quinta-feira, 26 de outubro de 2023

Live In Tokyo - WEATHER REPORT - CD02


1 Orange Lady (J. Zawinul)   18:10
2 Medley:                              13:42
   Eurydice (W. Shorter)
   The Moors (W. Shorter)
3 Medley:                              10:26
   Tears (W. Shorter)
   Umbrellas (W. Shorter/J. Zawinul)

As composições que integram o alinhamento do segundo CD são menos intensas e apoiam-se numa estrutura de improvisação mais espaçada e arrastada em que "Orange Lady" é um bom exemplo do quanto a espontaneidade e a inventividade destes músicos se pode expandir através da interpretação de uma música apenas. O jazz que estes Weather Report exploram tem ritmo e muito espaço de progressão, caraterizando-se como uma viagem pelos meandros da improvisação genérica mas segura e calculada nas mãos de músicos extraordinários. 

As pequenas diferenças de estilo que caraterizam cada um destes cinco músicos, potenciam a pluralidade de caminhos para explorar e atestam a sonoridade dos Weather Report com uma diversidade musical bastante rica mas este é ainda um período de descoberta, marcado por alguma instabilidade musical que ganha uma grande relevância com uma notável entrega e criatividade para se fazer música de forma tão natural e espontânea. 

As músicas expressam-se na continuidade de diálogos constantes em que os saxofones de Wayne Shorter e o contrabaixo de Miroslav Vitous são os intervenientes mais expansivos na formação, sendo também eles os elementos que mais se aproximam da linguagem do jazz, enquanto Joe Zawinul representa a componente elétrica da banda, surgindo por algumas vezes com intervenções explosivas que quebram alguns momentos incógnitos mas parece estar aqui mais focado na gestão do concerto. O impulsionante dinamismo da recente secção rítmica é engrenado pelo fator funky do baterista Eric Gravatt e pela destreza incrível do percussionista brasileiro Dom Um Romão, que se revela como uma inesgotável caixinha de surpresas. Romão é imparável nas suas intervenções, sempre com sons novos que surgem das formas mais inesperadas.

É um registo incansável onde a fusão não é ainda fusão mas já vive da fusão da combinação destes cinco elementos, com uma unidade musical que transgride com as regras para impor uma liberdade de execução, com conhecimento e leveza artística, e com o intuito de conduzir a sua música numa nova direção.

quinta-feira, 12 de outubro de 2023

Live In Tokyo - WEATHER REPORT - CD01

 

1 Medley:                                              26:09
   Vertical Invader (J. Zawinul)
   Seventh Arrow (M. Vitous)
   T.H. (M. Vitous)
   Doctor Honoris Causa (J. Zawinul)
Medley:                                              19:18
   Surucucu (W. Shorter)
   Lost (W. Shorter)
   Early Minor (J. Zawinul)
   Directions (J. Zawinul)

Gravado ao vivo em Janeiro de 1972, no Shibuya Philharmonic Hall, em Tóquio, o registo capta a essência da magia dos Weather Report ao vivo nos seus primórdios. Trata-se de uma reedição, em formato CD duplo, relativa ao duplo álbum editado em vinil, nesse mesmo ano, exclusivamente para o mercado discográfico Japonês

Com apenas um álbum editado, à data, e prestes a concluir um segundo trabalho, que acabaria por ser finalizado com algumas peças retiradas desta mesma gravação, a prestação dos Weather Report revela um coletivo plenamente solto na sua demanda por uma sonoridade que cortasse de vez com o passado e o respeito mútuo com que estes cinco elementos partilham o mesmo espaço de improvisação, no qual se iam conhecendo e ganhando coesão como grupo. Esta é a matriz de uma banda que não estava ainda bem definida mas que sabia deter a capacidade, a experiência e os meios ideais, para explorar novo território sem receios.

Atuando perante um público de que desconheciam os hábitos, os Weather Report decidiram "atacar forte logo de início" de forma a prender a atenção de uma audiência que tinham como delicada. Tendo em conta que o seu repertório não era ainda muito vasto, a banda focou-se completamente na improvisação como forma para rentabilizar esta distinta atuação resultando daí, provavelmente, que o alinhamento seja composto por longos medleys que unem as várias composições através de uma versada liberdade de execução que roça a periferia do free jazzA prestação dos músicos divide-se por apontamentos curtos e indefinidos, em que todos intervêm, criando cada um o seu próprio espaço e mantendo a estabilidade da estrutura de improvisação sob o estilo de cada um.

O primeiro medley inicia com um solo de bateria de Eric Gravatt a que corresponde a entrada sequencial, sem ordem específica, dos restantes elementos em cena, que logo agarram o tema e seguem para uma abordagem que vagueia entre duas composições de Joe Zawinul e de Miroslav Vitous, respetivamente. "Seventh Arrow" é a peça central deste medley que inclui ainda uma distinta passagem por "T.H.", um momento peculiar no qual o contrabaixista Miroslav Vitous parece utilizar um baixo elétrico com efeito. Este medley está também incluído no alinhamento do segundo álbum oficial dos Weather Report (I Sing the Body Electric) mas foi editado para uma versão de 10:10 que não inclui "Seventh Arrow".

O segundo medley inicia com duas composições de Wayne Shorter e fecha com duas composições de Joe Zawinul, a outra metade dos Weather Report. Wayne Shorter aparece imparável neste medley através de uma prestação contínua no sax-soprano, o instrumento que ele mais vai explorar com a banda. Os diálogos sucedem-se ao longo da improvisação com uma coordenação de elementos precisa e notável em que todos parecem saber devidamente o seu lugar. As peças "Surucucu" e "Directions", que protagonizam o início e o fim deste medleysurgem também em modo editado no já atrás mencionado segundo álbum oficial dos Weather Report (I Sing the Body Electric).