segunda-feira, 7 de setembro de 2020

Phantom Navigator - WAYNE SHORTER


1 Condition Red   5:12
2 Mahogany Bird   6:12
3 Remote Control   7:57
4 Yamanja   6:30
5 Forbidden, Plan-It   6:10
6 Flagships   6:39    

Em 1987, um ano depois da edição do último trabalho de estúdio dos Weather Report, o histórico saxofonista norte americano Wayne Shorter surge num contexto atualizado e rejuvenescido, com o registo "Phantom Navigator". Um álbum composto por seis peças originais, de sua autoria, em que se sente a forte ambiência maquinal do estúdio, onde proliferam as baterias programadas e os sintetizadores. Wayne Shorter não parece intimidado pela útil capacidade destas novas tecnologias e utiliza esse potencial em seu proveito com o apoio de uma nova geração de músicos que então se começava a afirmar. O domínio da sonoridade eletrónica sugere algumas nuances pop/rock (as composições vão bem para além disso) e afasta os apreciadores de jazz mais puristas mas é realmente o exímio trabalho de solista de Wayne Shorter, dividido entre os saxofones soprano e tenor, que sobressai num registo que apesar de tão maquinal é muito humano. Honras de abertura para "Condition Red", a marcar logo uma forte posição com um pulsar excitante e uma entusiasmante prestação de Wayne Shorter que aqui se diverte ainda com alguma vocalização scat"Mahogany Bird" destaca-se como a peça mais acústica do registo, conta com as notórias prestações de Chick Corea, em piano acústico, e de John Patituci e Gary Willis, respetivamente em baixo acústico e elétrico, e juntamente com "Remote Control", em que aparece Alphonso Johnson no baixo, são as peças em que é possível sentir ainda alguma da orgânica estrutural dos Weather Report. As três peças finais vivem três momentos diferentes; o exotismo de "Yamanja" é enriquecido por uma forte componente rítmica e pela prestação de Mitchel Forman nas teclas enquanto o desenho melódico de "Forbiden Plan-It" cria o momento mais cativante e mais dançante deste trabalho. E se este registo teve um início excitante, acaba por encerrar algo meditativo através das vozes fantasmagóricas de "Flagships". Cenário ideal para uma temática etérea, a funcionar sobre alguma complexidade rítmica, e aqui não se pode descurar o efeito que a ficção científica têm sobre Wayne Shorter. A sua paixão pelo género, desde a adolescência, é um facto conhecido e aqui notoriamente revelado por alguns dos títulos atribuídos às peças que compõem o alinhamento deste álbum. Não hesito por isso em considerar que Gustav Holst possa ter exercido alguma influência "mística". O último movimento da sua bem conhecida composição "Os Planetas", escrita entre os anos 1914-1916, é associada ao planeta Neptuno - O Místico e termina igualmente com um coro de vozes ambiental algo similar ao utilizado aqui, num contexto diferente, por Wayne Shorter. Sintonia celestial? Belíssimo trabalho de Wayne Shorter.

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