sábado, 30 de março de 2024

"Suedehead", The Best Of - MORRISSEY


1 Suedehead (Morrissey/Street)   3:54
2 Sunny (Morrissey/Whyte)   2:42
3 Boxers (Morrissey/Whyte)   3:29
4 Tomorrow (Morrissey/Whyte)   4:04
5 Interlude (Delerue/Shaper)   5:47
6 Everyday Is Like Sunday (Morrissey/Street)   3:32
7 That's Entertainment (Weller)   3:55
8 Hold On To Your Friends (Morrissey/Whyte)   4:02
9 My Love Life (Morrissey/Nevin)   4:23
10 Interesting Drug (Morrissey/Street)   3:26
11 Our Frank (Morrissey/Nevin)   3:22
12 Piccadilly Palare (Morrissey/Armstrong)   3:24
13 Ouija Board, Ouija Board (Morrissey/Street)   4:24
14 You're The One For Me, Fatty (Morrissey/Whyte)   2:56
15 We Hate It When Our Friends Become Successful  (Morrissey/Whyte)   2:28
16 The Last Of The Famous International Playboys  (Morrissey/Street)   3:36
17 Pregnant For The Last Time (Morrissey/Nevin)   2:40
18 November Spawned A Monster (Morrissey/Langer)   5:24
19 The More You Ignore Me, The Closer I Get (Morrissey/Boorer)    3:42

Apelativa e generosa coletânea, editada em 1997, que evoca o período 1988 - 1995 da carreira a solo de Morrissey, ex-vocalista dos britânicos The Smiths. Polémicas à parte, esta era uma fase decisiva durante a qual se questionou o quanto Morrissey estaria dependente da envolvência da histórica banda britânica e o facto é que o carisma e a irreverência de Morrissey, seja pelo bem ou seja pelo mal, será sempre um ponto forte a ter em conta na sua vertente artística e assim se comprovou que Morrissey sobrevive facilmente sem os Smiths.

Malicioso, mordaz, ou simplesmente provocador e sincero no seu juízo, não há simpatia que o pare ou demova. Morrissey a solo soa exatamente como o 'conhecíamos' nos Smiths, o mesmo timbre, a mesma imagem, a mesma pose, apenas a sua música soa algo mais próxima de um pop/rock macio, irreverente e bastante particular, de cariz adulto, que também pode ser manifestamente venenoso e até mesmo cruel.

É difícil não deliciar com o digno esplendor de faixas icónicas como "Suedehead" e "Everyday Is Like Sunday", os primeiros singles, ou "We Hate It When Our Friends Become Successful" e "The Last Of The Famous International Playboys". Também é difícil não lembrar dos saudosos The Smiths em momentos como "Tomorrow", "You're The One For Me, Fatty", "Pregnant For The Last Time" e "November Spawned A Monster". No entanto, junte-se a genuína vitalidade de canções como "Sunny", "Boxers", "Hold On To Your Friends", "Our Frank", "Piccadily Palare", "Ouija Board, Ouija Board" ou "The More You Ignore Me, The Closer I Get" e obtém-se a fórmula que eleva a distinta obra de Morrissey a solo ao mais alto patamar. 

Duas versões complementam ainda os extras desta edição. A mais relevante, e um dos pontos altos do álbum, é a negra ternura da excelsa adaptação, integral, de "Interlude" - gravada originalmente por Timi Yuro em 1968 para o filme do mesmo nome - interpretada em duo por Morrissey e Siouxsie Sioux, e editada em formato de single em 1994. A outra versão corresponde a uma adaptação mais singela para "That's Entertainment", escrita originalmente por Paul Weller para os seus The Jam em 1981.

