segunda-feira, 28 de agosto de 2023

Flesh + Blood - ROXY MUSIC


  Lado A
1 Midnight Hour (Cropper/Pickett)   3:11
2 Oh Yeah (Ferry)   4:50
3 Same Old Scene (Ferry)   3:00
4 Flesh And Blood (Ferry)   3:00
5 My Only Love (Ferry)   5:00
  Lado B
1 Over You (Ferry/Manzanera)   3:30
2 Eight Miles High (Clark/Crosby/McGuinn)   4:52
3 Rain Rain Rain (Ferry)   3:18
4 No Strange Delight (Ferry/Manzanera)   4:45
5 Running Wild (Ferry/Manzanera)   5:18

'Flesh + Blood' foi editado em 1980, como sendo o sétimo álbum de estúdio para os britânicos Roxy Music. A banda vinha passando por algumas metamorfoses, acentuadas a partir do álbum 'Siren', em 1975, e parecia estar a tornar-se num projeto pessoal de Bryan Ferry - este é mesmo o primeiro registo dos Roxy Music em que a banda gravou versões, "In The Midnight Hour", de Wilson Pickett, e "Eight Miles High", dos Byrds, algo que Brian Ferry fazia com certa frequência nos seus trabalhos a solo.  

No entanto, é natural que os Roxy Music quisessem acompanhar as tendências e seguissem naturalmente o seu próprio caminho. Se no registo anterior - 'Manifesto' - a influência disco ganhou algum terreno, agora chegava a vez dos Roxy Music provarem um pouco do estilo que os tinha como uma das suas principais referências, a new wave.    

Não deixa de ser estranho ouvir um álbum dos Roxy Music a iniciar com uma versão para um clássico como "In The Midnight Hour" mas a elegância da sua abordagem encaixa a música na envolvência de uma nova atmosfera e estilo que transporta o esplendor de toda a sua essência para o tempo corrente, e o mesmo se aplica na versão para "Eight Miles High". Para além das versões, o registo confirma a estabilidade e a confiança com que Bryan Ferry, Andy McKay e Phil Manzanera - os únicos elementos da formação original - tratavam a leveza, o requinte e a acessibilidade, do delicado exotismo da sua 'nova sonoridade'. 'Flesh + Blood' proporcionou ainda três singles admiráveis - "Oh Yeah", "Same Old Scene" e "Over You" - e músicas deliciosas como a inebriante "My Only Love" e o misterioso fascínio de "No Strange Delight". 

A relevante proximidade das faixas "Flesh And Blood" e "Rain Rain Rain" com a sonoridade dos igualmente britânicos Japan, dignos herdeiros da sonoridade Roxy Music, não passa aqui despercebida e reforça uma mútua influência. O single "Same Old Scene" carrega algum teor das origens dos Roxy Music e "Running Wild" mantém a tradição da habitual balada de despedida.

quarta-feira, 16 de agosto de 2023

The Falcon And The Snowman - ORIGINAL SOUNDTRACK


1 Psalm 121/Flight Of The Falcon (P. Metheny/L. Mays)   4:08
2 Daulton Lee (P. Metheny/L. Mays)   5:56
3 Chris (P. Metheny/L. Mays)   3:16
4 "The Falcon" (P. Metheny/L. Mays)   4:59
5 This Is Not America (D. Bowie/P. Metheny/L. Mays)   3:53
6 Extent Of The Lie (P. Metheny/L. Mays)   4:15
7 The Level Of Deception (P. Metheny/L. Mays)   5:45
8 Capture (P. Metheny/L. Mays)   3:57
9 Epilogue (Psalm 121) (P. Metheny/L. Mays)   2:14

A banda sonora original do filme "The Falcon and the Snowman" de John Schlesinger, editada em 1985, foi composta pelo guitarrista de jazz Pat Metheny e pelo pianista Lyle Mays - os dois elementos que compõem o núcleo do Pat Metheny Group. As peças são todas executadas pelo grupo, contando ainda com relevantes prestações do Ambrosian Choir, para o cântico "Psalm 121", que abre o registo e o filme, e da National Philharmonic Orchestra, dirigida por Steve Rodby, o baixista do Pat Metheny Group, para algumas peças mais complexas, destinadas a interagir com enquadramentos específicos de sequências do filme. E depois, há o episódio David Bowie ...

Mesmo carregando a especificidade de se tratar de uma banda sonora, o registo enquadra-se muito facilmente no trabalho do Pat Metheny Group à data. A formação do grupo é a mesma que gravou o álbum 'First Circle', anterior a esta sessão, e capta o coletivo em fase de transição de editora e no início de uma nova fase em que a sua sonoridade iria partir para uma abrangência mais latina, mas as músicas que compõem esta banda sonora carregam a harmonia de uma atmosfera ambiental/fusão, cuidada e acessível, prontas para servir os requisitos de John Schlesinger para com o seu filme.
    
Com exceção para as músicas "Extent Of The Lie", "The Level Of Deception" e "Capture", peças que denunciam algum caráter mais detalhado e cinematográfico, e que foram gravadas com a National Philharmonic Orchestra, as restantes composições podiam estar no alinhamento de um álbum de originais do Pat Metheny Group. Mas a peça central de toda a banda sonora é "Chris", a composição que dá depois a origem a "This Is Not America", na voz de David Bowie, e que reaparece momentaneamente em "The Falcon" e "Capture".

