sábado, 30 de abril de 2022

The Trial Of The Century - FRENCH KICKS


1 One More Time (N. Stumpf)   3:16
2 Don't Thank Me (N. Stumpf)   2:55   
3 The Trial Of The Century (N. Stumpf/J. Wise)   4:13
4 Oh Fine (N. Stumpf/J. Wise)   4:14
5 The Falls (N. Stumpf)   3:28
6 Was It A Crime (N. Stumpf)   2:58
7 Following Waves (N. Stumpf/J. Wise)   4:15
8 You Could Not Decide (J. Wise)   4:01
9 Yes I Guess (N. Stumpf)   2:27
10 Only So Long (N. Stumpf/J. Wise)   5:24
11 Better Time (N. Stumpf)   5:08

A pop nova-iorquina dos French Kicks tem raízes na aspereza das bandas de garagem, daí não ser lavadinha e colorida. É uma pop sóbria e incolor, muito próxima da dinâmica rock mas longe da sua essência natural. Editado em 2004, "Trial Of The Century" carrega uma estrutura simples e direta, feita de músicas curtas, ao melhor estilo indie, mas preenchida com a precisão de detalhes que vão de um sincero aproveitamento dos teclados até ritmos cativantes e melodias sedutoras. A delicada abordagem vocal de Nick Stumpf aliada à riqueza das harmonias orelhudas, sem atingir os níveis da sumptuosidade pop mais vistosa, denuncia a relevante evidência e ligeireza de uma indefinida classe pop para este registo. 

Às primeiras audições, o álbum soa indeterminado e parece mesmo desprovido de uma aura musical convincente e capaz de prender a atenção do ouvinte. No entanto, é esta falta de determinação que acaba por atrair o ouvinte mais curioso na busca de uma resposta convincente e esclarecedora acerca do conteúdo deste registo. Os sintetizadores do single "One More Time" criam a ambiência certa para uma entrada lustrosa no álbum mas é a atrativa dinâmica de  "Don't Thank Me" que primeiro entusiasma. A estrutura mais coesa do registo surge de seguida com a naturalidade evolutiva da peça homónima, ganhando depois novo interesse através da sedutora magia de "Following Waves". "The Falls", que contém a subtileza de "lembrar" The Strokes, e "I Guess", o momento mais próximo da já referida aspereza de garagem, são as passagens mais atrevidas para este registo tão discreto, indistinto e, ainda assim, bastante simpático.

quarta-feira, 20 de abril de 2022

The Wonderful And Frightening World Of ... - THE FALL


   Lado A
1 Lay Of The Land (Mark E. Smith/B. Smith)   5:43
2 2 x 4 (Mark E. Smith/B. Smith)   3:35
3 Copped It (Mark E. Smith/K. Burns)   4:14
4 Elves (Mark E. Smith/B. Smith)  4:47 
   Lado B
1 Slang King (Mark E. Smith/B. Smith/P. Hanley)   5:19   
2 Bug Day (Mark E. Smith/K. Burns/S. Hanley/C. Scanlon/B. Smith/P. Hanley)   4:56
3 Stephen Song (Mark E. Smith/S. Hanley/P. Hanley)   3:03
4 Craigness (C. Scanlon/Mark E. Smith)   3:02
5 Disney's Dream Debased (Mark E. Smith/B. Smith/S. Hanley)   5:16

The Fall foram sempre liderados pela figura ímpar de Mark E. Smith, o único elemento permanente, e são uma das bandas incontornáveis entre as várias que saíram "diretamente" dos escombros ainda fumegantes do movimento punk britânico nos finais da década de 1970. A par dos míticos Joy Division, são uma das bandas mais importantes que a cinzenta cidade de Manchester viu nascer e a nível de produção discográfica são das bandas com uma das discografias mais extensa. A atividade The Fall encerrou-se em Janeiro de 2018 com a morte de Mark E. Smith. Sem ele The Fall não fazem sentido. 

The Fall viviam constantemente na fragilidade de uma linha ténue que dividia o maravilhoso do assustador, em que Mark E. Smith é o centro e a razão de ser da banda. Uma figura culta e inteligente, simultaneamente cáustica, imprevisível e provocadora, que debita/declama textos corrosivos, muitas vezes de teor abstrato e praticamente encriptado, enquanto a banda gera estruturas cruas experimentais e repetitivas mas musicalmente ricas e completas. 
Se a banda era realmente maravilhosa para quem compreendia e devotava a sua forma de trabalho, para o ouvinte convencional The Fall podem ser mesmo aterrorizadores pela imprevisibilidade e aspereza das suas composições.

