sexta-feira, 18 de abril de 2025

The Jazz Composer's Orchestra - THE JAZZ COMPOSER'S ORCHESTRA - LP01


  Side A
Communications #8 (Mantler)   13:52
Communications #9 (Mantler)   8:08
 Side B
Communications #10 (Mantler)   13:26
2 Preview (Mantler)   3:23

Em 1968, sob a liderança do trompetista e compositor Michael Mantler, a Jazz Composer's Orchestra reunia alguns dos músicos mais representativos do movimento free jazz nos finais da década de 1960. A orquestra pretendia afirmar-se como uma unidade de protesto, ao nível de uma instituição política e social, em que os músicos pudessem explorar a sua veia criativa sem depender de exigências editoriais e comerciais. No fundo, procurava-se elevar a força expressiva do free jazz ao nível corporal de uma orquestra. 

Nestas sessões, Michael Mantler deixou o trompete de lado e focou a sua atenção no trabalho de composição, produção e regência da orquestra. Apesar do conceito liberal que envolve esta música, há regras a cumprir; há música escrita e um maestro para assegurar que a obra segue o caminho estruturado; só os solistas, também eles compositores, estão autorizados a exteriorizar a sua palavra, o seu grito, como uma convulsão sonora imediata e espontânea. Para além de se tratar de uma peça musical original, com caráter vanguardista, é uma obra de arte determinadamente radical e ofensiva, movida pelo empenho genuíno do seu cariz ativista. É também uma referência na evolução da música improvisada. 

O primeiro disco, desta dupla edição em vinil, integra quatro peças que foram gravadas em períodos diferentes; "Communications #8" foi gravada em 24 Janeiro de 1968, enquanto que as restantes três peças foram gravadas em 8 Maio de 1968. A orquestra é composta por 21 elementos e sofre algumas alterações entre as datas. 

"Communications #8" é uma peça transversal que discorre ao jeito de um intercalar de diálogos imprevisíveis. É o único momento do registo em que participam dois solistas; Don Cherry em cornetim e Gato Barbieri em Sax tenor. É Don Cherry quem intervém primeiro como solista, após a orquestra expor a progressão do movimento da composição. Gato Barbieri surge a meio da peça mas o impacto maior é mesmo de Don Cherry. Composição ritmada, desregrada e impaciente.

Em "Communications #9" explora-se o poderio da amplificação com o guitarrista Larry Coryell a ser aqui o elemento central da peça. Composição abstrata e dramática em que a orquestra se mantém em modo expectante de forma a ceder espaço à improvisação de Larry Coryell na guitarra elétrica. Aqui prevalecem os fraseados inopinados e a provocação do feedback incutido.

"Communications #10" foca-se nas tonalidades graves e apresenta-se com um teor mais controlado e percussivo, em que a liberdade de improvisação é concedida à agilidade do trombonista Roswell Rudd. No entanto, não deixa de ser curioso que dois elementos da orquestra tenham também intervenções como solistas nesta peça; Steve Swallow, um dos cinco contrabaixos da orquestra, dá inicio a esta composição com um pequeno solo a servir como introdução enquanto que a meio da peça a orquestra fica suspensa para que o baterista Beaver Harris faça também um curto apontamento solista a par da improvisação de Roswell Rudd. Composição de estrutura mais moderada e acessível.

"Preview" corresponde ao momento de maior intensidade destas sessões através do exultante grito de Pharoah Sanders com o seu sax-tenor, sob a pujança do crescente pulsar da orquestra. Uma peça bem expressiva, rebelde, aflitiva e autêntica, naquela que é também a composição mais curta do registo.

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