segunda-feira, 28 de setembro de 2020

Live Tokyo '85 - PAT METHENY GROUP


1 Forward March   4:00   
2 First Circle   10:51   
3 Scrap Metal   9:21
4 Straight On Red   8:42   
5 Are You Going With Me?   9:46   
6 Half Life Of Absolution   13:14
7 Letter From Home   2:40
8 Yolanda, You Learn   10:55    

Bootleg (edição não oficial) correspondente a uma transmissão de radio japonesa aquando de um concerto do Pat Metheny Group no Gotanda U-Port Hall, Tokyo, Japão, no dia 9 de outubro de 1985. É conhecido o legítimo aborrecimento que este tipo de trabalho causa a Pat Metheny pois trata-se de utilização indevida do seu património cultural e para além disso o guitarrista norte americano gosta de ter controle sobre as suas edições de forma a poder garantir uma boa prestação técnica e a melhor qualidade de som ao ouvinte. Para os fãs e colecionadores, o bootleg desperta o fascínio de poderem aceder a material inédito do seu ídolo ao qual nunca chegariam de outra forma. Neste caso, a gravação até apresenta uma qualidade sonora bastante aceitável. O reportório desta data começa por se centrar no álbum First Circle, editado no ano anterior, mas o pormenor mais interessante desta gravação, para além da excelência da atuação, acaba por ser a inclusão de quatro peças inéditas que nunca passaram do palco para um disco de estúdio, exceção para "Letter From Home" que viria a integrar o álbum do mesmo nome em 1989. 
"Forward March" serve a introdução da banda, com a música a ser interrompida a meio pela locução do radialista, totalmente em japonês, para apresentação da respetiva emissão. "First Circle" desenrola-se de forma maravilhosa dando depois lugar a um dos momentos mais soltos da atuação. "Scrap Metal" é um momento ímpar, uma espécie de exercício livre de improvisação que a banda utilizou ao vivo durante alguns anos, em que Pat Metheny tira partido das capacidades da sua guitarra sintetizada criando uma ambiência sonora com reminiscências de Ornette Coleman, um dos seus grandes ídolos, com quem viria a gravar poucos meses depois desta atuação. "Straight On Red" é outra peça inédita, habitué dos concertos deste altura, e é um show de percussão e ritmo com ambiência latina que foi tocada ao vivo com regularidade ainda durante alguns anos sem nunca passar para o estúdio. Percebe-se, pela reação do público, que "Are You Going With Me?" era já na altura um dos momentos mais esperados da atuação seguindo-se-lhe mais dois momentos inéditos com "Half Life Of Absolution" e "Letter From Home". Na primeira apresentação da banda, após "First Circle", Pat Metheny menciona que a banda irá tocar algum repertório mais antigo e que haverá ainda lugar para uma nova música que foi composta nesta altura, enquanto estavam no Japão. Segundo revelações posteriores de Pat Metheny, "Half Life Of Absolution" terá sido criada em backstage, neste mesmo ano, para integrar um gig com o trompetista Japonês Tiger Okoshi, sendo depois tentada uma adaptação da música ao Pat Metheny Group. Será "Half Life Of Absolution" a referida música na apresentação? A gravação encerra com "Yolanda, You Learn" e nova intervenção do locutor. Documento interessante para coleção.

Agradecimento especial ao José Luís Carvalho pela revisão de texto

terça-feira, 22 de setembro de 2020

Mirrored - BATTLES


1 Race: In   4:50
2 Atlas   7:07
3 Ddiamondd   2:33
4 Tonto   7:43
5 Leyendecker   2:48
6 Rainbow   8:11
7 Bad Trails   5:18
8 Prismism   0:52
9 Snare Hangar   1:58
10 Tij   7:03
11 Race: Out   3:29   

Registo de estreia ambicioso para os nova-iorquinos Battles, em 2007, "Mirrored" é uma peça de trabalho complexa e ousada que procura escapar, de alguma forma, às garras do convencionalismo. O registo distingue-se pelo domínio do forte caráter progressivo e bastante experimental das onze peças que o compõem, um claro desafio de tentar criar algo que não tenha já sido feito mas - como inovar quando praticamente já tudo foi feito ou, pelo menos, tentado? Os Battles apresentam-se como uma formação de rock convencional com guitarras, teclados, voz, baixo e bateria, e vão precisar de muito mais que isto para serem realmente inovadores. Começam por conseguir marcar o seu terreno, mostrando-se bem sucedidos na tentativa de criar uma identidade própria através da inteligente manipulação dos efeitos à sua disposição. As peças são essencialmente instrumentais, as vozes, mesmo quando não estão processadas, acabam por encaixar de forma curta e pontual na estrutura das músicas, que apresentam a dinâmica habitual de uma banda de rock atual, salientando-se o "abuso" da exploração da maquinaria e efeitos para marcar a tão almejada diferença. Deformação de sons, utilização sucessiva de camadas e camadas de loops, alterações tonais, mas no entanto...o ritmo será sempre ritmo e ritmicamente falando este trabalho é bastante poderoso (com a particularidade da bateria ser mesmo o único instrumento deste registo que não sofre qualquer manipulação de efeitos). É percetível alguma qualidade técnica através da execução e da complexidade e originalidade das peças que compõem o registo ... ou uma clara demonstração da boa veia criativa desta formação. 

terça-feira, 15 de setembro de 2020

3 Feet High And Rising - DE LA SOUL

 


