quarta-feira, 18 de junho de 2025

La Pop End Rock - UHF - CD02


1 É Malhar! É Malhar! (António M. Ribeiro)   0:57
2 Dei-lhe Carros E Prendas (António M. Ribeiro)   3:57
3 End Rock? (António M. Ribeiro)   1:09
4 Raiva End Roll (António M. Ribeiro)   2:19
5 Fã Número Um (Sou Eu E + Nenhum) (António M. Ribeiro)   2:14
6 Os Putos Vieram Divertir-se (António M. Ribeiro)   3:29
7 O Conselho Da Fada (António M. Ribeiro)   2:37
8 Em Tribunal (IV) (António M. Ribeiro)   1:03
9 Tu Mordes E Eu Deixo (António M. Ribeiro)   2:40
10 Por Uma Guitarra Eléctrica (António M. Ribeiro)   1:23
11 Eu Escolhi A Estrada Certa (António M. Ribeiro)   4:55
12 Aqui Vamos Nós/Sem Disfarce (António M. Ribeiro)   5:04
13 Memórias De Hotel (António M. Ribeiro)   4:58
14 Por Três Minutos Na Vida (António M. Ribeiro)   4:20
15 O Fim. The End? (António M. Ribeiro)   0:32
16 La Pop End Rock (António M. Ribeiro)   3:17
17 Ai Eme Ra (António M. Ribeiro)   1:24
18 O D.J. É Um Rei (António M. Ribeiro)   3:40

Ao segundo cd desta dupla edição, a história ficcionada com base no percurso dos UHF mantém, naturalmente, os moldes temáticos da 'primeira parte', adicionando simplesmente alguns detalhes de composição. Os interlúdios, ao jeito de um coro Grego, continuam a cumprir com o seu papel, surgem logo de início em "É Malhar! É Malhar" e depois "Em Tribunal (IV), a estrutura musical da predição da fada regressa como "Conselho Da Fada", e percebe-se agora que a peça instrumental "Por Uma Guitarra Elétrica" corresponde a um dos breves trechos que integram a intro de abertura para esta obra conceptual.

O preço da fama é elevado e o artista paga-o de diversas formas. "Dei-lhe Carros E Prendas" é um dos momentos musicais mais bem conseguidos do registo, com uma canção concisa e esclarecedora que evoca a aspereza das dissidências conjugais. Rock moderado e sincero, que se mostra mais decidido em "Raiva End Roll" e mais polido em "Eu Escolhi A Estrada Certa", seguindo destemidamente para a nobre excelência de "Aqui Vamos Nós/Sem Disfarce" e para a distinta abordagem de um novo capítulo musical com a inserção de elementos eletrónicos na exuberância de "Memórias De Hotel". O rock imberbe e orelhudo de "Os Putos Vieram Divertir-se" já ficou para trás.

O alinhamento do cd é também marcado pela aparição de alguns apontamentos acústicos, onde sobressai "Fã Número Um (Sou Eu E Mais Nenhum)" que António Manuel Ribeiro interpreta a solo. "End Rock" manifesta-se na brevidade de um instrumental acústico que prepara a passagem para outras atmosferas, enquanto a graciosa intimidade lírica de "Tu Mordes E Eu Deixo" e "Por Três Minutos Na Vida" é suportada por dois bonitos arranjos - a guitarra acústica em "Tu Mordes ... ", a que se junta o piano em "Por Três Minutos ... ". O final é anunciado com outro breve trecho instrumental acústico, "O Fim, The End".

Mas ainda há direto a encore e, como não podia deixar de ser, o rock ainda predomina para "La Pop End Rock", a faixa que dá título a esta obra. A designação "Ai Eme Ra" é relevante para o percurso dos UHF, que em 1997 rescindiram contrato com a BMG/Ariola e criaram a sua própria gestora de atividades, usando esta mesma denominação. "Ai Eme Era" enquadra-se na história da banda como um ponto de viragem e manifesta-se como uma faixa enigmática em rotação invertida, que o ouvido mais atento deverá identificar como o final invertido de "Aqui Vamos Nós/Sem Disfarce". No fim, como já passou a ser habitual, a festa pertence mesmo a "O D.J. É Um Rei". 

Para além de comemorar os 25 anos de atividade artística dos UHF, o registo marca o início do percurso da banda com o núcleo mais duradouro da sua existência. O guitarrista António Côrte-Real - filho de António Manuel Ribeiro - e o baterista Ivan Cristiano, são ainda elementos da formação, enquanto que o baixista Fernando Rodrigues acompanhou a formação por cerca de vinte anos, entre o baixo e as teclas, mas já não faz parte da mesma. Fundamental também a participação dos músicos convidados no resultado final desta obra: Jorge Manuel Costa, que já tinha colaborado no álbum anterior, funciona aqui como um 'quinto elemento' da banda para tudo o que é teclas; Orlanda Guilande distingue-se com a nobreza de uma enorme presença vocal; Alexandre Manaia aparece bem distinto, no orgão, em "Um Anjo No Meu Quarto", "Dei-lhe Carros E Prendas" e "Memórias De Hotel"; Fernando Abrantes faz o solo de piano em "Eu Escolhi A Estrada Certa"; Mário Lopes acompanha ao piano em "Eu Escolhi A Estrada Certa" e está no orgão em "La Pop End Rock"; Nuno Flores emprega a arte dos instrumentos de arco em "Sem Disfarce".