O moderado sucesso do single "This Is Not America", Top 40, teve o dom de recuperar alguma credibilidade para David Bowie, que por esta altura atravessava a fase artística menos apreciada de toda a sua carreira, e de expor o Pat Metheny Group a outras audiências que não as do jazz. No entanto, o envolvimento de David Bowie nesta sessão permanece, ainda hoje, algo incógnito - o facto nem aparece mencionado nas suas biografias. Segundo testemunho do próprio Pat Metheny, terá sido Schlesinger, o realizador, quem teve a ideia de levar Bowie à sessão de gravação. Depois de assistirem a uma projeção do filme, durante a qual Bowie foi retirando alguns apontamentos que no final se revelaram como títulos de músicas, o título "This Is Not America" saltou aos olhos de John Schlesinger e o single seria depois gravado numa outra sessão em Montreux, Suíça, com o Pat Metheny Group. 

O filme nunca obteve grande reconhecimento mas a banda sonora permanece como um documento válido na distinta carreira do Pat Metheny Group.

domingo, 6 de agosto de 2023

The Concerts In China - JEAN-MICHEL JARRE


1 The Overture (Jean-Michel Jarre)   4:47
2 Arpegiator (Jean-Michel Jarre)   6:51
3 Equinoxe IV (Jean-Michel Jarre)   7:39
4 Fishing Junks At Sunset (Jean-Michel Jarre)   9:35
5 Band In The Rain (Jean-Michel Jarre)   1:23
Equinoxe VII (Jean-Michel Jarre)   9:52
7 Orient Express (Jean-Michel Jarre)   4:21
Magnetic Fields I (Jean-Michel Jarre)   0:28
9 Magnetic Fields III (Jean-Michel Jarre)   3:48
10 Magnetic Fields IV (Jean-Michel Jarre)   6:43
11 Laser Harp (Jean-Michel Jarre)   3:26
12 Night In Shanghai (Jean-Michel Jarre)   7:01
13 The Last Rumba (Jean-Michel Jarre)   2:03
14 Magnetic Fields II (Jean-Michel Jarre)   6:19
15 Souvenir Of China (Jean-Michel Jarre)   4:00

Em Outubro de 1981, o francês Jean-Michel Jarre tornava-se no primeiro músico ocidental a ser oficialmente convidado para atuar na China pós-Maoísta. Um convite governamental para Jean-Michel Jarre se apresentar ao vivo em cinco concertos de arena fechada, duas datas em Pequim e três em Xangai, com a majestosidade do seu espetáculo de música eletrónica. A audiência da primeira data compunha-se exclusivamente por elementos das forças militares Chinesas, facto que levou Jean-Michel Jarre a distribuir bilhetes à população, nas ruas, para que também tivessem oportunidade de assistir às próximas datas da sua atuação. 

À data, a maquinaria necessária para um espetáculo de música eletrónica desta envergadura envolvia uma grande parafernália de sintetizadores, sequenciadores, módulos e outros 'artefactos' semelhantes. Para a manipulação de todo este equipamento em palco, Jean-Michel Jarre levou três músicos de apoio para que as atuações fossem tocadas integralmente ao vivo; Frédéric Rousseau e Dominique Perrier partilharam os sintetizadores e Roger Rizzitell encarregou-se da percussão ... eletrónica. Não houve utilização de qualquer instrumento acústico em palco, percussão incluída.       

A espetacularidade do concerto envolvia, para além da música, uma grandiosa exibição de efeitos de luz e de raios laser mas o foco desta resenha é mesmo a música em si. Para esta pequena e tão peculiar digressão, Jean-Michel Jarre criou novo repertório do qual se encontram seis peças nesta edição; o detalhe futurista de "Arpegiator", a pulsante viagem de "Orient Express", a singular e inédita atuação de "Laser Harp", o misterioso caráter oriental de "Night In Shanghai", um bonito hino de despedia sob a forma de um adágio para "Souvenir Of China", e um momento simbólico em que Jean-Michel Jarre funde duas culturas tão diferentes entre si com um novo arranjo para "Fishing Junks At Sunset", peça tradicional Chinesa que foi interpretada e gravada com a Orquestra Sinfónica do Conservatório de Pequim. Mais tarde, Jarre definiria esta peça como 'um confronto entre instrumentos antigos e instrumentos modernos'. O restante repertório do registo assenta em peças dos dois últimos álbuns de Jean-Michel Jarre, 'Equinoxe', de 1978, e 'Magnetic Fields', de 1981. O registo ao vivo data de 1982.

Esta é uma viagem com tanto de surpreendente como de inovação que Jean-Michel Jarre aceitou fazer como um desafio a si próprio e ao valor da sua música. Era a oportunidade ideal para mostrar a sua obra a uma audiência invulgar e tão pura. O regime fechado da China de 1981 dava poucas hipóteses, ou mesmo nenhumas, de se estabelecer contato com todo o mundo exterior às suas fronteiras. A escolha da apresentação da música de Jean-Michel Jarre terá sido feita com base no seu modernismo e no seu caráter futurista, o que não deixa de ser algo curioso para um país fechado nas suas tradições. Mas a China tradicional condenava a vulgar decadência da música ocidental, nomeadamente o rock'n roll, mas via com bons olhos tudo o que fosse novo e usasse novas tecnologias.   

A edição original em vinil era dupla e muitas das edições em CD também são duplas. Esta re-edição de 1997 reúne todo o álbum num só CD, remasterizado digitalmente 96Khz - tecnologia 24 bit, por Scott Hull, Masterdisk, New York.