quarta-feira, 25 de maio de 2022

Mistery Girl - ROY ORBISON


   Lado A
1 You Got It (J. Lynne/R. Orbison/T. Petty)   3:31
2 In The Real World (W. Jennings/R. Kerr)   3:42
3 (All I Can Do Is) Dream You (B. Burnette/D. Malloy)   3:38
4 A Love So Beautiful (J. Lynne/R. Orbison)   3:33
5 California Blue (R. Orbison/J. Lynne/T. Petty)   3:57      
   Lado B
1 She's A Mystery To Me (D. Evans/P. Hewson)   4:16
2 The Comedians (E. Costello)   3:23
3 The Only One (W. Orbison/C. Wiseman)   3:52
4 Windsurfer (R. Orbison/B. Dees)   4:02
5 Careless Heart (R. Orbison/D. Warren/A. Hammond)   4:08
 
A carreira do norte-americano Roy Orbison podia ter conhecido outros contornos caso não estivesse marcada pela inconsequência de algumas agruras que a vida lhe reservou. A mudança de editora mal sucedida, em 1965, a dor e o tormento de sofrer duras percas familiares em finais dessa mesma década e um grave problema de saúde em finais da década de 1970, impediram Roy Orbison de ter uma carreira de êxitos convencional tal como a de muitos dos seus contemporâneos, no entanto, uma geração sonhadora, que incluía alguns futuros músicos rock'n roll, cresceu ao som da sua música e nunca o esqueceu.

Um dos grandes dons de Roy Orbison era a capacidade de através da sua pura genuinidade nos conseguir recordar que no mundo nem tudo é mau, pois este também pode ser um lugar esplêndido onde acontecem coisas maravilhosas. Em 1986, o realizador David Lynch usava a música "In Dreams", que Orbison gravou em 1963, para criar um dos momentos mais paradoxais do filme Blue Velvet. Numa cena de extrema violência, em que se chega a temer pela vida da vítima, um irado e descontrolado Dennis Hopper exige aos seus parceiros que ponham "In Dreams" a tocar no rádio do carro. A cena acaba por se desenrolar num dos ambientes mais bizarros que o filme nos proporciona, com a música de Orbison a funcionar plenamente em duas frentes distintas; para Hopper como uma forma terapêutica de o acalmar mas também capaz de o excitar, para o espectador como uma forma de o abstrair da violência em curso. Em certa medida, a aparição e o efeito da música no filme terá sido bastante significativa para o despertar da carreira de Roy Orbison na segunda metade da década de 1980. 

Entretanto, as situações foram-se sucedendo e Roy Orbison ia sendo acarinhado de variadas formas pela tal geração que nunca o esqueceu e que tinha agora oportunidade de revelar a sua devoção e reconhecimento, motivando-se no empenho do relançamento da importância da sua carreira no meio musical através de prestações musicais relevantes como a criação do grupo Traveling Wilburys, composto por George Harrison, Tom Petty, Bob Dylan, Jeff Lynne e ainda pelo próprio Roy Orbison, todos sob o pseudónimo Wilbury. O passo seguinte seria a criação de um novo álbum de originais em nome próprio. 

Composto, produzido e gravado com a ajuda de nomes como Jeff Lynne, Tom Petty, T-Bone Burnett, Bono, Mike Campbell e outros mais, "Mistery Girl" foi gravado nos finais de 1988 mas Roy Orbison viria a falecer em dezembro desse mesmo ano e infelizmente não teve oportunidade de tirar proveito daquele que se tornaria no seu trabalho mais rentável. O  registo só foi editado em fevereiro de 1989

É um álbum belíssimo, feito com amizade, carinho, admiração e muito respeito por um nome tão singular na história do rock. Um registo de charme e classe sem receio de recuperar o espírito que carateriza a obra original de Roy Orbison, nomeadamente ao nível das vozes, cujos arranjos são admiráveis, o que permite um rápido reconhecimento do seu estilo e garante o selo de autenticidade para quem pudesse ter dúvidas quanto à sua recuperação artística numa época já bastante desenquadrada dos primórdios do rock. O sucesso do single "You Got It" deu o primeiro sinal positivo, depois revelava-se o álbum. "She's A Mystery To Me", escrita por Bono e The Edge, e a recuperação de "The Comedians", original de Elvis Costello, são os momentos menos enquadrados no espírito da obra mas ainda assim encaixam muito bem no alinhamento do registo e há que relevar a distinta magia Memphis de "The Only One". Depois é deixar embalar por "In The Real World", "A Love So Beautiful" e "Careful Heart", saborear o calor refrescante de "California Blue" e "Windsurfer" ou rockar com "(All I Can Do Is) Dream You".

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