quinta-feira, 18 de novembro de 2021

Amigos Em Portugal - DURUTTI COLUMN


   Amigos Em Portugal
1 Amigos Em Portugal (V. Reilly)   3:58
2 Menina Ao Pé Duma Piscina (V. Reilly)   3:23
3 Lisboa (V. Reilly)   4:10
4 Sara E Tristana (V. Reilly)   2:56
5 Estoril À Noite (V. Reilly)   2:52
6 Vestido Amarrotado (V. Reilly)   3:48
   Dedications For Jacqueline
7 Wheels Turning (V. Reilly)   2:53
8 Lies Of Mercy (V. Reilly)   2:46
9 Saudade (V. Reilly)   2:28
10 Games Of Rhythm (V. Reilly)   2:07
11 Favourite Descending Intervals (V. Reilly)   4:50
12 To End With (V. Reilly)   1:23

O britânico Vini Reilly é uma figura tímida, frágil e delicada, que comunica afetuosamente através do encanto e genuinidade da sua música. São trabalhos maioritariamente instrumentais, à guitarra ou ao piano, em que a lúgubre sonoridade das suas composições é um impressionante reflexo da sua imagem. Por vezes solta também a macieza de um canto tímido mas o reconhecimento artístico de Vini Reilly assenta na candura da consciente sonoridade que retira da sua guitarra.

A ligação com Portugal nasce da amizade entre Miguel Esteves Cardoso e Vini Reilly desde os tempos iniciais do projeto The Durutti Column em Manchester, UK, onde o jovem estudante português se encontrava a lecionar em finais da década de 1970. Em 1982, inspirando-se na estética assumida pela mítica editora britânica Factory de Tony Wilson, com quem também mantinha uma boa amizade, Miguel Esteves Cardoso juntava-se com Pedro Ayres Magalhães e Ricardo Camacho para a criação da primeira editora portuguesa "independente", sob a denominação Fundação Atlântica (Companhia de Discos de Portugal).   

O projeto The Durutti Column cedo se tornou no projeto a solo de Vini Reilly e após a sua atuação no Festival de Vilar de Mouros, em 1982, terá surgido o convite da recente editora para a gravação de um single ou de um pequeno EP em Portugal. Em junho de 1983 Vini Reilly gravou sozinho nos estúdios da Valentim de Carvalho em Paço d'Arcos e no curto espaço de tempo disponível aproveitou o máximo de fita acabando por deixar um inesperado rasto de músicas irresistíveis. Em vez de um single, a Fundação Atlântica deparava-se com um álbum completo que logo se encarregou de editar.     

Amigos em Portugal é um trabalho de reconhecida amizade, sendo também um álbum de sensações e de esboços porque o que Vini Reilly gravou em Paço d'Arcos eram na realidade composições em que andava a trabalhar para edições futuras, terá sido essa a base para estas gravações. Depois o entusiasmo do estúdio levou-o um pouco mais além e as peças foram despontando, ora ao piano ora à guitarra. O registo é ordenado em doze músicas e apenas três são cantadas ("Vestido Amarrotado", "Wheels Turning" e "Lies Of Mercy"). O restante alinhamento é composto pela delicadeza de pequenas peças instrumentais que parecem flutuar num mar de estrelas.    

Tematicamente, o álbum é dividido por duas partes com um lado do vinil a apresentar os títulos das músicas em Português enquanto o lado contrário apresenta os títulos em Inglês. As músicas com títulos em Português aparentam ser dedicatórias aos "amigos de Portugal", a faixa "Sara e Tristana" é um claro tributo às filhas de Miguel Esteves Cardoso e não há palavra mais portuguesa do que "Saudade". Apesar do título "Vestido Amarrotado", esta música é cantada em Inglês. "Games Of Rhythm" e "Favourite Descending Intervals" soam como exercícios, "Menina Ao Pé Duma Piscina" e "Sara E Tristana" foram gravadas utilizando precisamente o mesmo padrão rítmico, retirado de uma caixa de ritmos, provavelmente com intenção de servir apenas de guia, o que reforça a intenção de Reilly estar a gravar demos.

