quinta-feira, 25 de janeiro de 2024

Peter Gabriel - PETER GABRIEL


  Lado A 
1 The Rhythm Of The Heat (P. Gabriel)   5:19
2 San Jacinto (P. Gabriel)   6:20
3 I Have The Touch (P. Gabriel)   4:31
4 The Family And The Fishing Net (P. Gabriel)   7:00
  Lado B
1 Shock The Monkey (P. Gabriel)   5:23
2 Lay Your Hands On Me (P. Gabriel)   6:02
3 Wallflower (P. Gabriel)   6:29
4 Kiss Of Life (P. Gabriel)   4:15

Os quatro primeiros registos de Peter Gabriel a solo foram apenas denominados como 'Peter Gabriel'. Uma distinta particularidade que indicia a falta de teor comercial com que o músico britânico lidava com o seu próprio trabalho. O foco de produção incidia na busca de novas sonoridades, e estilos, que pudessem acrescentar algo mais à sua música sem repetir fórmulas. 

Com a edição deste registo em 1982, o álbum 4 da sua carreira a solo, Peter Gabriel apresentava pela primeira vez ao mundo uma obra gravada com sons reproduzidos por um sintetizador Fairlight CMI - cuja capacidade de gravação e reprodução, de qualquer som gravado para a sua memória, pode ser atualmente equiparado à funcionalidade de um sampler.

É igualmente notória a importância da base rítmica que sustenta as músicas. A base rítmica era programada por Peter Gabriel através de uma caixa de ritmos Linn LM-1, que lhe permitia trabalhar com ritmos que não se encontram vulgarmente na música rock. Depois, é a partir destas bases que Peter Gabriel encontra o caminho para as suas músicas. 

No entanto, este é de facto um registo orgânico, que gravita no pulsar da combinação do calor do ritmo Africano com a frieza dos instrumentos eletrónicos, acabando por ser impulsionado através de uma dinâmica coerente que tem tanto de espiritual como de maquinal. A estrutura das músicas assenta no domínio da cuidada manipulação eletrónica que rodeia o núcleo orgânico da formação - Jerry Marotta, na bateria, Tony Levin, no baixo e stick, David Rhodes, na guitarra, e Larry Fast nas teclas - que depois constrói a sua própria textura e completa a disposição final das músicas. 

O álbum revela uma sobriedade artística fascinante e inovadora, fortemente dinamizada pelo intuito de uma demanda pessoal para criar música sem ter em conta critérios de aceitação comercial. Procurando fugir à monotonia da música de rádio, Peter Gabriel apontou a valores não ocidentais e procurou inspiração na música de culturas mais exóticas. São esses os sons que servem de apoio a esta obra e que ajudam a transmitir a energia tribal de "Rhythm Of The Heat", a natureza mística da cultura Índia (norte-americana) em "San Jacinto", a importância pop de "I Have The Touch", a teia parental de "The Family And The Fishing Net", a robustez animal do single "Shock The Monkey", o elaborado despertar de "Lay Your Hands On Me", a frágil sensibilidade de "Wallflower" e a celebração de vida com um final eletrizante sob a égide de "Kiss Of Life". 

Uma obra excitante, sedutora e atrativa, precursora de uma nova via para novas músicas e através da qual Peter Gabriel mergulhou definitivamente em novas atmosferas.

segunda-feira, 8 de janeiro de 2024

Peter Gabriel - PETER GABRIEL


  Lado A
1 Moribund, The Burgermeister (P. Gabriel)   4:16
2 Solsbury Hill (P. Gabriel)   4:18
3 Modern Love (P. Gabriel)   3:34
4 Excuse Me (P. Gabriel/M. Hall)   3:15
5 Humdrum (P. Gabriel)   3:20
  Lado B
1 Slow Burn (P. Gabriel)   4:34
2 Waiting For The Big One (P. Gabriel)   7:16
3 Down The Dolce Vita (P. Gabriel)   4:43
4 Here Comes The Flood (P. Gabriel)   5:54

1977 marca o ano do primeiro registo a solo para Peter Gabriel, depois de oito anos como vocalista dos Genesis. A figura de Peter Gabriel era um dos pontos fortes da histórica banda britânica em que, para além de ser a voz principal e contribuir com a escrita para grande parte das músicas, desempenhava em palco magníficas e elaboradas interpretações onde vestia, literalmente, a pele das impressionantes personagens que interpretava. 

A criatividade de Peter Gabriel mantém-se bem desperta com este trabalho de estreia, ou não fosse a procura de liberdade artística um dos principais motivos para que tivesse renunciado ao conforto dos Genesis como apoio coletivo. A representação de personagens ímpares e distintas continua bem expressiva e resulta da criação de novos universos fantásticos e de abordagens que têm tanto de curioso como de óbvio; há por aqui momentos que ainda contêm alguma génese dos Genesis. 

Este é um trabalho pop, bem distante da complexidade progressiva dos Genesis, mas composto por estruturas muito bem elaboradas e pouco diretas que vão para além da habitual singeleza da música mais popular. Arranjos muito detalhados e as variadas abordagens estilísticas, criam ansiedade pelo que cada momento possa trazer. E se "Moribund, The Burgermeister" começa por indiciar alguma herança do passado, ela logo se perde na graciosidade estética da imortal "Solsbury Hill" e na sinceridade pop/rock de "Modern Love" e "Slow Burn". 

Mas este é realmente um trabalho bastante eclético, em que até é possível ouvir Robert Fripp a tocar banjo e Tony Levin a tocar tuba na representação da bem humorada abordagem dixie para "Excuse Me". O enredo de "Down The Dolce Vita" está totalmente envolvido pela dramática imponência da orquestra sinfónica de Londres, que intercala momentos com o vigor e destreza de uma guitarra funky, de essência rock. Por sua vez, o blues/jazz de "Waiting For The Big One" assenta numa estrutura estável capaz de proporcionar outro momento bem particular. Curiosamente, as músicas que encerram cada um dos lados da edição em vinil proporcionam os momentos de maior consciência musical. "Humdrum" é uma peça calculada e sensível, enquanto "Here Comes The Flood" preenche tudo à sua volta com o exalar de uma enormidade bem expressiva e emotiva, com direito a notável solo de guitarra por parte do convidado Dick Wagner.