quinta-feira, 29 de fevereiro de 2024

Moon Safari - AIR


1 La Femme D'Argent (J-B Dunckel/N. Godin)   7:08
2 Sexy Boy (J-B Dunckel/N. Godin)   4:57
3 All I Need (B. Hirsch/J-B Dunckel/N. Godin)   4:28
4 Kelly, Watch The Stars! (J-B Dunckel/N. Godin)   3:44
5 Talisman (J-B Dunckel/N. Godin)   4:16
6 Remember (J-J Perrey/J-B Dunckel/N. Godin)   2:34
7 You Make It Easy (B. Hirsch/J-B Dunckel/N. Godin)   4:00
8 Ce Matin La (J-B Dunckel/N. Godin/P. Woodcock)   3:38
9 New Star In The Sky (chanson pour SOLAL) (J-B Dunckel/N. Godin)   5:38
10 Le Voyage De Penelope (J-B Dunckel/N. Godin)   3:10

Admirável registo de estreia para o duo francês Air, editado em 1998, 'Moon Safari' está instalado num patamar situado algures entre a ambiência espacial da ficção científica e a herança da doce simplicidade de canções pop afáveis e cativantes, carregadas de alguma reminiscência vintage. Depois, há também as inebriantes viagens instrumentais que permitem deambular airosamente por paisagens macias e aveludadas que se difundem sob o esplendor cintilante do brilho estelar. Tudo aqui é etéreo e delicado.

Um futuro que já foi ou um passado que retorna ao futuro que não o chegou a ser. O registo não é assim tão complexo mas fica no ar a nítida sensação de se estar perante um futuro já esquecido que os Air conseguem habilmente recuperar através de uma atenta e bem medida imersão temporal. Um registo algo inesperado, numa altura em que as correntes musicais pop/rock tendiam em apontar para sonoridades mais sujas e agressivas, que mostra uma consciência musical distinta, sem vergonha de ir buscar inspiração atrás para criar à frente. No fundo toda a música é cíclica, um digno retorno, e alimenta-se tão naturalmente destas reminiscências para evoluir ou enriquecer.
 
Ao leme destas admiráveis viagens estão Jean-Benoit Dunckel e Nicolas Godin. Dunckel é quem manipula toda a maquinaria que envolve teclas enquanto Godin se divide pelas cordas do baixo e da guitarra, canta, também dá um jeito nas teclas, e percorre uma variedade de pequenos instrumentos que ajudam a encher o fundo sonoro desta fantástica aventura musical em que também participa a norte-americana Beth Hirsch, dona da voz macia e sedutora em "All I Need" e "You Make It Easy". Pop eletrónica de cariz retro bem vincado pela utilização de instrumentos analógicos em que pontua a distinta sonoridade dos sintetizadores Moog e Korg MS20 e outros mais. A evocação de outras épocas da música francesa faz o resto. O futuro dos Air começava a desenhar-se aqui.

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2024

Odelay - BECK


1 Devils Haircut (B. Hansen/Simpson/King)   3:13
2 Hotwax (B. Hansen/Simpson/King)   3:52
3 Lord Only Knows (B. Hansen)   4:14
4 The New Pollution (B. Hansen/Simpson/King)   3:39
5 Derelict (B. Hansen/Simpson/King)   4:11
6 Novacane (B. Hansen/Simpson/King)   4:38
7 Jack-Ass (B. Hansen/Simpson/King)   4:00
8 Where It's At (B. Hansen/Simpson/King)   5:25
9 Minus (B. Hansen)   2:32
10 Sissyneck (B. Hansen/Simpson/King)   4:02
11 Readymade (B. Hansen/Simpson/King)   2:43
12 High 5 (Rock The Catskills) (B. Hansen/Simpson/King)   4:10
13 Ramshackle (B. Hansen)   4:49
14 Diskobox (B. Hansen/Simpson/King)   3:35

Editado em 1996, 'Odelay' foi o quinto trabalho de estúdio para o norte-americano Beck Hansen e teve o condão de ser o registo da sua afirmação definitiva. A parceria com o duo de produtores The Dust Brothers - E.Z. Mike (Michael Simpson) e King Gizmo (John King) - foi essencial para o trabalho de composição e de produção do registo cujo resultado final se manifesta como uma obra genial, engenhosa, inteligente, inovadora e, de certa forma, algo ousada.

