domingo, 29 de agosto de 2021

Birds Of Fire - MAHAVISHNU ORCHESTRA


1 Birds Of Fire (J. McLaughlin)   5:43
2 Miles Beyond (J. McLaughlin)   4:40
3 Celestial Terrestrial Commuters (J. McLaughlin)   2:55
4 Sapphire Bullets Of Pure Love (J. McLaughlin)   0:21
5 Thousand Island Park (J. McLaughlin)   3:20
6 Hope (J. McLaughlin)   1:55
7 One Word (J. McLaughlin)   9:55
8 Sanctuary (J. McLaughlin)   5:02
9 Open Country Joe (J. McLaughlin)   3:53
10 Resolution (J. McLaughlin)   2:09

A primeira formação da Mahavishnu Orchestra de John McLaughlin transmitia uma carga de energia tão intensa que havia dificuldade em catalogá-la como rock ou como jazz. Era uma sonoridade tão exótica e tão saturada que por vezes encontrava o equilíbrio certo através das sequências mais dinâmicas, cuja complexidade e os pontuais momentos de improvisação logo empurram para o jazz
Eram ainda os primeiros anos da música de fusão, que entretanto alcançava um estatuto semelhante ao rock pela sua proximidade de estilo/força e onde angariava a sua energia e rebeldia que seria depois expandida através do virtuosismo e da experiência dos seus elementos como músicos de jazz.

Birds Of Fire foi editado em 1973 como o segundo registo oficial deste coletivo ainda composto pela formação original. A liderança do guitarrista britânico John McLaughlin serviu sempre a imagem do grupo, tendo aqui ao seu lado o violinista Jerry Goodman, o teclista Jan Hammer, que aqui gravava pela primeira vez com um sintetizador (neste caso um mini-moog), o baixista Rick Laird e o baterista Billy Cobham, que gravava pela primeira vez com bombo duplo. Com execeção para Jerry Goodman, toda a banda tinha já algum historial em formações de jazz.

Uma poderosa demonstração de virtuosismo e de destreza, o álbum sustenta-se ncapacidade de leitura de um coletivo bem oleado e já preparado para o "confronto" em solos desmedidos. A estabilidade do registo está assegurada pela qualidade técnica dos seus elementos e é desta forma que o alinhamento se dispõe em momentos excitantes como "Birds Of Fire", "Celestial Terrestrial Commuters" ou a notável "One Word", e por vezes se contém em peças como a sobriedade acústica de "Thousand Island Park" ou a espiritualidade de "Sanctuary"

Depois há momentos distintos como "Miles Beyond", um tributo a Miles Davis que tem como base "Mademoiselle Mabry (Miss Mabry)", original de Miles Davis, que por sua vez assentava na base de "The Wind Cries Mary", original de Jimi Hendrix. "Thousand Island Park" destaca-se pela elegância de ser a única peça acústica do álbum, um momento de sobriedade para um trabalho tão irrequieto, cuja execução é feita em formato de trio (guitarra, piano e baixo). "Open Country Joe" começa como um momento descontraído que McLaughlin logo se encarrega de complicar, uma peça que navega algures entre a naturalidade do country/rock e a complexidade da fusão. "One Word" é a peça mais extensa do registo e manifesta-se como um diálogo de virtuosismo entre músicos e instrumentos. Um momento em que todos brilham individualmente mas é de facto a organização do diálogo pergunta/resposta, a meio da peça, que mais se destaca. 

quarta-feira, 18 de agosto de 2021

Bye Bye Blues - THE BLUES BAND (Live)


Lado A
1 Come On In (Stonebridge/McGuiness/Jones)   2:05
2 Hey, Hey, Little Girl (Stonebridge/McGuiness)   1:55
3 Death Letter (S. House)   4:05
4 Grits Ain't Groceries (T. Turner)   3:34
5 Flat Foot Sam (Wills/Lewis)   4:51
6 Don't You Lie To Me (C. Berry)   3:45
7 Can't Hold On (P. Jones)   5:09
Lado B
1 It Might As Well Be Me (Stonebridge/McGuiness)   3:58
2 Nadine (C. Berry)   4:22
3 Big Boss Man (Smith)   3:44
4 Maggie's Farm (B. Dylan)   7:14
5 Treat Her Right (R. Head)   5:44

Os The Blues Band nascem casualmente de um convite de Paul Jones (voz e harmónica) a Tom McGuiness (guitarrista). Ambos são ex-membros das formações iniciais da banda de Manfred Mann, a que se juntaram músicos com vasto historial de bandas desde 1962 até 1979. A contra-capa da edição em vinil deste álbum contêm uma árvore genealógica que explica os diversos cruzamentos das bandas envolvidas no percurso dos seis elementos, e outros que mais, que integraram a The Blues Band nesta primeira fase. O longo historial destes elementos permite perceber que as raízes da banda se estendem até às origens do rhythm and blues em solo britânico.

