sexta-feira, 23 de abril de 2021

Floodland - THE SISTERS OF MERCY


1 Dominion/Mother Russia   7:00
2 Flood I   6:22
3 Lucretia My Reflection   4:56
4 1959   4:10   
5 This Corrosion   10:55
6 Flood II   6:46   
7 Driven Like The Snow   6:27
8 Never Land (a fragment)   2:47   
   Additional Tracks
9 Torch   3:51   
10 Colours   7:17   
11 Never Land (full length)*   11:45
12 Emma (E. Brown/T. Wilson)   6:19  
     *previously unreleased

Quando os britânicos The Sisters Of Mercy iniciavam os preparos do que seria o seu segundo álbum em estúdio, a discórdia instalou-se dando início a um complicado processo de dissolução que opôs o vocalista Andrew Eldritch aos restantes elementos da formação. Tudo terminou com o abandono dos elementos dissidentes e com Eldritch a segurar firmemente a sua posição como líder e a assumir a "irmandade" como o seu próprio projeto.

Depois de algumas complicações, que implicaram a rápida gravação de um álbum numa semana sob a denominação The Sisterhood de forma a evitar que os elementos dissidentes pudessem utilizar o nome (tornar-se-iam nos The Mission), Eldritch avançou para a gravação deste trabalho acompanhado apenas da fiel parceria de Doktor Avalanche (que não passa de uma caixa de ritmos), do produtor Larry Alexander e de Patrícia Morrison (ex-baixista dos Gun Club). Morrison revelou-se uma forte aliada pelo poderio da sua imagem, surge bem evidenciada nas fotos que acompanham a edição e nos vídeos correspondentes. No final Eldritch seria desta vez confrontado por Patrícia Morrison numa questão de direitos autorais.

O perfil de Floodland começou a ser desenhado com a edição do single "This Corrosion" em setembro de 1987. Beneficiando da gloriosa produção de Jim Steinman, que permitiu a Eldritch o acesso a um estúdio bem avançado em termos tecnológicos e a grandiosidade da colaboração do coro da New York Choral Society composto por quarenta vozes, "This Corrosion" abria caminho para um álbum intenso e maquinal que cortava radicalmente com a sonoridade rock gótico inicial dos The Sisters Of Mercy em que a guitarra era um elemento preponderante. "Dominion", o segundo single retirado do álbum, foi também trabalhado por Jim Steinman e também conta com a participação do coro.

Floodland foi editado em novembo de 1987 e tal como previsto é um álbum brutal, diabólico e frio, em que Eldritch tem agora o controlo absoluto. A nova sonoridade é totalmente dominada por máquinas mas ainda contém algumas guitarras e baixos pontuais, destaque absoluto para a icónica linha de baixo da incontornável "Lucretia My Reflection", e até a inesperada e introspetiva "1959" composta apenas por piano e voz. Curiosamente, "Driven Like Snow" rebusca o título na letra de "Nine While Nine", uma música do álbum anterior, e até inclui uma passagem da letra pelo que se poderá considerar uma releitura.  

Eldritch assume todo o trabalho musical não atribuindo créditos a mais ninguém, apenas uma lista de agradecimentos, com exceção para o reconhecido trabalho de produção de Larry Alexander, e de Jim Steinman apenas nos já referidos singles. No que diz respeito à possível participação de Patrícia Morrison em algumas músicas, Eldricht garantiu, numa afirmação posterior, que ela não tocou uma única nota na gravação do disco.    

