terça-feira, 31 de maio de 2022

The Best Of OMD - ORCHESTRAL MANOEUVRES IN THE DARK


   Lado A
1 Electricity (OMD)   3:28
2 Messages (OMD)   4:43
3 Enola Gay (OMD)   3:30
4 Souvenir (OMD)   3:33
5 Joan Of Arc (OMD)   3:46
6 Maid Of Orleans (OMD)   4:09
7 Talking Loud And Clear (OMD)   3:47
   Lado B
1 Tesla Girls (OMD)   3:32
2 Locomotion (OMD/Troeller)   3:50
3 So In Love (OMD/S. Hague)   3:25
4 Secrets (OMD)   3:55
5 If You Leave (OMD)   4:27
6 (Forever) Live And Die (OMD)   3:34
7 Dreaming (OMD)   3:52

Em 1988, a synthpop dos britânicos Orchestral Manoeuvres In The Dark comemorava uma década de existência através da edição de uma compilação que reúne quatorze significativos singles que a banda editou ao longo desse período de tempo. Um percurso com inicio na aurora cinzenta do post-punk cujo desenvolvimento se processa naturalmente nos caminhos consequentes da refrescante new wave até alcançar o brilho de uma pop colorida e organizada, determinada pela evolução das máquinas e pela filosofia da sua utilização, sem perder identidade e estilo.

Na sua primeira atuação ao vivo, os Orchestral Manoeuvres In The Dark tocaram como banda de suporte para os míticos Joy Division no Eric's Club, em Liverpool. Espaço importante de divulgação musical, o clube mantinha ligações com a igualmente histórica editora Inglesa Factory, de Tony Wilson, que era também a "casa" dos Joy Division. A ligação estabeleceu-se e o single "Electricity" foi uma das primeiras edições discográficas da Factory, em 1979, mas a ligação não passou daí. O primeiro álbum dos OMD seria lançado em 1980 pela Dindisc, subsidiária da Virgin, e a porta ficava aberta para o futuro da pop.

"Electricity", "Messages" e o hit "Enola Gay", evidenciam bem a influência da sonoridade eletrónica dos alemães Kraftwerk nos primeiros tempos dos OMD enquanto "Souvenir", "Joan Of Arc" e "Maid Of Orleans" deixam transparecer a influência do compatriota Brian Eno, referências que os OMD sempre assumiram. Estes seis singles são representativos da fase mais emblemática da banda. A pop dinâmica, preenchida de cinza e eletricidade, tão física como maquinal, cede lugar à beleza estética da religiosidade que parece dominar a tendência do terceiro álbum em 1981.

Ao quinto álbum, editado em 1984, os OMD atualizam o seu som que começa a revelar a vivacidade de uma pop descaradamente colorida mas sempre bem estruturada. "Talking Loud And Clear", "Tesla Girls", "Locomotion", "So In Love" e "Secrets" marcam este período "controverso" que afastou alguns dos fãs mais cinzentos. A regularidade da banda ao longo da década permitiu-lhe manter-se sempre no radar geral mas sem atingir o cimo dos Tops. Em 1986 gravam o maravilhoso single "If You Leave" para a banda sonora do filme "Pretty In Pink" e nesse mesmo ano gravam também aquele que seria o seu último álbum dessa década, de onde foi retirado o single "(Forever) Live And Die" que retoma alguma da essência melódica dos primeiros anos. A compilação fecha com o single "Dreaming", gravado como um novo chamariz para promoção do registo.

quarta-feira, 25 de maio de 2022

Mistery Girl - ROY ORBISON


   Lado A
1 You Got It (J. Lynne/R. Orbison/T. Petty)   3:31
2 In The Real World (W. Jennings/R. Kerr)   3:42
3 (All I Can Do Is) Dream You (B. Burnette/D. Malloy)   3:38
4 A Love So Beautiful (J. Lynne/R. Orbison)   3:33
5 California Blue (R. Orbison/J. Lynne/T. Petty)   3:57      
   Lado B
1 She's A Mystery To Me (D. Evans/P. Hewson)   4:16
2 The Comedians (E. Costello)   3:23
3 The Only One (W. Orbison/C. Wiseman)   3:52
4 Windsurfer (R. Orbison/B. Dees)   4:02
5 Careless Heart (R. Orbison/D. Warren/A. Hammond)   4:08
 
