domingo, 30 de maio de 2021

Up - R.E.M.


1 Airportman   4:11
2 Lotus   4:29
3 Suspicion   5:34
4 Hope (Cohen/Buck/Mills/Stipe)   5:00   
5 At My Most Beautiful   3:34
6 The Apologist   4:27
7 Sad Professor   4:00
8 You're In The Air   5:20
9 Walk Unafraid   4:30
10 Why Not Smile   4:00
11 Daysleeper   3:37
12 Diminished/I'm Not Over You   6:00
13 Parakeet   4:07   
14 Falls To Climb   5:05   

Os norte americanos R.E.M. chegaram ao seu décimo primeiro álbum de originais em 1998 com "Up", um registo que parece descolar do ponto onde os U2 ficaram uns anos antes com Zooropa, em 1993. Uma viagem momentânea por novos terrenos numa altura em que a banda se viu reduzida a três elementos após o abandono, por questões de saúde, do baterista Bill Berry.

Aparentemente, "Up" demonstra ser uma espécie de remodelação estética que não descarateriza a sonoridade dos R.E.M. Uma busca paciente por uma nova direção na qual as guitarras são relegadas para um segundo plano enquanto que os teclados, sequenciadores e caixas de ritmo passam a ocupar um lugar mais aparatoso, e os R.E.M. cometem a proeza de continuarem a ser eles próprios.

A permanente eficácia das suas músicas é um claro indício de que a banda sempre soube o queria e sempre conseguiu manter o seu intento de criar a sua música ao seu jeito. Apesar de um evidente amadurecimento, a sonoridade dos R.E.M. não evoluiu muito mas conseguiu manter-se sempre distinta e identificável.

"Up" é um registo inteligente, muito sereno e meditativo, bom para degustar pelo prazer de ouvir música feita com detalhe e disciplina. Um trabalho muito especial que marca uma nova fase pois ao fim de dezoito anos de existência este é o primeiro registo da banda sem um dos seus elementos originais. A pureza de uma reinvenção que denota uma clara evolução estética e ponderada que acaba por resultar num trabalho hábil e experimental, longe da conexão extremista do género. 

A riqueza do repertório que integra este álbum reside no facto de estar preenchido por um extraordinário naipe de músicas que se pode facilmente denominar como "At My Most Beautiful", título de uma das músicas incluídas neste álbum. Dada a sua excelência, é difícil de destacar momentos em particular, o ideal será mesmo ouvir o álbum de uma ponta à outra e deixar-se maravilhar pela relevância dos pormenores.

Um detalhe para o facto de Leonard Cohen estar creditado em "Hope", junto com os R.E.M., porque a banda "usa" a linha melódica de "Suzanne" nesta música.

domingo, 23 de maio de 2021

New Adventures In Hi-Fi - R.E.M.


1 How The West Was Won And Where It Got Us   4:30
2 The Wake-Up Bomb   5:07
3 New Test Leper   5:25
4 Undertow   5:08
5 E-Bow The Letter   5:22
6 Leave   7:17
7 Departure   3:27
8 Bittersweet Me   4:06
9 Be Mine   5:32
10 Binky The Doormat   5:00
11 Zither   2:33
12 So Fast, So Numb   4:11
13 Low Desert   3:30
14 Electrolite   4:05

Há um conjunto de fatores associados ao desenvolvimento de "New Adventures In Hi-Fi" como álbum, os quais poderão ter estimulado a criatividade dos norte-americanos R.E.M. para aquele que ficou oficialmente registado como o seu décimo trabalho original, em 1996, e o último com a formação original ainda completa. 

Desde a desgastante tour de 1988, respeitante ao álbum "Green", que os R.E.M. não andavam em estrada. Ao prepararem-se para o voltar a fazer, após a edição do álbum "Monster" em 1994, decidiram levar consigo gravadores de oito pistas para registarem novas músicas e tentar daí extrair o conteúdo que iria preencher o álbum seguinte. 

Editado em 1996, "New Adventures In Hi-Fi" é pois um álbum criado em digressão mas não se trata de um álbum ao vivo. São momentos gravados em soundcheck, em que a banda aproveitava para ensaiar e registar novas músicas, enquanto outras músicas foram gravadas em estúdios por onde passavam. 

Apesar das condições, o instrumental "Zither" foi gravado nos chuveiros de um pavilhão de basquetebol e seis das músicas foram realmente registadas em soundcheck, "Low Desert" foi concluída e gravada no último soundcheck da tour, a qualidade de som deste álbum é muito boa.  

Tendo em conta os problemas de saúde que afetaram alguns dos elementos da banda durante esta digressão, levando mesmo a que o baterista Bill Berry abandonasse a formação no final da tour, é surpreendente como "New Adventures In Hi-Fi" se conseguiu impor como um dos trabalhos mais interessantes dos R.E.M.. É possível sentir um misto de emoções ainda referente aos dois trabalhos anteriores mas na realidade é um registo mais arisco, versátil, bem desenvolvido e bem equilibrado, expandido com novas sonoridades e com a participação dos elementos que então acompanhavam a banda ao vivo. Teclados, loops, sequenciadores e até um vocoder, interpõem-se com as habituais guitarras, também mais expandidas, e ajudam na modulação de uma sonoridade rica e mais aberta do que o usual. 

A singularidade de "How The West Was Won And Where It Got Us", a significativa "E-Bow The Letter" com participação vocal de Patti Smith, a repetitiva intensidade de "Leave", o contagiante riff de guitarra de "Departure", a eficácia do single "Bittersweet Me", a refletida estrutura de "Low Desert" e o momento quase folk de "Electrolite", estão entre os momentos mais distintos desta obra.

quarta-feira, 19 de maio de 2021

Pat Metheny Group - PAT METHENY GROUP


1 San Lorenzo (P. Metheny/L. Mays)   10:12
2 Phase Dance (P. Metheny/L. Mays)   8:17
3 Jaco (P. Metheny)   5:35
4 Aprilwind (P. Metheny)   2:08
5 April Joy (P. Metheny)   8:12
6 Lone Jack (P.Metheny/L. Mays)   6:40   

Registo de estreia para o Pat Metheny Group, em 1978, numa época de indefinição quanto ao que esperar do futuro do jazz. O domínio implacável dos grupos de fusão jazz/rock fazia crer que velocidade de execução, composições complexas e uma dinâmica progressiva seriam indicadores de uma nova linha a seguir mas eis que a simplicidade de uma capa branca, preenchida apenas com os nomes dos intervenientes, evidencia a naturalidade com que esta formação enfrenta o seu primeiro desafio sem recorrer a grandes artifícios ou devaneios, apostando simplesmente na sua qualidade técnica e na clareza e definição da sua música.  

O guitarrista Pat Metheny assume a liderança da formação tendo a seu lado o pianista Lyle Mays que aqui encetava uma leal parceria de composição. As duas primeiras peças deste registo são já fruto dessa interação, a que se junta a célere "Lone Jack", a música que encerra o registo. A importância da contribuição de Lyle Mays é bem expressiva pela profundidade de campo que os seus teclados imprimem no quadro das composições, o que faz com que a magia da extensa paisagem sonora de "San Lorenzo" seja um magnífico cartão de visita e que "Phase Dance" se torne num momento de puro deleite musical.   

A formação complementa-se com a eficiência da secção rítmica composta pelo baixista Mark Egan e pelo baterista Dan Gottlieb. Dois músicos perfeitamente alinhados que encaixam facilmente na estrutura do quarteto e reforçam a sua estabilidade. Tal como o pianista Lyle Mays, Dan Gottlieb já tinha gravado com Pat Metheny no seu segundo álbum a solo "Watercolors" a que aqui se juntou Mark Egan, um "herdeiro" da sonoridade de Jaco Pastorius, de quem recebeu aulas e até o seu primeiro baixo fretless.       

Curiosamente, Jaco Pastorius encontra-se sempre "presente" nos primeiros trabalhos de Pat Metheny. Foi o baixista do primeiro álbum a solo de Pat e no primeiro registo do Pat Metheny Group é alvo de um tributo através da faixa "Jaco". 

É precisamente com "Jaco" que o jazz começa por aqui se mostrar na sua faceta mais natural, regressando no final do registo com a agilidade de "Lone Jack". Pelo meio fica "April Wind", uma breve composição em guitarra acústica que acaba por servir como intro para "April Joy" que por sua vez, entre dinâmicas acústicas e elétricas, revela a timidez de uma peça de caráter progressivo. Interessante como o quarteto retoma o fraseado de "Phase Dance" a meio desta peça e lhe dá uma nova continuidade.

