terça-feira, 22 de junho de 2021

Earthquake Island - JON HASSELL


1 Voodoo Wind   9:38
2 Cobra Moon   4:54
3 Sundown Dance   4:52
4 Earthquake Island   10:18
5 Tribal Secret   3:51
6 Baliá   4:36
7 Adiós, Saturn   1:56

O trompetista norte americano Jon Hassell desenvolveu um conceito musical que denominou como "fourth world", uma espécie de globalização musical que passa pela unificação de uma sonoridade primitivo/futurista combinada através de elementos de música étnica com alguma eletrónica mais avançada. Em 1977, Jon Hassel revelava o conceito, pela primeira vez em disco, com o seu primeiro álbum a solo "Vernal Equinox", a que se seguiu, em 1979, este "Earthquake Island". A fusão de géneros era então uma prática corrente para alguns dos grupos de jazz da época mas Jon Hassell procurava estender o seu conceito de uma forma mais abstrata. 

Começa por ser inevitável uma comparação com a sonoridade dos Weather Report dos primeiros tempos, ainda para mais havendo aqui a colaboração do baixista Miroslav Vitous e do percussionista Dom Um Romão, dois dos elementos que integraram essa lendária formação. No entanto, Jon Hassell procura mover-se por outras latitudes e para tal recorre a uma particularidade técnica que desenvolveu em estudo com o músico Indiano Pandit Pran Nath, associada ao efeito de um harmonizer, o que lhe proporciona uma sonoridade algo exótica e distinta. Para além do trompete, Jon Hassell trabalha ainda com dois sintetizadores (Arp & Polymoog) com os quais cria uma ambiência minimalista para complementar o seu trabalho de improviso sobre a festividade que as percussões do brasileiro Naná Vasconcelos e do Indiano Badal Roy proporciona. Nesta sessões participaram também os dois guitarristas brasileiros Cláudio Ferreira e Ricardo Silveira, e a vocalista afro-americana Clarice Taylor.       

A audição deste trabalho é uma experiência alucinante que viaja abertamente por entre regiões desconhecidas e imaginárias. Uma mistura de composição vanguardista com jazz e ritmos africanos e médio-orientais, conduzida por Jon Hassell para uma jornada tão natural e simultaneamente hipnótica e transcendente, em que a multiplicidade étnica inebria e invade os sentidos; o som da terra, o ritmo da vida, a essência da cor e a dança dos cheiros. São as percussões que fazem este álbum sobreviver enquanto Jon Hassell se pronuncia como o elemento externo que procura a sua posição neste mundo fervilhante de ritmo. 

A sequência do álbum tem início com a excitante cadência de "Voodoo Wind", motivada pela inventividade de Naná Vasconcelos e pela participação vocal de Clarice Taylor. "Cobra Moon" denuncia-se por uma ambiência misteriosa que balanceia entre o baixo de Miroslav Vitous e as várias percussões de Naná Vasconcelos, Badal Roy e Dom Um Romão. Em "Sundown Dance" sente-se a subtileza das guitarras de Cláudio Ferreira e Ricardo Silveira para uma peça mais harmoniosa em que a base rítmica é sustentada por palmas. A suite "Earthquake Island" é composta por três secções que sugerem uma travessia envolta por várias sonoridades. "Tribal Secret" é o único momento deste álbum em que Jon Hassell não utiliza o seu trompete, limitando-se aos seus dois sintetizadores de onde retira demorados acordes, com Naná Vasconcelos e Badal Roy a sustentar a peça. "Baliá" torna-se num dos momentos de maior realce pela sua disposição estrutural com presença de praticamente todos os elementos, exceto a voz de Clarice Taylor que aqui é substituída pelo timbre grave de Naná Vasconcelos. "Adiós, Saturn" é uma curta despedida, com Clarice Taylor.     

Não é fácil sobreviver a esta demanda de Jon Hassell. Uma audição aberta, sensitiva e interessada será a melhor forma de absorver o exotismo do seu conteúdo.

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