domingo, 3 de junho de 2012

Hoje Há Conquilhas, Amanhã Não Sabemos - BANDA DO CASACO


1 Acalanto 05.11
2 Despique 03.15
3 País: Portugal 03.20
4 Alvorada, Tio Lérias 04.54
5 Geringonça 06.00
6 Dez-Onze-Doze 05.47
7 Ont'à Noite 04.50
8 Água de Rosas 02.57

O Património Cultural Português apesar de desorganizado é rico e no que diz respeito à Música Tradicional Portuguesa sempre houve muito por onde vasculhar. Michel Giacometti fez a recolha e pesquisa nos idos anos 60/70 e registou em fita muito desse Património Sonoro perdido por aldeias remotas e lugares recônditos conservado apenas na memória, de algum ruralismo retardado, e condenado muito provavelmente ao esquecimento. A Banda do Casaco desde sempre pegou nesse reportório pátrio e adaptou e fundiu com grande mestria o género com estilos mais atuais e mais elaborados como o Rock e o Jazz.
“Hoje Há Conquilhas, Amanhã Não Sabemos” foi editado originalmente em 1977, é o terceiro registo da banda, mas ganhou contornos míticos ao longo dos anos por se terem perdido as Masters originais e daí nunca mais ter sido possível uma reedição do álbum deixando alguns dos possuidores da edição de vinil em estado de graça, isto até se chegar a 2006 e de se ter feito uma reedição em Cd captada precisamente através de uma edição em vinil. Voltou então a haver uma nova possibilidade de se mostrar o histórico álbum a quem não conhecia e também a possibilidade de aquisição por quem nunca chegou a ter a famosa versão de vinil.
Tendo António Pinho como letrista e Nuno Rodrigues como compositor juntam-se aos dois principais elementos da banda nomes como: Celso de Carvalho no Violoncelo, Rão Kyao no Saxofone em “País: Portugal”, Gabriela Schaaf e Mena Amaro nas Vozes, Tó Pinheiro da Silva na Guitarra Elétrica, Necas na Bateria, José Castro em Mellotron, Jorge Paganini e Miguel Coelho nos Violinos ou Carlos Amaro que se divide entre o Baixo, o Contrabaixo e a Harmónica. Há ainda uma miríade de instrumentos utilizados como o Stylofone, Cromo Harp, Pífaros, Taças Persas ou uma Cítara. É este conjunto de nomes e instrumentos que cria a original sonoridade que a Banda do Casaco nos proporciona neste álbum um tanto deslocado do que se fazia à época em Portugal, um trabalho elaborado, com algum toque de progressivo, tal como nos é apresentado logo de início no original instrumental “Acalanto”. “Despique” é adaptado de um texto tradicional e é um dos temas em que a fusão de estilos tão bem se sente. “País: Portugal” é crítico e revela já a desilusão dos autores, em 1977, de um 25 de Abril de que se esperava mais. “Alvorada, Tio Lérias” é um interessantíssimo e misterioso instrumental onde sobressaiem as Cordas, adaptado de um tema Tradicional. “Geringonça” é um momento único na Música Portuguesa pela temática envolvida, a descrição de um encontro imediato. Encontra-se aqui um dos melhores exemplos da fusão rural com a modernidade; “Estávamos nós a contar, ai as patas às Ovelhas, a ver se faltava alguma. Quando aquela Geringonça, ai Desceu lá do alto, e poisou entre molhos de caruma”. “Dez-Onze-Doze” é outra fusão perfeita sobre um tema Tradicional, das que melhor revela o estilo habitual da Banda do Casaco. Em “Ont’à Noite” continua a sentir-se a perfeição da fusão sobre mais um tema Tradicional e para fechar este registo ímpar vem o instrumental “Água de Rosas” a concluir de forma calma e serena um dos grandes álbuns da Música Popular Portuguesa.
E passados trinta e dois anos o amanhã continua a ser uma incógnita.

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