A carreira do norte-americano Roy Orbison podia ter conhecido outros contornos caso não estivesse marcada pela inconsequência de algumas agruras que a vida lhe reservou. A mudança de editora mal sucedida, em 1965, a dor e o tormento de sofrer duras percas familiares em finais dessa mesma década e um grave problema de saúde em finais da década de 1970, impediram Roy Orbison de ter uma carreira de êxitos convencional tal como a de muitos dos seus contemporâneos, no entanto, uma geração sonhadora, que incluía alguns futuros músicos rock'n roll, cresceu ao som da sua música e nunca o esqueceu.

Um dos grandes dons de Roy Orbison era a capacidade de através da sua pura genuinidade nos conseguir recordar que no mundo nem tudo é mau, pois este também pode ser um lugar esplêndido onde acontecem coisas maravilhosas. Em 1986, o realizador David Lynch usava a música "In Dreams", que Orbison gravou em 1963, para criar um dos momentos mais paradoxais do filme Blue Velvet. Numa cena de extrema violência, em que se chega a temer pela vida da vítima, um irado e descontrolado Dennis Hopper exige aos seus parceiros que ponham "In Dreams" a tocar no rádio do carro. A cena acaba por se desenrolar num dos ambientes mais bizarros que o filme nos proporciona, com a música de Orbison a funcionar plenamente em duas frentes distintas; para Hopper como uma forma terapêutica de o acalmar mas também capaz de o excitar, para o espectador como uma forma de o abstrair da violência em curso. Em certa medida, a aparição e o efeito da música no filme terá sido bastante significativa para o despertar da carreira de Roy Orbison na segunda metade da década de 1980. 

Entretanto, as situações foram-se sucedendo e Roy Orbison ia sendo acarinhado de variadas formas pela tal geração que nunca o esqueceu e que tinha agora oportunidade de revelar a sua devoção e reconhecimento, motivando-se no empenho do relançamento da importância da sua carreira no meio musical através de prestações musicais relevantes como a criação do grupo Traveling Wilburys, composto por George Harrison, Tom Petty, Bob Dylan, Jeff Lynne e ainda pelo próprio Roy Orbison, todos sob o pseudónimo Wilbury. O passo seguinte seria a criação de um novo álbum de originais em nome próprio. 

Composto, produzido e gravado com a ajuda de nomes como Jeff Lynne, Tom Petty, T-Bone Burnett, Bono, Mike Campbell e outros mais, "Mistery Girl" foi gravado nos finais de 1988 mas Roy Orbison viria a falecer em dezembro desse mesmo ano e infelizmente não teve oportunidade de tirar proveito daquele que se tornaria no seu trabalho mais rentável. O  registo só foi editado em fevereiro de 1989

É um álbum belíssimo, feito com amizade, carinho, admiração e muito respeito por um nome tão singular na história do rock. Um registo de charme e classe sem receio de recuperar o espírito que carateriza a obra original de Roy Orbison, nomeadamente ao nível das vozes, cujos arranjos são admiráveis, o que permite um rápido reconhecimento do seu estilo e garante o selo de autenticidade para quem pudesse ter dúvidas quanto à sua recuperação artística numa época já bastante desenquadrada dos primórdios do rock. O sucesso do single "You Got It" deu o primeiro sinal positivo, depois revelava-se o álbum. "She's A Mystery To Me", escrita por Bono e The Edge, e a recuperação de "The Comedians", original de Elvis Costello, são os momentos menos enquadrados no espírito da obra mas ainda assim encaixam muito bem no alinhamento do registo e há que relevar a distinta magia Memphis de "The Only One". Depois é deixar embalar por "In The Real World", "A Love So Beautiful" e "Careful Heart", saborear o calor refrescante de "California Blue" e "Windsurfer" ou rockar com "(All I Can Do Is) Dream You".

