segunda-feira, 19 de setembro de 2022

Dirty Mind - PRINCE


1 Dirty Mind (Prince/Dr. Fink)   4:11
2 When You Were Mine (Prince)   3:44
3 Do It All Night (Prince)   3:42
4 Gotta Broken Heart Again (Prince)   2:13
5 Uptown (Prince)   5:30
6 Head (Prince)   4:40
7 Sister (Prince)   1:33
8 Partyup (Prince)   4:24  

Com "Dirty Mind", o terceiro trabalho de estúdio, editado em 1980, Prince distancia-se imediatamente dos dois trabalhos anteriores ao exibir-se agora com a provocação de uma imagem algo perversa na capa do álbum. Sinais evidentes de que algo tinha mudado, a capa e o título do registo revelam que o Prince galanteador do álbum anterior passou a ser uma personagem atrevida, de ideias ousadas e ambições artísticas renovadas. O impacto inesperado da força da imagem obscena que "Dirty Mind" transmite, ajudava a adensar a aura misteriosa em redor da atividade artística de Prince.

A provocação e a ousadia parecem ser as bases para um registo mais arrojado mas outras novidades se descobrem por aqui. Tal como nos dois registos anteriores, Prince mantém o controle total de todos os detalhes da gravação do disco, composição, execução e produção, mas agora tem companhia; Doctor Fink co-assina a autoria da música "Dirty Mind" e recebe créditos de participação em sintetizador nas músicas "Dirty Mind" e "Head". Lisa Coleman recebe créditos de participação vocal em "Head". Ambos eram já elementos da banda que começou a acompanhar Prince ao vivo desde a apresentação do seu segundo álbum e há mesmo uma foto da banda no trabalho gráfico de 'Dirty Mind'. A pouco e pouco, esta banda tornar-se-ia nos Revolution que acompanharam Prince até ao álbum 'Parade' em 1986.

Este é o ponto em que Prince revela pretensão de personalizar a sua imagem para criar uma personagem que o identifique com a sua música e lhe garanta afirmação artística. Procurando evitar o rótulo R&B, Prince explora a sua música de uma forma excitante e incómoda, à revelia da fervura do movimento punk que por esta altura já tinha queimado os últimos cartuchos mas deixou a porta aberta para quem quisesse participar na festa. Prince adaptou a sua música ao tempo corrente e os sintetizadores ganharam mais proeminência e seriam fundamentais para a modernização da sua sonoridade. A genialidade de Prince manifestou-se na forma como soube manter a arrojada solidez funk/rock dentro da firmeza do seu groove. Atrevimento digno de quem sabe mesmo o que quer. 

O registo abre com a sugestiva ambiência new wave que envolve a faixa homónima tendo depois continuidade na cativante "When You Were Mine", uma composição imberbe com caráter de banda sonora de filme juvenil. A estrutura cuidada e minuciosa de "Do It All Night" traz outra dinâmica ao álbum, momento que encontra enquadramento na curta doçura de "Gotta Broken Heart Again". O balanço rítmico do single "Uptown", que antecedeu o álbum, ainda espalha algum perfume disco e conduz diretamente a "Head" que é manifestamente a peça central deste trabalho. Uma composição que carrega uma forte conexão sexual, bem dissimulada, e a que mais se aproxima da arrojada sonoridade que Prince iria instituir nos trabalhos seguintes. "Sister" descreve-se pela ligeireza rock de uma faixa breve, quase um mero apontamento de passagem, que faz a ligação ao groove irrequieto de "Partyup" e o registo fecha em modo à la Talking Heads. 

Atrevido, arisco, obsceno, destemido e provocante mas também fascinante, encantador, empolgante e sedutor. Prince começava aqui a encenar o perfil que iria determinar a força do seu estilo.

segunda-feira, 5 de setembro de 2022

Prince - PRINCE


1 I Wanna Be Your Lover (Prince)   5:47
2 Why You Wanna Treat Me So Bad? (Prince)   3:49
3 Sexy Dancer (Prince)   4:18
4 When We're Dancing Close And Slow (Prince)   5:18
5 With You (Prince)   3:59
6 Bambi (Prince)   4:22
7 Still Waiting (Prince)   4:24
8 I Feel For You (Prince)   3:24
9 It's Gonna Be Lonely (Prince)   5:30

Em 1979, um jovem Prince, então com dezanove anos, lançava o seu segundo trabalho original de estúdio, gravado nos moldes do registo anterior, o de estreia. O álbum foi totalmente composto, tocado e produzido, pelo misterioso jovem de Minneapolis do qual ainda pouco se conhecia mas que logo impressionou pelo requinte da sua maturidade musical. A anuência da editora para que Prince tivesse total autonomia nas suas gravações foi o fator decisivo na escolha de uma companhia discográfica e a Warner Bros. Records foi a única a intuir o talento natural de Prince e a aceder perante a determinação destas condições.

Editado apenas sob o nome de Prince, o registo ajudou a abrir um pouco mais do véu e revelou um artista completo, com notável aptidão técnica no domínio dos vários instrumentos musicais que utilizou para este álbum, decidido na linha a seguir e a evidenciar muito à vontade na abordagem da fusão soul/funk/disco/rock. Um percurso ponderado para ser feito calmamente, sem grande pressa nem precipitações, mas estável e solidificado quanto à intenção de manter a carreira de músico profissional.  

O notável single "I Wanna Be Your Lover", que abre o registo ao melhor estilo soul/funk, proporcionou a Prince o seu primeiro hit single. Em "Why You Wanna Treat Me So Bad?" percebe-se a clara aproximação da linhagem rock, que será ainda mais evidente na expressiva saturação da guitarra elétrica em "Bambi", e a euforia funk regressa em grande, com retoque de sensualidade disco, em "Sexy Dancer". As baladas de Prince funcionam como autênticas bombas libidinosas, reveladoras de uma sensibilidade artística encantadora, que neste álbum se apresentam com "When We're Dancing Close And Slow", já bem delineada, e "With You", em modo de aperfeiçoamento. "Still Waiting" carrega a melíflua sobriedade acústica, quase jazz, de uma interpretação de classe, "I Feel For You" é uma música cativante que viria a alcançar algum êxito em 1984 numa distinta versão de Chaka Khan, "It's Gonna Be Lonely" é uma peça mais contida, incumbida da honrosa missão de encerrar o álbum.

Os traços já cá estão. Os contornos da "perfeição" serão depois desenhados, passo a passo.