É um registo diferente dos trâmites habituais da banda, pensado para ser representado num palco com coreografia e intérpretes, o que nunca chegou a acontecer.



domingo, 1 de junho de 2025

La Pop End Rock - UHF - CD01


1 Nascer/Os Primeiros Acordes (António M. Ribeiro)   3:51
   a) Nascer
   b) Os Primeiros Acordes
   c) Comprei Uma Guitarra Eléctrica
   d) Uma Hora Fantástica (Na Garagem)
2 Sem Disfarce (António M. Ribeiro)   2:07
3 O Presságio Da Fada (António M. Ribeiro)   2:06
4 O Primeiro Concerto (António M. Ribeiro/F. Delaere)   3:54
5 E Ele Escreveu Genial (I) (António M. Ribeiro)   0:55
6 Um Anjo No Meu Quarto (António M. Ribeiro)   4:57
7 Fora Da Garagem, Já! (A. Côrte-Real)   1:22
8 Quero Um Lugar No Top Inglês (António M. Ribeiro)   1:16
9 O Velho Pastel De Belém Rosna (António M. Ribeiro)   1:22
10 Uma História Com (A)Gente (António M. Ribeiro)   3:38
11 A Legenda E A Lenda (II) (António M. Ribeiro)   1:07
12 Era Nani (E Era Minha) (António M. Ribeiro)   3:42
13 Rumo Ao Céu (Não Dói Nada) (António M. Ribeiro)   4:52
14 Do Céu Ao Inferno (António M. Ribeiro)   6:31
15 Joey Ramone (Tributo) (António M. Ribeiro)   3:16
16 A Noite Inteira (António M. Ribeiro)   1:12
17 A Lágrima Caiu (António M. Ribeiro)   4:46

Para todos os efeitos, 'La Pop End Rock' é uma obra conceptual, de caráter autobiográfico, em que António Manuel Ribeiro, um eterno resistente, desde 1978, do denominado rock Português, celebra 25 anos de atividade artística inspirando-se no percurso dos UHF onde ainda permanece como único elemento da formação original. Esta é uma história feita de episódios - e momentos - romanceados que também podiam pertencer ao corolário de muitos outros músicos.

O conteúdo do registo desenvolve-se em dois cd, sob os contornos de uma auspiciosa "opereta rock" que progride ao sabor do sonho, da aventura, da ousadia e ambição, com uma estrutura ponderada e bem equilibrada entre o desenrolar da história e a consequente sequência musical. A obra começou a ganhar raízes no Outono de 2000 e foi editada em 2003

A história começa a desenhar-se na subtileza etérea de uma intro com sabor progressivo, na forma de uma peça instrumental que se reparte por quatro pequenos trechos que representam o princípio do artista; "Nascer/Os Primeiros Acordes". Ainda com cautela, é ao som da doce intimidade do piano e da nobre solenidade das cordas de arco que a timidez destes quatro putos se começa a desvanecer "Sem Disfarce". A predição divina surge determinante e concisa em "Presságio Da Fada" incitando à aventura e o rock acaba mesmo por se revelar com "O Primeiro Concerto".  

Lançadas as bases, logo chegam as primeiras notícias, as críticas, a divulgação e os inevitáveis mexericos. O alinhamento do primeiro cd inclui dois interlúdios que funcionam ao jeito de um coro grego que apregoa as mediáticas "E Ele Escreveu Genial (I)" e "A Legenda E A Lenda (II)", e ainda ri do desdém de "O Velho Pastel De Belém Rosna" e exprime a sua terna devoção para ficar "A Noite Inteira". Pode ainda incluir-se neste peculiar lote de apontamentos musicais a imponência instrumental de "Fora Da Garagem, Já!", o sarcasmo de "Quero Um Lugar No Top Inglês" e "Uma História Com (A)Gente", divertida manifestação de um momento típico que muitos músicos conhecem de ginjeira.

UHF é rock e, apesar deste registo ser uma obra mais detalhada, a adrenalina sobressai nos seus momento adequados. Revelou-se em "O Primeiro Concerto", soa mais convencional e orelhuda com "Era Nani (E Era Minha)" e reaparece bem determinada para um tributo a Joey Ramone, o emblemático vocalista dos Ramones que faleceu em 2001, ainda os UHF estavam a gravar este álbum. A relevância deste tributo reaviva a memória de um momento inesquecível para os UHF quando foram a banda de abertura para as três noites de concertos que os Ramones fizeram em Portugal - Porto e Lisboa - em Setembro de 1980. 

A resenha do primeiro cd conclui-se com um breve destaque para as músicas mais distintas do alinhamento. Conscientemente ou não, é neste parágrafo que se encontram as músicas que evocam dois grandes mitos do rock'n roll - o sexo e as drogas; "Um Anjo No Meu Quarto" é uma peça de rock comedido que permite absorver a essência do rescaldo do artista num quarto de hotel sob a forma de uma nova mulher, o fascínio da veneração, "Rumo Ao Céu (Não Dói Nada)" expõe a oportunidade de cair na tentação estupefaciente, elevada pela crescente amplidão musical que conduz à refletida propagação de um momento de devaneio - à la Jim Morrison - bem sustentado pelo controlo rítmico que banda impõe religiosamente. A primeira parte da obra conclui com a competente ligeireza pop de "A Lágrima Caiu".

O próximo ato prossegue de seguida com o segundo cd ...