terça-feira, 26 de outubro de 2021

New Sensations - LOU REED


Lado A
1 I Love You, Suzanne (L. Reed)   3:15
2 Endlessly Jealous (L. Reed)   3:55
3 My Red Joystick (L. Reed)   3:36
4 Turn To Me (L. Reed)   4:21
5 New Sensations (L. Reed)   5:45
Lado B
1 Doin' The Things That We Want To (L. Reed)   3:54
2 What Becomes A Legend Most (L. Reed)   3:35
3 Fly Into The Sun (L. Reed)   3:04
4 My Friend George (L. Reed)   3:54
5 High In The City (L. Reed)   3:25
6 Down At The Arcade (L. Reed)   3:40

A excessividade com que os anos 70 foram vividos por muitos dos grandes artistas rock, e não só, largou esta geração, legítima herdeira das revoluções que varreram o final da década de 60, nuns anos 80 totalmente remodelados. O confronto dava-se agora com uma nova época em que tudo mudou novamente, desde a forma de fazer e ouvir música, à maneira de viver e de pensar, num mundo em constante mudança e cada vez mais informado e mais acelerado.

À semelhança de outros artistas na mesma posição, Lou Reed entrou na década 80 um tanto ou quanto alheio, à procura do seu lugar, mas acabou por perceber que bastava apenas continuar a ser ele próprio porque quando se compra um disco de Lou Reed apenas se pode esperar que seja simplesmente um disco de ... Lou Reed. E há que ter em conta que, seja em que altura for, a voz, o estilo e a forma de tocar de Lou Reed é sempre inconfundível. 

Lou Reed era agora uma "estrela" acomodada que já não habitava nas ruas perigosas de Nova Iorque. Blairstown, New Jersey, era a sua nova morada, onde vivia literalmente numa cabana de uma fazenda onde tinha tempo para se dedicar a outras atividades e a outros vícios. Uma vida renovada, feita de novas sensações, que Lou Reed descreve precisamente em "New Sensations" através de uma prazerosa volta de mota pelas redondezas e o vício dos jogos de video sugerido em "My Red Joystick" e "Down At The Arcade".

Editado em 1984, New Sensations é o terceiro trabalho do que se pode considerar como uma nova fase na carreira de Lou Reed cujo reinício se terá dado com "The Blue Mask" em 1982. O apoio do guitarrista Robert Quine foi fundamental para o arranque deste novo ciclo mas nas vésperas de se iniciarem as gravações de New Sensations, Lou Reed volta a sentir a confiança suficiente para controlar sozinho todo o seu trabalho, desde a produção às guitarras, e em cima da hora dispensou a participação de Quine. 

Longe dos seus tempos de "animal", Lou Reed aproximava-se então de um caminho mais comercial, e por isso mais acessível, mas as canções mantêm o seu cunho. Composições diretas, sem grandes arranjos ou experimentalismo, a estrutura deste trabalho assenta essencialmente nos acordes da guitarra de Lou Reed, apoiado pela admirável prestação do baixista Fernando Saunders, pela pontual harmonia das teclas de Peter Wood e pela confiança do coro que assegura as segundas vozes.

O balanço rock'n roll de "I Love You, Suzanne" foi a principal amostra do álbum, através da forte exposição do seu videoclip na MTV, sucedendo-se o sucesso de um segundo vídeo para "My Red Joystick", ou os anos 80 a funcionarem no seu esplendor visual. A maquinal "New Sensations" destaca-se pela simpatia da harmonia enquanto que "What Becomes A Legend Most" e "High In The City" mostram abordagens diferentes em relação às restantes músicas.

domingo, 10 de outubro de 2021

Border Affair - LEE CLAYTON


Lado A
1 Silver Stallion (L. Clayton)   4:48
2 If You Can Touch Her At All (L. Clayton)   4:35
3 Back Home In Tennessee (L. Clayton)   4:33
4 Border Affair (L. Clayton)   3:47
5 Old Number Nine (L. Clayton)   3:07
Lado B
1 Like A Diamond (L. Clayton)   4:36
2 My Woman My Love (L. Clayton)   5:02 
3 Tequila Is Addictive (L. Clayton)   4:32   
4 My True Love (L. Clayton)   4:36
5 Rainbow In The Sky (L. Clayton/P. Donnelly)   3:33

Um dos cowboys menos conhecidos do grande público, Lee Clayton é uma daquelas personagens solitárias que atravessam o deserto sem preocupações, seguindo apenas o seu caminho. No entanto, Lee Clayton não se livra do facto de que a sua música "Ladies Love Outlaws" seja responsável pelo cunho da denominação Outlaw que deu nome ao movimento dos músicos country que então rompiam radicalmente com a tradição do estilo a meio da década de 70. A música foi gravada por Waylon Jennings em 1972, para o álbum do mesmo nome.   

A simplicidade de Lee Clayton conduziu-o através de uma carreira tímida, honesta e sincera, sem grande pretensão artística que não fosse escrever e tocar a sua música. Após a edição de um discreto primeiro álbum em 1973, Lee Clayton refugiou-se no deserto de Joshua Tree, Califórnia, o qual serviria de referência para o título do álbum que os irlandeses U2 editaram em 1987; o que não deixa de ser curioso porque Lee Clayton já foi várias vezes referenciado pelo vocalista Bono como uma das suas influências. 

Longe de tudo, Clayton dedicou-se a escrever canções para nomes como Waylon Jennings, Tom Rush, Jerry Jeff Walker ou Willie Nelson, até que em 1977 decidiu regressar a casa e, inclusive, assinar contrato com a Capitol para a edição dos seus trabalhos. Editado em 1978, Border Affair foi o primeiro de três álbuns que marcaram o período mais produtivo da curta carreira discográfica do norte-americano Lee Clayton.

Border Affair é um registo manifestamente country-rock, cujo alinhamento é complementado pela genuinidade de canções modestas e pela prestação de uma banda capaz de transmitir a naturalidade que emana da escrita de Lee Clayton, que para além de ser o autor de todas as músicas que compõem o registo assume-se como vocalista, guitarrista ritmo e ainda se presta à harmónica. A seu lado assinala-se a distinta importância da presença de um guitarrista de alto calibre como Philip Donnelly, de origem irlandesa. Donnelly é fundamental no resultado final deste álbum pela precisão cirúrgica das suas intervenções eletrizantes que rasgam o álbum de forma ordenada e bem medida. Partilha também a co-autoria de "Rainbow In The Sky" com Lee Clayton. 

A curiosa aparição de uma pequena secção de sopros, composta apenas por um trompete e um saxofone, logo nas duas primeiras músicas, começa por dar um brilho interessante ao registo, "If You Can Touch Her At All" até soa como uma bonita melodia country-mariachimas é o vincado western de "Back Home In Tennessee" que mostra realmente onde se está. Em "Old Number Nine" Clayton cria um peculiar momento nashville com uma canção sobre um avião, provavelmente o seu, pois Clayton fez três anos de carreira de piloto de aviação na força aérea norte-americana nos anos 60. "Like A Diamond" é uma das músicas mais completas, quase rock, e o vício é um tema recorrente nas suas músicas, aqui patente em "Tequilla Is Addictive". Outra particularidade recorrente nas composições de Lee Clayton é uma verdadeira sensibilidade baladeira que aqui se pode encontrar em momentos como, "If You Can Touch Her At All", "Border Affair", "My Woman My Love" e "My True Love".

Quando alguém se cruza no caminho de Lee Clayton, dificilmente escapa ao encanto natural da sua espontaneidade.