domingo, 25 de julho de 2021

Compositions - ANITA BAKER

1 Talk To Me (A. Baker/M. Powell & V. Fails)   5:03
2 Perfect Love Affair (J. Davis & A. Baker)   5:14
3 Whatever It Takes (G. Levert/M. Gordon & A. Baker)   5:32
4 Soul Inspiration (T. Britten & G. Lyle)   5:17
5 Lonely (A. Baker)   4:29
6 No One To Blame (A. Baker & V. Fails)   4:39
7 More Than You Know (A. Baker/M. Powell & V. Fails)   4:48
8 Love You To The Letter (J. McBride)   7:17
9 Fairy Tales (A. Baker/V. Fails & M. Powell)   7:52

Editado em 1990, Compositions é o quarto álbum de estúdio para a cantora norte americana Anita Baker. A temática romântica continua a ser a base lírica das suas composições e mantém-se a linhagem R&B/Soul/Pop que carateriza os trabalhos anteriores assim como a habitual piscadela de olho ao jazz, aqui mais evidenciada pelos dois momentos "Lonely" e "Love You To The Letter".

À primeira abordagem percebe-se logo que este é um registo muito orgânico por ter sido gravado com uma banda permanente em que grande parte dos músicos já vem dos trabalhos anteriores. Apenas os bateristas vão rodando pelo que há menor rotação de nomes envolvidos nas sessões de gravação, o que leva a que haja um maior entrosamento e cumplicidade entre os músicos. Há mais detalhe musical e alguma liberdade de execução, bem notória nos já referidos momentos jazz e na contagiante firmeza de "Fairy Tales".   

O registo sobrevive tranquilamente no calor e na musicalidade das habituais baladas. As harmonias e os arranjos vocais são delirantes e as composições parecem mais calculadas. Anita Baker volta a oferecer uma prestação vocal irrepreensível sabendo ser calma e meditativa ou bastante expressiva quando necessário. "Whatever It Takes" é uma música tão natural, ponderada e paciente, em que se sente a respiração e profundidade do seu calculismo, sendo um bom exemplo de como este é um trabalho bem cuidado. Depois há momentos incontornáveis como a reluzente vivacidade de "Soul Inspiration" e um fecho impecável com a significativa jam de "Fairy Tales". A presença da guitarra clássica de Earl Klugh em "More Than You Know" sublinha o caráter smooth desta música e "No One To Blame" representa outro momento adorável.

segunda-feira, 19 de julho de 2021

Giving You The Best That I Got - ANITA BAKER


1 Priceless (G. Glenn)   4:47
2 Lead Me Into Love (S. Lane & L. Prentiss)   4:44
3 Giving You The Best That I Got (A. Baker/S. Scarborough/R. Holland)   4:18
4 Good Love (G. Taylor)   5:38
5 Rules (M. Ryder/P. Nicholl & G. Lamb)   3:50
6 Good Enough (J. McBride & A. Baker)   4:47
7 Just Because (M. O'Hara/S. McKinney & A. Brown)   5:09
8 You Belong To Me (G. Lyle/T. Britten & B. Livsey)   3:50

Em 1988, Anita Baker editava o seu terceiro trabalho original de estúdio e mantinha a serena abordagem R&B/Soul aveludada e bem produzida que já a caraterizava. Canções bem estruturadas e impregnadas de uma forte temática romântica dominam o registo mas a musicalidade extraída vai muito além da tranquilidade de um trabalho meloso e baladeiro. 

O álbum vai-se abrindo à medida que as audições se sucedem e os pormenores começam então a ganhar os devidos contornos e todo o trabalho a fazer sentido, acabando por revelar um registo doce e quente em que se percebe como a impecável conduta de Anita Baker aparece agora mais solta e confiante. 

