e caráter da sua estética assim como pela sua intensidade musical e esta edição em formato CD é uma súmula da deliciosa atuação na Wembley Arena, Londres, em 16 de Agosto de 2006, data especial por se tratar do aniversário de Madonna

A digressão serviu de promoção ao registo 'Confessions On a Dance Floor', cujo grafismo apela à época de ouro da música disco, e o conceito do concerto/espetáculo gira à volta daquele que foi um dos fenómenos musicais mais expressivo que dominou as noites da cidade de Nova Iorque em finais da década de 1970. O repertório selecionado foca-se essencialmente nas músicas que compõem o registo promocional, com a adição, óbvia, de alguns êxitos mais antigos. O interessante é que o repertório foi muito bem adaptado ao conceito estético do espetáculo e músicas mais antigas como "Like a Virgin", "Lucky Star" e "Erotica" soam aqui extremamente bem.  

O alinhamento inclui três referências musicais à época disco o que torna esta digressão numa celebração, ou mesmo num tributo, ao calor da 'febre de sábado à noite'. Madonna transporta a magia das pistas de dança nova-iorquinas para o seu enorme palco e funde o êxito de Donna Summer, "I Feel Love", com o seu "Future Lovers", usa "Disco Inferno" dos The Trammps para uma nova roupagem de "Music" e o single "Hung Up" contêm a célebre linha sintetizada de "Gimme! Gimme! Gimme!" dos ABBA.

A poderosa ambiência que envolve o esplendor da atuação exala uma energia contagiante que prende a atenção das audiências e faz vibrar os corpos com o pulsar do ritmo constante. Madonna e Stuart Price, o diretor musical da digressão, que também acumula a função de teclista e programador, esmeraram-se na elaboração de um espetáculo dinâmico e atrativo capaz de agradar a várias audiências. Há pouco de pop por aqui e mais de criação musical, e até um cheirinho rock (as guitarras rasgam mesmo em "I Love New York", com Madonna a empunhar uma Gibson Les Paul). 

Trata-se de uma dupla edição (CD + DVD) que saiu para o mercado discográfico em Janeiro de 2007. O CD é composto por apenas 13 músicas do alinhamento e o DVD inclui o concerto integral. É um registo simplesmente fantástico e isto é Madonna ao melhor nível.

quinta-feira, 20 de outubro de 2022

Para Todo O Mal - MESA

 
1 Porta de Entrada (Intro) (João P. Coimbra)   0:42
2 Estrela Carente (João P. Coimbra)   3:57
3 Tribunal da Relação (João P. Coimbra)   3:34
4 Quando as Palavras (João P. Coimbra)   4:14
5 Munição (João P. Coimbra/M. Ferraz)   4:18
6 Biombo Acústico (João P. Coimbra)   3:02
7 Boca do Mundo (Chama) (João P. Coimbra)   4:45
8 Fiordes (João P. Coimbra)   4:52
9 Não Vai Ser Bom (João P. Coimbra)   2:34
10 Paladar (João P. Coimbra)   5:20
11 Para Todo o Mal (João P. Coimbra)   6:08   

Ao terceiro registo de estúdio, editado em 2008, a sonoridade dos Mesa mantém intacta a Portugalidade que carateriza a toada lírica de João Pedro Coimbra na aprazível voz de Mónica Ferraz. Oriundo da cidade do Porto, Portugal, o projeto Mesa assume-se dentro de uma estética pop/rock convencional, recorrentemente pontuada pela adição de alguma ousadia eletrónica que lhe imprime alguma singularidade. João Pedro Coimbra é o mentor de toda esta obra, que para além de escrever as músicas grava tudo o que é teclas e baterias, enquanto Mónica Ferraz contribui com a elegância de um porte vocal definido e eloquente. Para este registo, o duo conta com as prestações de Jorge Coelho nas guitarras e Miguel Ramos no baixo; aparições especiais de José Pedro Coelho, sax-tenor em "Fiordes", Alexandre Soares, guitarra elétrica (à direita), em "Não Vai Ser Bom" e Jean-François Lézé, metalofone em "Fiordes" e carrilhão em "Para Todo o Mal".

A abrangência de estilos tão generalizados como a pop e o rock serve para definir grande parte da música que se faz um pouco por toda a parte e será mesmo esta etiqueta a que melhor identifica a sonoridade dos Mesa dentro do panorama musical a nível nacional. No entanto, João Pedro Coimbra contorna a aparente monotonia da vulgaridade de canções pop/rock convencionais, através de um bom domínio da componente eletrónica, do qual tira partido para criar texturas bem interessantes e chegar mesmo a explorar algum experimentalismo.

O registo inicia com um falso arranque, dado que a elegância pop de Mónica Ferraz não encaixa na urgência que a pujança rock de "Estrela Carente" reclama. A verdadeira essência dos Mesa apenas faz a sua aparição na faixa seguinte com a aguerrida electro/pop de "Tribunal da Relação" e irá manter-se até ao final do álbum. A perfeição de "Quando as Palavras" e a cuidada estrutura de "Boca do Mundo", justifica a escolha destas músicas como os singles de apresentação mas o entusiasmo deste trabalho manifesta-se em momentos como; a deliciosa aspereza eletrónica de "Munição", o contraste da frieza sintetizada de "Fiordes" com alguma vertente acústica, onde pontua a serenidade do sax-tenor de José Pedro Coelho, a intensidade elétrica de "Não Vai Ser Bom" (Alexandre Soares na guitarra elétrica, à direita), a peculiaridade maquinal de "Paladar" e de uma valsa bizarra, em ambiente saltimbanco, que encerra o registo como a faixa homónima.

quarta-feira, 5 de outubro de 2022

Aystelum - ED MOTTA


1 Awunism (E. Motta)   5:37
2 Pharmácias (E. Motta/N. Lopes)   3:17
3 Aystelum (E. Motta)   6:48
4 É Muita Gig Véi !!! (E. Motta)   3:53
5 Samba Azul (E. Motta/N. Lopes)   4:49
6 Balendoah (E. Motta)   4:19
   ["7" O Musical Medley (E. Motta/C. Botelho)]
   [7] Abertura   1:33
   [8] Na Rua   2:06
   [9] Canção Em Torno Dele   1:54
10 A Charada (E. Motta/R. Bastos)   4:00
11 Patidid (E. Motta)   2:26
12 Guezagui (E. Motta)   3:50

Para além de compositor, músico e produtor, o Brasileiro Ed Motta é um entusiasta da arte de bem gravar um disco procurando obter o melhor aproveitamento possível do tempo passado em estúdio. O seu processo de trabalho é deveras meticuloso e bem organizado, partindo sempre de um conceito previamente estudado, que irá demorar quanto tempo for necessário para alcançar a perfeição desejada e só depois concluir o processo de gravação.

