sábado, 30 de junho de 2012

Projecto XXI - ANTÓNIO ROSA * ANTÓNIO OLIVEIRA

1 Dez a Fio (Francisco Loreto) 6.12
  
   Sonata "Mari's" (Carlos Marques)
2 I Enérgico 4.04
3 II Adagio 3.48
4 III Andante e Allegro Vivo 3.11
  
   Duas Fantasias (Pedro Faria Gomes)
5 Sobre Mozart 3.35
6 Sobre Copland 2.18
  
   Plural - Fernando C. Lapa
7 I 0.56
8 II 1.01
9 III 1.08
10 IV 1.00
11 V 1.01
12 VI 0.41
13 VII 0.56

14 Serenata (Jorge Salgueiro) 3.53

     Nove Miniaturas Açorianas (Jean-François Lézé)
15 São Jorge 0.32
16 Santa Maria 0.29
17 Terceira 0.34
18 Graciosa 1.48
19 Flores 0.32
20 São Miguel 0.39
21 Faial 0.53
22 Corvo 0.26
23 Pico 1.54

O Cd Projecto XXI, editado em 2006, foi gravado por dois jovens e creditados músicos Portugueses, António Rosa no Clarinete e António Oliveira no Piano. Ambos são músicos de Orquestra, de formação Clássica obviamente, que neste trabalho aparecem como Intérpretes Solistas de um repertório “encomendado” a seis compositores contemporâneos que abrange diversificadas temáticas mas todas unidas num estilo clássico audaz e bastante emocional. A qualidade do repertório, aliado à cumplicidade dos dois músicos, resulta num trabalho de forte expressão em que a intensa interpretação do Duo ilumina sobremaneira os vários movimentos das peças aqui apresentadas.
Através de uma execução sóbria, cristalina e Exemplar, o Duo consegue prender e conduzir-nos ao longo do Cd sendo o ouvinte confrontado logo de início com um momento expansivo como a peça “Dez A Fio”, descrita pelo seu compositor, Francisco Loreto, como “o conjunto de uma sequência de 10 breves secções contrastantes.” De seguida a peça “Sonata Mari’s”, escrita por Carlos Marques, é composta por três andamentos em que no primeiro o Clarinete e o Piano interagem descontraidamente num diálogo alegre para assentarem pesadamente no grave martelar do Piano no sossego do segundo andamento. Ao terceiro andamento renasce suavemente a energia com que a peça arranca. “Duas Fantasias” são duas peças particulares de Pedro Gomes Faria tendo a primeira como inspiração o segundo andamento do quarteto de cordas KV 465 de Mozart e baseando-se a segunda numa melodia da Sinfonia nº1 de Aaron Copland. São dois momentos particularmente deliciosos. “Plural III”, autoria de Fernando C.Lapa, consiste em sete curtas peças sem qualquer relação entre elas. A sua interpretação é feita de pequenas frases tal como pequenos momentos, ou actos, distintos entre si. Em “Serenata” encontramos uma bonita melodia escrita por Jorge Salgueiro sugestiva de enamoramento. A encerrar o Cd Jean-François Lézé contribui com “Nove Miniaturas Açorianas”, peça originalmente escrita para Piano e Marimba. São nove curtas peças, inspiradas simplesmente nas ilhas Açorianas, e tal como na peça de Fernando C.Lapa a peça é composta por pequenas frases, mas mais melódicas.
Projecto XXI oferece a garantia de um momento bem passado. A interpretação límpida e talentosa do Duo e o Repertório, bastante expressivo, criam uma harmonia de requinte.

sexta-feira, 22 de junho de 2012

Rima - SAMUEL JERÓNIMO

1 Verso 1 [09.21]
2 Verso 2 [09.46]
3 Verso 3 [15.03]
4 Verso 4 [09.36]

Editado em 2006 Rima é um registo que soa intemporal e difícil de definir acabando por ser inclusive um álbum literário na medida em que usa o conceito de rimas cruzadas, ou perfeitas, como estética de antevisão lógica, assim como de negação dessa mesma estética na medida em que busca também alguma imprevisibilidade. Samuel Jerónimo conduz-nos literalmente ao longo de quatro peças individualizadas que acabam por se cruzar duas vezes e a Rima é conseguida pelo estilo peculiar dessas mesmas peças. Peças estas que não sendo comuns foram compostas originalmente pelo autor mas há sempre um Passado inerente que nos influencia, um Presente onde trabalhamos e um Futuro subjacente que acaba por se voltar a tornar no Presente. Confuso? Nem por isso, e para todos os efeitos Samuel Jerónimo até expõe bem o conceito no folheto que acompanha o Cd.
A infinidade de um som prolonga-se numa eternidade, ou num eco espacial, aqui limitada nos 9.21’ do Verso 1 e nos 15.03’ do Verso 2, sendo de supor que estes Versos continuam a expandir para lá dos nossos limites convencionais perdendo-se no tempo e no espaço estelar. A manipulação elástica de um ou vários sons para lá do nosso âmbito pode tornar-se, em princípio, estranha mas também numa descoberta sensorial e onírica.
O poder Litúrgico do Verso 2 e do Verso 4 é avassalador. Qual J.S.Bach renascido em pleno século XXI e partilhando o teclado do Orgão com Keith Emerson temos duas peças, ou duas Rimas, demonstrativas da força do instrumento no seu pleno, numa respiração incontrolável e de progressiva entrega rítmica. Duas peças que tem tanto de frenético como de assustador o que as torna verdadeiramente respeitáveis.
Rima é um Cd de descoberta para ser ouvido com som bem alto.

