quinta-feira, 25 de setembro de 2025

Vinyl - THE GIFT - LP02


 Lado A
1 Changes (N. Gonçalves/S. Tavares)   4:20
2 Ok! Do You Want Something Simple? (N. Gonçalves)   4:24
3 Truth (N. Gonçalves/S. Tavares)   4:50
4 Concret (N. Gonçalves)   4:41
 Lado B
1 Weekend (N. Gonçalves/S. Tavares)   6:37
2 First Chapter (N. Gonçalves/S. Tavares)   4:53
3 How The End ... Always End (N. Gonçalves/S. Tavares)    4:23 

'Vinyl' é, naturalmente, uma consequência direta de 'Digital Atmosphere'. O período de tempo que separa as duas gravações é de aproximadamente um ano e meio, durante o qual, perante a falta de interesse das editoras, os The Gift tiveram a perceção de que era urgente gravar um trabalho mais a sério, com recurso a equipamento mais profissional. A principal diferença entre estes dois registos reside precisamente neste ponto, o estúdio.

Em estúdio, a falta de experiência dos The Gift e a urgência em despachar as gravações para não esticar o orçamento, foi a própria banda quem suportou os custos de aluguer do estúdio, terá precipitado a qualidade sonora do álbum mas, ainda assim, 'Vinyl' é um registo bem conseguido e eficaz que, curiosamente, até soa melhor atualmente. 'Vinyl' marca não só uma fase decisiva para os The Gift como também marca uma nova etapa para a música feita em Portugal

Consequência evidente da proximidade entre os dois registos, é difícil não sentir ainda o espectro do aprazível 'Digital Atmosphere' a pairar sobre o mais amadurecido 'Vinyl'. Duas das músicas de 'Digital Atmosphere' foram recuperadas, e renovadas, para esta edição; "Dream With Someone Else's Dream", já mencionada no primeiro disco desta dupla edição em vinil, e neste segundo disco está "Changes", agora revestida com uma tímida, mas convicente, abordagem drum 'n bass. Encontram-se também por aqui as músicas "Truth" e "First Chapter" que a banda já incluía no alinhamento ao vivo de 'Digital Atmosphere'; a que ainda se podem juntar "Time" e "Real (Get Me For)", ambas já referidas no primeiro disco desta edição.

"Truth" tem caráter épico. Uma música muito expressiva em que a voz de Sónia Tavares enche todo o espaço em redor, suportada pelo consciente dramatismo das cordas e dos sopros. "First Chapter" começa por soar enigmática, desenvolvendo-se depois para uma sedutora estrutura trip hop, interrompida, momentaneamente, por compassos de valsa, e contém uma curiosa secção lírica em que Sónia Tavares faz referência as todas as músicas incluídas no alinhamento do álbum. 

Apesar de Nuno Gonçalves assumir todo o trabalho de composição dos The Gift, é em "Concret" que ele tem o seu momento. Uma faixa muito pessoal, que marca a diferença pelo acentuar da sua estética eletrónica e por ser a única música em que Nuno canta. A descontração de "Weekend" marca outro ponto interessante em 'Vinyl' por ser uma faixa totalmente orgânica, não há máquinas envolvidas. É usada uma bateria acústica, tocada por Diogo Santos, e é também a faixa mais longa da edição. Confirmando que no final tudo acaba, sempre ... no fim, "How The End ... Always End" encerra na intimidade dualidade de uma peça piano/voz. Segundo Nuno Gonçalves, esta é uma música especial para ser tocada apenas no final de momentos especiais.

E depois, à parte de todo o álbum, uma referência especial para "Ok! Do You Want Something Simple?", a música que despertou, realmente, toda a atenção na banda de Alcobaça. Composição desenvolvida numa fase já tardia da conceção do disco mas ainda a tempo de fazer mossa e abrir o caminho para que os The Gift se afirmassem definitivamente no complexo panorama da música feita em Portugal. 'Vinyl' conclui-se como uma obra de afirmação urgente que o tempo justificou. 

domingo, 14 de setembro de 2025

Vinyl - THE GIFT - LP01


 Lado A
1 Nowadays (N. Gonçalves/S. Tavares)   3:54
2 My Lovely Mirror (N. Gonçalves)   4:32
3 Time (N. Gonçalves/S. Tavares)   4:08
4 Real (Get Me For) (N. Gonçalves/S. Tavares)   5:58
 Lado B 
1 Love Boat (N. Gonçalves/S. Tavares)   3:19
2 Dream With Someone Else's Dream (N. