domingo, 28 de fevereiro de 2021

Blood - THIS MORTAL COIL


1 The Lacemaker   4:06
2 Mr. Somewhere (P. M. Walsh)   2:52
3 Andialu   3:03
4 With Tomorrow (Clark/Davis)   2:40
5 Loose Joints   2:26
6 You And Your Sister (C. Bell)   3:14
7 Nature's Way (R. California)   3:19
8 I Come And Stand At Every Door (N. Hikmet/J. Waters)   3:54
9 Bitter   6:25
10 Baby Ray Baby   2:13
11 Several Times (P. Nooten)   3:12
12 The Lacemaker II   1:24
13 Late Night (S. Barrett)   3:03
14 Ruddy And Wretched   3:15
15 Help Me Lift You Up (Mary M. O'Hara)   5:06
16 Carolyn's Song (D. Roback)   3:47
17 D. D. And E.   0:47
18 'Till I Gain Control Again (R. Crowell)   4:43
19 Dreams Are Like Water   8:37
20 I Am The Cosmos (C. Bell)   4:05
21 (Nothing But) Blood   4:04 

No júbilo de uma década de 80 cheia de cor e otimismo, a editora independente britânica 4AD marcou a sua posição através de uma estética criteriosa em que a música e as capas das suas edições evidenciavam um mundo à parte, incolor e etéreo, dominado por algum cuidado artístico.  

O projeto This Mortal Coil nasce de um conceito pensado por Ivo Watts-Russell, o patrão da 4AD, que consistia numa colaboração entre músicos do seu catálogo com o intuito de estimular alguma criatividade musical, usando de alguma liberdade de composição fora do ambiente habitual dos próprios projetos de cada um dos participantes. Ainda assim chegaram a haver participações de músicos externos à editora. 

Em 1991, "Blood" apresenta-se como o terceiro trabalho editado sob a denominação This Mortal Coil e marca o capítulo final do projeto. Uma manifesta coletânea de momentos montada por Ivo Watts-Russel com o produtor John Fryer e o violoncelista Martin McCarrick, os únicos colaboradores habituais. 

"Blood" é um disco sensorial para ser vivido momento a momento ou uma experiência artística contada por histórias que podem não ter palavras, cuja singularidade parece ter sido retirada do interior da forte personalidade de Ivo-Watts Russell. Funciona como uma espécie de banda sonora particular em que Ivo inclui versões de músicas pouco divulgadas, intercaladas com peças de cariz mais experimental. As versões centram-se em músicas a que Ivo devota alguma estima pessoal e às quais procura dar a atenção que nunca tiveram. São interpretadas dentro dos cânones que caraterizam a sonoridade da 4AD sendo-lhes atribuída uma nova vida através de ambientes etéreos sob o efeito da predominância do encanto das vozes femininas.    

A pureza das vozes, a sua tonalidade tão angelical, foi sempre o ponto central do projeto mas outros elementos são necessários na obtenção desta sonoridade fantástica. Um quarteto de cordas, poucas guitarras, teclas, programações, caixa de ritmos e muitos efeitos são os elementos que complementam as vozes, aliado a um bom trabalho de mistura e colagens. As intervenções pontuais de Jim Williams em guitarra elétrica são as mais evidenciadas por surgirem de forma crucial como um efeito de corte de algum do ambiente etéreo e assim criarem o contraste necessário entre o sonho e alguma obscuridade; para logo se retornar à magia de um ambiente sereno e realmente fantástico. 

Incontornável, a intensa e arrepiante interpretação de "I Come And Stand At Every Door", o igualmente arrepiante poema sobre a tragédia de Hiroxima escrito pelo poeta turco Nazim Hikmet. 

