quarta-feira, 18 de junho de 2025

La Pop End Rock - UHF - CD02


1 É Malhar! É Malhar! (António M. Ribeiro)   0:57
2 Dei-lhe Carros E Prendas (António M. Ribeiro)   3:57
3 End Rock? (António M. Ribeiro)   1:09
4 Raiva End Roll (António M. Ribeiro)   2:19
5 Fã Número Um (Sou Eu E + Nenhum) (António M. Ribeiro)   2:14
6 Os Putos Vieram Divertir-se (António M. Ribeiro)   3:29
7 O Conselho Da Fada (António M. Ribeiro)   2:37
8 Em Tribunal (IV) (António M. Ribeiro)   1:03
9 Tu Mordes E Eu Deixo (António M. Ribeiro)   2:40
10 Por Uma Guitarra Eléctrica (António M. Ribeiro)   1:23
11 Eu Escolhi A Estrada Certa (António M. Ribeiro)   4:55
12 Aqui Vamos Nós/Sem Disfarce (António M. Ribeiro)   5:04
13 Memórias De Hotel (António M. Ribeiro)   4:58
14 Por Três Minutos Na Vida (António M. Ribeiro)   4:20
15 O Fim. The End? (António M. Ribeiro)   0:32
16 La Pop End Rock (António M. Ribeiro)   3:17
17 Ai Eme Ra (António M. Ribeiro)   1:24
18 O D.J. É Um Rei (António M. Ribeiro)   3:40

Ao segundo cd desta dupla edição, a história ficcionada com base no percurso dos UHF mantém, naturalmente, os moldes temáticos da 'primeira parte', adicionando simplesmente alguns detalhes de composição. Os interlúdios, ao jeito de um coro Grego, continuam a cumprir com o seu papel, surgem logo de início em "É Malhar! É Malhar" e depois "Em Tribunal (IV), a estrutura musical da predição da fada regressa como "Conselho Da Fada", e percebe-se agora que a peça instrumental "Por Uma Guitarra Elétrica" corresponde a um dos breves trechos que integram a intro de abertura para esta obra conceptual.

O preço da fama é elevado e o artista paga-o de diversas formas. "Dei-lhe Carros E Prendas" é um dos momentos musicais mais bem conseguidos do registo, com uma canção concisa e esclarecedora que evoca a aspereza das dissidências conjugais. Rock moderado e sincero, que se mostra mais decidido em "Raiva End Roll" e mais polido em "Eu Escolhi A Estrada Certa", seguindo destemidamente para a nobre excelência de "Aqui Vamos Nós/Sem Disfarce" e para a distinta abordagem de um novo capítulo musical com a inserção de elementos eletrónicos na exuberância de "Memórias De Hotel". O rock imberbe e orelhudo de "Os Putos Vieram Divertir-se" já ficou para trás.

O alinhamento do cd é também marcado pela aparição de alguns apontamentos acústicos, onde sobressai "Fã Número Um (Sou Eu E Mais Nenhum)" que António Manuel Ribeiro interpreta a solo. "End Rock" manifesta-se na brevidade de um instrumental acústico que prepara a passagem para outras atmosferas, enquanto a graciosa intimidade lírica de "Tu Mordes E Eu Deixo" e "Por Três Minutos Na Vida" é suportada por dois bonitos arranjos - a guitarra acústica em "Tu Mordes ... ", a que se junta o piano em "Por Três Minutos ... ". O final é anunciado com outro breve trecho instrumental acústico, "O Fim, The End".

Mas ainda há direto a encore e, como não podia deixar de ser, o rock ainda predomina para "La Pop End Rock", a faixa que dá título a esta obra. A designação "Ai Eme Ra" é relevante para o percurso dos UHF, que em 1997 rescindiram contrato com a BMG/Ariola e criaram a sua própria gestora de atividades, usando esta mesma denominação. "Ai Eme Era" enquadra-se na história da banda como um ponto de viragem e manifesta-se como uma faixa enigmática em rotação invertida, que o ouvido mais atento deverá identificar como o final invertido de "Aqui Vamos Nós/Sem Disfarce". No fim, como já passou a ser habitual, a festa pertence mesmo a "O D.J. É Um Rei". 

Para além de comemorar os 25 anos de atividade artística dos UHF, o registo marca o início do percurso da banda com o núcleo mais duradouro da sua existência. O guitarrista António Côrte-Real - filho de António Manuel Ribeiro - e o baterista Ivan Cristiano, são ainda elementos da formação, enquanto que o baixista Fernando Rodrigues acompanhou a formação por cerca de vinte anos, entre o baixo e as teclas, mas já não faz parte da mesma. Fundamental também a participação dos músicos convidados no resultado final desta obra: Jorge Manuel Costa, que já tinha colaborado no álbum anterior, funciona aqui como um 'quinto elemento' da banda para tudo o que é teclas; Orlanda Guilande distingue-se com a nobreza de uma enorme presença vocal; Alexandre Manaia aparece bem distinto, no orgão, em "Um Anjo No Meu Quarto", "Dei-lhe Carros E Prendas" e "Memórias De Hotel"; Fernando Abrantes faz o solo de piano em "Eu Escolhi A Estrada Certa"; Mário Lopes acompanha ao piano em "Eu Escolhi A Estrada Certa" e está no orgão em "La Pop End Rock"; Nuno Flores emprega a arte dos instrumentos de arco em "Sem Disfarce".

