sábado, 30 de dezembro de 2023

La Folie - THE STRANGLERS


  Lado A
1 Non Stop (The Stranglers)   2:28
2 Everybody Loves You When You're Dead (The Stranglers)   2:41
3 Tramp (The Stranglers)   3:06
4 Let Me Introduce You To The Family (The Stranglers)   3:06
5 Ain't Nothin' To It (M. Mezzrow/The Stranglers)   3:58
6 The Man They Love To Hate (The Stranglers)   4:19
  Lado B
1 Pin Up (The Stranglers)   2:49
2 It Only Takes Two To Tango (The Stranglers)   3:37
3 Golden Brown (The Stranglers)   3:28
4 How To Find True Love And Happiness In The Present Day (The Stranglers)   3:05
5 La Folie (The Stranglers)   6:09

Os Stranglers de 1981 parecem ser uma versão tímida e comedida deles próprios. A desmesurada energia que caraterizava a rebeldia inicial destes britânicos, através de uma atitude punk pronunciada mas musicalmente mais evoluídos, afigura-se aqui arremetida por algum amadurecimento mas não nos deixemos enganar por falsas aparências. Editado em 1981, como o sexto álbum de estúdio, 'La Folie' é um trabalho espevitado por alguma alienação, totalmente absorvido pela corrente estética da new wave, e preenchido com uma inteligente diversidade de abordagens musicais imaginativas, habilmente estruturadas, em que os teclados de Dave Greenfield assumem uma posição dominante e bem frontal.

Mesmo evidenciado a clareza de alguma influência pop, a postura engenhosa e penetrante dos Stranglers permanece bem peculiar e aguçada. Surgem subtilmente acessíveis em "Non Stop", "Tramp" e "Pin Up", mas tudo gira em torno de uma diversão ácida que corrói a simpatia estrutural destas músicas. Tudo fica mais evidente com a atração demoníaca de "The Man They Love To Hate", a ironia de "Everybody Loves You When You're Dead" ou a causticidade de "It Only Takes Two To Tango", em modo minimal, e prossegue com a genica de "Let Me Introduce You To The Family", um momento à la Devo em "Ain't Nothin' To It", glamour da textura barroca do single "Golden Brown" e um interessante jogo rítmico em "How To Find True Love And Happiness In The Present Day". Depois, o final dá-se sob a soturnidade de uma peça enigmática, em francês, que dá o título ao álbum.

Como registo discográfico, 'La Folie' é uma consequência original de momentos díspares que acabam por se manter numa relação muito própria, assente numa cumplicidade estética e intelectual. Os Stranglers eram uma banda experiente e bem distinta perante o panorama geral da música pop/rock à época e tinham capacidade para manter a sua dignidade sem ceder à pressão comercial. Este é um trabalho algo invulgar, dentro do seu género, que necessita de mais alguma atenção para se alcançar a sua verdadeira essência.

terça-feira, 12 de dezembro de 2023

No More Heroes - THE STRANGLERS


  Lado A
1 I Feel Like A Wog (The Stranglers)   3:16
2 Bitching (The Stranglers)   4:25
3 Dead Ringer (The Stranglers)   2:46
4 Dagenham Dave (The Stranglers)   3:19
5 Bring On The Nubiles (The Stranglers)   2:15
6 Something Better Change (The Stranglers)   3:35
  Lado B
1 No More Heroes (The Stranglers)   3:27
2 Peasant In The Big Shitty (The Stranglers)   3:25
3 Burning Up Time (The Stranglers)   2:23
4 English Towns (The Stranglers)   2:12
5 School Mam (The Stranglers)   7:05

Os Stranglers eram já uma banda com um passado quando em 1977 editaram os dois primeiros álbuns; 'Rattus Norvegicus', em Abril, e este 'No More Heroes', em Setembro. O movimento punk estava no seu auge, 'Never Mind the Bollocks Here's the Sex Pistols' saiu para as lojas em Outubro desse mesmo ano, mas os britânicos Stranglers estavam intrometidos no caminho com uma distinta irreverência e com uma conduta rebelde e uma atitude anti-herói, tal como o seu manifesto segundo álbum de originais reivindica. Podiam não o ser musicalmente mas é caso para dizer que os Stranglers já detinham algo de punk antes do próprio movimento explodir. No entanto, a banda nunca se identificou com o punk nem chegou a ser associada como tal.

