domingo, 28 de maio de 2023

Achtung Baby - U2


  Lado A
1 Zoo Station (U2)   4:36   
2 Even Better Than The Real Thing (U2)   3:41
3 One (U2)   4:36
4 Until The End Of The World (U2)   4:39
5 Who's Gonna Ride Your Wild Horses (U2)   5:16
6 So Cruel (U2)   5:49
  Lado B
1 The Fly (U2)   4:29
2 Mysterious Ways (U2)   4:04
3 Tryin' To Throw Your Arms Around The World (U2)   3:53
4 Ultraviolet (Light My Way) (U2)   5:31
5 Acrobat (U2)   4:30
6 Love Is Blindness (U2)   4:23

Depois de conquistarem o território norte-americano, berço dos blues e do rock 'n' roll, com a enorme digressão de promoção para 'Joshua Tree', que ainda teria continuação com a edição do álbum e filme 'Rattle & Hum', dois registos oficiais que servem como um belo testemunho do percurso destes quatro Irlandeses na América, os U2 perceberam que tinham chegado ao seu topo como banda de rock mas ficaram sem perceber muito bem qual seria o caminho a seguir. No período que se seguiu houve dúvidas, divergências e até quem insinuasse que a banda tinha chegado a um beco sem saída e que poderia acabar por aqui. 

Numa primeira fase, foi na histórica cidade de Berlim, a celebrar ainda a enorme felicidade da sua reabertura ao mundo, que os U2 se instalaram para encontrar inspiração mas este período começou por se revelar deveras infrutífero e conflituoso, até se chegar a um consenso de ideias. Numa segunda fase, a banda regressaria depois à comodidade da sua Irlanda natal onde viria a concluir o restante trabalho. No final de tanta adversidade, onde ainda se inclui algum atrito na vida pessoal de The Edge e ao nível profissional (como o inexplicável roubo de uma grande parte das fitas que registaram as sessões de gravação de Berlim), 'Achtung Baby' é ainda assim um dos registos mais distintos na estrondosa carreira dos U2.

Editado oficialmente em Novembro de 1991, 'Achtung Baby' parte da "Zoo Station", em Berlim, onde tudo começou, para uma viagem ímpar e inesperada. Este é o registo de uma demanda com intuito de renovação e uma grande vontade de mudar, fugindo ao que já foi feito. Nesta perspetiva, 'Achtung Baby' revela-se um trabalho perfeito e triunfal como veículo da nova identidade artística dos U2. Sem excessos, que não seja o glamour, este é provavelmente o álbum mais maduro, consciente, e até mais musical, que os U2 gravaram e uma das metamorfoses mais perfeitas a que a história do rock já assistiu. 

Este é também um álbum essencial para se perceber a importância da produtividade de The Edge como um guitarrista peculiar, muito longe de ser um virtuoso técnico, que consegue aqui muitos dos seus melhores apontamentos de guitarra. Ouça-se a forma como a leveza da sua sonoridade se infiltra e preenche os espaços através de variadas camadas de guitarras, uma fusão vibrante de harmonia estética, criando a base que sustenta a estrutura do registo. Bono apresenta-se com uma prestação vocal sóbria, controlada, íntima e quase sussurrante, que transmite confiança e cumplicidade. Larry Mullen Jr. tem também neste registo apontamentos rítmicos muito criativos na bateria e conta com a habitual descontração de Adam Clayton no baixo para garantir uma boa estabilidade rítmica a toda a harmonia dos U2.

O arranque distorcido, com partida na "Zoo Station", é como que um aviso de que este é não é um apenas mais um álbum dos U2. O alinhamento desenvolve-se numa sucessão de músicas imbuídas de uma nova espiritualidade, revestidas com um caráter modernista, sedutor e excitante, em que tanto se pode celebrar a estimulante vivacidade de "Even Better Than The Real Thing", sentir a volúpia de "The Fly", inspirar o doce aroma que a preciosidade exótica de "Mysterious Ways" emana, seguir o equilíbrio rítmico de "Acrobat" e permitir que a essência de "Until The End Of The World", uma das melhores composições que os U2 já criaram, nos envolva, ou então; entender a contenda de "One", a peça central desta obra, arrepiar com "Who's Gonna Ride Your Wild Horses", considerar a subtileza de "Tryin' To Throw Your Arms Around The World", uma faixa dominada pelo presença asfixiante do baixo de Adam Clayton numa envolvência acolhedora e tão calorosa, e partilhar a dor de The Edge em "So Cruel" e "Love Is Blindness", faixas que encerram, respetivamente, os dois lados da edição vinil.

