quinta-feira, 29 de junho de 2023

The Fragile - NINE INCH NAILS - CD02 (Right)


  Right  
1 The Way Out Is Through (T. Reznor/K. Hillebrandt/C. Clouser)   4:16
2 Into The Void (T. Reznor)   4:48
3 Where Is Everybody? (T. Reznor)   5:40
4 The Mark Has Been Made (T. Reznor)   4:43
5 Please (T. Reznor)   3:29
6 Starfuckers, Inc. (T. Reznor/C. Clouser)   4:59
7 Complication (T. Reznor)   2:29
8 I'm Looking Forward To Joining You, Finally (T. Reznor)   4:11
9 The Big Come Down (T. Reznor)   4:12
10 Underneath It All (T. Reznor)   2:43
11 Ripe (With Decay) (T. Reznor)   6:33   

Mantendo uma dinâmica inconstante, intensa e surpreendente, o segundo cd da dupla edição de "The Fragile" recebeu o sub-título 'Right' denotando-o logo como uma provável antítese da sua outra metade. As músicas que compõem 'Right' são mais exigentes e vão um pouco mais além na busca de uma sonoridade que se revela tão pessoal e consciente. Detentor de algum caráter experimentalista, nomeadamente nas faixas instrumentais, o segundo cd não é tão coerente e acessível quanto o primeiro mas é definitivamente mais interessante. 

A disciplina rítmica do álbum assenta na riqueza vibrante do pulsar industrial que regula a progressão ordenada da estrutura musical e estimula a essência da sua vitalidade. A sincronização cadenciada com que Reznor organiza toda a sua música é uma das "imagens" de marca da sua sonoridade e mostra-se aqui bastante criativo em momentos como "Into The Void", "The Mark Has Been Made", "I'm Looking Forward To Joining You, Finally", "The Big Come Down" e "Underneath It All", assim como fundamental em "Please" e "Where Is Everybody?", havendo ainda a particularidade desta última faixa remeter para algum do trabalho do norte-americano Beck.   

"Into The Void" e "Starfuckers, Inc." acabam por ser os momentos mais "convencionais" num percurso turbulento em que várias vias se abrem à medida em que se penetra, bem fundo, no interior da alma deste trabalho. Um trajeto incerto e misterioso que acaba por revelar uma tendência obscura e transcendental ou a pureza insana do estado auto-destrutivo de Trent Reznor em busca de um equilíbrio emocional. Ainda assim, "Starfuckers" é distintamente a faixa mais abrasiva desta edição e contém uma curiosa alusão a ... "You're So Vain" de Carly Simon.

No seu conjunto, "The Fragile" é uma obra preciosa e exemplar na estética musical dos anos 1990. Um álbum portentoso, enigmático e sujo, ou um acumular de ideias definidas e esclarecidas que têm como base a música que já foi feita e a que se poderá fazer ... na mente de Trent Reznor. 

domingo, 11 de junho de 2023

The Fragile - NINE INCH NAILS - CD01 (Left)


  Left 
1 Somewhat Damaged (T. Reznor/D. Lohner)   4:31   
2 The Day The World Went Away (T. Reznor)   4:33
3 The Frail (T. Reznor)   1:53
4 The Wretched (T. Reznor)   5:25
5 We're In This Together (T. Reznor)   7:15
6 The Fragile (T. Reznor)   4:35
7 Just Like You Imagined (T. Reznor)   3:49
8 Even Deeper (T. Reznor/D. Lohner)   5:46
9 Pilgrimage (T. Reznor)   3:31
10 No, You Don't (T. Reznor)   3:34
11 La Mer (T. Reznor)   4:37
12 The Great Below (T. Reznor)   5:15

Um hiato de cinco anos separa 'The Downward Spiral', editado em 1994, da dupla edição 'The Fragile', em 1999. Um longo período de espera, durante o qual Trent Reznor - o Senhor Nine Inch Nails - foi acumulando vivências e ideias mas sem saber como as desenvolver e encaixar num mundo em constante mudança. "The Fragile" não é um trabalho elaborado mas sim uma reação complexa a um mundo decadente que neste período de tempo já não correspondia com o que dele Reznor imaginava. 

Gritante e exótico ou íntimo e sussurrante, é um registo profundo, com um manancial de brutalidade e contemplação que surpreende com investidas imprevistas num caos organizado, em que elevadas doses de energia acumulada são por vezes descarregadas no meio de toda a ação. Mas este é também um percurso de penitência, de uma confidencialidade urgente, uma demanda para lavagem de uma alma a precisar de ser esconjurada.

Apesar de revelar menos automatização que os registos anteriores, "The Fragile" manifesta a instabilidade emocional de Trent Reznor através de rock maquinal, com teor industrial, e alguma tendência eletrónica em que o ruído é parte da equação, conseguindo ser proporcionalmente analógico na atenta profusão de apontamentos de piano, cuja envolvência pode gerar tonalidades com tanto de mistério como de melancolia, enquanto as guitarras, fortemente saturadas pela distorção injetada, complementam o peso de toda a estrutura do registo.

Trent Reznor é o principal obreiro dos Nine Inch Nails, projeto de um só elemento que assume todo o trabalho de compor, produzir e tocar os instrumentos que estiverem à mão. É reconhecido como sendo um músico completo e criativo, com bastante influência no meio musical mais alternativo. Para este trabalho, Reznor contou com os préstimos de algumas colaborações como o guitarrista e teclista Danny Lohner, com quem partilha créditos de co-autoria em "Somewhat Damaged" e "Even Deeper". Lohner é também um dos habituais colaboradores na formação dos Nine Inch Nails ao vivo. O baterista Jerome Dillon, também um habitué da formação ao vivo, assegura a bateria de "We're In This Together", mas os nomes mais sonantes são: o pianista Mike Garson e o guitarrista Adrian Belew. A faixa instrumental "Just Like You Imagined", um dos pontos fortes do registo, é a única em que se juntam alguns destes nomes numa só peça. 

O primeiro cd desta dupla edição tem o sub-título de 'Left' e nele encontram-se quatro peças instrumentais; "The Frail", como uma introdução para a vibrante "The Wretched", "Pilgrimage", em toque de marcha, e "Just Like You Imagined" e "La Mer", como alguns dos melhores momentos do disco. O nível de qualidade é consensual, s/ grandes destaques, bastando apenas acentuar momentos como; "Somewhat Damaged", algumas vezes referida como sendo uma das músicas usadas para tortura em Guantanamo, "The Wretched", tão intensa e tão poderosa, "We're In This Together", claustrofóbica e asfixiante, "Even Deeper", exótica e misteriosa, e "No, You Don't", ritmicamente louca e imperfeita.