Os detalhes das doze músicas que compõem Aystelum, editado em 2005, são reveladores da exigência estética que Ed Motta imprime à sua obra. O registo evidencia uma forte orientação jazzística mas também se move por terrenos tão abrangentes como a riqueza rítmica da música Brasileira e o musical de teatro, ao melhor estilo da Broadway. Das doze composições originais que formam as cores de Aystelum; seis são peças instrumentais, de uma riqueza musical exímia e excitante, três músicas compõem o pequeno medley de "7" (O Musical), que antecipa as peças do espetáculo que Ed Motta assinou como autor ao lado de Cláudio Botelho, e ainda há espaço para três canções em formato samba/MPB, com caráter de bossa e um triste blues.

Tendo em conta que o curto medley "7" (O Musical) é apenas uma pequena amostra, que não perfaz mais que 6 minutos, o registo é maioritariamente instrumental e predominantemente inspirado no jazz de teor espiritual e em alguma da componente elétrica da fusão que criou raízes na década de 1970, daí que a profusão de pianos elétricos vintage que Ed Motta e Rafael Vernet partilham entre si seja uma grande referência para este registo - Fender Rhodes, RMI 368X, Elka Rhapsody 490 String, Arp String Ensemble, Hohner D6 Clavinet, Piano Celesta, Multivox MX20 Electronic Combo Piano e o Piano Hohner Pianet T são os variados modelos aqui utilizados e que podem deliciar os amantes das sonoridades vintage. 

Para além da prestação nas teclas, Ed Motta dá voz a "Pharmácias" e "A Charada", e faz dueto com Alcione em "Samba Azul". No resto do álbum, essencialmente instrumental, Ed Motta usa a voz como um "instrumento", recorrendo à técnica de scat. Andrés Perez no saxofone-tenor e Jessé Sadoc Filho no trompete, destacam-se pela proeminência de solos expansivos e vigorosos. A riqueza musical de Aystelum manifesta-se na excelência e no dinamismo da sua conceção como um trabalho versátil e integro.

segunda-feira, 19 de setembro de 2022

Dirty Mind - PRINCE


1 Dirty Mind (Prince/Dr. Fink)   4:11
2 When You Were Mine (Prince)   3:44
3 Do It All Night (Prince)   3:42
4 Gotta Broken Heart Again (Prince)   2:13
5 Uptown (Prince)   5:30
6 Head (Prince)   4:40
7 Sister (Prince)   1:33
8 Partyup (Prince)   4:24  

Com "Dirty Mind", o terceiro trabalho de estúdio, editado em 1980, Prince distancia-se imediatamente dos dois trabalhos anteriores ao exibir-se agora com a provocação de uma imagem algo perversa na capa do álbum. Sinais evidentes de que algo tinha mudado, a capa e o título do registo revelam que o Prince galanteador do álbum anterior passou a ser uma personagem atrevida, de ideias ousadas e ambições artísticas renovadas. O impacto inesperado da força da imagem obscena que "Dirty Mind" transmite, ajudava a adensar a aura misteriosa em redor da atividade artística de Prince.

A provocação e a ousadia parecem ser as bases para um registo mais arrojado mas outras novidades se descobrem por aqui. Tal como nos dois registos anteriores, Prince mantém o controle total de todos os detalhes da gravação do disco, composição, execução e produção, mas agora tem companhia; Doctor Fink co-assina a autoria da música "Dirty Mind" e recebe créditos de participação em sintetizador nas músicas "Dirty Mind" e "Head". Lisa Coleman recebe créditos de participação vocal em "Head". Ambos eram já elementos da banda que começou a acompanhar Prince ao vivo desde a apresentação do seu segundo álbum e há mesmo uma foto da banda no trabalho gráfico de 'Dirty Mind'. A pouco e pouco, esta banda tornar-se-ia nos Revolution que acompanharam Prince até ao álbum 'Parade' em 1986.

Este é o ponto em que Prince revela pretensão de personalizar a sua imagem para criar uma personagem que o identifique com a sua música e lhe garanta afirmação artística. Procurando evitar o rótulo R&B, Prince explora a sua música de uma forma excitante e incómoda, à revelia da fervura do movimento punk que por esta altura já tinha queimado os últimos cartuchos mas deixou a porta aberta para quem quisesse participar na festa. Prince adaptou a sua música ao tempo corrente e os sintetizadores ganharam mais proeminência e seriam fundamentais para a modernização da sua sonoridade. A genialidade de Prince manifestou-se na forma como soube manter a arrojada solidez funk/rock dentro da firmeza do seu groove. Atrevimento digno de quem sabe mesmo o que quer. 

O registo abre com a sugestiva ambiência new wave que envolve a faixa homónima tendo depois continuidade na cativante "When You Were Mine", uma composição imberbe com caráter de banda sonora de filme juvenil. A estrutura cuidada e minuciosa de "Do It All Night" traz outra dinâmica ao álbum, momento que encontra enquadramento na curta doçura de "Gotta Broken Heart Again". O balanço rítmico do single "Uptown", que antecedeu o álbum, ainda espalha algum perfume disco e conduz diretamente a "Head" que é manifestamente a peça central deste trabalho. Uma composição que carrega uma forte conexão sexual, bem dissimulada, e a que mais se aproxima da arrojada sonoridade que Prince iria instituir nos trabalhos seguintes. "Sister" descreve-se pela ligeireza rock de uma faixa breve, quase um mero apontamento de passagem, que faz a ligação ao groove irrequieto de "Partyup" e o registo fecha em modo à la Talking Heads. 

Atrevido, arisco, obsceno, destemido e provocante mas também fascinante, encantador, empolgante e sedutor. Prince começava aqui a encenar o perfil que iria determinar a força do seu estilo.

segunda-feira, 5 de setembro de 2022

Prince - PRINCE


1 I Wanna Be Your Lover (Prince)   5:47
2 Why You Wanna Treat Me So Bad? (Prince)   3:49
3 Sexy Dancer (Prince)   4:18
4 When We're Dancing Close And Slow (Prince)   5:18
5 With You (Prince)   3:59
6 Bambi (Prince)   4:22
7 Still Waiting (Prince)   4:24
8 I Feel For You (Prince)   3:24
9 It's Gonna Be Lonely (Prince)   5:30

Em 1979, um jovem Prince, então com dezanove anos, lançava o seu segundo trabalho original de estúdio, gravado nos moldes do registo anterior, o de estreia. O álbum foi totalmente composto, tocado e produzido, pelo misterioso jovem de Minneapolis do qual ainda pouco se conhecia mas que logo impressionou pelo requinte da sua maturidade musical. A anuência da editora para que Prince tivesse total autonomia nas suas gravações foi o fator decisivo na escolha de uma companhia discográfica e a Warner Bros. Records foi a única a intuir o talento natural de Prince e a aceder perante a determinação destas condições.