É um registo diferente dos trâmites habituais da banda, pensado para ser representado num palco com coreografia e intérpretes, o que nunca chegou a acontecer.



domingo, 1 de junho de 2025

La Pop End Rock - UHF - CD01


1 Nascer/Os Primeiros Acordes (António M. Ribeiro)   3:51
   a) Nascer
   b) Os Primeiros Acordes
   c) Comprei Uma Guitarra Eléctrica
   d) Uma Hora Fantástica (Na Garagem)
2 Sem Disfarce (António M. Ribeiro)   2:07
3 O Presságio Da Fada (António M. Ribeiro)   2:06
4 O Primeiro Concerto (António M. Ribeiro/F. Delaere)   3:54
5 E Ele Escreveu Genial (I) (António M. Ribeiro)   0:55
6 Um Anjo No Meu Quarto (António M. Ribeiro)   4:57
7 Fora Da Garagem, Já! (A. Côrte-Real)   1:22
8 Quero Um Lugar No Top Inglês (António M. Ribeiro)   1:16
9 O Velho Pastel De Belém Rosna (António M. Ribeiro)   1:22
10 Uma História Com (A)Gente (António M. Ribeiro)   3:38
11 A Legenda E A Lenda (II) (António M. Ribeiro)   1:07
12 Era Nani (E Era Minha) (António M. Ribeiro)   3:42
13 Rumo Ao Céu (Não Dói Nada) (António M. Ribeiro)   4:52
14 Do Céu Ao Inferno (António M. Ribeiro)   6:31
15 Joey Ramone (Tributo) (António M. Ribeiro)   3:16
16 A Noite Inteira (António M. Ribeiro)   1:12
17 A Lágrima Caiu (António M. Ribeiro)   4:46

Para todos os efeitos, 'La Pop End Rock' é uma obra conceptual, de caráter autobiográfico, em que António Manuel Ribeiro, um eterno resistente, desde 1978, do denominado rock Português, celebra 25 anos de atividade artística inspirando-se no percurso dos UHF onde ainda permanece como único elemento da formação original. Esta é uma história feita de episódios - e momentos - romanceados que também podiam pertencer ao corolário de muitos outros músicos.

O conteúdo do registo desenvolve-se em dois cd, sob os contornos de uma auspiciosa "opereta rock" que progride ao sabor do sonho, da aventura, da ousadia e ambição, com uma estrutura ponderada e bem equilibrada entre o desenrolar da história e a consequente sequência musical. A obra começou a ganhar raízes no Outono de 2000 e foi editada em 2003

A história começa a desenhar-se na subtileza etérea de uma intro com sabor progressivo, na forma de uma peça instrumental que se reparte por quatro pequenos trechos que representam o princípio do artista; "Nascer/Os Primeiros Acordes". Ainda com cautela, é ao som da doce intimidade do piano e da nobre solenidade das cordas de arco que a timidez destes quatro putos se começa a desvanecer "Sem Disfarce". A predição divina surge determinante e concisa em "Presságio Da Fada" incitando à aventura e o rock acaba mesmo por se revelar com "O Primeiro Concerto".  

Lançadas as bases, logo chegam as primeiras notícias, as críticas, a divulgação e os inevitáveis mexericos. O alinhamento do primeiro cd inclui dois interlúdios que funcionam ao jeito de um coro grego que apregoa as mediáticas "E Ele Escreveu Genial (I)" e "A Legenda E A Lenda (II)", e ainda ri do desdém de "O Velho Pastel De Belém Rosna" e exprime a sua terna devoção para ficar "A Noite Inteira". Pode ainda incluir-se neste peculiar lote de apontamentos musicais a imponência instrumental de "Fora Da Garagem, Já!", o sarcasmo de "Quero Um Lugar No Top Inglês" e "Uma História Com (A)Gente", divertida manifestação de um momento típico que muitos músicos conhecem de ginjeira.

UHF é rock e, apesar deste registo ser uma obra mais detalhada, a adrenalina sobressai nos seus momento adequados. Revelou-se em "O Primeiro Concerto", soa mais convencional e orelhuda com "Era Nani (E Era Minha)" e reaparece bem determinada para um tributo a Joey Ramone, o emblemático vocalista dos Ramones que faleceu em 2001, ainda os UHF estavam a gravar este álbum. A relevância deste tributo reaviva a memória de um momento inesquecível para os UHF quando foram a banda de abertura para as três noites de concertos que os Ramones fizeram em Portugal - Porto e Lisboa - em Setembro de 1980. 

