sexta-feira, 24 de fevereiro de 2023

Live '92 - '93 - ALBERT COLLINS AND THE ICEBREAKERS

 

1 Iceman (G. Collins/E. Smith)   3:57
2 Lights Are On But Nobody's Home (G. Collins)   10:58
3 If You Love Me (Like You Say) (Little J. Taylor)   3:42
4 Put The Shoe On The Other Foot (G. Collins/H. Williams)   8:40
5 Frosty (A. Collins)   7:34
6 Travelin' South (G. Collins)   3:35
7 Talkin Woman (L. Fulsom/F. Washington)   3:09
8 My Woman Has A Black Cat Bone (Ivory L. Semiens)   7:25
9 I Ain't Drunk (J. Liggins)   5:05
10 T-Bone Shuffle (T-Bone Walker)   5:29

O texano Albert Collins (1932-1993) foi um dos bluesman mais peculiares que o género conheceu na sua era moderna. Dono de uma sonoridade única, imediatamente reconhecível pela forma como abordava a inseparável guitarra elétrica Fender Telecaster, o que lhe valeu o título de "Master of the Telecaster", Albert Collins era também um homem de palco notável, com uma presença forte e empolgante. A sua carreira discográfica seria inconstante mas a assiduidade dos palcos manteve-se com alguma regularidade e era mesmo o próprio Albert Collins quem conduzia o autocarro da sua banda durante as pequenas digressões.

As atuações eram eletrizantes e Collins mantinha uma cativante interatividade com o público, com quem gostava de se misturar, percorrendo as audiências com o seu cabo de 45 metros. Em palco destilava vitalidade e magia, numa entrega pessoal e sincera que contagiava todos os que se encontrassem em seu redor. 

A partir de 1978, a carreira de Albert Collins começou a ganhar mais impacto após assinar contrato com a editora Alligator Records para quem gravou sete álbums, entre 1978 e 1986. Nos finais da década de 1980 Collins gozava de alguma popularidade, gravou como músico convidado com vários artistas de renome, e entrou na década de 1990 em plena forma. Uma nova editora, Pointblank (subsidiária da Virgin), os concertos sucediam-se, mas a lei da vida impôs-se e Albert Collins faleceu em 1993.  

O álbum "Live '92-'93" é uma edição póstuma, em 1995, que regista excertos de três concertos gravados nos derradeiros anos de atividade de Albert Collins com a sua banda The Icebreakers. Estas gravações pertencem a atuações que foram gravadas para edição posterior. As primeiras cinco faixas foram gravadas em Julho de 1992, no Montreux Jazz Festival, Suíça, ainda antes de Albert Collins ter conhecimento do seu estado de saúde terminal. As faixas restantes foram gravadas em Setembro de 1993, em Rockford e Peoria, Illinois, já com Collins a lutar pela vida. Viria a falecer dois meses depois da data destes dois últimos concertos.

O registo evidencia tudo aquilo que já se conhecia do estilo de Albert Collins; a poderosa sonoridade que retirava da sua Fender Telecaster, os fraseados tão peculiares e os diálogos que mantinha com a guitarra, a energia e a alegria da sua presença em palco, o à vontade com que lidava com a sua banda e a dedicação que tinha à sua audiência. O registo é também revelador de que Albert Collins, o Iceman, foi um verdadeiro bluesman até ao fim. 

Uma entrada à James Brown, estabelece logo o caráter blues/funk do espetáculo com "Iceman", a música que serve de apresentação e dá início ao espetáculo. "Lights Are On But Nobody's Home" é um dos pontos mais altos da edição por carregar o verdadeiro espírito dos blues e por conter um momento bem expressivo num gritante solo em sax-tenor de Jon Smith. O balanço funky volta a fazer-se sentir em "If You Love Me (Like You Say)". Em "Put The Shoe On The Other Foot", Collins arranca um solo de guitarra vibrante, e o concerto de Montreux encerra com o clássico "Frosty" em formato de encore. A partir daqui, o alinhamento da edição corresponde a datas em que Albert Collins já estava bem ciente do mal que tinha mas é impressionante perceber que não há grande diferença entre a prestação de Montreux, anterior ao diagnóstico da doença, e as posteriores, já com conhecimento da maldita.

Após a torrente elétrica que varria todo o palco, Albert Collins despedia-se na sua humildade com um eterno agradecimento; "Thank you for accepting me ...".

