quinta-feira, 30 de setembro de 2021

Fleetwood Mac - FLEETWOOD MAC


Lado A
1 Monday Morning (L. Buckingham)   2:48
2 Warm Ways (McVie)   3:50
3 Blue Letter (M. & R. Curtis)   2:31
4 Rhiannon (S. Nicks)   4:12
5 Over My Head (McVie)   3:34
6 Crystal (S. Nicks)   5:12   
Lado B
1 Say You Love Me (McVie)   4:11
2 Landslide (S. Nicks)   3:05
3 World Turning (McVie & L. Buckingham)   4:25   
4 Sugar Daddy (McVie)   4:09
5 I'm So Afraid (L. Buckingham)   4:15 

Até 1975, o ano de edição para um segundo álbum homónimo, a história dos britânicos Fleetwood Mac passa por diversas fases cujo desenlace se estende por variados capítulos, fortemente marcados pela instabilidade em conseguir manter os elementos da formação. Neste mesmo ano, apenas a sua secção rítmica, composta por Mick Fleetwood e John McVie, os únicos membros da formação original e cujos apelidos dão o nome à formação, permanecia fielmente no seu posto. A pianista e compositora Christine McVie mantinha a sua atividade com a banda desde 1970 e a formação passava agora a contar com os valiosos préstimos de uma dupla norte-americana composta pelo talentoso guitarrista Lindsey Buckingham e pela sua vistosa companheira e vocalista Stevie Nicks, com ambos a assumir ainda a sua veia de autores.  

O álbum marca o arranque de uma nova fase e iria dar início ao período de maior estabilidade e sucesso para os Fleetwood Mac. Os blues da fase inicial dão agora lugar a canções inteligentes e bem estruturadas, com a capacidade de funcionar eficazmente dentro da panorâmica pop/rock que viria a tornar o som da banda mais diversificado e acessível, e cuja qualidade viria a caraterizar definitivamente a sonoridade dos Fleetwood Mac.

A mais-valia de incluir três músicos na formação que contribuem com trabalho de composição gera variedade de estilos e alguma diversidade musical, levando aqui à criação de uma sonoridade pop/rock amadurecida que se deixa envolver calorosamente pela mágica ambiência da música folk e do country. 

Christine McVie é quem mais contribui para a sonoridade deste registo através da doçura de momentos singelos como "Warm Ways" e "Over My Head", a segurança de "Say You Love Me" e "Sugar Daddy", e uma parceria mais aguerrida, com Buckingham, em "World Turning". 
Stevie Nicks assume a postura folk do álbum e contribui com a serenidade de três músicas reveladoras, com destaque para a emblemática "Rhiannon". A fragilidade da interpretação de "Crystal" foi entregue a Buckingham, Stevie Nicks faz segunda voz, enquanto a intimidade acústica de "Landslide" apenas podia pertencer à própria Stevie Nicks, acompanhada por Buckingham nas guitarras. 
A agilidade e a postura de Lindsey Buckingham define a vertente rock/country da banda, aqui manifesta pelas duas composições desembaraçadas que abrem e fecham o registo e na sua forte presença como vocalista e guitarrista. "Monday Morning" é uma espécie de saudação enquanto a intensidade de "I'm So Afraid" fecha o álbum de forma grave e intrigante. 
A cumplicidade da secção rítmica, constituída pelos dois membros mais antigos da banda, imprime segurança e respeito, conduzindo o balanço que define o andamento da formação e tanto carateriza o seu estilo. 

Apesar da clarividência da diferença de estilos e ideias, é notável como a sonoridade da formação resulta unida e coerente. Apenas uma verdadeira combinação de atributos permite tal conjunção. No entanto, o álbum regista uma dinâmica irregular que não prejudica mas cria alguma instabilidade rítmica na sua audição. 

sexta-feira, 17 de setembro de 2021

Aula Magna 1983 - TROVANTE - CD02


1 Lisboa (E. de Andrade/Trovante)   3:09   
2 Linha Das Fronteiras (S. Godinho/M. Faria/J. Gil)   5:02   
3 Mulata (M. Faria)   11:29
4 Molinera (Tradicional de Rio de Onor - Jorge Dias/J. Gil (Música incidental: Woman of Ireland))   4:31
5 Garraiada (J. Gil/A. José Martins)   4:11   
6 Saudade (J. Gil)   5:59      
7 N'vula (F. Mukenga)   4:16
8 Namoro (V. da Cruz/Fausto)   5:13   
9 O Barco Vai De Saída (Fausto)   3:04
10 Prima Da Chula (Quadras Populares e A. Aleixo/Trovante)   3:46 
11 Não Há Três Sem Dois (F. Viana/Trovante)   2:41    
12 Uns Vão Bem Outros Mal (Fausto)   4:41   
 
Após o intervalo, os Trovante regressam ao palco mais confiantes e decididos, prontos a dar continuidade à festa. A primeira parte do concerto focou-se essencialmente na apresentação do álbum "Cais das Colinas" enquanto que a segunda parte estava reservada para alguns inéditos, algumas recordações e para as músicas-chave. A fusão entre a música tradicional e o jazz, já evidenciada em boa parte das músicas novas, ganha ainda mais enfâse nos arranjos das peças instrumentais mas o concerto, ainda assim, vive muito do tradicionalismo original e pela reação geral seria isso mesmo que este público queria ainda ouvir.

O regresso ao palco dá-se de forma tranquila com "Lisboa" seguida de "Linha Das Fronteiras", uma espécie de momento de adaptação pós-intervalo para se entrar então numa sequência de três peças, dois instrumentais intercalados por uma melodia transmontana, cuja viagem passa por África, Irlanda e, obviamente, Portugal. 