1 Intro   1:41
2 The Magic Number   3:14
3 Change In Speak   2:32
4 Cool Breeze On The Rocks   0:47
5 Can U Keep A Secret   1:40
6 Jennifa Taught Me (Derwin's Revenge)   3:23
7 Ghetto Thang   3:34
8 Transmitting Live From Mars   1:11
9 Eye Know   4:12
10 Take It Off   1:52
11 A Little Bit Of Soap   0:56
12 Tread Water   3:44
13 Potholes In My Lawn   3:47
14 Say No Go   4:19
15 Do As De La Does   2:11
16 Plug Tunin' (Last Chance To Comprehend)   4:06
17 De La Orgee   1:12
18 Buddy   4:54
19 Description   1:30
20 Me Myself And I   3:49
21 This Is A Recording 4 Living In A Full Time Era (L.IF.E.)   3:09
22 I Can Do Anything (Delacratic)   0:40
23 D.A.I.S.Y. Age   4:41
24 Plug Tunin' (Original 12" Version)   3:42

Em 1989 os norte americanos De La Soul editavam "3 Feet High and Rising", o seu primeiro registo discográfico, e logo marcaram a sua posição no terreno do hip-hop. A boa disposição dos três rappers, Posdnuos, Trugoy The Dove e Pasemaster Mase, contou com o forte apoio de Prince Paul na produção deste trabalho que acaba por se revelar como uma espécie de flower power do hip-hop ou a sua daisy age, que os De La Soul tanto apregoam ao logo do registo. Um trabalho colorido, descontraído e divertido, com uma paleta preenchida por referências que atuam sob a mestria da arte de bem samplar, empregue aqui na sua melhor forma de criatividade, composição e colagem. Um dos grandes factores de interesse do registo é mesmo a quantidade de samples utilizados (facto que iria gerar grandes controvérsias nos anos seguintes) mas cujo recurso permite a recuperação de repertório já esquecido ou até ignorado. O rap é debitado em doses rápidas sendo intercalado por alguns apontamentos curiosos onde se incluem um concurso com perguntas impossíveis de responder, uma lição de francês, a higiene pessoal e uma excitante orgia. A originalidade da lírica utilizada pelos De La Soul permite a versatilidade das temáticas abordadas tornando-se este outro ponto de interesse para o trabalho inteligente do trio; comparando com a intensidade da intervenção corrosiva dos contemporâneos Public Enemy, neste registo não se abordam questões políticas ou pretensos alarmismos sociais enveredando antes por um contexto mais ligeiro, muito pop, mas bastante sarcástico.

segunda-feira, 7 de setembro de 2020

Phantom Navigator - WAYNE SHORTER


1 Condition Red   5:12
2 Mahogany Bird   6:12
3 Remote Control   7:57
4 Yamanja   6:30
5 Forbidden, Plan-It   6:10
6 Flagships   6:39    

Em 1987, um ano depois da edição do último trabalho de estúdio dos Weather Report, o histórico saxofonista norte americano Wayne Shorter surge num contexto atualizado e rejuvenescido, com o registo "Phantom Navigator". Um álbum composto por seis peças originais, de sua autoria, em que se sente a forte ambiência maquinal do estúdio, onde proliferam as baterias programadas e os sintetizadores. Wayne Shorter não parece intimidado pela útil capacidade destas novas tecnologias e utiliza esse potencial em seu proveito com o apoio de uma nova geração de músicos que então se começava a afirmar. O domínio da sonoridade eletrónica sugere algumas nuances pop/rock (as composições vão bem para além disso) e afasta os apreciadores de jazz mais puristas mas é realmente o exímio trabalho de solista de Wayne Shorter, dividido entre os saxofones soprano e tenor, que sobressai num registo que apesar de tão maquinal é muito humano. Honras de abertura para "Condition Red", a marcar logo uma forte posição com um pulsar excitante e uma entusiasmante prestação de Wayne Shorter que aqui se diverte ainda com alguma vocalização scat"Mahogany Bird" destaca-se como a peça mais acústica do registo, conta com as notórias prestações de Chick Corea, em piano acústico, e de John Patituci e Gary Willis, respetivamente em baixo acústico e elétrico, e juntamente com "Remote Control", em que aparece Alphonso Johnson no baixo, são as peças em que é possível sentir ainda alguma da orgânica estrutural dos Weather Report. As três peças finais vivem três momentos diferentes; o exotismo de "Yamanja" é enriquecido por uma forte componente rítmica e pela prestação de Mitchel Forman nas teclas enquanto o desenho melódico de "Forbiden Plan-It" cria o momento mais cativante e mais dançante deste trabalho. E se este registo teve um início excitante, acaba por encerrar algo meditativo através das vozes fantasmagóricas de "Flagships". Cenário ideal para uma temática etérea, a funcionar sobre alguma complexidade rítmica, e aqui não se pode descurar o efeito que a ficção científica têm sobre Wayne Shorter. A sua paixão pelo género, desde a adolescência, é um facto conhecido e aqui notoriamente revelado por alguns dos títulos atribuídos às peças que compõem o alinhamento deste álbum. Não hesito por isso em considerar que Gustav Holst possa ter exercido alguma influência "mística". O último movimento da sua bem conhecida composição "Os Planetas", escrita entre os anos 1914-1916, é associada ao planeta Neptuno - O Místico e termina igualmente com um coro de vozes ambiental algo similar ao utilizado aqui, num contexto diferente, por Wayne Shorter. Sintonia celestial? Belíssimo trabalho de Wayne Shorter.