sexta-feira, 17 de setembro de 2021

Aula Magna 1983 - TROVANTE - CD02


1 Lisboa (E. de Andrade/Trovante)   3:09   
2 Linha Das Fronteiras (S. Godinho/M. Faria/J. Gil)   5:02   
3 Mulata (M. Faria)   11:29
4 Molinera (Tradicional de Rio de Onor - Jorge Dias/J. Gil (Música incidental: Woman of Ireland))   4:31
5 Garraiada (J. Gil/A. José Martins)   4:11   
6 Saudade (J. Gil)   5:59      
7 N'vula (F. Mukenga)   4:16
8 Namoro (V. da Cruz/Fausto)   5:13   
9 O Barco Vai De Saída (Fausto)   3:04
10 Prima Da Chula (Quadras Populares e A. Aleixo/Trovante)   3:46 
11 Não Há Três Sem Dois (F. Viana/Trovante)   2:41    
12 Uns Vão Bem Outros Mal (Fausto)   4:41   
 
Após o intervalo, os Trovante regressam ao palco mais confiantes e decididos, prontos a dar continuidade à festa. A primeira parte do concerto focou-se essencialmente na apresentação do álbum "Cais das Colinas" enquanto que a segunda parte estava reservada para alguns inéditos, algumas recordações e para as músicas-chave. A fusão entre a música tradicional e o jazz, já evidenciada em boa parte das músicas novas, ganha ainda mais enfâse nos arranjos das peças instrumentais mas o concerto, ainda assim, vive muito do tradicionalismo original e pela reação geral seria isso mesmo que este público queria ainda ouvir.

O regresso ao palco dá-se de forma tranquila com "Lisboa" seguida de "Linha Das Fronteiras", uma espécie de momento de adaptação pós-intervalo para se entrar então numa sequência de três peças, dois instrumentais intercalados por uma melodia transmontana, cuja viagem passa por África, Irlanda e, obviamente, Portugal. 

"Mulata" pertence ao alinhamento de "Cais das Colinas" e ao vivo presta-se como um momento de improvisação que aqui se estende por onze minutos através dos solos de Manuel Faria no piano, José Martins e José Salgueiro na percussão e bateria respetivamente e conclui com solo de saxofone de Artur Costa. De seguida, a banda tem a ousadia de tocar duas músicas novas, desconhecidas ainda do público, que apenas viriam a ser gravadas no ano seguinte para o álbum "84". "Molinera" é uma peça de influência celta combinada com uma canção popular de Rio de Onor, em Trás-os-Montes, já apresentada no esplendor da sua estrutura, enquanto "Garraiada", que tem como base o Fandango, não passava ainda de uma versão-embrião e acaba por soar um pouco deslocada da festa. 

Após esta sequência peculiar; a ovação recebida logo que Luís Represas canta a primeira frase de "Saudade" revela ser este um dos momentos mais esperados da noite e a partir daqui entra-se numa sequência de interpretações de músicas de autor com início em "N'vula" de Filipe Mukenga (de novo a sonoridade de África), seguida de duas músicas de Fausto; "Namoro", que alguns anos depois viria a servir de base a "Namoro II" no álbum "Sepes" dos Trovante, e a referência popular que é "O Barco Vai De Saída". O concerto finaliza em festa com "A Prima Da Chula" mas sucedem-se os encores e houve ainda tempo para recuperar o "velho" single "Não Há Três Sem Dois" e fechar de vez com "Uns Vão Bem Outros Mal", Fausto novamente, que encerra uma noite de antologia para a nova música popular portuguesa.    

Editado apenas vinte anos depois, o registo apresenta uma boa gravação, de qualidade límpida, que testemunha uma noite de reconhecimento de uma banda que há sete anos que aguardava por esta consagração. Este concerto representou um momento importante no percurso dos Trovante pois permitiu que o coletivo ganha-se confiança no seu trabalho e indicou o caminho a seguir. Seguir-se-iam os Coliseus no ano seguinte e a conquista de um almejado lugar de destaque no panorama da música portuguesa. O resto é história.

Na ficha técnica da edição está incluída a seguinte indicação; "Por questões inerentes à gravação não foi possível salvar o tema "Balada das Sete Saias"", uma das músicas icónicas dos Trovante. Manuel Faria, na sua biografia "Trovante, Por Detrás do Palco", descreve este momento assim "...as Sete Saias, o público canta mais alto que o Luís. De vez em quando, este já nem canta." 

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