A resenha do primeiro cd conclui-se com um breve destaque para as músicas mais distintas do alinhamento. Conscientemente ou não, é neste parágrafo que se encontram as músicas que evocam dois grandes mitos do rock'n roll - o sexo e as drogas; "Um Anjo No Meu Quarto" é uma peça de rock comedido que permite absorver a essência do rescaldo do artista num quarto de hotel sob a forma de uma nova mulher, o fascínio da veneração, "Rumo Ao Céu (Não Dói Nada)" expõe a oportunidade de cair na tentação estupefaciente, elevada pela crescente amplidão musical que conduz à refletida propagação de um momento de devaneio - à la Jim Morrison - bem sustentado pelo controlo rítmico que banda impõe religiosamente. A primeira parte da obra conclui com a competente ligeireza pop de "A Lágrima Caiu".

O próximo ato prossegue de seguida com o segundo cd ... 

quinta-feira, 15 de maio de 2025

In Tenebris - ROSA CRVX

 

1 Adorasti (Rosa Crvx)   3:24
2 In Tenebris (Rosa Crvx)   4:19
3 Terribilis (Rosa Crvx)   4:03
4 Arcvm (Rosa Crvx)   5:52
5 Sacrvm (Rosa Crvx)   4:13
6 Procvmbere (Rosa Crvx)   4:06
7 Svrsvm Corda (Rosa Crvx)   4:07
8 Omnes Qvi Descendvnt (Rosa Crvx)   3:51
9 Salve Crvx (Rosa Crvx)   4:40

Os Franceses Rosa Crvx mantêm ainda atividade ao vivo, desde 1994, mas não editam trabalhos originais em formato físico desde 2002, o ano de edição deste 'In Tenebris' que conclui a obra desta formação em apenas três álbuns originais editados em formato CD, entre 1995 e 2002. Todas as edições posteriores correspondem a compilações bem cuidadas, havendo ainda a fantástica curiosidade desta publicação coincidir com a recente apresentação de um novo single, em formato digital (FLAC), intitulado "1335". 

Um projeto musical muito bem definido desde o seu início, quando Olivier Tarabo e Claude Feeny se conheceram, em 1984, na Escola de Belas Artes de Rouen, França, envoltos pela ambiência histórica de um antigo ossário, ladeado por esculturas sinistras que evocam morte e religião. Impressionados e motivados pela força mística de um local que está também associado aos anos tenebrosos da peste negra, os dois estudantes desenvolveram ali o perfil estético que moldou a sua identidade artística como Rosa Crvx - negro, marcial, medieval, ritualista, expresso unicamente em Latim tendo como base textos antigos de bruxaria.

Fazendo questão de marcar o seu território com uma identidade muito própria, a distinta sonoridade dos Rosa Crvx assenta num cariz profundamente gótico em que a guitarra elétrica de Olivier Tarabo parece fomentar uma inclusão rock, nomeadamente em "Adorasti", "In Tenebris" e "Terribilis", mas logo se percebe que o caminho não é esse. A essência do registo expõe-se em nuances autênticas que oscilam entre a solenidade litúrgica de "Arcvm" e a altivez instrumental de "Sacrvm", a expressividade neo-classicista de "Svrsvm Corda" e a relevância marcial de "Procvmbere", até ao pungente ritualismo de "Omnes Qvi Descendvnt" e um final, quase redentor, ao sabor do cântico "Salve Crvx".

Um dos grandes artifícios dos Rosa Crvx é a incrível bateria MIDI que aparece denominada nos créditos dos seus registos como BAM (Batterie Acoustique MIDI). Trata-se realmente de uma estrutura de percussão acústica composta por timbalões e caixas que são percutidos por braços mecânicos - robotizados - programados em MIDI. Uma segunda estrutura, o carillon, consiste numa armação em madeira composta por sinos de várias dimensões que estão conetados, individualmente, por corda a uma espécie de teclado, sendo depois executado como tal. A BAM é percetível ao longo de todo o registo, o carillon está bem destacado em "Terribilis".

terça-feira, 29 de abril de 2025

The Jazz Composer's Orchestra - THE JAZZ COMPOSER'S ORCHESTRA - LP02


 Lado A
Communications #11 - Part 1 (Mantler)   15:10
 Lado B
2 Communications #11 - Part 2 (Mantler)   17:47

O segundo disco desta dupla edição é totalmente preenchido com a peça "Communications #11" que se divide, integralmente, pelas duas faces do disco. Este é um momento de improvisação pura, em autêntico estado bruto, corroborado pela ousadia de um desenlace frenético e avassalador sob a imponência da agressividade tonal da prestação do pianista Cecil Taylor, o solista desta peça. Movido por intuição ou por um verdadeiro rasgo de genuinidade, o impacto da entrega de Cecil Taylor é tremendo e revelador da sua autoridade nos domínios estéticos do movimento free jazz.