Os sonhos são como água, incolores e perigosos

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2021

The Long Acre - IN TUA NUA


Lado A
1 Woman On Fire   5:00
2 All I Wanted   3:30
3 Wheel Of Evil   4:30
4 Meeting Of The Waters   1:47
5 The Innocent And The Honest Ones   5:33
Lado B
1 World Wired Up   3:38
2 Some Things Never Change   3:23
3 Don´t Fear Me Now   3:30
4 Emotional Barrier   4:15
5 The Long Acre   5:05
6 Sweet Lost Soul   3:05   

Um percurso algo atribulado logo desde os inícios da formação dos In Tua Nua em 1983, nunca possibilitou que esta banda irlandesa se mantivesse totalmente focada e determinada na gestão da sua carreira. 

Uma jovem Sinnead O'Connor, então com apenas quinze anos de idade, foi uma das vozes inicialmente escolhidas para liderar a formação mas por ser tão nova perdeu o lugar para Leslie Dowdall. O violinista Steve Wickham integrou a primeira formação, e ainda participou nas gravações de um primeiro disco que a banda nunca chegou a ver editado, mas acabou por sair para os Waterboys, depois de também ter gravado com os U2 para o álbum "War". 

O período mais estável dos In Tua Nua inicia-se em 1986, o ano em que assinaram contrato com a Virgin Records, que resulta em dois álbuns de estúdio, terminando tudo em 1989 com a dissolução da banda logo após a conclusão da gravação daquele que seria o seu terceiro trabalho de estúdio. A história repetia-se e este registo também nunca chegaria a ser editado, foi disponibilizado apenas em 2007 como download na plataforma iTunes.

The Long Acre foi editado em 1988 e ficou registado oficialmente como o segundo álbum dos In Tua Nua. A banda irlandesa mostra-se fiel às suas raízes celtas através da habitual inclusão de elementos folk como o violino, as gaitas e as flautas, mas apesar de uma bem conseguida fusão de géneros este é um trabalho declaradamente rockA solidez da sua estrutura linear acolhe canções vigorosas e bastante acessíveis, sob o domínio equilibrado das duas guitarras elétricas e da forte presença vocal de Leslie Dowdall enquanto os instrumentos mais acústicos vão surgindo pontualmente. 

Apesar de ser um registo de qualidade sente-se falta de mais algum atrativo ou de um pouco mais de ousadia para se conseguir destacar. É um facto que o single "All I Wanted" proporcionou o melhor registo da banda num top mas é "The Long Acre", a faixa que dá título ao álbum, que consegue ir um pouco mais além do que o resto do álbum. Curiosamente, "The Long Acre" é a única música que não conta com Leslie Dowdall como voz principal, a música é interpretada pelo baterista Paul Byrne, e é também a música, a par de "Meeting Of The Waters", que mais se aproxima da vertente folk.

sábado, 13 de fevereiro de 2021

Reflections! - TWENTY SIXTY SIX AND THEN


1 At My Home (Studio Live-Version)   7:54
2 Autumn   9:05
3 Butterking   7:10
4 Reflections On The Future   15:45
5 The Way That I Feel Today (Studio Live-Version)   11:09
6 Spring (Duet For Two Hammonds)   13:00
7 I Wanna Stay (The Munich Sessions)   3:56
8 Time Can't Take It Away (The Munich Sessions)   4:40

Em 1972 os alemães Twenty Sixty Six And Then editavam aquele que seria o seu único registo discográfico. A banda extinguiu-se logo de seguida mas deixou um extraordinário testemunho da sua curta existência através do álbum "Reflections On The Future". 

Em 1991, numa tentativa de reedição, foi editado "Reflections On The Past". Um álbum duplo em vinil com três lados, que resulta de uma infrutífera busca pelas masters originais, já perdidas, mas que levou ao encontro de material pré-gravado para o álbum de 72, em versões ligeiramente diferentes mas de boa qualidade.  

Ao invés de se proceder ao tratamento e filtragem de uma das edições originais em vinil para uma reedição em cd, optou-se por aproveitar a boa qualidade do material inédito e daí nasceu a compilação "Reflections!", editada em 1994.

