domingo, 24 de janeiro de 2021

Hopes And Fears - KEANE


1 Somewhere Only We Know   3:56
2 Bend And Break   3:38   
3 We Might As Well Be Strangers   3:11
4 Everybody's Changing   3:34
5 Your Eyes Open   3:21
6 She Has No Time   5:44
7 Can't Stop Now   3:37
8 Sunshine   4:10
9 This Is The Last Time   3:26   
10 On A Day Like Today   5:25
11 Untitled I   5:34
12 Bedshaped   4:35

Registo de estreia, em formato álbum, para os britânicos Keane em 2004 sob o mote "esperanças e receios" ou um trabalho cheio de encanto que padece da incerteza de um futuro incógnito mas vive na esperança de que a sorte lhe sorria. 

A revelação desta pop ousadatão nítida e tão sóbria, assente apenas na estabilidade de um trio que se constitui por uma voz, teclas, baixo e bateria, surpreende por ser musicalmente rica, consciente e emocional, encarando pela sua forma essencial o domínio abrasivo do poder das guitarras. A formação original até teve um guitarrista, que os abandonou ainda antes de chegarem aos discos, mas os Keane perduraram e conseguem demonstrar que possuem agora a fórmula que erradica esse preconceito e usam-na de forma perfeita e eficaz através de canções exemplares, cheias de harmonia.  

Cedo se percebe que os principais ingredientes da fórmula residem na aptidão vocal de Tom Chaplin e na magia pop das capacidades técnicas de Tim Rice-Oxley ao piano. Tom Chaplin encanta pela beleza do seu timbre imberbe enquanto Tim Rice-Oxley compõe as elegantes estruturas sonoras que servem de bagagem à sonoridade da banda, a que se junta a segurança e regularidade do baterista Richard Hughes.

É um prazer enorme usufruir de um álbum em que cada uma das músicas que o compõe se pode destacar como um single e "Hopes And Fears" encaixa facilmente no perfil desse lote de trabalhos. No final ressalva-se a genuinidade de um registo eficiente que cativa pela naturalidade e limpidez de uma pop sadia que no fundo do seu íntimo não esconde alguma aspiração rock

domingo, 17 de janeiro de 2021

On The Edge Of Tomorrow - STEVE COLEMAN AND FIVE ELEMENTS


1 Fire Revisited (S. Coleman)   4:48
2 Fat Lay Back (S. Coleman)   2:12
3 I'm Going Home (Kevin B. Harris)   2:58
4 It Is Time (G. Haynes)   2:06
5 (In Order To Form) A More Perfect Union (S. Coleman)   6:56
6 Little One I'll Miss You (B. Green)   4:33
7 T-T-Tim (S. Coleman)   1:54
8 Metaphysical Phunktion (K. Bell)   4:49
9 Nine To Five (S. Coleman)   1:40
10 Profile Man (S. Coleman)   2:54
11 Stone Bone (Can't Go Wrong) (S. Coleman)   6:41
12 Almost There (Kevin B. Harris)   2:06
13 Change The Guard (S. Coleman)   6:01

Editado em 1986, este é um dos álbuns em que o saxofonista norte americano Steve Coleman se apresentou finalmente em registo discográfico com o projeto Five Elements. Um coletivo que vinha do percurso das ruas e pequenos bares de Nova Iorque, composto por uma formação jovem, de sangue fervilhante e muita vontade e aptidão para saltar convenções, que se rege por uma orientação concetual denominada M-Base (acrónimo para Macro-Basic Array of Structured Extemporizations) desenvolvida por Steve Coleman e pelo trompetista Graham Haynes. 

O conceito é um pouco mais complexo mas no fundo trata-se de uma perspetiva pessoal que ambiciona um desenvolvimento musical centrado na evolução criativa através da experiência do momento, a importância do improviso, sem limites estruturais, e que não pretende ser conetado com jazz, que Coleman considera ser apenas uma palavra sem qualquer significado. O seu interesse é que todos se foquem no processo criativo do momento em que se vive e se toca, experiência esta que deve ser também vivida pelo ouvinte, absorvendo e utilizando toda a série de influências que chegam diariamente de todo o mundo, evitando as limitações criadas pelas definições dos géneros musicais.

Contrariando o conceito original do seu líder, "On The Edge Of Tomorrow" é indubitavelmente um registo funky, com muito jazz e até mesmo algum hip-hop. Um trabalho manifestamente ousado e imprevisível, detentor de uma frescura sonora bem dinâmica que se evidencia como uma orgia sonora em que todos contribuem para o seu momento mas de forma ordenada. 