Um registo esclarecedor e fundamental quanto à real capacidade artística de Morrissey trabalhar a solo e uma amostra construtiva e reveladora de uma obra que não desilude.

quarta-feira, 20 de março de 2024

Hellbilly Deluxe - ROB ZOMBIE

 

1 Call Of The Zombie (R. Zombie/S. Humphrey)   0:30
2 Superbeast (R. Zombie/S. Humphrey)   3:39
3 Dragula (R. Zombie/S. Humphrey)   3:42
4 Living Dead Girl (R. Zombie/S. Humphrey)   3:21
5 Perversion 99 (R. Zombie/S. Humphrey)   1:42
6 Demonoid Phenomenon (R. Zombie/S. Humphrey)   4:11
7 Spookshow Baby (R. Zombie/S. Humphrey)   3:37 
8 How To Make A Monster (R. Zombie/S. Humphrey)   1:37
9 Meet The Creeper (R. Zombie/S. Humphrey)   3:12
10 The Ballad Of Resurrection Joe And Rosa Whore (R. Zombie/S. Humphrey)   3:55
11 What Lurks On Channel X? (R. Zombie/S. Humphrey)   2:28
12 Return Of The Phantom Stranger (R. Zombie/S. Humphrey)   4:30
13 The Beginning Of The End (R. Zombie/S. Humphrey)   1:52

Editado em 1998, 'Hellbilly Deluxe' é o primeiro trabalho a solo de Rob Zombie, o principal mentor da banda norte-americana White Zombie que findou oficialmente a sua atividade em 1996. Ávido de dar continuidade à sua obra pelos seus próprios meios, e conceito, Rob Zombie é o simpático anfitrião desta horripilante viagem pela sua pequena e excêntrica feira de horrores. Personificado como um verdadeiro mestre de entretenimento do horror, Rob Zombie proporciona a deliciosa falsidade de uma representação povoada de fantasmagoria e avassaladores riffs de guitarra, num delirante festim de horror-rock pesado e bem medido.

É como tirar bilhete para uma viagem impetuosa num carrossel delirantemente povoado por personagens curiosas, fantásticas e horripilantes, em que o pano de fundo é uma casa assombrada. E também pode ser um simples pesadelo, elaborado sob a forma de um espetáculo exótico e excêntrico que não impressiona mas tem capacidade para divertir, excitar e entusiasmar. É musicalmente intenso e bastante dinâmico, movendo-se por entre o cativante exotismo de "Living Dead Girl", "Spookshow Baby" e "Return Of The Phantom Stranger" e o brutal impacto de "Superbeast", "Dragula" e "Meet The Creeper". Curtos trechos eletrónicos complementam a potente estrutura do álbum, ajudando à sua contemporaneidade e enquadramento na época; "Demonoid Phenomenon", "The Ballad Of Ressurection Joe And Rosa Whore" e "What Lurks On Channel X?" são as músicas que se enquadram na plenitude deste último apontamento.

O fantástico enredo desta obra demoníaca completa-se com as pontuais introduções - interregnos - inseridas nos seus devidos momentos: "Call Of The Zombie" introduz inocentemente o tema da obra, "Perversion 99" adensa o mistério da próxima sequência, "How To Make A Monster" produz o efeito de baixa fidelidade de um filme de série B e "The Beginning Of The End" representa o epílogo, em ritmo industrial.

Nota positiva, também, para o trabalho gráfico do álbum, em que para além do próprio Rob Zombie participaram Basil Gogos, Dan 'The Man' Brereton e Gene 'The Mean Machine' Colan.