sábado, 7 de maio de 2022

Hearts Of Fire - ORIGINAL SOUNDTRACK


   Lado A
1 Hearts Of Fire (F. Flanagan/B. Hill) - Fiona   3:44
2 The Usual (J. Hiatt) - Bob Dylan   3:32
3 I'm In It For Love (A. Goldmark/P. Henderson) - Fiona   4:00
4 Tainted Love (Edward C. Cobb) - Rupert Everett   3:08
5 Hair Of The Dog (That Bit You) (S. Bryant) - Fiona   3:34   
   Lado B
1 Night After Night (B. Dylan) - Bob Dylan   2:50
2 In My Heart (B. Wooley/S. Darlow) - Rupert Everett   3:19
3 The Nights We Spent On Earth (S. Sheridan/S. Diamond) - Fiona   4:27
4 Had A Dream About You, Baby (B. Dylan) - Bob Dylan   2:36
5 Let The Good Times Roll (J. Dexter/P. Hackman) - Fiona   3:28

Não é fácil perceber de que forma Bob Dylan se envolveu, como ator e músico, no elenco do filme "Hearts Of Fire", último trabalho do malogrado realizador britânico Richard Marquand que faleceu em setembro de 1987, a poucos meses da estreia oficial do filme. A película progride nos meandros de um triângulo amoroso em que uma antiga estrela rock (Bob Dylan) protege a sua jovem discípula (Fiona), por quem se apaixona, mas acaba por vir a perdê-la para uma nova estrela pop (Rupert Everett) em ascensão. Uma vulgar história de amores cruzados, passada nos bastidores dos palcos e enredada nas armadilhas da indústria musical, sem fulgor para alcançar grande impacto junto das audiências.

O objetivo da inclusão de Bob Dylan passaria naturalmente por servir de chamariz para o filme e, por outro lado, para o próprio Dylan seria uma tentativa de reavivar a sua importância artística. Mas o filme ficou aquém das expetativas, restando a banda sonora como o elemento mais importante, e mais intrigante, desta curiosa odisseia.

A função de uma banda sonora é encaixar de forma providencial no filme, reforçando a força sensorial das imagens com a música correta para o momento. A importância do ímpeto desta união de elementos destina-se a criar uma reação emocional por parte do espetador, que o transporte para dentro do filme ou que lhe faça sentir que é parte integrante da intimidade do momento, viver o sonho dentro do sonho.  

A cantora Fiona é o centro de toda a ação do filme, pelo que a maior parte das músicas são interpretadas por ela própria. Os momentos das suas atuações requerem músicas vistosas, enérgicas e orelhudas, capazes de prender a atenção das audiências mais sensíveis e entusiastas. "Hearts Of Fire", "I'm In It For Love" e "The Nights We Spent On Earth" são músicas equilibradas, que encaixam no perfil atrás descrito, sem cair no exagero patente em algumas das produções deste período musical, no entanto o mesmo não se pode dizer para "Hair Of The Dog (That Bit You)" e "Let The Good Times Roll", exageradamente rock e desproporcionais. 

O aproveitamento da participação de Bob Dylan no filme passa, para além da sua presença física, pela sua prestação musical e aqui a atenção redobra-se porque a sessão de gravação de Dylan incluiu Eric Clapton, como segunda guitarra, e Ron Wood, como baixista. Desta sessão (londrina) foram aproveitadas três músicas para esta banda sonora, destacando-se "The Usual" (original de John Hiatt) como a música mais interessante deste álbum. "Night After Night" carateriza-se pela sua tonalidade dançável, uma espécie de reggae em ritmo de baile, "Had A Dream About You, Baby" é aceitável mas não convincente.

A prestação de Rupert Everett representa o elemento pop do filme e começa pela interpretação de "Tainted Love", alvo de um arranjo de sopros interessante. Finaliza com a pop/rock de "In My Heart", apoiada nos riffs de sintetizador e tão caraterística desta época