terça-feira, 28 de dezembro de 2021

Manifesto - ROXY MUSIC


Lado A (East Side)
1 Manifesto (Ferry/Manzanera)   5:31
2 Trash (Ferry/Manzanera)   2:12   
3 Angel Eyes (Ferry/Mackay)   3:32      
4 Still Falls The Rain (Ferry/Manzanera)   4:12
5 Stronger Through The Years (Ferry)   6:12 
Lado B (West Side)
1 Ain't That So (Ferry)   5:39
2 My Little Girl (Ferry/Manzanera)   3:16
3 Dance Away (Ferry)   4:19
4 Cry, Cry, Cry (Ferry)   2:53
5 Spin Me Round (Ferry)   5:08   

Os britânicos Roxy Music regressavam às edições discográficas em 1979, quatro anos depois do último álbum de originais, "Siren" em 1975, e três anos depois da sua última digressão e de um álbum ao vivo que revia três anos de palco, "Viva" em 1976. "Manifesto" veio preencher a posição do sexto registo de originais da banda e assim preparar o fecho do ciclo de uma década em que a popularidade do género rock/pop seria novamente confrontada com profundas mudanças estéticas.   

Em "Manifesto" os Roxy Music começam por se mostrar inspirados com um East Side verdadeiramente engenhoso, enquanto o West Side se apresenta rendido ao charme e elegância de Bryan Ferry. O registo divide-se sob as duas denominações, sendo bem percetível que metade do álbum é assinado em parceria e a outra metade é exclusiva do carismático líder e vocalista Bryan Ferry. No entanto, "Manifesto" é um registo bem estruturado e cuidado que reflete a sua variedade musical como uma expressiva paleta de cores. 

A abertura do registo é servida como uma entrada calculada e algo experimentalista através da música homónima que dá o título ao álbum e que conduz ao impulso dos enérgicos singles "Trash" e "Angel Eyes". "Trash" revela-se como um legítimo herdeiro da sonoridade primordial dos Roxy Music enquanto "Angel Eyes" seria regravada para uma nova versão como single e seria ainda editada em 12" (extended dance mix), formato que então se começava a popularizar para utilização nos clubes de dança. Este será também o ponto em que os Roxy Music mais se aproximaram do domínio do movimento disco sound. "Still Falls The Rain" partilha ainda algum glamour com David Bowie e o exotismo de "Stronger Through The Years" encerra o East Side de forma enigmática.

O refrescante balanço de "Ain't That So" introduz o segundo lado do registo de forma convidativa e acessível, muito ao jeito de Bryan Ferry. "My Little Girl" é uma peça mais elaborada e colorida, com a curiosidade de apresentar arranjos à la Steely Dan. "Dance Away" foi o single mais bem sucedido desta edição e a música que melhor reflete o trabalho a solo de Bryan Ferry, facto que não será casual pois trata-se de uma música que Bryan Ferry tinha guardado para um dos seus álbuns anteriores mas que só ficou concluída por esta altura. "Cry, Cry, Cry" é Bryan Ferry a empurrar os Roxy Music em direção à música Soul e "Spin Me Round" é a antecessora de "Avalon" (Now the ballroom's empty vs Now the party's over), a expressiva solidão de uma balada tão emotiva e sensual.

"Manifesto" é um trabalho aberto a todos os estilos e revelador da criatividade musical com que os Roxy Music procuravam obter novas sonoridades. 

domingo, 12 de dezembro de 2021

The Bride Stripped Bare - BRYAN FERRY


Lado A
1 Sign Of The Times (Ferry)   2:28
2 Can't Let Go (Ferry)   5:14
3 Hold On (I'm Coming) (Hayes/Porter)   3:37
4 The Same Old Blues (J.J.Cale)   3:21
5 When She Walks In The Room (Ferry)   6:23   
Lado B
1 Take Me To The River (Green/Hodges)  4:29
2 What Goes On (Reed)   4:11
3 Carrickfergus (Traditional)   3:46
4 That's How Strong My Love Is (Jamison)   3:17
5 This Island Earth (Ferry)   5:06

Aproveitando o hiato de dois anos em que os Roxy Music decidiram cessar atividade, entre 1976 e 1978, Bryan Ferry deu seguimento à elegância da sua carreira a solo que já tinha sido iniciada em 1973 com "These Foolish Things", um trabalho preenchido na sua totalidade por versões de músicas de autores que o carismático líder dos Roxy Music admirava. A tendência de Bryan Ferry para gravar versões manteve-se ao longo da década de 70 mas foi adicionando, a pouco e pouco, algum trabalho original. O registo anterior, "In Your Mind" de 1977, já era totalmente composto por músicas originais de Bryan Ferry.

"The Bride Stripped Bare" foi editado em 1978 e ficou registado como o quinto álbum a solo de Bryan Ferry. Volta a ser um registo dominado por versões contando apenas com quatro originais de Bryan Ferry, que nunca escondeu o prazer que tem em interpretar músicas de outros autores. Os alicerces deste trabalho começaram a ser desenhados em Los Angeles, Califórnia, onde Bryan Ferry se encontrava a recuperar do desgaste da última digressão dos Roxy Music e da rutura da sua relação com a modelo Jerry Hall que lhe fugiu para os braços de ... Mick Jagger. O resultado transparece num trabalho bastante pessoal e emocional. 