Part I
Cecil Taylor surge integrado, logo de início, no plano ordenado da orquestra, movendo-se já numa esquizofrenia tonal de proporções anárquicas que se vão desenvolvendo até atingir a sua integridade já num patamar muito sui generis, em que apenas a secção rítmica se mantém em jogo, com o baterista Andrew Cyrille a sobressair cadencialmente ao lado de Cecil Taylor. A peça cresce ao ponto de tal frenesim em que o próprio Cecil Taylor acaba por preencher a posição ocupada anteriormente pela orquestra, que ainda retorna para um discreto remate final da primeira parte da peça. 

Part II
A dinâmica estrutural da segunda parte da peça apresenta-se mais desenvolta, o que permite uma libertação total de Cecil Taylor e torna-o definitivamente na orquestra. É um ato de protesto ou a 
simbólica metamorfose de um elemento coletivo na força expressa da extraordinária sobreposição da individualidade sob a altivez dos valores revolucionários e da arte mais abstrata. A orquestra acaba por retomar a sua posição, prudentemente, para conduzir a última secção e completar, no plano inverso, o ciclo iniciado na primeira parte da peça.

Obra muito intensa para ouvidos mais sensíveis e pouco habituados a experiências sonoras imprevisíveis. Intencionalmente complexa e provocante, a obra da Jazz Composer's Orchestra propõe-se de forma inovadora e arriscada perante a supremacia das instituições que proclamam quais os desígnios a seguir. Liberal, espontânea e intelectual, porque há realmente um conceito a seguir, o coletivo liderado por Michael Mantler mostra aqui a força da sua convicção em lutar pelo direito de ser uma entidade original, autêntica e integra.

sexta-feira, 18 de abril de 2025

The Jazz Composer's Orchestra - THE JAZZ COMPOSER'S ORCHESTRA - LP01


  Side A
Communications #8 (Mantler)   13:52
Communications #9 (Mantler)   8:08
 Side B
Communications #10 (Mantler)   13:26
2 Preview (Mantler)   3:23

Em 1968, sob a liderança do trompetista e compositor Michael Mantler, a Jazz Composer's Orchestra reunia alguns dos músicos mais representativos do movimento free jazz nos finais da década de 1960. A orquestra pretendia afirmar-se como uma unidade de protesto, ao nível de uma instituição política e social, em que os músicos pudessem explorar a sua veia criativa sem depender de exigências editoriais e comerciais. No fundo, procurava-se elevar a força expressiva do free jazz ao nível corporal de uma orquestra. 

Nestas sessões, Michael Mantler deixou o trompete de lado e focou a sua atenção no trabalho de composição, produção e regência da orquestra. Apesar do conceito liberal que envolve esta música, há regras a cumprir; há música escrita e um maestro para assegurar que a obra segue o caminho estruturado; só os solistas, também eles compositores, estão autorizados a exteriorizar a sua palavra, o seu grito, como uma convulsão sonora imediata e espontânea. Para além de se tratar de uma peça musical original, com caráter vanguardista, é uma obra de arte determinadamente radical e ofensiva, movida pelo empenho genuíno do seu cariz ativista. É também uma referência na evolução da música improvisada. 

O primeiro disco, desta dupla edição em vinil, integra quatro peças que foram gravadas em períodos diferentes; "Communications #8" foi gravada em 24 Janeiro de 1968, enquanto que as restantes três peças foram gravadas em 8 Maio de 1968. A orquestra é composta por 21 elementos e sofre algumas alterações entre as datas. 

"Communications #8" é uma peça transversal que discorre ao jeito de um intercalar de diálogos imprevisíveis. É o único momento do registo em que participam dois solistas; Don Cherry em cornetim e Gato Barbieri em Sax tenor. É Don Cherry quem intervém primeiro como solista, após a orquestra expor a progressão do movimento da composição. Gato Barbieri surge a meio da peça mas o impacto maior é mesmo de Don Cherry. Composição ritmada, desregrada e impaciente.

Em "Communications #9" explora-se o poderio da amplificação com o guitarrista Larry Coryell a ser aqui o elemento central da peça. Composição abstrata e dramática em que a orquestra se mantém em modo expectante de forma a ceder espaço à improvisação de Larry Coryell na guitarra elétrica. Aqui prevalecem os fraseados inopinados e a provocação do feedback incutido.

"Communications #10" foca-se nas tonalidades graves e apresenta-se com um teor mais controlado e percussivo, em que a liberdade de improvisação é concedida à agilidade do trombonista Roswell Rudd. No entanto, não deixa de ser curioso que dois elementos da orquestra tenham também intervenções como solistas nesta peça; Steve Swallow, um dos cinco contrabaixos da orquestra, dá inicio a esta composição com um pequeno solo a servir como introdução enquanto que a meio da peça a orquestra fica suspensa para que o baterista Beaver Harris faça também um curto apontamento solista a par da improvisação de Roswell Rudd. Composição de estrutura mais moderada e acessível.