sábado, 9 de março de 2024

Torture Garden - NAKED CITY


  Lado A (sado side)
1 Blood Is Thin (J. Zorn)   1:00
2 Demon Sanctuary (J. Zorn)   0:38
3 Thrash Jazz Assassin (J. Zorn)   0:45
4 Dead Spot (J. Zorn)   0:31
5 Bonehead (J. Zorn)   0:51
6 Speedball (J. Zorn)   0:37
7 Blood Duster (J. Zorn)   0:13
8 Pile Driver (J. Zorn)   0:33
9 Shangkuan Ling-Feng (J. Zorn)   1:14
10 Numbskull (J. Zorn)   0:29
11 Perfume Of A Critic's Burning Flesh (J. Zorn)   0:24
12 Jazz Snob Eat Shit (J. Zorn)   0:24
13 The Prestidigitator (J. Zorn)   0:43
14 No Reason To Believe (J. Zorn)   0:26
15 Hellraiser (J. Zorn)   0:39
16 Torture Garden (J. Zorn)   0:35
17 Slan (J. Zorn)   0:23
18 Hammerhead (J. Zorn)   0:08
19 The Ways Of Pain (J. Zorn)   0:31
20 The Noose (J. Zorn)   0:10
21 Sack Of Shit (J. Zorn)   0:43
  Lado B (maso Side)
1 Blunt Instrument (J. Zorn)   0:53
2 Osaka Bondage (J. Zorn)   1:14
3 Igneous Ejaculation (J. Zorn)   0:20
4 Shallow Grave (J. Zorn)   0:40
5 Ujaku (J. Zorn)   0:27
6 Kaoru (J. Zorn)   0:50
7 Dead Dread (J. Zorn)   0:45
8 Billy Liar (J. Zorn)   0:10
9 Victims Of Torture (J. Zorn)   0:22
10 Speedfreaks (J. Zorn)   0:29
11 New Jersey Scum Swamp (J. Zorn)   0:41
12 S & M Sniper (J. Zorn)   0:14
13 Pigfucker (J. Zorn)   0:23
14 Cairo Chop Shop (J. Zorn)   0:22
15 Fuck The Facts (J. Zorn)   0:11
16 Obeah Man (J. Zorn)   0:17
17 Facelifter (J. Zorn)   0:34
18 N.Y. Flat Top Box (J. Zorn)   0:43
19 Whiplash (J. Zorn)   0:19
20 The Blade (J. Zorn)   0:36
21 Gob Of Spit (J. Zorn)   0:18

'Torture Garden': Título emprestado de um livro escrito em 1899 pelo autor francês Octave Mirbeau, que também ficou conhecido como jornalista, crítico de arte e anarquista, cujo enredo evolui no espaço de um jardim, situado na China, onde se pratica tortura como uma forma de arte. Esta premissa permite antever um pouco do que espera a quem se atrever a enfrentar o desafiante registo que os norte-americanos Naked City editaram em 1991. E aprecie-se ou não, isto é realmente arte em estado bruto. 

Liderados pelo saxofonista John Zorn, nome maior do underground nova-iorquino e reputado compositor de caráter vanguardista, os Naked City servem uma intrépida dose de fortes emoções com um distinto e empolgante cardápio de 42 músicas para consumo rápido e sem hipótese de digestão, num disco de vinil de 12" que deve ser rodado a 45rpm, em que dificilmente se encontra uma música que tenha mais do que um minuto. De referir que nove destas músicas já compunham o alinhamento do primeiro registo dos Naked City, editado em 1990, e que as restantes seriam depois incluídas no alinhamento de "Grand Guignol", editado em 1992.

Um trabalho incrível e tão imprevisível, no qual se passa do heavy metal para o jazz, ao country, à música latina, ao thrash metal, ao reggae, ao rock, à música surf, música de cinema, efeitos de ruído, sons de séries de animação e outros géneros mais, numa rápida sucessão de trechos musicais que encaixam uns nos outros de modo frenético mas igualmente genial e virtuoso. A arte e o talento dos Naked City não conhece limites, faculdade que lhes abre as portas da criatividade e exploração, ou experimentalismo, de combinar estilos musicais tão diferentes entre si. O resultado pode ser de um extremismo brutal, gritante e demolidor, sendo também burlesco e divinal ou até bastante mordaz como sugerem os expressivos títulos de algumas destas "músicas".     

'Torture Garden' está longe de ser um álbum fofinho e acolhedor, podendo tornar-se mesmo tortuoso e exasperante para ouvintes mais convencionais. Mas esta é uma bela aventura, conduzida pela impressionante precisão técnica dos Naked City que certamente se terão divertido imenso com a sua conceção. Poderá ser difícil de entender o conceito deste álbum mas não há colagens ou samples. É tudo tocado pelos Naked City; John Zorn no saxofone, Bill Frisell na guitarra, Fred Frith no baixo, Wayne Horvitz nas teclas, Joey Baron na bateria e uma participação especial de Yamatsuka Eye na expressão vocal.