Editado apenas sob o nome de Prince, o registo ajudou a abrir um pouco mais do véu e revelou um artista completo, com notável aptidão técnica no domínio dos vários instrumentos musicais que utilizou para este álbum, decidido na linha a seguir e a evidenciar muito à vontade na abordagem da fusão soul/funk/disco/rock. Um percurso ponderado para ser feito calmamente, sem grande pressa nem precipitações, mas estável e solidificado quanto à intenção de manter a carreira de músico profissional.  

O notável single "I Wanna Be Your Lover", que abre o registo ao melhor estilo soul/funk, proporcionou a Prince o seu primeiro hit single. Em "Why You Wanna Treat Me So Bad?" percebe-se a clara aproximação da linhagem rock, que será ainda mais evidente na expressiva saturação da guitarra elétrica em "Bambi", e a euforia funk regressa em grande, com retoque de sensualidade disco, em "Sexy Dancer". As baladas de Prince funcionam como autênticas bombas libidinosas, reveladoras de uma sensibilidade artística encantadora, que neste álbum se apresentam com "When We're Dancing Close And Slow", já bem delineada, e "With You", em modo de aperfeiçoamento. "Still Waiting" carrega a melíflua sobriedade acústica, quase jazz, de uma interpretação de classe, "I Feel For You" é uma música cativante que viria a alcançar algum êxito em 1984 numa distinta versão de Chaka Khan, "It's Gonna Be Lonely" é uma peça mais contida, incumbida da honrosa missão de encerrar o álbum.

Os traços já cá estão. Os contornos da "perfeição" serão depois desenhados, passo a passo.

quarta-feira, 24 de agosto de 2022

Cascade - PETER MURPHY


1 Mirror To My Woman's Mind (Murphy/Statham)   5:31
2 Subway (Murphy/Statham)   4:34
3 Gliding Like A Whale (Murphy/Statham)   4:20
4 Disappearing (Murphy)   4:52
5 Mercy Rain (Murphy/Statham)   3:40
6 I'll Fall With Your Knife (Murphy/Statham)   4:28
7 The Scarlet Thing In You (Murphy/Statham)   4:20
8 Sails Wave Goodbye (Murphy/Statham)   4:41
9 Wild Birds Flock To Me (Murphy/Statham)   3:45
10 Huuvola (Murphy/Statham)   5:51
11 Cascade (Murphy/Statham)   6:07   

Após a conclusão da tournée mundial de 'Holy Smoke', o álbum de 1992, Peter Murphy terminou a sua relação com os The 100 Men, a banda de apoio que o acompanhava desde 1988, o ano de 'Love Hysteria', e mudou-se com a família para a distante Turquia, onde ainda reside. Ao fim de um ano, longe das influências mediáticas e culturais da sua Inglaterra natal, Peter Murphy percebeu que tinha ganho uma nova oportunidade para revitalizar a sua carreira como se estivesse a começar tudo de novo.

Os esboços de novas canções acabaram por surgir de forma muito natural, apenas porque tinham de nascer, sem necessidade de uma afirmação artística nem rótulos instituidos. Paul Statham, o único elemento que Murphy manteve dos trabalhos anteriores, mostra-se fundamental no desenvolvimento do registo e volta a assinar a co-autoria de praticamente todas as músicas, com exceção, apenas, para "Disappearing" que Murphy assina sozinho.    

"Cascade" fica registado como o quinto trabalho original de Peter Murphy e pode-se caraterizar como um álbum traiçoeiro que não se deixa revelar nas primeiras audições. Peter Murphy surge mais melódico, muito acessível, denotando uma transparência pop bem vincada em "The Scarlet Thing In You" e "Wild Birds Flock To Me" a que se junta a emotividade de "Gliding Like A Whale" e a candura de "I'll Fall With Your Knife" como os momentos de tendência mais "comercial". No entanto, soa seguro e vigoroso em "Mirror To My Woman's Mind" e "Disappearing", surge subtilmente eletrónico em "Sails Wave Goodbye", aromaticamente exótico em "Subway", espirituoso em "Huuvola", tornando-se grandioso, apaixonante e inspirado em "Mercy Rain" e "Cascade".

De forma inconsciente, muito provavelmente, Peter Murphy apoia-se numa estabilidade pop que lhe proporciona o abrigo onde se procura refugiar da pesada herança que a liderança dos históricos Bauhaus lhe granjeou. Por mais que, nesta altura, procurasse criar uma obra sem cunho ou referências é inevitável escapar dos seus genes artísticos e "Cascade", mesmo que não o pareça às primeiras audições, reúne as caraterísticas habituais de Peter Murphy para mais um belíssimo trabalho a solo.  

sábado, 13 de agosto de 2022

In Rainbows - RADIOHEAD

                                             

1 15 Step (Radiohead)   3:58
2 Bodysnatchers (Radiohead)  4:01 
3 Nude (Radiohead)   4:14
4 Weird Fishes / Arpeggi (Radiohead)   5:17
5 All I Need (Radiohead)   3:47
6 Faust Arp (Radiohead)   2:08
7 Reckoner (Radiohead)   4:48
8 House Of Cards (Radiohead)   5:27
9 Jigsaw Falling Into Place (Radiohead)   4:07
10 Videotape (Radiohead)   4:40
 
Editado em 2007, 'In Rainbows' quebrou o hiato de quatro anos que o separa de 'Hail To The Thief', editado em 2003, e marca o início de uma nova fase para a banda Britânica. 'Hail To The Thief' cumpriu com as últimas obrigações contratuais dos Radiohead com a EMI e a banda era agora livre de seguir o seu próprio rumo, da forma que bem entendesse.  

Sem a pressão de cumprir objetivos, os Radiohead desapareceram discretamente durante o ano de 2004, voltando a juntar-se apenas em inícios de 2005 para ensaios e sem intenção de gravar um novo álbum nos próximos tempos. O novo repertório que a banda criou neste período de tempo foi testado pacientemente numa tournée de verão em 2006 após a qual decidiram regressar a estúdio para trabalhar nas novas canções e remodelá-las para uma versão final.

Durante este meio termo, o vocalista Thom Yorke teve até tempo para gravar o seu primeiro álbum a solo, 'Eraser', em 2006.

O audacioso lançamento de 'In Rainbows', em 2007, apanhou o meio musical desprevenido e surpreendeu pela coragem da banda em oferecer o disco no formato MP3, disponibilizando o download gratuito no seu site e convidando, simultaneamente, a que os interessados pagassem o valor que entendessem por este trabalho. Uma ação inédita que acabou por lançar uma questão, "Qual é o preço da arte?".    