"Preview" corresponde ao momento de maior intensidade destas sessões através do exultante grito de Pharoah Sanders com o seu sax-tenor, sob a pujança do crescente pulsar da orquestra. Uma peça bem expressiva, rebelde, aflitiva e autêntica, naquela que é também a composição mais curta do registo.

quarta-feira, 2 de abril de 2025

Missão Amar-te - mARCIANO


1 2 Vidas (Marciano Homem de Marte/Jorge Vaz Dias)   1:18
2 Bissectriz (Marciano Homem de Marte)   4:06
3 Gaia (Marciano Homem de Marte)   3:14
4 Roleta Russa (Marciano Homem de Marte)   5:22
5 Missão Amar-te (Marciano Homem de Marte)   4:16
6 O Tempo Não Volta Atrás (Marciano Homem de Marte)   2:55
7 Punhado De Areia (Marciano Homem de Marte/MC Santiago)   1:32
8 Este Coração Não É O Meu (Marciano Homem de Marte)   4:45
9 Soldado (Francisco J. Resende)   5:05
10 Sem Remédio (Marciano Homem de Marte/F. Espanca)   4:05
11 Meumorial (Marciano Homem de Marte)   4:40
12 Tremor (Marciano Homem de Marte)   5:20
13 Costas Em Costas (Jorge Vaz Dias)   1:06

É difícil desassociar Marte como um símbolo bélico. Com origem na mitologia romana, como denominação divina do deus da guerra, o nome de Marte seria depois usado para batizar o quarto planeta do nosso sistema solar. Em 1898 foi publicado o fantástico livro "The War of the Worlds", em que H.G. Wells fantasia uma invasão extra-terrestre praticada por Marcianos que pretendem dominar a Terra. Nas vésperas do início da 1ª Guerra Mundial, Gustav Holst concluía a suite orquestral "The Planets" e atribuia a Marte o sub-título "The Bringer of War". Em tempos mais próximos, no ano de 1996, Tim Burton realizou "Mars Attacks!" uma obra cinematográfica centrada numa caótica invasão Marciana. Estes são apenas alguns exemplos conhecidos do simbolismo bélico de Marte, outros mais haverão. 

Chegados a 2025, deparamos-nos com um mundo algo insano em que neste momento parece que a única coisa que nos falta mesmo acontecer seria uma invasão extra-terrestre. No entanto, com um subtil jogo de palavras, mARCIANO inverte todo o sentido de uma inquietante viagem científica ao planeta belicoso e torna-a numa demanda pelo amor mais puro, em busca da única força que pode realmente unir, e convida-nos a todos para participar nela.

De novo em edição de autor, "Missão Amar-te" confirma mARCIANO como um herdeiro legítimo do cançonetismo português, capaz de expressar a sua sinceridade musical em canções pop de tonalidade mais escura e adulta, intimamente emolduradas por uma dinâmica maquinal que complementa a firme aliança de uma secção rítmica bem presente e enquadrada, composta por Rui Geada, no baixo, e Nuno Francisco, na bateria. David Wolf colaborou nos arranjos, nas guitarras e nos sintetizadores, e ainda assumiu todo o trabalho de produção; exceção para as músicas "Bissectriz" e "Missão Amar-te", gravadas anteriormente e produzidas por Paulo Pereira, e "Sem Remédio", uma co-produção mARCIANO/Ricardo Simões.

Amar é a missão e tem na faixa título a força de um hino maior, pleno de esperança e entrega, com tendências evidentes do estilo que se denominou como Música Moderna Portuguesa nos anos de 1980. Neste ponto, mARCIANO explora bem a Portugalidade da sua obra numa carinhosa devoção pelo passado em busca de inspiração divina para o presente. A sentida presença da guitarra Portuguesa de Carlos Amado em "Bissectriz" e "Este Coração Não É Meu", a fiel versão para "Soldado", original dos Sitiados, e a etérea adaptação do poema "Sem Remédio" de Florbela Espanca, reforçam a afeição de mARCIANO pelas suas raízes lusitanas. A poesia tem também o seu espaço próprio no registo, com "2 Vidas" a cumprir as funções de prólogo e "Costas Em Costas" a ser o epílogo. Ambos os poemas são da autoria de Jorge Vaz Dias e são loquazmente declamados pela venerável voz de António Cova. "Punhado De Areia" é o outro poema incluído no álbum e parece cumprir a função de interlúdio, com uma declamação profundamente visceral pela sua autora MC Santiago.

O grito urgente da consciência ambiental de "Gaia", o desespero e impotência do Homem perante a força da brutalidade humana em "Roleta Russa", os laivos neo-classicistas de "O Tempo Não Volta Atrás" e as incríveis reminiscências euro-pop de "Meumorial", são momentos ímpares e conscientes, habilmente convertidos como música eficaz, sincera, direta e muito atual mas ...  ainda há ... "Tremor", uma música extraordinária em que, logo numa primeira audição, temos a sensação de que fez sempre parte da nossa vida. Tem uma dimensão imensurável. É intensa, emotiva e arrepiante, extraordinariamente arrebatadora, e encontra-se envolvida pelo efeito mágico dos inebriantes violinos elétricos do britânico Matt Howden, mais conhecido pelo seu projeto solo como Sieben.