Na edição em formato cd encontram-se ainda quatro prendas não envenenadas, designadas como faixas adicionais. Tratam-se de músicas que foram editadas como lados B; "Torch" e "Colours" pertencem à versão 12" de "This Corrosion" e a versão de "Emma", um original dos Hot Chocolate que os The Sisters Of Mercy tocavam habitualmente ao vivo desde o início da formação, foi gravada em janeiro de 1988 e utilizada como lado b do single "Dominion". A faixa "Never Land" que encerra o álbum é apenas um excerto de uma versão maior que surge também aqui contemplada como bónus track.

domingo, 18 de abril de 2021

Brother To Brother - GINO VANNELLI


Lado A
1 Appaloosa   4:41
2 The River Must Flow   3:47   
3 I Just Wanna Stop   3:36   
4 Love & Emotion   3:47   
5 Feel Like Flying   5:14
Lado B
1 Brother To Brother   7:14   
2 Wheels Of Life   4:10
3 The Evil Eye   4:10   
4 People I Belong To   3:57   

Em 1978 o vocalista italo-canadiano Gino Vannelli contou com a parceria dos seus irmãos Joe e Ross no processo de criação de "Brother To Brother", o seu sexto álbum de estúdio. A presença de Joe Vanneli era já habitual como teclista, arranjador e produtor, enquanto que as participações de Ross Vannelli eram mais casuais, chegou a fazer segundas vozes e algum trabalho de guitarra em registos anteriores do irmão. 

Desta vez foram os três irmãos que assumiram o controle total da gravação, garantindo o trabalho de produção e arranjos musicais. A intimidade, confiança e apoio desta unidade fraternal parece ter sido determinante na conclusão de "Brother To Brother" como um álbum admirável que se traduz na ligeireza e maturidade de um trabalho de classe, totalmente made in L.A.. O detalhe e precisão de canções impecáveis e modelares é efeito de uma sonoridade pop/rock cuidada em que, apesar de muito discreto, perfume do jazz se faz notar; e ainda há lugar para o surpreendente caráter progressivo da faixa homónima.

Detentor de um timbre vocal doce, quente e cativante, com laivos de romantismo, é obviamente Gino Vannelli quem atrai todas as atenções do registo mas é difícil ignorar a excelência dos músicos que participaram nesta sessão. Começando pelos irmãos Vannelli, Joe permanece como o teclista de serviço, uma presença e apoio fundamental na sonoridade dos álbuns do irmão, e Ross cinge-se às funções de produtor e arranjador, participa nas segundas vozes e assina duas músicas do alinhamento sendo uma delas o single "I Just Wanna Stop", que acabaria por se tornar num dos maiores êxitos da carreira de Gino Vannelli. Carlos Rios evidencia-se pela sua firmeza na guitarra elétrica e pela capacidade de criar solos muito melodiosos, na bateria está um marcante e irrequieto Mark Craney. Há dois excelentes baixistas creditados para este registo com o destaque a recair em Leon Gaer por ser realmente o baixista deste álbum e por se apresentar com uma sonoridade surpreendente e inovadora através da utilização de um baixo elétrico sintetizado. Jimmy Haslip está também creditado como baixista pela sua participação em "Feel Like Flying" e "People I Belong To", e ainda pelo solo de baixo na faixa homónima. Uma grande chamada de atenção para o papel preponderante das segundas vozes ao longo de todo o álbum.

É sempre complicado considerar um trabalho discográfico pela sua grandeza em detrimento de trabalhos semelhantes mas "Brother To Brother" é efetivamente um daqueles discos que merecia muito mais respeito e reconhecimento.

sexta-feira, 9 de abril de 2021

People Are Strange - ECHO AND THE BUNNYMEN

 

Lado A
1 People Are Strange (The Doors)   3:33
Lado B
     The Bee (Swedish Radio and The Big Beat)
1 Paint It Black (Jagger/Richard)   3:15
2 Run Run Run (Reed)   3:41   
3 Friction (Verlaine)   4:35   

Do interregno de cerca de três anos, entre 1985 e 1987, que demorou para que os britânicos Echo And The Bunnymen concluíssem a gravação do que viria a ser o seu quinto álbum de originais, surgiu a versão de "People Are Strange", um original dos Doors, que seria apenas editada como single em 1987 e viria depois a ser utilizada na banda sonora original do filme "The Lost Boys", realizado por Joel Schumacher nesse mesmo ano.