A Fundação Atlântica encerrou a atividade em 1985 e este registo acabou por se tornar numa peça rara e curiosa.

terça-feira, 9 de novembro de 2021

Infinity - WORSHIP OF THE SENSES


1 A Spy Is In The House (N. Russo)   4:50
2 It's A Fire (J. Promis)   3:25   
3 Kitsch (N. Russo)   3:19
4 Netless (N. Russo)   3:20
5 Ghosts (N. Russo)   3:47   
6 Road Cage (N. Russo)   3:27   
7 Infinity (N. Russo/R. Calças)   6:06
8 Glitch (N. Russo)   4:31   
9 Suspicion (N. Russo)   5:22
10 Talking Loud And Clear (M. Cooper/OMD)   3:30
11 The Zabriskie Point (N. Russo)   6:21   
12 I Live Inside A Cardboard Box (N. Russo)   3:36      

Com origem em terras de Leiria, Portugal, o projeto Worship Of The Senses é atualmente fruto da mente criativa de Nuno Russo, o único elemento permanente, que assume a voz e todo o trabalho de composição, recorrendo depois ao préstimo de alguns músicos convidados para dar cor e vida à sua obra. Um percurso iniciado em 2006 que, à semelhança de muitas outras bandas nacionais, tem sido percorrido pacientemente através do árduo caminho de um mercado pequeno e sem apoios em que as edições de autor são a única forma de mostrar algo e mantêm viva a esperança de que algum dia possam chegar às mãos certas para uma boa divulgação e quem sabe alcançar a notoriedade de algum reconhecimento.
 
Editado nos inícios de 2021, Infinity começou a ser gravado em meados de 2019 mas a pandemia causada pela propagação do novo coronavírus SARS-COV-2 veio atrasar o lançamento do que viria a ser o segundo álbum de originais para os Worship Of The Senses. No entanto, este entrave acabou por permitir uma revisão mais atenta de alguns pormenores de produção do registo. Trata-se de uma edição de autor e não denuncia qualquer relação com o ainda atual estado de pandemia.

Nuno Russo aposta na língua inglesa para o seu trabalho de escrita e garante a universalidade de uma estrutura pop/rock que se vai diversificando na abordagem de estilos e ajuda a criar um registo versátil. A falta de um fio condutor no alinhamento pode suscitar algum desnorte inicial mas o registo completa-se pelas boas ideias e por momentos muito bem conseguidos tanto a nível de execução como de produção. O single de apresentação, "Kitsch", tem selo de hit e num outro campeonato poderia facilmente competir por um lugar no top. "Infinity" exprime-se como uma balada imponente e como evidente herdeira da grandiosidade estética do melhor estilo da euro-pop; fruto de uma parceria entre Nuno Russo e Rui Calças, que para além dos teclados assume a gravação e a produção do registo. Estes são realmente os pontos fortes do álbum mas há mais por onde pegar, no bom sentido. 

Sem ser excessivamente rock nem demasiado comercial, é na vertente pop que o álbum obtém resultados mais convincentes mercê da serenidade da boa prestação vocal de Nuno Russo que pode não evidenciar grandes atributos vocais mas mostra ter um bom domínio de voz. Uma prestação calculada, mesmo nas músicas mais aguerridas, recorrendo apenas à participação de Samuel Pedrosa para uma expressiva prestação vocal em "Ghosts", como músico convidado. Não será alheio o facto de que a produção de Rui Calças terá também alguma influência na abordagem mais pop do registo.

O contraste dos estilos é evidente ao longo do álbum sentido-se logo de início através da fusão das guitarras de "A Spy Is In The House" com a ordenada ligeireza vocal de Nuno Russo, facto que se volta a repetir na dissimulação pop de "Suspicion" também camuflada pelas guitarras rock e ainda interpelada por uma curta sequência reggae, que resulta noutro dos momentos mais bem conseguidos do registo. Pelo meio fica a instabilidade de "Glitsch", que "nem é carne nem é peixe". A intensidade do rock sente-se em "Ghosts" e "The Zabriskie Point", mostrando uma outra faceta do registo, onde ainda se podem incluir "Netless" e "Road Cage" que apresentam uma sonoridade mais fechada e manifestamente mais crua por pertencerem a uma sessão de gravação diferente.

A ter em conta a inclusão de duas versões bem conseguidas; "It's A Fire" ultrapassa claramente o original de Jose Promis enquanto que a abordagem de "Talking Loud And Clear" respeita o original dos britânicos Orchestral Manoeuvres In The Dark e imprime uma nova dinâmica para esta música.

O registo encerra com a descontração e simpatia de "I Live Inside A Cardboard Box".

Infinity merece uma audição atenta e pode ser adquirido em formato cd através do site oficial da banda (https://worshipofthesenses.com/pt/) aparecendo também disponível para audição em várias plataformas digitais:

https://worshipofthesenses.bandcamp.com/releases

https://open.spotify.com/album/6Uieek2VYAPKs0qnMkYMsG

https://audiobox.pt/artists/worship-of-the-senses/