A capacidade de produtividade musical dos Stranglers marcava logo alguma diferença para com grande parte das bandas suas contemporâneas. Canções curtas e rápidas, como quase todos faziam na altura, mas consistentes, decisivas e diretas, mantendo uma linha de trabalho que assentava na firmeza do coletivo, como resultado de uma afirmação musical própria e esclarecida. O rock dos Stranglers escorrega pelas vertentes de uma pop nebulosa e escorre ativamente na rigidez de uma agressividade pronunciada, esteticamente provocadora e desafiante. 

A distinta sonoridade dos Stranglers sobressaía de dois elementos em particular: a nuance de Dave Greenfield nas teclas lembra, por vezes, o registo de Ray Manzarek nos Doors, mas as dinâmicas são bem distintas, tal como a música em si, e a constante presteza do baixista J. J. Burnel, sempre a "picar" o baixo, evidenciam-se bem ao longo de todo o registo. O alinhamento roça pelos meandros do psicadelismo com "Peasant In The Big Shitty", soa algo alienado em "Bring On The Nubiles" e surge bem mais ousado em "School Mam", mantendo-se uma sequência equilibrada com as restantes faixas, onde ainda se pode realçar o single "No More Heroes".

sexta-feira, 1 de dezembro de 2023

Still Life - VAN DER GRAAF GENERATOR


  Lado A
1 Pilgrims (Hammill/Jackson)   7:01
2 Still Life (Hammill)   7:16
3 La Rossa (Hammill)   9:41
  Lado B
1 My Room (Waiting For Wonderland) (Hammill)   7:54
2 Childlike Faith In Childhood's End (Hammill)   12:12

Nome incontornável no movimento de rock progressivo britânico, os Van Der Graaf Generator são no entanto uma referência à parte no género por deterem uma personalidade coletiva muito própria e pouco reveladora dos seus intentos como banda, ao ponto de não se sentirem confortáveis com a associação a este género musical. A instabilidade como banda foi uma constante desde o seu início, em 1967, e seria no decorrer da década de 1970 que os Van Der Graaf Generator conheceriam um período de maior produtividade, com a edição de alguns registos notáveis, onde se inclui este 'Still Life' de 1976.

Esta é uma obra de caráter particular, que emana de uma entidade muito própria, cujas dimensões artísticas perpassam o estigma do rock para atingir desígnios intelectuais e filosóficos, aproximando-se assim da sensibilidade emotiva da representação teatral. É aqui que entra a incrível personagem de Peter Hammill; a voz, imagem e liderança do grupo, desde sempre. Uma figura única e bastante admirada no universo da música progressiva cujas qualidades como autor e intérprete são incontestáveis e marcantes. É claramente a sua postura que define a sonoridade complexa e cerebral dos Van Der Graaf Generator. Para reforçar ainda mais o caráter particular desta formação, ela complementa-se com Hugh Banton, no orgão e pedais de baixo, Guy Evans, na bateria, e David Jackson, saxofone soprano, alto e tenor, e flauta. Peter Hammill também toca piano e guitarra em algumas secções. Outra imagem de marca da banda era o saxofonista David Jackson a tocar com dois saxofones ao mesmo tempo.

As cinco peças originais que compõem o alinhamento de "Still Life" sobrevivem no constante dramatismo de uma intensidade musical expressa em férteis encenações racionais, e pouco convencionais, que evoluem através do primor de uma estrutura vigorosa em que a métrica é ditada pelo resoluto andamento dos longos textos de Peter Hammill. "My Room (Waiting For Wonderland)" é a peça mais cativante do registo, com uma melodia fácil de apanhar, que flutua serenamente entre o canto grave de Peter Hammill e o sax soprano de David Jackson até entrar numa aparente catarse musical, mas o verdadeiro sentido artístico deste trabalho encontra-se realmente exposto no restante alinhamento. A consciente ponderação inicial sob a insígnia de "Pilgrims" e "Still Life" é deliciosa e abrangente, o dissoluto vigor de "La Rossa" proporciona a relevância do momento mais dinâmico sendo no entanto na desembaraçada complexidade de "Childlike Faith In Childhood's End" que se revela a verdadeira essência do álbum.