Como álbum, o sétimo na discografia oficial dos Radiohead, 'In Rainbows' é um puzzle indecifrável que prima na genialidade de um trabalho inqualificável mas deveras convincente, que promove sensações de descoberta a cada nova audição. Composto por peças irregulares, autênticas experiências sensoriais, o registo evidencia um caráter intenso e o reconhecimento de uma profundidade de estilo marcante que faz deste trabalho uma obra incontornável, talhado na autonomia de uma banda que não se rege pelas regras de mercado tendo assim a liberdade e a primazia de esculpir a sua música ao seu belo prazer. Inteligente, experimental, enigmático, etéreo, viciante, explosivo, mágico, são alguns dos vários adjetivos que tão bem definem este trabalho e estabelecem a solidez da sua autenticidade 

A publicação aqui presente diz respeito à edição física em formato CD.

quinta-feira, 28 de julho de 2022

Live In Japan - DEEP PURPLE - CD03


   Tokyo, 17th August 1972
   'Can we have everything louder than everything else?'
1 Highway Star (Blackmore/Gillian/Glover/Lord/Paice)   07:14
2 Smoke On The Water (Blackmore/Gillian/Glover/Lord/Paice)   07:06
3 Child In Time (Blackmore/Gillian/Glover/Lord/Paice)   11:32
4 Strange Kind Of Woman (Blackmore/Gillian/Glover/Lord/Paice)   11:26
5 Lazy (Blackmore/Gillian/Glover/Lord/Paice)   11:16
6 Space Truckin' (Blackmore/Gillian/Glover/Lord/Paice)   19:19
7 Speed King encore (Blackmore/Gillian/Glover/Lord/Paice)   07:55         

O terceiro cd desta tripla edição comemorativa corresponde à gravação de Tokyo, a terceira e última data da curta passagem dos Deep Purple pelo Japão em Agosto de 1972. A banda encontrava-se no auge do seu poderio de palco, facto bem percetível na gravação de qualquer umas das datas, mas a intensidade da data de Tokyo é relevada pelo excitante entusiasmo da audiência que terá servido de estímulo, certamente, para a fervilhante prestação dos Deep Purple. O ambiente parece aquecer mais ainda a partir de "Strange Kind Of Woman" que começa com a banda a pedir para que se subam todos os volumes de palco e de onde advém o sub-título deste cd 'Can we have everything louder than everything else?'.

No entanto, a gravação de Tokyo não ficou com o mesmo nível de qualidade quanto as outras datas mas ainda assim tem qualidade bem superior a muito bootleg (gravações não oficiais) que anda por aí, pelo que desta data apenas foram escolhidas duas músicas para integrar o alinhamento de "Made In Japan"; a extraordinária versão de "Lazy" e o solo de bateria de "The Mule", que não integra esta edição para ceder lugar ao encore "Speed King" cuja gravação corresponde na realidade a um encore do primeiro concerto em Osaka, a única "aldrabice" desta edição. 

Os três cd correspondem a um total de 234 minutos de gravações mas ainda assim foi necessário abdicar de duas das músicas que já estavam incluídas em "Made In Japan", devidamente referenciadas nos respetivos textos, para que se pudesse aqui incluir alguns dos encores para completar o alinhamento real destas datas. Uma obra capaz de satisfazer fans devotos, ávidos colecionadores ou simples curiosos, que inclui ainda um libreto de 24 paginas que documenta algumas das histórias desta pequena digressão e a sua transposição para um icónico disco duplo ao vivo em 1972. O registo pretendia documentar o final de uma brilhante época de concertos ao vivo para os Deep Purple mas na realidade acabou por marcar o início do fim da sua formação mais clássica, que entretanto via partir o vocalista Ian Gillan, logo seguido do baixista Roger Glover e pouco depois seria a vez de Richie Blackmore, o guitarrista fundador, abandonar também a banda.

Por tudo isto e muito mais, "Made In Japan" permanece ainda como um registo exemplar para todos os álbuns de rock ao vivo.

domingo, 24 de julho de 2022

Live in Japan - DEEP PURPLE - CD02


   Osaka, 16th August 1972
   'Next week, we're turning professional.'
1 Highway Star (Blackmore/Gillian/Glover/Lord/Paice)   07:07
2 Smoke On The Water (Blackmore/Gillian/Glover/Lord/Paice)   07:25
3 Child In Time (Blackmore/Gillian/Glover/Lord/Paice)   12:30
4 The Mule (Drum Solo) (Blackmore/Gillian/Glover/Lord/Paice)   10:22
5 Strange Kind Of Woman (Blackmore/Gillian/Glover/Lord/Paice)   10:35
6 Lazy (Blackmore/Gillian/Glover/Lord/Paice)   10:21
7 Space Truckin' (Blackmore/Gillian/Glover/Lord/Paice)   20:13

O segundo cd desta tripla edição corresponde à segunda data em Osaka e foi sobre a gravação deste concerto que recaiu a escolha da maior parte das músicas que compõem o alinhamento da dupla edição em vinil de 'Made In Japan', em 1972. A notável prestação da banda em palco, aliada à qualidade de gravação obtida naquela noite, resultou na melhor combinação de fatores para se encontrar as peças a incluir no pretenso álbum ao vivo. De facto, dos três cd que compõem o regalo desta tripla edição, este é o único que apresenta exatamente o mesmo alinhamento de 'Made In Japan', mas da gravação desta data apenas "Highway Star", "Child In Time", "Strange Kind Of Woman" e "Space Truckin'" foram escolhidas para integrar a edição de 1972.

Uma interpretação menos conseguida para "Smoke On The Water", em que Richie Blackmore não acerta com o riff da guitarra logo de início, explica o porquê da eliminação desta versão para 'Made In Japan'. "Lazy" volta a ser o momento com maior liberdade, para John Lord preparar a entrada da música com algumas sonoridades estratosféricas carregadas de suspense, mas esta versão ficaria também fora das escolhas para integrar 'Made In Japan'. "The Mule", peça centrada no vigoroso solo de bateria de Ian Paice, foi outro dos momentos desta data que não foi escolhido para o álbum de 1972.

Inicialmente, os Japoneses pretendiam que a sua edição incluísse apenas a gravação desta data mas a edição oficial acabou por ser a mesma de 'Made In Japan'. A edição Japonesa seria lançada com o título 'Live In Japan' e a capa foi ilustrada com uma foto que capta toda a banda por trás com a vastidão da assistência espraiada à sua frente; o mesmo título e a mesma capa foram utilizados para esta edição comemorativa em formato de triplo cdNa capa da edição original Japonesa havia a indicação de que a gravação pertencia apenas ao concerto de Tokyo, uma travessura editorial para atrair os fans para uma edição diferente que afinal era ... exatamente a mesma de 'Made In Japan'. 