Metade do registo é composto por pequenas composições que parecem ter sido elaboradas como bases de improvisação mas que não vão muito além dos dois minutos. Apesar de curtas apresentam uma estrutura de composição muito rica que em prestações ao vivo podem ser realmente mais prolongadas. A outra metade do registo manifesta-se em peças bastante sólidas, ritmicamente poderosas, que impressionam pela força, dinamismo e segurança deste coletivo no seu todo. Exceção, pela sobriedade da voz de Cassandra Wilson, na interpretação de "Little One I'll Miss You", original de Bunky Green, um saxofonista norte americano que Steve Coleman admira e respeita.   

Para além da evidência das capacidades técnicas desta formação sobressai ainda a expressão das suas vozes que têm um papel igualmente preponderante, evidenciado não pelo formato de canções mas por jogos de palavras que intervêm como elemento rítmico ou pela força do poder da palavra em si.

Um trabalho inovador, situado algures no limiar do amanhã, feito com a determinação e propósito de criar música não estereotipada através da experiência coletiva. No entanto, conceitos e teorias serão sempre discutíveis ...

quinta-feira, 7 de janeiro de 2021

Flickering Flame "The Solo Years Volume I" - ROGER WATERS


1 Knockin' On Heaven's Door (B. Dylan)    4:06   
2 Too Much Rope   5:11
3 The Tide Is Turning (After Live Aid)   5:24
4 Perfect Sense, part I & II   7:22
5 Three Wishes   6:48
6 5:06 am (Every Stranger's Eyes)   4:46   
7 Who Needs Information   5:54   
8 Each Small Candle   8:34
9 Flickering Flame (new demo)   6:44   
10 Towers Of Faith   6:51
11 Radio Waves   4:30   
12 Lost Boys Calling (E. Morricone/R. Waters) (Original Demo)   4:03   

Considerando que o carismático ex-líder dos Pink Floyd não detém uma carreira recheada de êxitos, apesar da assinatura de Roger Waters constar em alguns dos trabalhos mais relevantes da história do rock, facilmente se constata que este registo não é um best of. À data da sua edição em 2002 Roger Waters contava apenas com três trabalhos de estúdio pós-Pink Floyd e um duplo álbum ao vivo gravado durante a tournée In The Flesh, editado em 2000. 

É basicamente nestes trabalhos que Flickering Flame se centra apresentando-se como uma edição limitada para colecionadores com o atrativo de incluir algumas curiosidades e músicas menos conhecidas. E se se pensar que os Pink Floyd pós-Roger Waters obtiveram enorme êxito na década de 90 com apenas dois álbuns de estúdio e os respetivos álbuns ao vivo para as correspondentes e bem sucedidas tournées, sucesso complementado em 2001 com a edição da dupla coletânea Echoes, facilmente se conclui que Waters quis marcar o seu terreno e confirmar com esta edição que não tem estado tão parado como parecia.

O primeiro apontamento da edição vai para a interpretação de "Knockin' On Heaven's Door". Não sendo comum ver Roger Waters fazer versões de outros músicos esta é uma abordagem realmente curiosa. A versão é simples, aproxima-se bastante do original de Bob Dylan, pelo que a intenção poderá passar apenas por devolver a música à sua essência original contrariando o enorme êxito que os Guns n' Roses obtiveram com a espampanante versão hard rock de inícios da década de 90. 

Para quem está familiarizado com a obra a solo de Waters muitas são as músicas que aqui podiam estar em vez destas mas há que não esquecer que são trabalhos essencialmente concetuais pelo que muitas das músicas ficariam fora do seu contexto. O álbum Pros And Cons é representado apenas por "Every Strangers Eyes", sendo também a única faixa desse álbum que Waters manteve nos seus concertos, Radio K.A.O.S. está realmente representado pelas duas faixas mais emblemáticas enquanto Amused To Death, o seu trabalho mais genuíno, é também o mais representado na edição. "Towers Of Faith" foi retirada da banda sonora de When The Wind Blows, um filme de animação adulta acerca da eminência de uma guerra nuclear, cuja banda sonora inclui participações de David Bowie aos Genesis mas é Roger Waters & The Bleeding Heart Band quem detém a totalidade de um dos lados da edição em vinil da banda sonora, edição original de 1986.

A impressionante carga emocional que Waters consegue imprimir às audiências durante os seus concertos encontra-se aqui bem evidenciada pela arrepiante prestação ao vivo de "Perfect Sense, part I & II" e na inclusão da vigorosa interpretação de "Each Small Candle", uma peça inédita que foi incluída na tournée In The Flesh e que apenas aparece editada no seu registo ao vivo.

A inclusão de duas demo completa o registo. "Flickering Flame" serve de título à edição e limita-se a ser uma longa peça acústica ao melhor estilo de Bob Dylan, acompanhada apenas por teclados e pontualmente por uma guitarra elétrica. Apesar de se tornar algo repetitiva contém passagens caraterísticas da assinatura de Roger Waters. A edição fecha com a crueza da demo original para "Lost Boys Calling", uma música composta por Ennio Morricone em 1998, para o filme "The Legend Of 1900", com letra e interpretação de Roger Waters.