É um registo carregado pela sobriedade da forte personalidade do frontman dos vistosos Roxy Music. Bryan Ferry entrega-se a uma interpretação calculada para uma "desmedida" seleção musical que vai desde a habitual predileção pela riqueza do repertório soul, aqui representado por "Hold On (I'm Coming)" e pela frescura de uma música mais recente como "Take Me To The River", original de Al Green que os Talking Heads também gravaram neste mesmo ano, o toque Memphis de "That's How Strong My Love Is", a visita ao sempre apetecível repertório blues/rock de J.J. Cale com "The Same Old Blues", a canção folk Irlandesa "Carrickfergus", até aos Velvet Underground de Lou Reed com "What Goes On". Uma fusão de vários estilos e ambientes unidos num álbum só, à semelhança do conceito que o pintor Marcel Duchamp usou para a sua obra artística "The Bride Stripped Bare" (1915-1923) e que dá o título a este registo.

A inebriante presença do charme e carisma com que Bryan Ferry envolve as suas músicas originais é o outro ponto forte do álbum. A destreza rock de "Sign Of The Times" introduz o registo de forma célere e curta concedendo depois espaço para o retrato tortuoso que Bryan Ferry fez da sua estadia em L.A. através de "Can't Let Go". "When She Walks In The Room" é uma peça emocional, com Bryan Ferry ao piano, e "This Island Earth" é um momento ímpar que carrega alguma da enigmática atmosfera que carateriza a sonoridade dos Roxy Music e "revela" o porquê dos Japan de David Sylvian, que editavam o seu primeiro álbum neste mesmo ano de 1978, serem comparados, com alguma regularidade, aos ... Roxy Music.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2021

The Big Gundown - JOHN ZORN plays the music of ENNIO MORRICONE


1 The Big Gundown (E. Morricone)   7:25
2 Peur Sur La Ville (E. Morricone)   4:16
3 Poverty (Once Upon A Time In America) (E. Morricone)   3:49
4 Milano Odea (E. Morricone)   3:02
5 Erotico (The Burglars) (E. Morricone)   4:26
6 Battle Of Algiers (E. Morricone)   3:50
7 Giu La Testa (Duck, You Sucker) (E. Morricone)   6:06
8 Metamorfosi (La Classe Operaia Va In Paradiso) (E. Morricone)   4:37
9 Tre Nel 5000 (J. Zorn)   4:37
10 Once Upon A Time In The West (E. Morricone)   8:33
     Bonus Tracks
11 The Sicilian Clan (E. Morricone)   3:20
12 Macchie Solari (E. Morricone)   3:29
13 The Ballad Of Hank McCain (vocal) (E. Morricone)   5:27
14 Suegliatti E Uccidi (E. Morricone)   3:03
15 Chi Mai (E. Morricone)   3:06
16 The Ballad Of Hank McCain (instrumental) (E. Morricone)   5:25

John Zorn é um admirador confesso da obra musical do inolvidável compositor italiano Ennio Morricone, famoso pelas notáveis bandas sonoras que criou, desde os anos 60, para boa parte das produções cinematográficas italianas ... e não só. A arte e engenho de Ennio Morricone para criar obras musicais admiráveis foi uma das fontes de inspiração do então jovem compositor norte-americano John Zorn que cedo se apercebeu (e sentiu) da força emocional que as ilustres bandas sonoras do maestro italiano transmitiam para lá das imagens em celuloide.  

Ennio Morricone detinha a capacidade e mestria de combinar uma grande diversidade de elementos na elaboração das suas peças, fundindo classicismo com temas populares, recorrendo ao uso de instrumentos musicais invulgares e à organização de técnicas de composição pouco convencionais. Terreno fértil para o arrojado John Zorn, cuja caraterização pode ser praticamente descrita da mesma forma e que em 1984 se entregava a um projeto que tinha tanto de admiração e respeito como de audácia e coragem. The Big Gundown - John Zorn plays the music of Ennio Morricone seria oficialmente editado em 1986.

A participação de John Zorn neste álbum resume-se ao trabalho de direção e composição, limitando-se a aparecer pontualmente em algumas músicas, nas mais diversas situações. Zorn trabalha sobre as partituras originais de Ennio Morricone, atribuindo novas ideias e conceitos a estas peças através de um processo de desconstrução que de início pode parecer um ato de profanação mas que no final revela a genialidade criativa de John Zorn como compositor. Para garantir a identidade de cada peça, Zorn escolheu músicos da sua inteira confiança que faziam parte do circuito nova-iorquino do Lower East Side. Consta por aí que o título "Once Upon A Time In The East Village" chegou mesmo a ser sugerido para este registo. 

O processo de desconstrução que John Zorn aplicou neste trabalho é na realidade um processo de reconstrução em que as entranhas das composições originais de Ennio Morricone são completamente remexidas ao ponto de se tornarem, descaradamente, em novas composições de John Zorn. No entanto, o caráter original destas peças mantém-se reconhecível. Uma abordagem feita com todo o respeito e admiração, de uma criatividade ímpar e visionária, que o próprio Ennio Morricone reconheceu como incrível. 

A reter que de todo o alinhamento há apenas uma faixa que não pertence a Ennio Morricone; "Tre Nel 5000" é uma composição original de John Zorn que integra o registo como uma ramificação que Ennio Morricone pude-se ter escrito sem a inclusão dos seus elementos caraterísticos. Funciona também como um indicador da autoridade de Zorn para com este trabalho.

A edição aqui apresentada refere-se à re-edição comemorativa dos 15 anos deste álbum, em 2001, para a qual John Zorn gravou seis novas peças, que adicionou como faixas extra.