"Reflections!" é a amostra que resta do enorme potencial dos Twenty Sixty Six and Then. A banda explorava uma sonoridade de caráter progressivo bastante intensa, dominada pela destreza dos dois teclistas e pelo timbre rouco da voz de Geff Harrison a que se junta o dinamismo de uma secção rítmica possante e a eficácia do guitarrista Gagey Mrozeck. De uma forma mais generalizada é possível afirmar que os Twenty Sixty Six and Then enquadram-se algures entre a graciosidade dos Procol Harum, o heavy rock dos Deep Purple e a veia mais classicista de Emerson, Lake and Palmer.

As primeiras quatro faixas correspondem a versões similares das músicas incluídas no alinhamento do álbum original com exceção de "At My Home" que aqui aparece numa versão mais longa por ter sido gravada num ensaio em estúdio, tal como sucede com os inéditos "The Way That I Feel Today" e "Spring". As faixas "I Wanna Stay" e "Time Can't Take It Away" correspondem já a uma outra sessão de gravação que teria o intento de gravar músicas para um segundo registo que nunca chegou a acontecer. 

Entre as particularidades mais evidentes desta edição distingue-se a vertente psicadélica de "Butterking", a disputa dos dois orgãos Hammond em "Spring" e a curiosa aparição de Donna Summer nos coros de "Time Can't Take It Away". 

Um registo incontornável, não só pelo virtuosismo patente mas pela sua raridade como testemunho de uma exatidão temporal. Apenas uma perfeita conjugação de elementos pode ter permitido que estas sessões ocorressem por aquela altura, nos locais certos e com as pessoas certas.  

terça-feira, 2 de fevereiro de 2021

Paradiso Amsterdam 1981 - DURAN DURAN

 

1 Anyone Out There?   4:03   
2 Late Bar   3:05   
3 Fame (C. Alomar/D. Bowie/J. Lennon)   4:45   
4 Night Boat   5:08   
5 My Own Way   4:50   
6 Planet Earth   4:37      
7 Girls On Film   6:30   

Trata-se de um Bootleg (edição não oficial) que corresponde a parte do concerto dos Duran Duran no Paradiso Club, Amsterdão, em setembro de 1981 aquando da sua primeira tournée europeia. Uma pequena digressão de cinco datas, com passagem por quatro países, em que a banda britânica se apresentava pela primeira vez ao vivo fora do Reino Unido. A data do Paradiso foi a última desta curta viagem europeia e quatro dias depois os Duran Duran já se encontravam em Nova Iorque, preparados para arrancar com a sua primeira digressão norte-americana.   

A gravação corresponde a uma transmissão de radio, apresenta uma qualidade de som bastante aceitável, sem interrupções ou locução, e não corresponde ao concerto integral. A edição contêm o que parece ser a última meia hora do concerto e inclui sete músicas. O álbum de estreia Duran Duran foi editado em junho de 1981 e é natural que o alinhamento se centrasse nesse registo mas começa por ser bem notória a presença neste alinhamento de dois lados B de singles e um single que aqui ainda não o era.

"Late Bar" é uma daquelas pérolas que ficou de fora do álbum de estreia, acabando por ficar para a posterioridade como o lado B do single "Planet Earth", "Fame" é uma versão do original de David Bowie que os Duran Duran já tinham gravado e incluído na versão 12" do single "Careless Memories" enquanto "My Own Way" só viria a ser gravado e editado como single em novembro de 1981, seria incluído depois, numa outra versão, no álbum Rio em maio de 82. Estas três músicas encontram-se particularmente destacadas nesta gravação pela sua raridade. "Late Bar" e "Fame" já eram músicas claramente rodadas mas "My Own Way" soa algo desconexa, ainda uma versão embrionária. 

Os Duran Duran soam bastante enérgicos e soltos, entregues a uma performance que se evidencia pela sua celeridade. As músicas são executadas sob o vigor da secção rítmica John Taylor/Roger Taylor, baixo e bateria respetivamente, com a dominante altivez de Nick Rhodes nos sintetizadores, bastante inventivo em "Night Boat", e um irrequieto Andy Taylor na guitarra. Simon Le Bon cumpre o seu papel de frontman.

Um registo que vale pela sua curiosidade e pormenores.