Nunca é demais referir a enormidade que este registo representa como referência para os álbuns de rock gravados ao vivo, não só pela inspirada prestação da histórica banda Britânica mas também pela honestidade de apresentar uma captação ao vivo tal como ela ocorreu, sem quaisquer efeitos de estúdio, colagens ou emendas de erros de atuação. Este cd apresenta-se com o sub-título 'Next week, we're turning professional.', que advém de uma curiosa intervenção de Ian Gillan na introdução de "Strange Kind Of Woman", em que o vocalista diz ter uma comunicação importante a fazer, à qual se segue uma gargalhada jocosa. Os concertos remanesceram como uma boa memória para os Deep Purple que garantem terem tirado plena satisfação destas três atuações em terras nipónicas, em Agosto de 1972.

terça-feira, 12 de julho de 2022

Live in Japan - DEEP PURPLE - CD01


   Osaka, 15th August 1972
   'Good morning'
1 Highway Star (Blackmore/Gillan/Glover/Lord/Paice)   07:37
2 Child in Time (Blackmore/Gillan/Glover/Lord/Paice)   11:51
3 The Mule (Drum Solo) (Blackmore/Gillan/Glover/Lord/Paice)   09:35
4 Strange Kind of Woman (Blackmore/Gillan/Glover/Lord/Paice)   08:51
5 Lazy (Blackmore/Gillan/Glover/Lord/Paice)   10:26
6 Space Truckin' (Blackmore/Gillan/Glover/Lord/Paice)   21:35
7 Black Night encore (Blackmore/Gillan/Glover/Lord/Paice)   06:25          

Um dos álbuns ao vivo mais célebres na história do rock"Made in Japan" é uma recolha dos "melhores" momentos de uma visita de três dias ao Japão em que os Britânicos Deep Purple fizeram as delícias das audiências de Osaka e Tokyo com três concertos em Agosto de 1972. As três datas foram gravadas na sua totalidade com o intuito de se editar um registo ao vivo exclusivamente para o mercado Japonês, mas quando a banda ouviu o resultado das gravações e percebeu a qualidade do material que tinha em mãos insistiu na edição do álbum a nível mundial, em formato de duplo vinil mas ao preço de um só disco. 

Vinte anos depois, como forma de celebração da edição original deste registo histórico e dos vinte e cinco anos da formação da banda, localizaram-se as fitas originais que continham as gravações dos três concertos e procedeu-se à sua recuperação para uma edição integral das três datas. A ideia desta edição consistia em permitir aos fãs desta obra incontornável que pudessem agora ouvir os três concertos na sua plenitude e comparar as versões escolhidas para a edição original com as que ficaram de "fora".

É desta forma que surge "Live in Japan" (tributo ao título da edição original Japonesa), editado em formato de triplo cd no ano de 1993. Cada cd corresponde a uma das datas, seguindo a ordem natural dos concertos, correspondendo assim o primeiro cd com a primeira atuação em Osaka a 15 de Agosto de 1972. O subtítulo deste cd, 'Good Morning', advém do facto de os concertos terem início às 18h30 e é mesmo com esta expressão que Ian Gillan inicia esta atuação. 

O alinhamento dos três concertos é praticamente o mesmo pelo que não há grandes novidades entre as músicas apresentadas. As únicas exceções, neste primeiro cd, residem na inclusão de "Black Night", um dos encores desta data, o que levou à retirada de "Smoke On The Water" por ser a única música deste concerto a integrar a edição original de 'Made In Japan'; ao que parece, esta terá sido a única noite em que Blackmore conseguiu acertar com o riff da guitarra. "Smoke On The Water" é também uma das faixas mais 'batidas' do álbum de 1972 não oferecendo por isso grandes dúvidas quanto à sua retirada desta edição, para ceder lugar à inclusão de uma faixa não incluída na edição original. 

Entre o restante material, têm-se a oportunidade de ouvir algumas variantes e de compará-las com as versões já ouvidas na edição de 1972. Em "Lazy", John Lord brinca com alguma música clássica até entrar a fundo no tema e numa das mudanças de andamento de "Space Truckin" Lord brinca com alusões a algumas músicas, entre elas percebe-se a melodia de "When The Saints Go Marchin' In" e o riff de "Gimme Some Lovin'" de Steve Winwood. "Strange Kind Of Woman" soa um pouco menos inspirada. A banda considera mesmo esta data como a menos produtiva, acusando algum cansaço da viagem do Reino Unido para o Japão no dia anterior ao concerto. As duas datas seguintes seriam bem mais abrasantes ... 

sábado, 2 de julho de 2022

Missing - MISLEADING

 

1 Whirlwinded (Misleading)   5:44
2 Some Grave in Time (Misleading)   9:56
3 Convoluted Psych Zapped Psyches (Misleading)   6:12   
4 Suspended Consciousness To ... (Misleading)   3:35
5 Steer Through (Misleading)   5:37
6 Death by Sunflower (Misleading)   5:45
7 Concise Notation of Sound (Misleading)  12:00 
   Bónus track
8 Grruggruu (Misleading)   4:06

Os Misleading são como uma entidade enigmática que habita nas profundezas do seu próprio som. Uma consonância de alquimistas que se dissimulam na singular firmeza de uma ilusão temporal-caleidoscópica para preparar a cozedura de uma poção inebriante com capacidade de evocar a deformação de portentosos turbilhões sónicos, carregados de intenso negrume.

Editado em inícios de 2022, 'Missing' é o segundo registo para este coletivo Português que conta agora com a aptidão de um quarto elemento na integração de diáfanos efeitos espaciais sintetizados que aumentam a profundidade do poder de envolvência da banda. A estrutura do registo revela o dinamismo sónico de um trabalho mais expansivo, não é tão áspero e cru quanto o primeiro trabalho da banda, sendo mais inspirado e cativante, e mais detalhado a nível rítmico. As vozes continuam a estar ausentes na equação, as músicas desenvolvem-se como instrumentais inesgotáveis em que a guitarra permanece ativa numa espiral infinita de psicadelismo, mas a ausência de vozes é agora complementada pela intervenção de curtos monólogos/diálogos cinematográficos. 

Aos primeiros segundos de "Whirlwinded" o registo sugere-se ao nível de rock'n roll convencional mas logo entra na sua dimensão quimérica para embarcar na envolvência de um domínio abrasivo. A sugestiva referência sabática de "Some Grave in Time" difunde-se depois na arte progressiva de diferentes andamentos, passa para a determinante atmosfera refletiva de "Convoluted Psych Zapped Psyches", até à misteriosa contenção de "Suspended Consciousness To ..." que conduz à introdução da viagem sideral "Steer Through". A estonteante instabilidade da stoogeana "Death By Sunflower" é abrangente e significativa e "Concise Notation of Sound" encerra a edição digital do registo sob a forma de um manifesto próprio que passa da ponderação à forte expressividade mística dos Misleading. A edição física, em cd, fecha com a pujança de "Grruggruu", uma vigorosa demonstração do poder da cortina sónica que envolve a bruma psicadélica da banda de Tomar, Portugal.