Apenas se consegue encontrar algo dos velhos U2 na cristalinidade de "Light My Way", uma faixa límpida e a única em que The Edge retoma a sonoridade natural da sua guitarra.

Acthug Baby é ainda uma belíssima obra de engenharia sonora que teve três nomes incontornáveis na produção musical para dirigir os U2 numa nova direção, Daniel Lanois, Brian Eno e Steve Lillywhite foram fundamentais na orientação do disco, e há ainda que referir a importante prestação de Flood como engenheiro de áudio.

sexta-feira, 12 de maio de 2023

5150 - VAN HALEN


  Lado A
1 Good Enough (E. Van Halen/S. Hagar/M. Anthony/A. Van Halen)   4:00
2 Why Can't This Be Love (E. Van Halen/S. Hagar/M. Anthony/A. Van Halen)   3:45
3 Get Up (E. Van Halen/S. Hagar/M. Anthony/A. Van Halen)   4:35
4 Dreams (E. Van Halen/S. Hagar/M. Anthony/A. Van Halen)   4:54
5 Summer Nights (E. Van Halen/S. Hagar/M. Anthony/A. Van Halen)   5:04
  Lado B 
1 Best Of Both Worlds (E. Van Halen/S. Hagar/M. Anthony/A. Van Halen)   4:49
2 Love Walks In (E. Van Halen/S. Hagar/M. Anthony/A. Van Halen)   5:09
3 "5150" (E. Van Halen/S. Hagar/M. Anthony/A. Van Halen)   5:44
4 Inside (E. Van Halen/S. Hagar/M. Anthony/A. Van Halen)   5:02  

Editado em 1986, "5150" marca o início da segunda fase para os norte-americanos Van Halen. Seis álbuns depois do primeiro Van Halen, em 1978, a banda alcançava finalmente o cimo dos tops com este "5150" cuja maior curiosidade assenta no facto deste ser o primeiro trabalho da banda sem David Lee Roth, o carismático vocalista original que liderou a formação, sempre ao lado de Eddie Van Halen, desde o seu início. A substituição de um vocalista que possuía o dom de ser um verdadeiro homem-espetáculo, com uma forte presença de palco bem acentuada pela extravagância da sua imagem, é normalmente uma tarefa complicada de gerir e aceitar mas neste caso a coisa resultou mesmo muito bem com a entrada de Sammy Hagar. A banda perdeu um excelente entertainer mas ganhou um rocker e uma voz. 

O entretenimento foi sempre um dos pontos fortes de Van Halen, ou não estivéssemos a falar de rock norte-americano profissional, e é por essa via que "5150" mantém o seu rumo; showbiz rock de tendência hard 'n' heavy, com laivos pop, ilustrado pelo notável malabarismo de uma guitarra elétrica nas mãos do virtuoso Eddie Van Halen. O forte caráter comercial do registo é ainda acentuado pelo facto deste ter sido o primeiro trabalho da banda a alcançar o primeiro lugar no top norte-americano. Deste registo saíram ainda três singles, "Why Can't This Be Love", "Dreams" e "Love Walks In", relevantes por apresentarem uma estrutura musical praticamente assente em sintetizador, algo que Eddie Van Halen sempre desejou fazer mas que David Lee Roth sempre recusou ("Jump", no registo anterior, foi uma pequena exceção que acabou por resultar num êxito imenso).   

Não há dúvida de que os sintetizadores ganharam finalmente o seu espaço num álbum de Eddie Van Halen. Para além de estarem bem presentes nos mencionados singles reaparecem discretamente, de fundo, em "Best of Both Worlds" e rematam "Inside", a última faixa do registo, com uma linha de baixo sintetizado enquanto a banda se parece divertir num número descontraído, algo experimental, e totalmente à parte de todo o registo. 

Os momentos mais consistentes do álbum encontram-se em "Good Enough", uma entrada em grande estilo, ao melhor nível de Van Halen, "Best Of Both Worlds" e a homónima "5150" enquadram-se igualmente ao nível. Em "Get Up" sente-se a banda a soltar toda a sua vertente mais pesada enquanto "Summer Nights" concorre para o quarto single com um refrão orelhudo e bons detalhes artísticos de Eddie Van Halen na guitarra elétrica. 

Como curiosidade; o título "5150" corresponde ao nome do estúdio que Eddie Van Halen construiu para poder ter mais controlo sobre as suas gravações, e onde este álbum foi gravado, e o número tem também correspondência com o código policial que designa uma pessoa mentalmente instável.