segunda-feira, 22 de março de 2021

Twang Bar King - ADRIAN BELEW


 Side A
1 I'm Down (J. Lennon / P. McCartney)   2:54   
2 I Wonder   4:39
3 Life Without A Cage   3:20  
4 Sexy Rhino   0:37
5 Twang Bar King   1:26
6 Another Time   3:02
7 The Rail Song   5:39
Side B
1 Paint The Road   3:19
2 She Is Not Dead   4:41
3 Fish Head   4:30
4 The Ideal Woman   4:08
5 Ballet For A Blue Whale   4:44

É com Beatles que o guitarrista norte-americano Adrian Belew abre "Twang Bar King", o seu segundo trabalho a solo, editado em 1983. A versão explosiva de "I'm Down" é no entanto a única música não original do registo e a vigorosa interpretação em modo rock'n roll estratosférico é uma pequena amostra do que vem a seguir.

Adrian Belew foi descoberto por Frank Zappa em 1976 num bar de Nashville onde se encontrava a tocar com uma banda de covers. Um ano depois já integrava a formação que acompanhava Zappa em palco e num ápice começou a rodar de digressão em digressão entre nomes incontornáveis como David Bowie, Talking Heads e King Crimson. Um arranque de carreira vertiginoso em que mal acabava uma digressão era imediatamente chamado para embarcar noutra, com passagem ainda pelos estúdios onde, com exceção de Zappa, gravou com estas formações. A experiência adquirida e a necessidade de adaptação aos variados estilos moldou Adrian Belew como um guitarrista inventivo e muito particular. 

"Twang Bar King" foi gravado durante uma pausa dos King Crimson antes de se iniciarem as gravações de "Three Of A Perfect Pair", o álbum que concluiria a trilogia que Adrian Belew gravou com a formação britânica liderada por Robert Fripp. Um escape em que Adrian Belew aproveitou para se entregar ao seu próprio material e voltar a reunir com alguns dos músicos com quem já tinha tocado anteriormente numa formação chamada Gaga, a faixa homónima corresponde mesmo a uma gravação recuperada desse período (1979) de onde se aproveitou essencialmente a voz e a guitarra de Belew.

É uma peça de trabalho muito caraterística na qual é possível perceber como Adrian Belew bebeu sempre um pouco das fontes por onde passou, daí haver reminiscências dos Talking Heads em "I Wonder", sentir alguma da atmosfera de David Bowie em "Another Time" e na última secção de "Fish Head", onde também se percebe a herança do humor que Frank Zappa tão bem trabalhava nas suas composições. E não esquecendo que este álbum foi gravado numa pausa de trabalho dos King Crimson, "Paint Road" podia ter feito parte de um dos seus alinhamentos. 

O registo revela uma atitude rock'n roll mas vai muito para além disso. Adrian Belew foi sempre um verdadeiro esteta na arte de manipular o som das suas guitarras através da exploração de sons e efeitos nas mais variadas formas, uma delas é a imitação de sons de animais, ou através da utilização dos variados componentes do seu instrumento, como o tremolo, sempre criativo e dinâmico. Para além disso, o seu trabalho de composição evidencia um estilo muito peculiar em que o domínio da guitarra é o foco principal mas Adrian Belew também se revela pelo seu timbre vocal. A eficácia da formação que participou na gravação é igualmente fundamental na genialidade deste trabalho em que parece haver uma manifesta satisfação naquilo que se faz. Christy Bley em piano, William Janssen nos saxofones e clarinete baixo, J. Clifton Mayhugh no baixo e Larrie Londin na bateria são os elementos que colaboraram neste registo.

Há ainda lugar para a expressividade de "Rail Song" que torna a viagem tão real, a inventividade de "She Is Not Dead", a procura pelo ideal da mulher nas ruas de Cincinnati em "Ideal Woman" e a serenidade de "Ballet For A Blue Whale", a melhor demonstração neste registo de como Adrian Belew lida com a imitação de sons de animais. Para esta faixa, que encerra o álbum, Adrian Belew utiliza apenas uma guitarra acústica e uma guitarra sintetizador Roland.

quarta-feira, 10 de março de 2021

Illusions - GEORGE DUKE


1 Genesis   1:34
2 500 Miles To Go   5:00
3 411   5:10
4 Love Can Be So Cold   5:42
5 Illusions   5:00
6 The Simple Things   5:16
7 Life And Times   6:07
8 Look What We Started Now   5:55
9 C'est La Vie (M. Sembello/D. Rudolph)   4:51
10 Buffalo Soldiers   4:50
11 Money   5:16
12 No Greater Love   4:46
13 So I'll Pretend   7:25

A prestigiante carreira de George Duke encontra-se muito bem representada através de uma vasta obra que inclui desde múltiplas colaborações até um bom naipe de trabalhos em nome próprio, em que para além de deter uma excelente reputação como pianista é igualmente referenciado na área de produção, direção artística, arranjos e composição. Editado em 1995, "Illusions" é um trabalho competente que permite apreciar todas estas qualidades.

Trata-se de um álbum coerente, bastante descontraído e sereno, cuja musicalidade assenta num registo de fusão muito completo que sugere várias sonoridades entre a frescura do funky, a audácia do jazz e as vozes aveludadas dos arranjos mais smooth ou R&B, sem se perder por grandes devaneios ou malabarismos. Todas as composições são originais de George Duke, com exceção de "C'est La Vie" assinada por Michael Sembello e Dick Rudolph, e em todas elas é notável o "domínio" da enorme presença de George Duke ao piano enquanto dá também voz às suas músicas e utiliza a sua técnica vocal sobreposta ao fraseado do piano, possível de ouvir em secções de "411" e "Money". 

Num registo que se mostra tão atual e delicioso logo de início é difícil de destacar momentos determinantes mas a dinâmica das quatro peças instrumentais, "500 Miles To Go", "Look What We Started Now", "Buffalo Soldiers" e "No Greater Love", é realmente um dos pontos marcantes por permitir uma melhor perceção da habilidade técnica de George Duke, igualmente relevante ao longo de todo o registo mas que nestas peças se encontra mais exposta. 

É através de um sopro bíblico que George Duke nos introduz neste universo de ilusões, por ele criado de forma tão natural, no qual é inevitável não lembrar de Prince em "411" e não sentir o groove de "Illusions" e "Life And Times" mas é em "Money" que se encontra um esplêndido balanço funky. A ligeireza smooth de "Love Can Be So Cold" obteve um novo single no Top 40 e em conjunto com "The Simple Things" estamos na presença dos momentos mais ternos da edição, que encerra em registo jazz com "So I'll Pretend" na voz de Diane Reeves, acompanhada por George Duke ao piano, Kirk Whalum no saxofone, Ray Brown no baixo e Terri Lynn Carrigton na bateria.