Formados em 1979 como uma banda part-time para preencher algumas datas, os britânicos The Blues Band acabaram por se tornar num caso sério. Nos três anos seguintes, viriam a gravar três álbuns de estúdio e a fazer cerca de seiscentas datas ao vivo, Portugal incluído, mas em cima do natal de 1982 encerravam a sua atividade com este registo ao vivo, como um alegre testemunho da sua despedida. A banda renasceu na segunda metade da década de 80 e tem-se mantido ativa até aos dias de hoje. 

Bye Bye Blues foi gravado ao vivo em dezembro de 1982 no clube londrino The Venue, que era, na altura, propriedade da Virgin Records. O registo retrata aquela que seria a última aparição da Blues Band após um curto período de existência que superou as expetativas da banda e das audiências. O repertório é rico em material de blues, rock 'n' roll clássico e alguns originais da Blues Band, sendo executado em ambiente de festa com participação de alguns músicos convidados, entre eles o pianista Ian Stewart, mais conhecido como o "sexto" Rolling Stone. 

A experiente formação da Blues Band era totalmente devota à alma e energia do blues/rock pelo que a sua entrega em palco é genuína e intensa. Paul Jones detém uma liderança exemplar pela sua postura, como voz principal e como um excelente tocador de harmónica. A fluidez das guitarras de Tom McGuiness e Dave Kelly é sedutora e cativante, e Kelly é um exímio utilizador do slide. A secção rítmica, Gary Fletcher no baixo e Rob Townsend na bateria, assegura o andamento de palco e complementa a excelência da formação. O saxofonista John "Irish" Earle e o trompetista Dick Hanson juntam-se à Blues Band nesta atuação, para participação em algumas músicas.

Apesar de ser um concerto de despedida vive-se um ambiente de festa. O que se pretendia era uma celebração, não só de uma banda mas de um estilo de música que se alimenta desta energia. O entusiasmo e a participação do público presente demonstra que assim foi.

quarta-feira, 11 de agosto de 2021

King Kong - JEAN-LUC PONTY (Plays the music of Frank Zappa)


Lado A
1 King Kong (F. Zappa)   4:54
2 Idiot Bastard Son (F. Zappa)   4:00
3 Twenty Small Cigars (F. Zappa)   5:35
4 How Would You Like To Have A Head Like That (Jean-Luc Ponty)   7:14
Lado B
1 Music For Electric Violin And Low Budget Orchestra (F. Zappa)   19:20
2 America Drinks And Goes Home (F. Zappa)   2:39

Em 1967, o jovem violinista francês Jean-Luc Ponty era um dos músicos convidados a participar na edição desse ano do festival Monterey Jazz, na califórnia. A atuação de Ponty causou grande sensação entre o público norte-americano, onde se encontrava o produtor Richard Bock que logo contratou Ponty para gravar para a sua editora World Pacific. Após algumas gravações e atuações com o pianista norte americano George Duke, Bock propôs um trabalho sob a supervisão de Frank Zappa. 

A abordagem a Frank Zappa foi feita na mesma altura em que este trabalhava ainda nas gravações de Hot Rats. Bock apresentou o trabalho que Ponty estava a gravar em solo norte-americano e entretanto o violinista francês já estava a gravar para uma das músicas de Hot Rats. Consequentemente, desenvolveu-se um interesse recíproco pelo trabalho de ambos os músicos e foi desta forma que Zappa aceitou trabalhar como compositor e arranjador do trabalho seguinte de Ponty.

Editado em 1970, King Kong é o resultado de uma parceria com tanto de invulgar como de genialidade. Um registo totalmente instrumental e desprovido de qualquer caráter comercial, tal como Zappa gostaria de descrever, King Kong, à semelhança do já referido Hot Rats, move-se nos terrenos do jazz de fusão que começava, por esta altura, a desenhar os seus contornos. O alinhamento do álbum é constítuido por cinco composições de Zappa, três delas já tinham sido utilizadas em alguns dos seus trabalhos anteriores, e uma peça original de Ponty, "How Would You Like To Have A Head Like That", em que Zappa tem uma pequena participação em guitarra elétrica, naquela que é a sua única aparição no registo como músico executante.