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2023

Bach - GLENN GOULD - CD02


  Johann Sebastian Bach (1685-1750)
  Concerto para Piano Nº 1 em Ré menor, BWV 1052
1 I. Allegro   08:34
2 II. Adagio   07:08
3 III. Allegro   08:18
  Partita Nº 5 em Sol Maior, BWV 829
4 I. Praeambulum   01:45
5 II. Allemande   01:49
6 III. Corrante   00:41
7 IV. Sarabande   02:02
8 V. Tempo di Minuetto   01:05
9 VI. Passepied   00:48
10 VII. Gigue   01:40
  Partita Nº 6 em Mi menor, BWV 830
11 I. Toccata   09:51
12 II. Allemande   02:05
13 III. Courante   02:19
14 IV. Aria   00:44
15 V. Sarabande   03:40
16 VI. Tempo di Gavotta   00:52
17 VII. Gigue   03:28

O segundo cd desta dupla edição contempla o ouvinte com duas gravações de Glenn Gould, ambas retiradas das edições originais de 1957, nas quais o jovem pianista canadiano mantinha, aos vinte e quatro anos, a sua enorme devoção à obra memorável de Johann Sebastian Bach. Estas gravações possibilitam ouvir Glenn Gould como solista com a Columbia Symphony Orchestra, sob direção do prestigiado maestro norte-americano Leonard Bernstein (1918-1990), para a interpretação do "Concerto para piano nº1 em ré menor", e depois apenas como executante solo da "Partita nº5 em sol maior" e da "Partita nº6 em mi menor".

Calcula-se que o formato musical 'concerto' surgiu em Itália por volta de 1700. A etimologia da palavra italiana 'concerto' designa, por norma, um trabalho em conjunto no qual se evidencia um elemento em particular. 

Bach foi admitido como violinista na orquestra da corte do duque Johann Ernst de Weimar em 1703. O duque possuía uma vasta biblioteca, onde pontuavam inúmeras obras italianas, e terá sido no período em que Bach esteve ao serviço da corte que descobriu o género musical 'concerto', enquanto consultava os manuscritos existentes na biblioteca. Os primeiros concertos eram escritos, na sua maioria, para instrumentos de cordas ou para sopros e Bach sentiu o potencial melódico do género e pensou numa adaptação à sonoridade do cravo. Foi apenas em Leipzig, onde foi investido nas funções de Cantor (o responsável pelo coro de uma igreja) de 1723 a 1750, que Bach começou realmente a compor alguns arranjos com base no conceito do género musical 'concerto'. 

O "Concerto para piano nº1 em ré menor" foi designado, de início, como "Concerto para cravo nº1 em ré menor" e há até quem sugira que tenha sido escrito originalmente para violino, dado ser o concerto mais antigo que Bach compôs. O 'concerto' é composto por três andamentos; inicia com um dinâmico "Allegro", encontra alguma sobriedade no "Adagio" do segundo andamento e regressa ao estimulante dinamismo do primeiro andamento para finalizar em "Allegro". A interpretação de Gould é intensa e muito atenta. 

O termo 'partita' designa uma suite, composta por uma série de andamentos de danças tendo por base a mesma tonalidade. As seis 'partita' que Bach publicou individualmente, por sua conta, entre 1726 e 1730, correspondem à primeira publicação de uma obra sua. As seis 'partita' seriam depois reunidas numa só publicação, em 1731, com o título "Clavier-Übung, Part I" (exercícios para teclado, parte I). Apesar da simpática menção com que o autor atraía a sua clientela, indicando que a obra era destinada 'à agradável recreação dos amadores de música', os intérpretes cedo se apercebiam da complexidade e do elevado grau de exigência técnica que a obra detinha. 

Os "exercícios para teclado" foram sendo completados ao longo da carreira de Bach e tiveram continuidade com o "Concerto Italiano" e a "Abertura Francesa", algumas obras escritas para orgão e ainda as célebres "Variações Goldberg". Não é por isso de estranhar que haja algumas semelhanças entre a abordagem e a interpretação de Glenn Gould para as 'partita' e para as "Variações Goldberg". É bem notória, no entanto, a intensidade e o vigor com que Glenn Gould se entrega à inspirada interpretação das "Variações Goldberg" em contraste com a descontraída gravação das duas 'partita'. Só para virtuosos.