O álbum está editado nos formatos digital, vinil e CD, e pode ser adquirido em https://marcianodemarte.bandcamp.com/album/miss-o-amar-te ou escutado nas habituais plataformas digitais.

quarta-feira, 19 de março de 2025

Back To Back - THE BRECKER BROTHERS BAND


 Lado A
1 Keep It Steady (Brecker Bump) (S. Khan/R. Brecker/D. Sanborn/L. Vandross)   6:20
2 If You Wanna Boogie ... Forget It (S. Khan/W. Lee/D. Grolnick)   3:52
3 Lovely Lady (R. Brecker/A. Willis/C. Crossley)   6:11
4 Night Flight (M. Brecker)   6:12
 Lado B
1 Slick Stuff (R. Brecker)   4:44
2 Dig A Little Deeper (W. Lee/D. Grolnick/A. Willis/D. Lasley)   3:57
3 Grease Piece (M. Brecker/R. Brecker/D. Sanborn/S. Khan)   5:41
4 What Can A Miracle Do (D. Grolnick/L. Vandross)   4:10
5 I Love Wastin' Time With You (M. Brecker/A. Willis/C. Crossley)   6:27

Editado em 1976, 'Back To Back' corresponde ao segundo álbum de estúdio dos Brecker Brothers, o notável coletivo norte-americano liderado pelos irmãos Randy e Michael. O núcleo da formação está assente no fluido desembaraço dos instrumentos de sopro, Randy Brecker, no trompete, Michael Brecker, no sax-tenor e na flauta, e David Sanborn, no sax-alto, devidamente apoiados pela destreza elétrica do guitarrista Steve Khan e do pianista Don Grolnick, e a contagiante cumplicidade de Will Lee, no baixo e na voz, ao lado do baterista Christopher Parker. Nomes consideráveis, e já bem firmados, que viriam a ser preponderantes nos anos vindouros.

A formação marcou o seu espaço, bem cedo, na música da década de 1970 com a primazia de uma fusão jazz/rock, bem encharcada na irrequieta estrutura de funky branco, a que não faltava alguma sensualidade soul. A eficácia de vigorosos riffs dos sopros, aliados aos fraseados escorregadios e à intensa expressividade dos solos, proporcionam momento incríveis e extraordinários a que é quase impossível não reagir; "Keep It Steady", "If You Wanna Boogie ...", "Night Flight", "Slick Stuff", "Dig A Little Deeper", "Grease Piece" e "I Love Wastin' Time With You" são peças excitantes, acentuadas por uma dinâmica balanceada e cativante, "Lovely Lady" e "What Can A Miracle Do" são músicas sensíveis, detentoras de uma toada morna e emocional. 

As vozes são também um ponto forte do registo. A prestação vocal de Will Lee é fulcral para o equilíbrio entre o desenvolvimento dos momentos instrumentais e o formato de "canção" com uma entrega desenvolta e determinada, por vezes humorística, mas os arranjos vocais do álbum pertencem a Luther Vandross e o resultado é bem audível. 

E há que não esquecer que Steve Gadd é o baterista de serviço nas faixas que encerram ambos os lados do vinil ...

Obra caraterística de uma época fértil em que a música de fusão procurava expandir fronteiras recorrendo a géneros correntes para experimentar novas ideias, técnicas e instrumentos, e aumentar o potencial de criatividade. Não sendo um álbum fundamental deste período, "Back To Back" carrega a sua essência. 

domingo, 16 de fevereiro de 2025

Bummed - HAPPY MONDAYS


1 Country Song (Happy Mondays)   3:23
2 Moving In With (Happy Mondays)   3:36
3 Mad Cyril (Happy Mondays)   4:35
4 Fat Lady Wrestlers (Happy Mondays)   3:24
5 Performance (Happy Mondays)   4:06
6 Brain Dead (Happy Mondays)   3:08
7 Wrote For Luck (Happy Mondays)   6:04
8 Bring A Friend (Happy Mondays)   3:44
9 Do It Better (Happy Mondays)   2:28
10 Lazy Itis (Happy Mondays/Lennon/McCartney)   2:46

Os britânicos Happy Mondays foram os principais protagonistas do último grande ato da Factory Records, mítica editora independente Inglesa fundada por Tony Wilson em Maio de 1978. A par dos New Order, foram uma das bandas que mais rentabilizou o catálogo da histórica editora mas também são acusados, por alguns, de serem um dos principais responsáveis pelo colapso financeiro da Factory Records em 1992. E quem mais, senão Tony Wilson, teria tolerado o descontrolado e insano comportamento de uma banda como os Happy Mondays?

O título que os Mothers Of Invention, de Frank Zappa, usaram para o seu álbum de 1968, cuja capa parodiava o célebre 'Sgt. Peppers Lonely Hearts Club Band' dos Beatles, assenta que nem uma luva aos Happy Mondays através de um simples trocadilho - 'We're Only In It For The ... Drugs'. 