Um registo de estreia arejado, em que as composições têm o seu espaço para respirar e evoluir dentro de uma estrutura de fusão suficientemente sóbria e definida, que não renega o passado e aponta ao futuro.

domingo, 2 de maio de 2021

Electric Ladyland - THE JIMI HENDRIX EXPERIENCE


1 ... And The Gods Made Love   1:23
2 Have You Ever Been (To Electric Ladyland)   2:09
3 Crosstown Traffic   2:26
4 Voodoo Chile   14:59
5 Little Miss Strange (N. Redding)   2:51     
6 Long Hot Summer Night   3:25
7 Come On (Let The Good Times Roll) (E. King)   4:08
8 Gypsy Eyes   3:42
9 Burning Of The Midnight Lamp   3:38
10 Rainy Day, Dream Away   3:42
11 1983....(A Mermaid I Should Turn To Be)   13:39         
12 Moon, Turn The Tides...gently gently away   1:00
13 Still Raining, Still Dreaming   4:23   
14 House Burning Down   4:32
15 All Along The Watchtower (B. Dylan)   3:59   
16 Voodoo Child (Slight Return)   5:12   

Depois da meteórica ascensão do período britânico, em que se inclui a gravação e edição dos dois primeiros álbuns com a Jimi Hendrix Experience em 1967 e que provocou sérios danos por terras de Sua Majestade, Jimi Hendrix regressou aos EUA ainda nesse mesmo ano para consolidar o seu estatuto no Festival de Monterey e gravar finalmente em solo norte americano. 

Editado em outubro de 1968, Electric Ladyland é o terceiro registo de estúdio da Jimi Hendrix Experience e será também o último da formação. Gravado no intervalo das datas que iam surgindo para tocarem pelos EUA, o álbum é o resultado de várias experiências em estúdio. Logo que Hendrix regressava a Nova Iorque dirigia-se para o estúdio Record Plant com intenção de explorar e gravar novas ideias num desenfreado processo de criatividade e uma enorme vontade de trabalhar com mais músicos para além do seu trio, o que levou a que Chris Chandler (o manager e produtor do trio) perdesse o controlo da situação ao ponto de abandonar o decurso dos acontecimentos e Hendrix agradeceu.    

Ao assumir o trabalho de produção, Hendrix ficou totalmente livre para trabalhar a seu bel-prazer. As longas sessões de improviso tornavam-se autênticas jams em demanda pelo take perfeito, não dispensava a oportunidade de trabalhar com os músicos que lhe iam surgindo ao longo de todo este processo e dispunha de tempo para explorar e criar novos sons e efeitos. Em suma, o desenrolar de criação de um álbum que não foi planeado como tal, acaba por se tornar no trabalho mais genuíno de Jimi Hendrix. Percebe-se logo ao primeiro impacto que Hendrix está mais solto que nunca e que para além de saber como explorar a guitarra sabe também explorar uma mesa de mistura, construir simples arranjos de teclas e claro que adora perder-se em jams tal como ficou registado em "Voodoo Chile", resultado de uma longa e hipnotizante blues jam com Steve Winwood e Jack Casady, orgão e baixo respetivamente. 

Em Electric Ladyland a música flui naturalmente e os estilos sucedem-se tendo o blues rock como base mas ora excedendo-se ora apontando para rotas inesperadas. A sessão de "Rainy Day, Dream Away", gravada com Mike Finnigan em orgão Hammond, Buddy Miles na bateria, Freddie Smith em sax e Larry Faucette em congas, começa com um groove funky que logo se transforma numa peculiar sessão de blues sendo recuperada mais tarde, com uma abordagem mais vigorosa, como "Still Raining, Still Dreaming". "1983....(A Mermaid I Should Turn To Be)" revela o extremismo de uma peça longa cuja essência reside na excelência de uma harmonia de caráter experimentalista. A excessividade de takes para tentar atingir a perfeição da emblemática "Gypsy Eyes" é outra das histórias reveladoras dos excessos da sessões. 

Igualmente interessante, o surpreendente resultado da inclusão de três músicas não originais de Hendrix; "Little Miss Strange" é uma composição original do baixista Noel Redding, que carrega todas as caraterísticas da pop britânicas à época, "Come On (Let The Good Times Roll)" é um original de Earl King que Hendrix destila com gosto e destreza e "All Along The Watchtower", original de Bob Dylan, fica para a história como uma das versões que ultrapassa o original. 

Electric Ladyland é o álbum em que melhor se entende como todo o universo musical girava à volta de Jimi Hendrix. A energia que emana da sua musicalidade é contagiante e apaixonante e este registo tem ainda tantas outras histórias para contar.