É a partir de "Good Love" que o registo se abre completamente e ganha outra frescura, aproximando-se então de uma sonoridade com requinte soul/pop, sem deixar de passar pela linha jazz de "Good Enough", que conta com uma prestação bem medida de Gerald Albright em sax-tenor. Para trás ficam três momentos mais orgânicos, assim caraterizados por incluírem a prestação de uma banda completa onde se insere o baterista Omar Hakim. Com exceção da já referida "Good Enough", as restantes músicas são reguladas, ritmicamente, pelas máquinas. O registo não fica descaraterizado por esta repartição rítmica mas dá para perceber que o álbum tem duas dinâmicas.

Outra presença fulcral nas músicas mais orgânicas é a fascinante prestação harmónica das segundas vozes, nomeadamente em "Lead Me Into Love"; uma balada que cresce dentro da sua própria dinâmica mas progride para um final caloroso em que Anita Baker "joga" com a prestação vocal das Perri Sisters para uma sequência entusiasmante. Esta música conta também com a prestação do pianista norte americano George Duke.

As maquinais "Good Love", "Just Because" e "You Belong To Me" apresentam as texturas mais orelhudas e cativam facilmente a atenção por serem tão pop enquanto "Rules", que também se insere neste lote, acaba por ser mais discreta mas ganha evidência pelo seu equilíbrio musical.

Anita Baker voltava assim a afirmar-se como uma artista e uma voz a ter em conta perante a cultura musical norte americana.

segunda-feira, 12 de julho de 2021

Delicate Sound Of Thunder - PINK FLOYD - LP02


Lado A
1 One Of These Days   6:16
2 Time   5:16
3 Money   9:52
4 Another Brick In The Wall, Part II   5:29
Lado B
1 Wish You Were Here   4:49
2 Comfortably Numb   8:56
3 Run Like Hell   7:12

Não deixa de ser curioso que David Gilmour, que não integrava a formação original dos Pink Floyd, seja a figura fulcral nas duas principais mudanças dentro da banda. É ele quem substitui o génio destruído de Syd Barrett em 1968 e é ele quem assume a liderança após a controversa negação de Roger Waters em manter a banda. Agora rodeado por jovens músicos, que ajudaram a reerguer algo que poucos acreditavam ser possível de voltar a ver, é a presença de David Gilmour que sobressai em todos os aspetos assumindo-se definitivamente como o novo líder da mítica banda britânica. 

Curioso também o facto de que em vinte anos de existência, e com exceção das quatro músicas ao vivo que preenchem o primeiro disco de Ummagumma, o duplo álbum editado em 1969, nunca os Pink Floyd tinham editado oficialmente um álbum ao vivo. Delicate Sound Of Thunder tornou-se assim no primeiro registo oficial da banda gravado totalmente ao vivo.

A segunda parte do concerto, que neste caso corresponde ao disco 2, é inteiramente preenchida com os grandes clássicos dos Pink Floyd e era aqui que residia uma das principais questões quanto a esta nova fase da banda; iria este repertório sobreviver em palco sem a disciplina de Roger Waters?

O arranque com "One Of These Days", a música mais antiga deste alinhamento, é monstruoso. Uma vigorosa demonstração de poder e de afirmação, com capacidade para surpreender os mais céticos quanto ao estado de espírito de uma banda renovada com tanto sangue fresco. A força e dinamismo de palco mantém-se para as interpretações de "Time", "Money" e "Another Brick In The Wall, part II", elevando a fasquia de uma prestação algo temida e que acaba por se expressar através de uma sonoridade atualizada e refrescante. "Money" é agora o momento para "brincar", com a banda a libertar-se em variadas dinâmicas e solos, até em modo reggae e um cheirinho de jazz, algo que Waters nunca teria permitido certamente. Este é dos momentos em que se percebe como os Pink Floyd de Gilmour se soltaram e se tornaram numa banda mais divertida e menos cerebral.