Mais do que uma banda, ou um projeto musical definido, os Happy Mondays eram como um ato de celebração, uma espécie de motivo para curtir o êxtase do momento, e há que não esquecer que estes são os anos de florescimento da cultura rave em Inglaterra, com a cidade de Manchester, berço legítimo da Factory Records e dos Happy Mondays, a servir como cenário de fundo ideal para a festa. E no entanto, apesar de tanta estroinice, os Happy Mondays até que funcionam muito bem a nível musical.
 
Editado em 1988, 'Bummed' corresponde ao segundo registo de estúdio dos Happy Mondays. É uma obra movida pela aspereza de um rock ácido e indefinido que se deixa envolver pelo balanço da música de dança e de algum psicadelismo. O resultado revela uma sonoridade obscura, estritamente balanceada pela consistência de uma massa sonora, impulsionada pela secção rítmica composta por Paul Ryder, no baixo, e Gary Whelan, na bateria. O vocalista Shaun Ryder é uma agradável surpresa pela capacidade nata de prender a atenção com uma expressividade vocal distinta, bem colocada e sempre muito presente. 'Bummed' inclui uma referência histórica, digna de registo. Do outro lado do vidro, envolto no trabalho de produção, esteve Martin Hannett. O célebre produtor associado à sonoridade inicial da Factory Records regressava assim à editora, após se ter afastado em 1982, para voltar a produzir uma banda da casa. 

A mistura de géneros tanto atraía os fans das raves como do indie-rock mas o que despertou o interesse geral na banda foi a força do single "Wrote For Luck", que representa o salto das origens rock da banda para o emergente ritmo pulsante do movimento acid-house. Outro foco de atenção no álbum encontra-se em "Lazy Itis", para a qual foi tomada emprestada, com os devidos créditos, uma parte da harmonia de "Ticket To Ride", dos Beatles. "Mad Cyril" expande-se para além da vulgaridade de uma música pop, "Bring A Friend" ressalta pelo brilho da guitarra de Mark Day enquanto "Moving In With", "Fat Lady Wrestlers" e "Do It Better" destilam a agilidade de alguns dos momentos de maior vitalidade do registo. Madchester a impor-se como a afirmação do movimento cultural britânico que protagonizou a transição geracional da década de 1980 para 1990.  

sexta-feira, 31 de janeiro de 2025

Überjam - THE JOHN SCOFIELD BAND


1 Acidhead (Scofield/Bortnick/Murphy)   6:33
2 Ideofunk (Scofield)   4:44
3 Jungle Fiction (Scofield)   5:39
4 I Brake 4 Monster Booty (Scofield/Bortnick/Murphy/Deitch)   4:02
5 Animal Farm (Scofield)   5:36
6 Offspring (Scofield)   6:27
7 Tomorrow Land (Bortnick)   3:58
8 Überjam (Scofield/Bortnick/Murphy/Browden/Rodgers/Hart)   6:53
9 Polo Towers (Scofield)   5:29
10 Snap Crackle Pop (Scofield)   6:02
11 Lucky For Her (Scofield/Bortnick/Murphy)   3:12

Em 'Überjam', editado em 2002, o guitarrista norte-americano John Scofield e a sua jovem banda propõem uma viagem musical eclética que se desenvolve através de um diálogo transcendental entre a espiritualidade de elementos psicadélicos, a destreza da habilidade rítmica do funk e uma definida ideologia de fusão com novos elementos, como o drum'n' bass, o hip-hop e o sampler, em que o jazz serve como um ponto de união determinante, capaz de propiciar a fertilidade de um terreno imensurável para o improviso e para o desenvolvimento de uma linguagem universal, expansiva e moderna, que flutua descontraidamente na espontaneidade de uma pujante  jam session

Trata-se de um registo entusiasmante, muito vívido, impulsionado pelo desejo de criar música nova, abrangendo uma multiplicidade de elementos técnicos e artísticos contemporâneos, numa sintonia perfeita entre o legado histórico de John Scofield e os atributos de uma formação jovem que já o vinha acompanhando em digressão há dois anos. Foi durante esse período de tempo, na estrada, que Scofield se apercebeu do enorme potencial de Avi Bortnick como guitarrista ritmo e um nato manipulador de samples, Jesse Murphy como um baixista com uma grande sensibilidade artística e Adam Deitch como um exímio baterista funk dotado de uma exponente sensibilidade para o jazz. O conceito desta 'Überjam' começou então a ganhar forma através da interação desta formação como banda de apoio de John Scofield ao vivo. O teclista John Medeski e o saxofonista/flautista Karl Denson, viriam a juntar-se depois às gravações em estúdio para participar com algumas colaborações no registo.

