quinta-feira, 26 de novembro de 2020

Force Majeure - TANGERINE DREAM

 

Side A
1 Force Majeure   18:18
Side B
1 Cloudburst Flight   7:21
2 Thru Metamorphic Rocks   14:15

Em Force Majeure, editado em 1979, o trio alemão Tangerine Dream prolonga o tempo no espaço e cria uma obra totalmente instrumental, de forte caráter progressivo, composta por três composições originais de Edgar Froese e Chris Franke que detêm a capacidade de gerar ambientes sedutores onde se formam extensas imagens sonoras. Os sintetizadores assumem a base desta obra a que se juntam, pontualmente, a bateria de Klaus Krieger, algumas guitarras, acústicas e elétricas, inseridas por Edgar Froese e um agradecimento especial à participação do engenheiro de som Eduard Meyer em violoncelo. É esta ligação de fatores que permite sustentar a dinâmica e organizada estrutura espacial que compõe a força dimensional das três composições. 
"Force Majeure", a peça homónima cuja dimensão ocupa todo o lado A da edição em vinil, revela-se notoriamente como o ponto central deste trabalho. O primeiro andamento inicia-se com uma introdução celestial que conduz a uma secção de maior vivacidade até atingir a harmonia do primeiro pico estrutural, interrompido por nova ambiência celestial. A peça retoma ordeiramente para uma nova dinâmica, evoluindo para a melodia primária que fecha o lado A.
"Cloudburst Flight" é a peça mais "curta" e acessível do registo. Manifesta-se como uma viagem enérgica que tem início no ambiente acolhedor de uma guitarra acústica envolta pela serenidade do ambiente criado pelos sintetizadores, evoluindo depois para o vigor de uma jornada que será acentuada pela energia da guitarra elétrica acabando por finalizar o seu percurso de forma bem tranquila.
"Thru Metamorphic Rocks" distingue-se como o momento mais particular da edição. Começa por apresentar algumas semelhanças com o vigor descrito na jornada da peça anterior mas a meio da composição é introduzido o pulsar de uma curiosa sequenciação, pronunciada como uma espécie de percussão eletrónica, rica em efeitos e a roçar algum experimentalismo, e que conduz à secção final desta obra.

quinta-feira, 19 de novembro de 2020

Isolamento Acidental - VÁRIOS


1 Carta Do Panóptico - MORTE PSÍQUICA   5:58
2 Dor Estranha - DESOLATE MAN   4:27
3 Libera Nos A Malo - ODE FILÍPICA (feat. IZALAH)   4:07
4 Isso Lamento - TERMINAL TERMINAL   5:44
5 Foi Sempre Por Amor - LISBOA NEGRA   4:01   
6 Cold Night - HONORATA   5:23
7 Quero Estar Contigo On-Line - MIND RESET   4:05
8 Rotina - ERROS ALTERNADOS   4:21
9 Pandemia - THE DREAMS NEVER END   4:31
10 China - D#K   5:01
11 Perseguição - HERR G meets FUEL2FIGHT   4:16
12 Não Consigo Respirar - JH LAB   5:46
13 Dry Mouth - LUX YURI   4:34
14 Ed Kemper Lockdown 2.0 - FASHION BIZARRE   3:28
15 Welcome To The New Normal - TEATRO GROTESCO   6:31

A Anti-Demos-Cracia (ADC) é uma pequena editora portuguesa independente que foi criada em 1988 com o intuito de "registar em cassetes as deambulações sonoras do projecto Industrial-Alternativo VARPLES PRAVLES". A editora renasceu em 2008 tendo agora como objetivo a edição e divulgação de projetos portugueses da cena alternativa, em formato cd ou digital, e conta atualmente com "cerca de 60 bandas portuguesas e estrangeiras" no seu catálogo. A ADC cumpre a sua determinação com consciência de que o faz "para uma minoria" o que torna este tipo de trabalho em algo muito especial e próprio. Não se trata de uma questão de elitismo mas sim de música contra-corrente que sobrevive num circuito de música que se quer de culto e não chega a todos mas encontra-se aberto a quem quiser conhecer e há muito por onde explorar. 
A compilação "Isolamento Acidental" nasce do desafio lançado pela ADC "a alguns projetos da cena alternativa portuguesa, em que a música de cada projeto reflete, ou é inspirada, ou é relacionada, com o isolamento ou confinamento, a que cada um esteve sujeito, derivado à pandemia". Não são projetos convencionais, cada um manipula a sua própria estética e assume-a prontamente, podem até não conter o primor de uma produção elaborada que torne as suas músicas mais atrativas, mas revelam-se genuínos, criativos e bastante originais, evidenciando o papel preponderante da arte da interpretação e demonstrando uma criatividade musical bastante rica, focada na exploração de diversas sonoridades. 
O registo abre com MORTE PSÍQUICA e aquela que será a música mais "completa" desta edição, enquanto DESOLATE MAN assume a herança de uma saudosa sonoridade da então denominada Música Moderna Portuguesa da segunda metade da década de 80 e se aqui juntarmos o rock saturado de LUX YURI temos os únicos projetos desta compilação que utilizam guitarras. A inteligente e deliciosa synthpop de LISBOA NEGRA e THE DREAMS NEVER END, a que se poderá juntar a comovente expressividade cinéfila de HONORATA (tão OMD) e a "perturbante" presteza eletrónica de HERR G MEETS FUEL2FIGHT, são os nomes que aqui elevam os valores da música eletrónica. Depois há momentos como a curiosa insanidade da cuidada prece de ODE FÍLIPICA, a terrível conjetura do pulsar cardíaco de TERMINAL TERMINAL, a pluralidade sonora do projeto MIND RESET, a resignada declamação de ERROS ALTERNADOS, a vertente mais experimental do confronto intercontinental de D#K, o claustrofóbico e aflitivo JH LAB, a prevenção automatizada de FASHION BIZARRE e o obscuro manto negro do TEATRO GROTESCO, projetos que evidenciam alguma singularidade.
Para uma minoria, "Isolamento Acidental" permanecerá certamente como um testemunho sombrio, ou uma banda sonora perfeita, de uma etapa invulgar nas vidas das atuais gerações. 