sexta-feira, 15 de junho de 2012

Rain Dogs - TOM WAITS


1 Singapore 2:46
2 Clap Hands 3:47
3 Cemetery Polka 1:51
4 Jockey Full of Bourbon 2:45
5 Tango Till They're Sore 2:49
6 Big Black Mariah 2:44
7 Diamonds & Gold 2:31
8 Hang Down Your Head (K.Brennan/T.Waits) 2:32
9 Time 3:55
10 Rain Dogs 2:56
11 Midtown 1:00
12 9th & Hennepin 1:58
13 Gun Street Girl 4:37
14 Union Square 2:24
15 Blind Love 4:18
16 Walking Spanish 3:05
17 Downtown Train 3:53
18 Bride of Rain Dog 1:07
19 Anywhere I Lay My Head 2:48

Rain Dogs é um daqueles álbuns que fará sempre parte da lista de discos que levaríamos connosco para uma ilha deserta no caso de só pudermos escolher alguns, não significa isto que seja o melhor trabalho de Tom Waits mas estará certamente incluído entre os seus melhores. Rain Dogs foi editado originalmente em 1985 e faz parte da trilogia iniciada em 1983 com Swordfishtrombones e concluída em 1987 com Franks Wild Years. É um álbum que nos transporta por diversas paisagens e podemos sentir o seu manancial nos ritmos, nos cheiros, nas personagens e nas suas curiosas e exóticas histórias. Tom Waits é o narrador que nos encanta e os diversos músicos que o acompanham são o nosso aconchego, executando uma diversidade de instrumentos que nos fascina. A abordagem deste trabalho é assim, para qualquer melómano, uma experiência sedutora e de deleite absoluto.
Para além de todas as maravilhas já referidas na alínea anterior há outras como: Marc Ribot, na Guitarra Elétrica, que partiu daqui para a conquista do Mundo. Atente-se na relevância do seu som ao longo da primeira metade deste registo mas essencialmente nos temas “Jockey Full of Bourbon” e “Rain Dogs”; Keith Richards, em modo de pausa na altura com os Rolling Stones, aparece-nos em “Big Black Mariah”, “Union Square” e “Blind Love”; as ambiências fantásticas de “Tango Till They’re Sore” e “Downtown Train”; a curta orgia de Metais em “Midtown”; e como não podia deixar de ser um excelente naipe de músicos que se divide ao longo deste trabalho onde podemos acrescentar os nomes de Michael Blair, Bateria e Percussões, Larry Taylor, Contrabaixo e Baixo Elétrico, Bob Funk, no Trombone, Ralph Carney, Saxofones e Clarinete, John Lurie, Sax-Alto em “Walking Spanish”, e a equipa de “Downtown Train” que é G.E.Smith, Guitarra, Mickey Curry, na Bateria, Tony Levin, no Baixo e Robert Kilgore, no Orgão.
Be a Rain Dog too…

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Burnt Weeny Sandwich - FRANK ZAPPA/MOTHERS OF INVENTION

1 WPLJ (The Four Deuces) 2:52
2 Igor's Boogie, Phase One 0:36
3 Overture to a Holiday in Berlin 1:27
4 Theme from Burnt Weeny Sandwich 4:32
5 Igor's Boogie, Phase Two 0:36
6 Holiday in Berlin, Full Blown 6:24
7 Aybe Sea 2:46
8 Little House I Used to Live In 18:41
9 Valarie (Jackie & The Starlites) 3:14