O psdicadelismo de "Acidhead" lança o mote com o seu exotismo oriental passando logo de seguida para o sugestivo riff, com algo de linguagem da animação BD, de "Ideofunk". O ritmo não se perde e o perfume drum 'n' bass de "Jungle Fiction" mantém a direção certa do registo e até encaixa bem no fulgor hip-hop de "I Brake 4 Monster Booty", com direito a um breve rap por parte do baterista Adam Deitch. O jazz mostra-se ligeiramente prudente em "Animal Farm" e depois o registo entra numa fase momentaneamente 'pop' com a 'orelhuda' guitarra acústica de "Offspring", logo seguida de uma sugestiva tranquilidade rural em "Tomorrow Land". Sente-se o retorno da pujante essência do registo na base da faixa homónima, que inclui uma curiosa referência a "Blue Moon", e daqui segue-se para o denunciado fraseado à la Weather Report de "Polo Towers", para o show de bateria de Adam Deitch em "Snap Crackle Pop" até o registo concluir com um final moderado, servido pela comedida vertente experimental de "Lucky For Her".

Em cima de tudo isto, John Scofield improvisa ao seu melhor estilo sempre munido da sua guitarra elétrica Ibanez e muitos efeitos, e ainda deixa uma dissimulada referência gráfica, na capa do álbum, a duas individualidades por quem nutre um grande carinho e uma enorme admiração, Susan Scofield, a sua esposa, e Jimi Hendrix.

sábado, 18 de janeiro de 2025

Crossroads - ERIC MARIENTHAL


1 The Sun Was In My Eyes (Patitucci/Marienthal)   5:50
2 Spoons (Ferrante)   6:42
3 Yellow Roses (Ferrante)   4:01
4 Upside Down (Patitucci/Marienthal)   6:39
5 Schmooze (Gambale)   4:28
6 Cross Country (Patitucci)   8:03
7 Hide & Seek (Patitucci)   5:01
8 Two Bits (Ferrante)   5:40
9 On The Eve Of Tomorrow (Corea)   5:51
10 Rain On The Roof (Patitucci)   6:03

Jazz da costa oeste norte-americana, com selo da prestigiada GRP, categorizado por uma sonoridade moderna, relativamente próxima do que se poderá considerar "comercial" dentro do género - estilo acessível e também denominado, bastas vezes, como smooth jazz. Normalmente, executado por músicos académicos que se prestam a execuções brilhantes com uma linguagem ordenada e muito bem produzida, executada dentro dos padrões lineares da música pop mas sempre focada no expressivo teor da sua inerente qualidade musical.   

'Crossroads' corresponde ao terceiro registo a solo do saxofonista Eric Marienthal, elemento integrante, à data, da Elektric Band de Chick Corea cuja reputada formação participa, à vez, na execução musical desta obra. Para além de Eric Marienthal, o elemento mais preponderante do álbum é o baixista John Patitucci que para além de assumir o trabalho de produção do registo com Marienthal ainda assina algumas das músicas. Os dois músicos são também os únicos elementos permanentes ao longo de todo o registo. Igual destaque para a exponencial prestação do mestre Chick Corea ao piano em três momentos chave do registo, em que o jazz se sente mais vivo através das músicas "Upside Down", "Cross Country" e "On The Eve Of Tomorrow". De entre os elementos da Elektric Band, o baterista Dave Weckl é quem acaba por ter uma participação mais discreta cingindo-se à moderada ambiência de "Schmooze", música que tem a assinatura do guitarrista Frank Gambale, o único elemento da Elektric Band que não participa neste registo. Aliás, não há lugar para guitarras neste álbum.

Mas nem só os elementos da Elektric Band são fundamentais para o admirável resultado final desta obra. O pianista Russell Ferrante, membro fundador dos Yellowjackets, banda também associada ao catálogo da GRP, imprime aqui muito do seu estilo, aromatizando naturalmente o registo com alguma da essência que carateriza o teor da sonoridade dos Yellowjackets, bem percetível em "Spoons" e "Yellow Roses", duas das composições que Russel Ferrante assina para este álbum. Junta-se ainda uma terceira composição de sua autoria, "Two Bits", exposta na tranquilidade de uma peça acústica que Marienthal rasga com o sax-soprano.

A registar ainda a forte importância de John Patitucci em algumas composições, particularmente interessante na vitalidade de "The Sun Way In My Eyes" e nas já mencionadas, "Upside Down" e "Cross Country", e as fantásticas prestações rítmicas de um irrepreensível Vinnie Colaiuta e de uma segura e consciente Terri Lyne Carrigton na bateria. Dave Witham e John Beasley, ambos nos teclados, têm prestações menos evidenciadas mas bem presentes, a que se junta ainda o nome de Alex Acuña, na percussão, para complementar as participações neste registo. 

Álbum efetivamente pontuado pela referência de nomes sonantes e capazes de sustentar toda a sua relevância com uma prestação exímia, resultante de sessões de gravação ao vivo em estúdio de forma a manter o contato entre os músicos e obter uma interação musical entusiástica e espontânea. 'Crossroads' comprova o fervor de uma atmosfera vibrante que resulta da conexão destes músicos com uma linguagem universal que os une sob a forma de .. música.