A peça central deste trabalho é a longa suite "Music For Electric Violin and Low Budget Orchestra", assim denominada, muito provavelmente, pelo facto de Zappa ter solicitado uma orquestra de 97 elementos mas a peça acabou por ser gravada por uma formação com apenas 11 elementos.  Nesta peça, dividida por duas partes, é possível encontrar elementos de jazz, rock e música contemporânea. 

A sobriedade de "Twenty Small Cigars" desmarca-se das restantes peças de Zappa pelo puro deleite da delicada prestação de Ponty e do saxofonista Ernie Watts, sempre apoiados pelo piano de George Duke. "King Kong", "Idiot Bastard Son" e "America Drinks And Goes Home" são as músicas que Zappa já tinha gravado anteriormente, nomeadamente com os Mothers Of Invention, e que aqui são revisitadas com novos arranjos, mantendo o perfil original.  

O violino foi sempre um instrumento mais associado com a música clássica. Os poucos exemplos da sua utilização no jazz não foram muito além do também francês Stéphane Grappelli, com Django Reinhardt, e Ray Nance, na orquestra de Duke Ellington. Ponty trouxe alguma frescura na recuperação da sonoridade das cordas de arco com a sua eletrificação e a música de fusão surgia como terreno propício para o seu desenvolvimento.   

Através destas sessões, Zappa descobriu a qualidade técnica do pianista George Duke que, juntamente com Ponty, viria a integrar as suas próximas formações.

quarta-feira, 4 de agosto de 2021

Mingus Dynasty - CHARLES MINGUS AND HIS JAZZ GROUPS


1 Slop (C. Mingus)   6:14
2 Diane (C. Mingus)   7:28
3 Song With Orange (C. Mingus)   6:47
4 Gunslinging Bird (C. Mingus)   5:12
5 Things Ain't What They Used To Be (M. Ellington)   7:35
6 Far Wells, Mill Valley (C. Mingus)   6:11
7 Never Now Know How (C. Mingus)   4:12
8 Mood Indigo (I. Mills/B. Bigard/D. Ellington)   8:12
9 Put Me In That Dungeon (C. Mingus)   2:51
   Bónus Track
10 Strollin' (C. Mingus/G. Gordon)   4:33      

O contrabaixista e compositor norte americano Charles Mingus será sempre recordado como um dos gigantes do jazz, em todos os aspetos. A sua genialidade revelou-se pela forma inovadora como procurava romper com a composição mais clássica do jazz através das suas próprias composições. As suas peças fragmentavam-se em secções diferenciadas evidenciando uma forma de composição complexa e vanguardista, com reminiscências classicistas, em que incitava os seus músicos a desenvolver a sua individualidade evitando a imitação do estilo dos mestres.

"Mingus Dynasty" foi gravado em duas sessões, em novembro de 1959, e editado em 1960. As gravações foram feitas praticamente pelo mesmo ensemble, que sofre ligeiras alterações entre as duas sessões. O álbum inclui-se num dos períodos mais criativos de Charles Mingus e revela-se como uma peça de trabalho excitante e irrequieta, executado por uma banda estável e muito ativa que está sempre em constante "movimento". A introdução das peças dificilmente revela o tema e as mudanças de andamento sucedem-se criando momentos díspares mas muito bem enquadrados na sua estrutura original.

Com a exceção das peças "Things Ain't What They Used To Be" e "Mood Indigo", ambas são nobre legado do clã Ellington, o restante alinhamento é da total autoria de Charles Mingus. "Diane", assim renomeada em honra de Diane Dorr-Dorynek, então companheira de Mingus, demonstra alguma influência do período romântico que caraterizou a música europeia em finais do século XIX e inícios do século XX. A peça é introduzida por algum deste caráter classicista até entrar na sua bonita melodia e no detalhado solo de piano de Roland Hanna. A originalidade de "Far Wells, Mill Valley" é outro dos pontos fortes do registo pela irregularidade da sua estrutura. Em "Gunslinging Bird" encontra-se um momento ritmicamente excitante em que o baterista Dannie Richmond se evidencia por abalar, da melhor forma, a contextura da peça. 

Esta reedição em formato cd inclui cinco peças que na edição original aparecem em versões editadas e que aqui surgem nas versões não editadas, o que permite perceber o entusiasmo dos músicos nas sessões. Há também a inclusão de uma faixa extra, "Strollin", com participação vocal de Honey Gordon.