O modo acústico de "Wish You Were Here" atenua o andamento e conduz à magia de "Comfortably Numb", que seria provavelmente o momento mais esperado do concerto e Gilmour não iria desiludir certamente. Uma das músicas mais icónicas, não só dos Pink Floyd como do património musical mundial, "Comfortably Numb" continua a ser uma música imensa que se prolonga num dos solos de guitarra mais bem conseguidos da história do rock. Para esta digressão, a música é apresentada com uma ligeira alteração na entoação vocal mas uma vez que a parte cantada por Gilmour permanece exatamente igual fica a ideia de que muito provavelmente se procurasse criar algum distanciamento da versão original cantada por Roger Waters e torná-la agora na versão de Gilmour. "Run Like Hell" fecha a festa com a destreza do seu ritmo balanceado. 

Uma última curiosidade relativa a esta edição; em novembro de 1988, David Gilmour e Nick Mason foram convidados a deslocarem-se a Moscovo para assistirem ao lançamento do foguetão Soyuz TM-7, em que os astronautas levaram com eles, num voo com destino à estação espacial russa, uma cassete de Delicate Sound Of Thunder (sem a caixa original, para poupar peso) que assim se tornou no primeiro álbum rock a ser tocado no espaço.

quarta-feira, 7 de julho de 2021

Delicate Sound Of Thunder - PINK FLOYD - LP01


Lado A
1 Shine On You Crazy Diamond   11:54
2 Learning To Fly   5:27
3 Yet Another Movie   6:21
4 Round And Around   0:33
Lado B
1 Sorrow   9:28
2 The Dogs Of War   7:19   
3 On The Turning Away   7:57

Roger Waters nunca acreditou que os seus ex-companheiros tivessem a ousadia de voltar a gravar sob a denominação Pink Floyd sem a sua presença ou autorização. O impensável, para Waters, aconteceu e a ousadia até foi mais longe com a edição de um duplo álbum gravado ao vivo, em 1988. De referir que por esta altura a contenda que opunha Waters aos Pink Floyd já estava resolvida através de um acordo em que os direitos foram divididos pelas respetivas partes. 

Delicate Sound Of Thunder foi gravado durante as últimas cinco datas da tournée do álbum A Momentary Lapse Of Reason, no Nassau Veterans Memorial Coliseum em Nova Iorque. O registo evoca um final de digressão bem rodado, tendo em conta os atritos com que a digressão arrancou; como as constantes intimidações e ameaças de Roger Waters, a responsabilidade de montar uma banda à altura de um nome a respeitar e a manter, e os receios de se tratar de um regresso tardio e deslocado no tempo. Tudo isto obrigou a que David Gilmour tivesse de recorrer às pessoas certas para formar uma equipa de confiança que o ajudasse a erguer um espetáculo imenso, que fosse além da música e distraísse o olho, e houve mesmo muitos nomes envolvidos na produção desta grande digressão.

A primeira parte do concerto (disco 1) serve para apresentar os "novos" Pink Floyd, as músicas novas e uma banda de palco expandida, com mais um teclista (Jon Carin) e um percussionista (Gary Wallis) com o claro intuito de ocultar a insegurança dos dois membros mais frágeis de uma banda destruída pela força dos egos. De relembrar que Rick Wright, o teclista original dos Pink Floyd, foi afastado por Roger Waters após a tournée de The Wall, vindo a participar ainda nas gravações do álbum Final Cut e acompanhando esta nova fase como um músico contratado.

De forma a atenuar o impacto do público perante a nova fase dos Pink Floyd, agora sob a liderança do guitarrista David Gilmour, a abertura dos concertos era feita com o velho clássico "Shine On You Crazy Diamond". Preparado o terreno para a audiência mais antiga, a banda avançava de imediato com o alinhamento do seu álbum mais recente e motivo desta tournée. O novo repertório apresenta-se com os mesmos arranjos que se encontram no álbum o que demonstra a precisão e cuidado com que a digressão foi preparada. Tal como no álbum original, "Sorrow" e "The Dogs Of War" são as músicas que melhor encaixam na sonoridade Pink Floyd e que ao vivo ganham ainda mais dimensão.