A Anti-Demos-Cracia pode ser consultada através do seguinte link https://antidemoscracia.wixsite.com/a-d-c ou em https://anti-demos-cracia.bandcamp.com/

*citações em ítálico retiradas da página oficial on-line da ADC e do panfleto promocional da edição.

terça-feira, 10 de novembro de 2020

Tales From Topographic Oceans - YES - LP02


 
Side A
1 The Ancient: Giants Under The Sun   18:45   
Side B
1 Ritual: Nous Sommes Du Soleil   21:52   

O segundo disco confirma a compleição e plenitude das peças que constituem a totalidade deste trabalho. Uma obra grandiosa que pode ser interpretada como um desafio a que a banda britânica se propôs e uma clara evidência de que o rock progressivo se tinha tornado demasiado grande; a dimensão das peças obrigava a uma arriscada e ambiciosa dupla edição em vinil com apenas quatro músicas. Os Yes não vacilaram perante as limitações do que seria considerado tolerável para uma edição discográfica e foi da melhor forma que concluíram esta obra notável, digna de registo e uma referência para o futuro do género. 
Composições mais complexas, centradas no detalhe dos arranjos da instrumentação, complementam a dinâmica do registo e levam a que Jon Anderson surja agora pontualmente em apenas algumas secções, nomeadamente em "The Ancient", o terceiro movimento (puranas). Uma peça bastante abstrata, muito pormenorizada e arriscada, de teor algo experimentalista, totalmente dominada e moldada pelas investidas elétricas do guitarrista Steve Howe que conclui com uma surpreendente e admirável execução acústica em guitarra clássica. A obra fecha com "Ritual", o quarto andamento (tantras), em jeito de celebração ou de uma afirmação (nous sommes du soleil). É uma peça bastante espiritual, que reforça o caráter concetual que envolve este trabalho, e expressa-se pela satisfação e dinamismo dos vários movimentos que a compõe com relevância para a exultada explosão rítmica que ocupa o início da segunda metade desta composição. 
Curiosidades; este é o primeiro trabalho dos Yes sem o baterista Bill Brufford, pertencente à formação original, que foi substituído por Alan White. A exaustão/desilusão deste tipo de trabalho viria a deixar nova ferida com Rick Wakeman a abandonar os Yes após a conclusão deste álbum para se dedicar ao seu trabalho a solo.

terça-feira, 3 de novembro de 2020

Tales From Topographic Oceans - YES - LP01

 


Side A
1 The Revealing Science Of God: Dance Of The Dawn   20:37 
Side B
1 The Remembering: High The Memory   20:46   

À escala do rock convencional, Tales From Topographic Oceans é um monstro. Um registo épico cuja grandiosidade reside na longa estrutura que compõe a totalidade das quatro peças originais incluídas nesta obra dupla, editada em 1973, que para muitos representa o limite do rock progressivo; o excesso de um estilo cuja megalomania conduziu a peças extremas em que cada um dos lados do disco da edição original em vinil contém apenas uma música, com uma duração média de vinte minutos por faixa. A ambição dos Yes vinha a crescer de álbum para álbum e Jon Anderson percebeu que tinha encontrado a base perfeita para este trabalho enquanto lia o livro "Autobiografia de um Iogue" de Paramahansa Yogananda e deparou com as notas de rodapé da página 83 nas quais se descreviam as quatro regras (shastras) que sustentam a religião hindu. Simultaneamente causador de tanta paixão e controvérsia, o álbum foi desenvolvido pelo vocalista Jon Anderson em parceria com o guitarrista Steve Howe enquanto a restante banda contribuiria depois com a sua parte em estúdio. Concluído como uma obra maior, um registo duplo, pleno de ambição e metafísica, composto por quatro longas e meditativas suites, conduzidas pelos textos de Jon Anderson que dedica uma doutrina (shastra) a cada um dos lados do disco, não é um disco para se meter a tocar e deixar correr. É para se ouvir atentamente e experimentar a viagem que Jon Anderson e os Yes propõem. 
O primeiro andamento (shrutis) fundamenta-se na revelação espiritual sob o despertar da alvorada e preenche o lado A do primeiro disco. A interpretação de Jon Anderson domina a maior parte desta peça, com uma introdução vocal bastante interessante que lidera o crescendo que conduz ao início da jornada. A peça flui naturalmente, sem grandes devaneios, passando pelas habituais dinâmicas e segura pela estabilidade e experiência dos Yes para com este tipo de composição. O segundo andamento (suritis) invoca as recordações e a importância da memória, ou uma viagem à experiência do que se aprendeu no passado para se utilizar de forma significativa no presente. Uma peça mais linear e refletiva em que o teclista Rick Wakeman tem a função de criar as camadas atmosféricas necessárias para proporcionar o ambiente que induz os momentos meditativos que interrompem a dinâmica inicial e a voltam a lançar no seu espaço ordenado. Fecha assim a primeira parte desta obra tão delicada.