'Odelay' é como que um álbum de retalhos que funciona como uma inspiradora viagem temporal através de outras épocas e de outros sons, sem largar a realidade da sua posição contemporânea. Uma receita eficaz, assente na multiplicidade de géneros e sonoridades que o passado legou, e muitas que até ignorou, em que através de uma manifesta reciclagem musical, cuidadosamente selecionada e bem enquadrada, surgem agora originalmente revigoradas por um processo de produção musical que se pretende como criativo e no qual se recorre à utilização de samples - curtos trechos de outras músicas, que servem como base/apoio para criar músicas novas - uma técnica com tanto de polémico como de interessante. 

Mas 'Odelay' não vive só de samples. Beck é um músico versátil, capaz de tocar vários tipos de instrumentos e tem até facilidade em trabalhar com instrumentos que não domina, e é mesmo ele quem toca praticamente tudo ao longo do registo. Grande parte das músicas foram primeiro abordadas sob o formato de canção e só depois foram preenchidas com os mais diversos elementos que Beck e os Dust Brothers 'samplaram' da vasta coleção de registos musicais da dupla de produção. Neste alinhamento há apenas três músicas que escaparam ao cunho dos Dust Brothers; a intimidade de "Lord Only Knows", a aspereza punk de "Minus" (demonstrativa do que poderia ser este registo sem a divina colaboração dos Dust Brothers) e a distinta soturnidade acústica de "Ramshackle", em que participa o incontornável contrabaixista jazz Charlie Haden.

Registo inquestionavelmente inventivo que pode ser definido pela integralidade do seu caráter pop/rock em que também predomina essencialmente o hip-hop, havendo ainda espaço para o folk e para o country. Uma airosa combinação de elementos distintos, capazes de surtir um efeito eclético e inovador que resulta bem original.

A faixa "Diskobox" ficou de fora da edição original acabando por ser recuperada nas edições de alguns países como uma faixa extra, sendo esta edição Europeia uma das galardoadas.

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2024

English Settlement - XTC


  Lado A
1 Runaways (C. Moulding)   4:32
2 Ball And Chain (C. Moulding)   4:28
3 Senses Working Overtime (A. Partridge)   4:50
4 Jason And The Argonauts (A. Partridge)   6:05
5 Snowman (A. Partridge)   5:00
  Lado B
1 Melt The Guns (A. Partridge)   6:27
2 No Thugs In Our House (A. Partridge)   5:08
3 Yacht Dance (A. Partridge)   3:53
4 English Roundabout (C. Moulding)   3:49
5 All Of A Sudden (It's Too Late) (A. Partridge)   5:17 

Quinto registo de estúdio para o quarteto britânico XTC, editado originalmente em 1982 em formato de duplo vinil mas que acabou por conhecer edições diferentes em muitos outros países, Portugal inclusive. A edição aqui apresentada corresponde precisamente à edição Portuguesa, em vinil, composta por apenas um disco. 

Sobriedade pop/rock de índole britânica, com pequenos laivos de folk/rock, já devidamente inserida na corrente dominante da new wave, composta por composições inteligentes, com uma estrutura ordenada e bem definida, capazes de prender toda a atenção pela consciente limpidez da sua exposição. A aparente simplicidade do registo oculta alguma habilidade artística e até a inerência de um evidente talento musical que acaba por transparecer de forma tão natural com o resultado final do registo.