A sessão de gravação de "People Are Strange" foi produzida por Ray Manzarek, o teclista original dos Doors, que ainda contribuiu com o peculiar solo de orgão. É uma versão muito fiel ao original, trata-se mais de uma interpretação do que uma tentativa de criar uma nova versão, e acaba por ser precisamente o inspirado solo de Ray Manzarek a fazer a grande diferença entre o original de 1967 e a frescura desta versão mais atualizada de 1987, que não desilude o fã mais obstinado da lendária banda norte-americana.

Aproveitando a ocasião do lançamento da versão de "People Are Strange" como parte integrante da banda sonora de "The Lost Boys" surgiu também esta edição em 12", no formato ep, que inclui ainda três outras versões que os Echo And The Bunnymen gravaram ao vivo em 25 de Abril de 1985 para uma rádio sueca, daí que o lado B esteja denominado como "The Bee" (Swedish Radio and The Big Beat) uma clara alusão a outro título dos Doors, "The WASP" (Texas Radio And The Big Beat). 

Tal como sucede com a versão de "People Are Strange", as três versões que os Echo And The Bunnymen gravaram ao vivo na Suécia são bastante fiéis aos originais e acabam por funcionar como uma espécie de tributo a bandas idolatradas. As bandas visadas são, respetivamente, os Rolling Stones, os Velvet Underground e os Television. Uma "brincadeira" muito bem sucedida e um bom motivo de interesse para curiosos.  

quarta-feira, 7 de abril de 2021

Midnite Vultures - BECK

 

1 Sexx Laws   3:39
2 Nicotine & Gravy   5:12   
3 Mixed Bizness   3:46
4 Get Real Paid   4:20
5 Hollywood Freaks   3:59
Peaches & Cream   4:53   
7 Broken Train   4:11   
8 Milk & Honey   5:17
9 Beautiful Way   5:35
10 Pressure Zone   3:06   
11 Debra   5:38

Ao sexto registo de estúdio, o norte-americano Beck Hansen volta a trocar as voltas com mais um trabalho que não segue a linhagem dos registos anteriores. Beck expande o seu universo artístico de álbum para álbum através de reinvenções sucessivas revelando-se como um músico/compositor multifacetado que mesmo não sendo de todo um virtuoso é bastante criativo e sabe tirar partido das suas referências musicais de forma a enriquecer o conteúdo das suas músicas. Ouça-se atentamente a miscelânea de elementos que povoam as suas composições e onde se podem encontrar as mais variadas referências, sons e efeitos, sem comprometer o seu trabalho.

Editado em 1999, Midnite Vultures é um registo confecionado no habitual caldeirão em que Beck acumula as suas ideias e de onde as vai depois retirando para montar o autêntico puzzle que são as suas músicas, um autêntico mixed biznessDesta vez Beck foi procurar inspiração nos terrenos escaldantes da música soul e do funk e a partir daí foi juntar os ingredientes necessários, mais um pouco de imaginação, e criou um trabalho enérgico e divertido onde as diversas ideias foram agrupadas a seu bel-prazer. 

A energia contagiante dos singles "Sexx Laws" e "Mixed Bizness" é a melhor amostra da estética pop/rock/soul/funk que domina quase todo o álbum mas ao longo do registo vai-se percebendo o quanto Beck foi também rebuscar ao extraordinário mundo de Prince; músicas como "Get Real Paid", "Peaches & Cream" e a indisfarçável "Debra" são um claro legado de Paisley Park, a que ainda se poderá juntar o exotismo da riqueza sonora de "Nicotine & Gravy" e a hilariante paródia hip-hop de "Hollywood Freaks".

As restantes músicas enquadram-se na habitual estética pop/rock que domina boa parte dos trabalhos anteriores com destaque para "Milk & Honey" como uma das peças obrigatórias deste álbum pela imponência de uma estrutura eletrificante, cuja secção final conta com a quase discreta presença da guitarra elétrica de Johnny Marr. Curiosamente, a ambiência acústica de "Beautiful Way" leva de volta a "Mutations", o trabalho anterior, e conta com a participação vocal de Beth Orton (Portishead) como segunda voz. Quem quiser continuar o disco por mais seis minutos aproximadamente tem ainda direito a um pequeno bónus.