A obra dos Misleading pode, e deve, ser encontrada online através do link https://heavymisleading.bandcamp.com/

sexta-feira, 17 de junho de 2022

The Simon And Garfunkel Collection - SIMON AND GARFUNKEL

   
   Lado A
1 I Am a Rock (P. Simon)   2:49
2 Homeward Bound (P. Simon)   2:26
3 America (P. Simon)   3:28
4 59th Street Bridge Song (Feelin' Groovy) (P. Simon)   1:42
5 Wednesday Morning 3 A.M. (P. Simon)   2:11
6 El Condor Pasa (P. Simon/D. Robles/J. Milchberg)   3:05
7 At The Zoo (P. Simon)   2:17
8 Scarborough Fair (Canticle) (P. Simon/A. Garfunkel)   3:07
9 The Boxer (P. Simon)   5:08    
   Lado B
1 Sound Of Silence (P. Simon)   3:03
2 Mrs. Robinson (P. Simon)   3:55
3 Keep The Customer Satisfied (P. Simon)   2:33
4 Song For The Asking (P. Simon)   1:41
5 Hazy Shade Of Winter (P. Simon)   2:17
6 Cecilia (P. Simon)   2:53
7 Old Friends, Bookends Theme (P. Simon)   3:54
8 Bridge Over Troubled Water (P. Simon)   4:50

Onze anos depois da edição do seu último álbum de originais, em 1970, a dupla Simon and Garfunkel voltou a juntar a harmonia das suas vozes para um concerto gratuito no Central Park, New York, em Setembro de 1981. O forte impacto gerado pela reunião de Paul Simon e Art Garfunkel para este concerto, do qual se estima uma assistência de 500.000 pessoas em Central Park, despertou algum saudosismo geral destas músicas e renovou a atenção e o interesse na obra da célebre dupla.

Impulsionada, muito provavelmente, pelo histórico concerto de Central Park, a compilação de êxitos 'The Simon and Garfunkel Collection' foi editada nos mercados discográficos em Novembro de 1981 e reúne dezassete músicas que percorrem o caminho de uma carreira exemplar e bem dignificante na história da música popular Norte-Americana. A coletânea é composta por músicas retiradas dos cinco álbuns originais da banda, editados entre 1964 e 1970, tendo maior incidência no período final com os registos 'Bookends' e 'Bridge Over Troubled Water'.

Tendo por base a essência estrutural da folk acústica, Paul Simon e Art Garfunkel criaram e desenvolveram um repertório de canções melodiosas que não são tão singelas como aparentam. De forma gradual, o duo absorveu alguns dos elementos mais estimulantes do rock e a sua sonoridade cresceu com a introdução do ritmo da bateria e das percussões, aliada à admissão da dinâmica proporcionada pela utilização de instrumentos elétricos. O folk-rock passou a dominar o estilo do duo logo a partir da edição do segundo registo, 'Parsley, Sage, Rosemary and Thyme', em 1966, e a complexidade artística das composições de Paul Simon começou a procurar uma via para além da contribuição do doce timbre vocal de Art Garfunkel. 

Passando ao lado desta luta de egos; a cumplicidade dos seus talentos proporcionou uma obra notável que roça a perfeição harmónica. Desde o puro folk, em que Art Garfunkel se destaca nas belíssimas harmonias vocais, de "Wednesday Morning 3 A.M.", música que dá o título ao primeiro álbum em 1964, até ao canto final com "Bridge Over Troubled Water", uma das músicas mais bonitas a abrir um álbum (referência óbvia ao álbum original de 1970) torna-se, com esta edição, numa das músicas mais bonitas a encerrar um álbum, há músicas suficientes para testemunhar todas as fases deste esplêndido percurso.

Descrição geral, sem uma ordem especifica; O en(canto) do folk "medieval" de "Scarborough Fair". As duas baladas acústicas "Old Friends, Bookends Theme" e "Song For The Asking" são marcadas por orquestrações singulares. A recuperação de "Sound Of Silence", original acústico do álbum de 1964, para uma nova abordagem em andamento rock. "Homeward Bound" e "59th Street Bridge Song" revelam a naturalidade do segundo álbum, em 1966. A histórica adaptação de Paul Simon para "El Condor Pasa", uma melodia original do Perú. A simpatia de um clássico como "Mrs. Robinson", que dispensa qualquer apresentação. A refrescante "I Am a Rock". A jovial complexidade rítmica de "Cecilia". A vibração rock'n roll de "Hazy Shade of Winter" e "Keep The Customer Satisfied", e o quase rock de "At The Zoo". A curiosidade da versão original de "The Boxer" surpreender sempre pelas inesperadas intervenções que surgem ao longo da música. A gratificante viagem de "America" como uma das músicas mais fascinantes desta parceria histórica.

 P.S. O álbum do concerto de Central Park apenas seria editado no início do ano seguinte.

terça-feira, 7 de junho de 2022

Mano A Mano - RESISTÊNCIA


   Lado A
1 Um Lugar Ao Sol (M. Ângelo/F. Cunha)   4:37
2 Amanhã É Sempre Longe Demais (Vitinha/Flak/Filipe)   5:08
3 Esta Cidade (J. Gentil/Xutos & Pontapés)   3:32
4 A Noite (J. M. Antunes Aguardela/F. Resende/M. Miranda/F. Fonseca)   3:55
   Lado B
1 Traz Outro Amigo Também (J. Afonso)   4:11
2 Prisão Em Si (Tim/Xutos & Pontapés)   4:25
3 Perigo (A. Lopes/J. Gil)   4:58
4 Timor (P. Ayres Magalhães/P. Gonçalves)   4:55

Editado em 1992, 'Mano A Mano' dá continuidade ao sucesso obtido no ano anterior com a edição do álbum 'Palavras Ao Vento', registo que marcou a estreia do projeto Resistência; coletivo fundado por Pedro Ayres Magalhães, dos Heróis do Mar e dos Madredeus, Miguel Ângelo e Fernando Cunha, ambos dos Delfins, e Tim, dos Xutos & Pontapés. Um supergrupo, criado com o intuito de juntar a força destes elementos, provenientes de algumas das bandas mais bem sucedidas a nível nacional, para recuperar temas da sua autoria, e não só, explorando apenas a vertente acústica e valorizando a voz como instrumento. Aos membros fundadores, juntaram-se ainda; a voz de Olavo Bilac, o baixo de Yuri Daniel e Fernando Júdice, as guitarras de Dudas e Fredo Mergner, a arte rítmica de Alexandre Frazão na bateria e as percussões de José Salgueiro.   