Antes de Frank Zappa se “lançar” definitivamente como artista dos mais completos que se conhece os Mothers Of Invention foram a sua base de testes onde começou por demonstrar os seus dotes de compositor genial e único. Aliados a alguma extravagância, provocação e princípios anárquicos, eram acima tudo uma banda que apenas queria fazer boa música e abanar o sistema obrigando as pessoas a pensar e agir para não se deixarem alienar por uma sociedade modelada para reagir a determinadas regras sociais. Devido à excentricidade da banda nunca foram levados muito a sério, sendo ao invés considerados mais como ameaça pública. “Burnt Weeny Sandwich” lançado originalmente em finais de 1969, como um álbum que simplesmente repesca temas não editados, vem provar a excelência de uma grande banda e de um grande líder chamado Frank Zappa.
Num trabalho onde se encontram os mais variados estilos e praticamente só com inclusão de peças instrumentais não deixa de ser interessante o facto de tanto o tema de abertura como o de encerramento serem duas peças de Doo-Wop não originais de Zappa. De resto há desde momentos mais classicistas a servirem de interlúdios, os solos inigualáveis de Frank Zappa na Guitarra Elétrica, belos momentos de Piano de Don Preston e Ian Underwood, tudo num álbum que não foi pensado de raiz mas cujo resultado é bastante bom e que tem em “The Little House I Used To Live” o momento chave deste registo. É a maior peça deste álbum com os seus 18:41 e começa com um solo de Piano de deleite para depois entrar num ritmo desenfreado através de um ablueasado e espasmódico solo de Violino de Sugar Cane Harris e culmina com uma louca improvisação de Zappa no Orgão. O tema em si não resulta de uma improvisação ao vivo como sugere o final do tema mas resulta do habitual processo de colagens que Zappa sempre gostou de fazer em fita, ainda faltavam uns tempos para o Sampler.
Burnt Weeny Sandwich é uma prova física da qualidade dos Mothers Of Invention sob a liderança de Frank Zappa. Sempre Zappa.

domingo, 3 de junho de 2012

Hoje Há Conquilhas, Amanhã Não Sabemos - BANDA DO CASACO


1 Acalanto 05.11
2 Despique 03.15
3 País: Portugal 03.20
4 Alvorada, Tio Lérias 04.54
5 Geringonça 06.00
6 Dez-Onze-Doze 05.47
7 Ont'à Noite 04.50
8 Água de Rosas 02.57

O Património Cultural Português apesar de desorganizado é rico e no que diz respeito à Música Tradicional Portuguesa sempre houve muito por onde vasculhar. Michel Giacometti fez a recolha e pesquisa nos idos anos 60/70 e registou em fita muito desse Património Sonoro perdido por aldeias remotas e lugares recônditos conservado apenas na memória, de algum ruralismo retardado, e condenado muito provavelmente ao esquecimento. A Banda do Casaco desde sempre pegou nesse reportório pátrio e adaptou e fundiu com grande mestria o género com estilos mais atuais e mais elaborados como o Rock e o Jazz.
“Hoje Há Conquilhas, Amanhã Não Sabemos” foi editado originalmente em 1977, é o terceiro registo da banda, mas ganhou contornos míticos ao longo dos anos por se terem perdido as Masters originais e daí nunca mais ter sido possível uma reedição do álbum deixando alguns dos possuidores da edição de vinil em estado de graça, isto até se chegar a 2006 e de se ter feito uma reedição em Cd captada precisamente através de uma edição em vinil. Voltou então a haver uma nova possibilidade de se mostrar o histórico álbum a quem não conhecia e também a possibilidade de aquisição por quem nunca chegou a ter a famosa versão de vinil.
Tendo António Pinho como letrista e Nuno Rodrigues como compositor juntam-se aos dois principais elementos da banda nomes como: Celso de Carvalho no Violoncelo, Rão Kyao no Saxofone em “País: Portugal”, Gabriela Schaaf e Mena Amaro nas Vozes, Tó Pinheiro da Silva na Guitarra Elétrica, Necas na Bateria, José Castro em Mellotron, Jorge Paganini e Miguel Coelho nos Violinos ou Carlos Amaro que se divide entre o Baixo, o Contrabaixo e a Harmónica. Há ainda uma miríade de instrumentos utilizados como o Stylofone, Cromo Harp, Pífaros, Taças Persas ou uma Cítara. É este conjunto de nomes e instrumentos que cria a original sonoridade que a Banda do Casaco nos proporciona neste álbum um tanto deslocado do que se fazia à época em Portugal, um trabalho elaborado, com algum toque de progressivo, tal como nos é apresentado logo de início no original instrumental “Acalanto”. “Despique” é adaptado de um texto tradicional e é um dos temas em que a fusão de estilos tão bem se sente. “País: Portugal” é crítico e revela já a desilusão dos autores, em 1977, de um 25 de Abril de que se esperava mais. “Alvorada, Tio Lérias” é um interessantíssimo e misterioso instrumental onde sobressaiem as Cordas, adaptado de um tema Tradicional. “Geringonça” é um momento único na Música Portuguesa pela temática envolvida, a descrição de um encontro imediato. Encontra-se aqui um dos melhores exemplos da fusão rural com a modernidade; “Estávamos nós a contar, ai as patas às Ovelhas, a ver se faltava alguma. Quando aquela Geringonça, ai Desceu lá do alto, e poisou entre molhos de caruma”. “Dez-Onze-Doze” é outra fusão perfeita sobre um tema Tradicional, das que melhor revela o estilo habitual da Banda do Casaco. Em “Ont’à Noite” continua a sentir-se a perfeição da fusão sobre mais um tema Tradicional e para fechar este registo ímpar vem o instrumental “Água de Rosas” a concluir de forma calma e serena um dos grandes álbuns da Música Popular Portuguesa.
E passados trinta e dois anos o amanhã continua a ser uma incógnita.