Editado em 1984, 'The Wonderful And Frightening World Of ... The Fall' é o nono trabalho oficial de estúdio e assinala o início de mais uma nova fase para a banda, marcada pela entrada da guitarrista californiana Brix Smith, que era então a atual mulher de Mark E. Smith, e em que The Fall passavam a integrar o catálogo da mítica editora independente britânica Beggars Banquet. Um registo que fica longe de ser um álbum perfeito, uma classificação que Mark E. Smith abominava, mas um trabalho completíssimo e preenchido com uma coesão rara de encontrar em trabalhos maiores. Aqui, The Fall são: inesperados e inconstantes, igualmente repetitivos, completamente anti-rock, irreverentes e fantásticos, inventivos, artísticos e eficazes. No fundo, The Fall são "sempre diferentes, mas sempre os mesmos", John Peel dixit.

Uma obra impecavelmente imperfeita, concebida para um mundo que não pode ser outra coisa.

sábado, 9 de abril de 2022

Pocket Symphony - AIR


1 Space Maker (JB Dunckel/N. Godin)   4:01
2 Once Upon A Time (JB Dunckel/N. Godin)   5:01
3 One Hell Of A Party (JB Dunckel/N. Godin/J. Cocker)   4:02
4 Napalm Love (JB Dunckel/N. Godin)   3:27
5 Mayfair Song (JB Dunckel/N. Godin)   4:19
6 Left Bank (JB Dunckel/N. Godin)   4:06
7 Photograph (JB Dunckel/N. Godin)   3:51
8 Mer Du Japon (JB Dunckel/N. Godin)   3:04
9 Lost Message (JB Dunckel/N. Godin)   3:32
10 Somewhere Between Waking And Sleeping (JB Dunckel/N. Godin/N. Hannon/J. Cocker)   3:36
11 Redhead Girl (JB Dunckel/N. Godin)   4:31
12 Night Sight (JB Dunckel)   4:17

Habilíssimos criadores de engenhosas paisagens espaciais, cujas sonoridades permitem flutuar bem acima da leveza de atmosferas repletas de serenidade, o duo francês AIR continua, em 2007, ao quarto álbum de originais, a oferecer a elegância de um trabalho delicado em que a fórmula se repete nas ambiências etéreas que povoam os quadros harmoniosos que ilustram o registo.  

Pocket Symphony pode ser definido como um autêntico mar de tranquilidade, com reminiscências nipónicas, em que os AIR assumem estar em modo zen e com Nicolas Godin, a metade do duo que se dedica aos instrumentos de corda, a atrever-se na execução singela de dois instrumentos tipicamente Japoneses como o koto e o shamisen. Outra forma de encarar o estado de espírito deste registo é entender-se a faixa "One Hell Of A Party", co-escrita com - e interpretada por - Jarvis Cocker dos Pulp, como a metáfora perfeita para este trabalho; dez anos depois da edição do primeiro álbum, em 1997, revelaram ser uma boa altura para aproveitar a ressaca da festa e acalmar um pouco para assentar as ideias

As músicas apresentam elementos predominantemente ambientais caraterizados pela forte capacidade de envolvência sonora de uma pop eletrónica laboratorial que inebria pela candura da sua leveza e transparência. A fórmula repete-se dentro da estrutura habitual do duo, os sintetizadores de Jean-Benoit Dunckel sustentam toda a obra contando com o apoio impecável de um versátil Nicolas Godin para completar a componente orgânica, garantido a estabilidade e a assinatura da sonoridade dos AIR que para este álbum contaram ainda com a colaboração dos vocalistas Jarvis Cocker (Pulp) e Neil Hannon (Divine Comedy) em "One Hell Of A Party" e "Somewhere Between Waking And Sleeping" respetivamente, dos bateristas Joey Waronker, em "Space Maker", "One Hell Of A Party" e "Photograph", e Tony Allen, em "Once Upon A Time", e do flautista Magic Malik em "Once Upon A Time" e "Photograph".

O crescendo da organização musical de "Once Upon A Time" e o balanço rítmico de "Mer Du Japon" carateriza as duas faixas que funcionaram como os singles representativos do álbum e que se distinguem do restante alinhamento por ambas se apresentarem com uma dinâmica ligeiramente diferente. Distinta também a já mencionada colaboração dos icónicos vocalistas Jarvis Cocker e Neil Hannon para a interpretação de duas músicas em verdadeiro formato de canção, dentro das conhecidas particularidades de cada um deles. "Space Maker", "Napalm Love", "Left Bank" e "Redhead Girl" são os momentos que melhor definem a fórmula determinante que os AIR exploram desde 'Moon Safari', em 1997, enquanto "Mayfair Song" e "Lost Message" se aventuram na beleza de terrenos instrumentais enigmáticos e que juntamente com "Photograph" ilustram os quadros mais apelativos deste trabalho.

O registo encerra com uma peça a solo do teclista Jean-Benoit Dunckel, que no mesmo ano gravou e editou um trabalho a solo sob a designação Darkel