Um projeto de afirmação nacional que acabou por funcionar como uma banda de tributo à música Portuguesa, reclamando a atenção para a legitimidade das suas palavras, através da regeneração de "velhas" músicas, vestidas por novas roupagens, capazes de lhes dar uma nova graça e atenção. A sua força de união evidencia o respeito por um passado musical comum e a pretensão em mantê-lo vivo na memória das gerações seguintes.
       
Arranjos floridos e convencionais despertaram logo a atenção das audiências para "Um Lugar Ao Sol", "Amanhã É Sempre Longe De Mais" e "A Noite", os três singles retirados do álbum. A inclusão de "Traz Outro Amigo Também", original de José Afonso, destina-se a venerar um nome maior da música Portuguesa e a revelar a força da sua influência no conceito deste projeto. "Perigo", original dos Trovante, é uma das músicas que ganha um novo, e interessante, fôlego a que se juntam "Esta Cidade" e "Prisão Em Si", originais dos Xutos & Pontapés, como as músicas que apresentam a abordagem mais criativa e arrojada, derivada, provavelmente, do forte teor de rebelião que assola a sua temática. 

Tal como no álbum de estreia, o registo inclui um original de Pedro Ayres Magalhães. "Timor" destina-se a ser uma música de conforto e esperança para um povo oprimido sob as hostes do seu invasor porque a luta da resistência é um dos sentidos do projeto, a sua capacidade de resistir às adversidades através da união da força dos povos. A música original que Pedro Ayres Magalhães escreveu para o primeiro registo chamava-se "Liberdade".

terça-feira, 31 de maio de 2022

The Best Of OMD - ORCHESTRAL MANOEUVRES IN THE DARK


   Lado A
1 Electricity (OMD)   3:28
2 Messages (OMD)   4:43
3 Enola Gay (OMD)   3:30
4 Souvenir (OMD)   3:33
5 Joan Of Arc (OMD)   3:46
6 Maid Of Orleans (OMD)   4:09
7 Talking Loud And Clear (OMD)   3:47
   Lado B
1 Tesla Girls (OMD)   3:32
2 Locomotion (OMD/Troeller)   3:50
3 So In Love (OMD/S. Hague)   3:25
4 Secrets (OMD)   3:55
5 If You Leave (OMD)   4:27
6 (Forever) Live And Die (OMD)   3:34
7 Dreaming (OMD)   3:52

Em 1988, a synthpop dos britânicos Orchestral Manoeuvres In The Dark comemorava uma década de existência através da edição de uma compilação que reúne quatorze significativos singles que a banda editou ao longo desse período de tempo. Um percurso com inicio na aurora cinzenta do post-punk cujo desenvolvimento se processa naturalmente nos caminhos consequentes da refrescante new wave até alcançar o brilho de uma pop colorida e organizada, determinada pela evolução das máquinas e pela filosofia da sua utilização, sem perder identidade e estilo.

Na sua primeira atuação ao vivo, os Orchestral Manoeuvres In The Dark tocaram como banda de suporte para os míticos Joy Division no Eric's Club, em Liverpool. Espaço importante de divulgação musical, o clube mantinha ligações com a igualmente histórica editora Inglesa Factory, de Tony Wilson, que era também a "casa" dos Joy Division. A ligação estabeleceu-se e o single "Electricity" foi uma das primeiras edições discográficas da Factory, em 1979, mas a ligação não passou daí. O primeiro álbum dos OMD seria lançado em 1980 pela Dindisc, subsidiária da Virgin, e a porta ficava aberta para o futuro da pop.

"Electricity", "Messages" e o hit "Enola Gay", evidenciam bem a influência da sonoridade eletrónica dos alemães Kraftwerk nos primeiros tempos dos OMD enquanto "Souvenir", "Joan Of Arc" e "Maid Of Orleans" deixam transparecer a influência do compatriota Brian Eno, referências que os OMD sempre assumiram. Estes seis singles são representativos da fase mais emblemática da banda. A pop dinâmica, preenchida de cinza e eletricidade, tão física como maquinal, cede lugar à beleza estética da religiosidade que parece dominar a tendência do terceiro álbum em 1981.

Ao quinto álbum, editado em 1984, os OMD atualizam o seu som que começa a revelar a vivacidade de uma pop descaradamente colorida mas sempre bem estruturada. "Talking Loud And Clear", "Tesla Girls", "Locomotion", "So In Love" e "Secrets" marcam este período "controverso" que afastou alguns dos fãs mais cinzentos. A regularidade da banda ao longo da década permitiu-lhe manter-se sempre no radar geral mas sem atingir o cimo dos Tops. Em 1986 gravam o maravilhoso single "If You Leave" para a banda sonora do filme "Pretty In Pink" e nesse mesmo ano gravam também aquele que seria o seu último álbum dessa década, de onde foi retirado o single "(Forever) Live And Die" que retoma alguma da essência melódica dos primeiros anos. A compilação fecha com o single "Dreaming", gravado como um novo chamariz para promoção do registo.

quarta-feira, 25 de maio de 2022

Mistery Girl - ROY ORBISON


   Lado A
1 You Got It (J. Lynne/R. Orbison/T. Petty)   3:31
2 In The Real World (W. Jennings/R. Kerr)   3:42
3 (All I Can Do Is) Dream You (B. Burnette/D. Malloy)   3:38
4 A Love So Beautiful (J. Lynne/R. Orbison)   3:33
5 California Blue (R. Orbison/J. Lynne/T. Petty)   3:57      
   Lado B
1 She's A Mystery To Me (D. Evans/P. Hewson)   4:16
2 The Comedians (E. Costello)   3:23
3 The Only One (W. Orbison/C. Wiseman)   3:52
4 Windsurfer (R. Orbison/B. Dees)   4:02
5 Careless Heart (R. Orbison/D. Warren/A. Hammond)   4:08
 
A carreira do norte-americano Roy Orbison podia ter conhecido outros contornos caso não estivesse marcada pela inconsequência de algumas agruras que a vida lhe reservou. A mudança de editora mal sucedida, em 1965, a dor e o tormento de sofrer duras percas familiares em finais dessa mesma década e um grave problema de saúde em finais da década de 1970, impediram Roy Orbison de ter uma carreira de êxitos convencional tal como a de muitos dos seus contemporâneos, no entanto, uma geração sonhadora, que incluía alguns futuros músicos rock'n roll, cresceu ao som da sua música e nunca o esqueceu.