"Mulata" pertence ao alinhamento de "Cais das Colinas" e ao vivo presta-se como um momento de improvisação que aqui se estende por onze minutos através dos solos de Manuel Faria no piano, José Martins e José Salgueiro na percussão e bateria respetivamente e conclui com solo de saxofone de Artur Costa. De seguida, a banda tem a ousadia de tocar duas músicas novas, desconhecidas ainda do público, que apenas viriam a ser gravadas no ano seguinte para o álbum "84". "Molinera" é uma peça de influência celta combinada com uma canção popular de Rio de Onor, em Trás-os-Montes, já apresentada no esplendor da sua estrutura, enquanto "Garraiada", que tem como base o Fandango, não passava ainda de uma versão-embrião e acaba por soar um pouco deslocada da festa. 

Após esta sequência peculiar; a ovação recebida logo que Luís Represas canta a primeira frase de "Saudade" revela ser este um dos momentos mais esperados da noite e a partir daqui entra-se numa sequência de interpretações de músicas de autor com início em "N'vula" de Filipe Mukenga (de novo a sonoridade de África), seguida de duas músicas de Fausto; "Namoro", que alguns anos depois viria a servir de base a "Namoro II" no álbum "Sepes" dos Trovante, e a referência popular que é "O Barco Vai De Saída". O concerto finaliza em festa com "A Prima Da Chula" mas sucedem-se os encores e houve ainda tempo para recuperar o "velho" single "Não Há Três Sem Dois" e fechar de vez com "Uns Vão Bem Outros Mal", Fausto novamente, que encerra uma noite de antologia para a nova música popular portuguesa.    

Editado apenas vinte anos depois, o registo apresenta uma boa gravação, de qualidade límpida, que testemunha uma noite de reconhecimento de uma banda que há sete anos que aguardava por esta consagração. Este concerto representou um momento importante no percurso dos Trovante pois permitiu que o coletivo ganha-se confiança no seu trabalho e indicou o caminho a seguir. Seguir-se-iam os Coliseus no ano seguinte e a conquista de um almejado lugar de destaque no panorama da música portuguesa. O resto é história.

Na ficha técnica da edição está incluída a seguinte indicação; "Por questões inerentes à gravação não foi possível salvar o tema "Balada das Sete Saias"", uma das músicas icónicas dos Trovante. Manuel Faria, na sua biografia "Trovante, Por Detrás do Palco", descreve este momento assim "...as Sete Saias, o público canta mais alto que o Luís. De vez em quando, este já nem canta." 

terça-feira, 7 de setembro de 2021

Aula Magna 1983 - TROVANTE - CD01


1 Lua de Março (C. Tê/J. Gil)   5:32      
2 Pedra no Charco (L. Represas/J. Gil/M. Faria)   3:51   
3 Ribeirinho (F. Pessoa/J. Gil/J. Martins)   3:11   
4 Ibérica (J. Gil)   6:00   
5 Oração (J. Monge/J. Gil/M. Faria/L. Represas)   4:30      
6 Outra Margem (Maria R. Colaço/Trovante)   2:35    
7 Rio Largo de Profundis (J. Afonso)   2:11   
8 Caramba (S. Godinho)   3:17   
9 Comboio (L. Represas/J. Gil/M. Faria)   4:17

A 28 de Maio de 1983 os portugueses Trovante enfrentavam uma 'prova de fogo' em Lisboa. Há dois anos que o coletivo não tocava ao vivo na capital portuguesa e iriam então apresentar-se perante uma Aula Magna completamente esgotada, que os aguardava com carinho e expetativa. Na bagagem, os Trovante levavam o seu novo trabalho 'Cais Das Colinas' e um belo naipe de músicas de autores que admiravam.

Os Trovante viriam a terminar oficialmente em 1991, sem que a gravação dessa noite memorável na Aula Magna fosse editada em formato discográfico. Vinte anos depois, em 2003, reencontraram-se as fitas e as capas e logo se procedeu à mistura daquele que foi o concerto de consagração da banda perante o público lisboeta. A edição seria feita nesse mesmo ano, apenas em formato de cd duplo.

É interessante perceber como os Trovante se foram "afastando", aos poucos, da música mais tradicional e começaram a integrar elementos de outros géneros, nomeadamente pop e jazz. Uma fusão benéfica e esclarecedora que abria novas portas ao coletivo e incentivou a sua evolução musical. Apesar da abertura musical, já evidenciada no álbum 'Cais Das Colinas', o concerto da Aula Magna esperava uma banda ainda agregada ao seu passado mais tradicional. 

A segurança com que Luís Represas inicia a sua prestação em "Lua de Março", após uma breve introdução instrumental, transmite confiança e prenuncia uma boa atuação, que no final se confirma vitoriosa através da entusiasmante prestação da audiência, que terminou a noite em cima do palco. A serenidade de "Pedra No Charco", complementada pelos cuidados arranjos musicais, cria espaço para um momento de fusão mais popular com "Ribeirinho", que por sua vez conduz ao instrumental "Ibérica". 

"Oração" é uma peça mais séria, que Luís Represas apresenta com cuidado e respeito, uma prece de ambiente pesado e sentido. Com "Outra Margem" a banda sai pela primeira vez do alinhamento de "Cais Das Colinas", seguindo-se a interpretação de duas versões, da autoria de José Afonso e Sérgio Godinho respetivamente, que têm a capacidade de elevar o entusiasmo da sala e arrancar a primeira participação da audiência, com acompanhamento em palmas. Antes de partir para um pequeno intervalo, há ainda tempo para embarcar na complexidade rítmica de "Comboio", finalizando também o primeiro cd da edição, que inclui toda a primeira parte do concerto.