É um trabalho de essências profundas em que a música se conjuga numa coesão de elementos perfeitos, derivado, certamente, das enigmáticas circunstâncias celestiais que terão correspondido com a altura e o momento certos. Equilibrado e muito bem organizado, o registo consegue fascinar logo à primeira audição por funcionar perfeitamente bem como um todo e do qual se torna injusto fazer quaisquer destaques dentro do seu resultado final. É uma obra que merece uma atenção cuidada e uma audição atenta para se tirar o devido proveito da consciente racionalidade, esplendor, e distinta subtileza artística que emana. 

sexta-feira, 2 de fevereiro de 2024

Jumpin' Jive - JOE JACKSON


  Lado A
1 Jumpin' With Symphony Sid (C. Beeks/L. Young)   2:39
2 Jack, You're Dead (D. Miles/W. Bishop)   2:42
3 Is You Is Or Is You Ain't My Baby (B. Austin/L. Jordan)   4:52
4 We The Cats (Shall Hep Ya) (B. Harding/C. Calloway/J. Palmer)   3:14
5 San Francisco Fan (M. More)   4:23
6 Five Guys Named Moe (J. Bresler/L. Wynn)   2:27
  Lado B
1 Jumpin' Jive (Calloway/Froeba/Palmer)   2:36
2 You Run Your Mouth (And I'll Run My Business) (Armstrong)   2:28
3 What's The Use Of Getting Sober (When You're Gonna Get Drunk Again) (Meyers)   3:42 
4 You're My Meat (Skeets/Tolbert)   2:52
5 Tuxedo Junction (F. Feyne/E. Hawkins/W. Johnson/J. Dash)   5:12 
6 How Long Must I Wait For You (P. Specht)   4:00

Depois do enérgico balanço inicial, impulsionado pelo contagiante entusiasmo da atmosfera gerada pela audácia do movimento punk e impregnado de música pop/rock repleta de laivos modernistas da new wave, ao quarto álbum de estúdio o britânico Joe Jackson surpreendia com a abordagem jazz de 'Jumpin' Jive', editado em 1981. 

Em consequência do desgaste físico provocado por cerca de dois anos contínuos em estrada, Joe Jackson passou por um período de convalescença, em sua casa, durante o qual se dedicou à audição de discos de Jump Blues (estilo habitualmente referenciado como precursor do rock 'n roll e do R&B) que teve o seu período áureo na década de 1940 e o saxofonista norte-americano Louis Jordan como um dos seus nomes mais sonantes. Foi precisamente com este repertório de Louis Jordan, a que ainda juntou três músicas de Cab Calloway, uma de Lester Young e um tributo a Glenn Miller que Joe Jackson se dedicou à produção do seu quarto álbum.   

Este não é, portanto, um registo de originais, mas sim um regozijo musical, sem grandes pretensões jazzísticas, em que Joe Jackson e o seu eficiente naipe de músicos apenas pretende desfrutar de um repertório rejubilante, onde reina a boa disposição, a alegria, muito humor e muito swing. A banda foi estruturada à imagem das formações que caraterizavam as bandas do género na época, em que para além da habitual tríade rítmica, bateria (Larry Tolfree), baixo (Graham Moby) e piano (Nick Weldon), pontuava ainda um trompetista (o Português Raúl Oliveira) e dois saxofonistas, um alto (Pete Thomas) e um tenor (Dave Bitelli) - que também se aplica no clarinete. Joe Jackson canta e faz apontamentos nas lâminas.

E se as deliciosas músicas de Cab Calloway são irresistíveis, as de Louis Jordan não ficam nada atrás. O exotismo de "San Francisco Fan", o swing cúmplice de "We The Cats" e o single "Jumpin' Jive", compõem o repertório de Cab Calloway. "Jumpin' With Symphony Sid" tem a distinta assinatura do enorme Lester Young, enquanto Joe Jackson usa "Tuxedo Junction" como um dedicado tributo a Glenn Miller. Quanto ao restante repertório, já executado uma vez ou mais por Louis Jordan And His Tympany Five, foi a verdadeira fonte de inspiração para este registo. Trata-se realmente de um repertório cativante e muito acessível.

Nos créditos do álbum, Joe Jackson assume este registo como um sentido tributo a Louis Jordan, 'The King Of The Juke Boxes', cuja influência musical foi enorme mas muito pouco reconhecida. Louis Jordan não procurava agradar aos puristas ou amantes de jazz. Tal como Joe Jackson e a sua banda, queria simplesmente divertir-se e daí tirar o seu próprio proveito.