Um dos grandes dons de Roy Orbison era a capacidade de através da sua pura genuinidade nos conseguir recordar que no mundo nem tudo é mau, pois este também pode ser um lugar esplêndido onde acontecem coisas maravilhosas. Em 1986, o realizador David Lynch usava a música "In Dreams", que Orbison gravou em 1963, para criar um dos momentos mais paradoxais do filme Blue Velvet. Numa cena de extrema violência, em que se chega a temer pela vida da vítima, um irado e descontrolado Dennis Hopper exige aos seus parceiros que ponham "In Dreams" a tocar no rádio do carro. A cena acaba por se desenrolar num dos ambientes mais bizarros que o filme nos proporciona, com a música de Orbison a funcionar plenamente em duas frentes distintas; para Hopper como uma forma terapêutica de o acalmar mas também capaz de o excitar, para o espectador como uma forma de o abstrair da violência em curso. Em certa medida, a aparição e o efeito da música no filme terá sido bastante significativa para o despertar da carreira de Roy Orbison na segunda metade da década de 1980. 

Entretanto, as situações foram-se sucedendo e Roy Orbison ia sendo acarinhado de variadas formas pela tal geração que nunca o esqueceu e que tinha agora oportunidade de revelar a sua devoção e reconhecimento, motivando-se no empenho do relançamento da importância da sua carreira no meio musical através de prestações musicais relevantes como a criação do grupo Traveling Wilburys, composto por George Harrison, Tom Petty, Bob Dylan, Jeff Lynne e ainda pelo próprio Roy Orbison, todos sob o pseudónimo Wilbury. O passo seguinte seria a criação de um novo álbum de originais em nome próprio. 

Composto, produzido e gravado com a ajuda de nomes como Jeff Lynne, Tom Petty, T-Bone Burnett, Bono, Mike Campbell e outros mais, "Mistery Girl" foi gravado nos finais de 1988 mas Roy Orbison viria a falecer em dezembro desse mesmo ano e infelizmente não teve oportunidade de tirar proveito daquele que se tornaria no seu trabalho mais rentável. O  registo só foi editado em fevereiro de 1989

É um álbum belíssimo, feito com amizade, carinho, admiração e muito respeito por um nome tão singular na história do rock. Um registo de charme e classe sem receio de recuperar o espírito que carateriza a obra original de Roy Orbison, nomeadamente ao nível das vozes, cujos arranjos são admiráveis, o que permite um rápido reconhecimento do seu estilo e garante o selo de autenticidade para quem pudesse ter dúvidas quanto à sua recuperação artística numa época já bastante desenquadrada dos primórdios do rock. O sucesso do single "You Got It" deu o primeiro sinal positivo, depois revelava-se o álbum. "She's A Mystery To Me", escrita por Bono e The Edge, e a recuperação de "The Comedians", original de Elvis Costello, são os momentos menos enquadrados no espírito da obra mas ainda assim encaixam muito bem no alinhamento do registo e há que relevar a distinta magia Memphis de "The Only One". Depois é deixar embalar por "In The Real World", "A Love So Beautiful" e "Careful Heart", saborear o calor refrescante de "California Blue" e "Windsurfer" ou rockar com "(All I Can Do Is) Dream You".

sábado, 7 de maio de 2022

Hearts Of Fire - ORIGINAL SOUNDTRACK


   Lado A
1 Hearts Of Fire (F. Flanagan/B. Hill) - Fiona   3:44
2 The Usual (J. Hiatt) - Bob Dylan   3:32
3 I'm In It For Love (A. Goldmark/P. Henderson) - Fiona   4:00
4 Tainted Love (Edward C. Cobb) - Rupert Everett   3:08
5 Hair Of The Dog (That Bit You) (S. Bryant) - Fiona   3:34   
   Lado B
1 Night After Night (B. Dylan) - Bob Dylan   2:50
2 In My Heart (B. Wooley/S. Darlow) - Rupert Everett   3:19
3 The Nights We Spent On Earth (S. Sheridan/S. Diamond) - Fiona   4:27
4 Had A Dream About You, Baby (B. Dylan) - Bob Dylan   2:36
5 Let The Good Times Roll (J. Dexter/P. Hackman) - Fiona   3:28

Não é fácil perceber de que forma Bob Dylan se envolveu, como ator e músico, no elenco do filme "Hearts Of Fire", último trabalho do malogrado realizador britânico Richard Marquand que faleceu em setembro de 1987, a poucos meses da estreia oficial do filme. A película progride nos meandros de um triângulo amoroso em que uma antiga estrela rock (Bob Dylan) protege a sua jovem discípula (Fiona), por quem se apaixona, mas acaba por vir a perdê-la para uma nova estrela pop (Rupert Everett) em ascensão. Uma vulgar história de amores cruzados, passada nos bastidores dos palcos e enredada nas armadilhas da indústria musical, sem fulgor para alcançar grande impacto junto das audiências.

O objetivo da inclusão de Bob Dylan passaria naturalmente por servir de chamariz para o filme e, por outro lado, para o próprio Dylan seria uma tentativa de reavivar a sua importância artística. Mas o filme ficou aquém das expetativas, restando a banda sonora como o elemento mais importante, e mais intrigante, desta curiosa odisseia.

A função de uma banda sonora é encaixar de forma providencial no filme, reforçando a força sensorial das imagens com a música correta para o momento. A importância do ímpeto desta união de elementos destina-se a criar uma reação emocional por parte do espetador, que o transporte para dentro do filme ou que lhe faça sentir que é parte integrante da intimidade do momento, viver o sonho dentro do sonho.  

A cantora Fiona é o centro de toda a ação do filme, pelo que a maior parte das músicas são interpretadas por ela própria. Os momentos das suas atuações requerem músicas vistosas, enérgicas e orelhudas, capazes de prender a atenção das audiências mais sensíveis e entusiastas. "Hearts Of Fire", "I'm In It For Love" e "The Nights We Spent On Earth" são músicas equilibradas, que encaixam no perfil atrás descrito, sem cair no exagero patente em algumas das produções deste período musical, no entanto o mesmo não se pode dizer para "Hair Of The Dog (That Bit You)" e "Let The Good Times Roll", exageradamente rock e desproporcionais. 

O aproveitamento da participação de Bob Dylan no filme passa, para além da sua presença física, pela sua prestação musical e aqui a atenção redobra-se porque a sessão de gravação de Dylan incluiu Eric Clapton, como segunda guitarra, e Ron Wood, como baixista. Desta sessão (londrina) foram aproveitadas três músicas para esta banda sonora, destacando-se "The Usual" (original de John Hiatt) como a música mais interessante deste álbum. "Night After Night" carateriza-se pela sua tonalidade dançável, uma espécie de reggae em ritmo de baile, "Had A Dream About You, Baby" é aceitável mas não convincente.

A prestação de Rupert Everett representa o elemento pop do filme e começa pela interpretação de "Tainted Love", alvo de um arranjo de sopros interessante. Finaliza com a pop/rock de "In My Heart", apoiada nos riffs de sintetizador e tão caraterística desta época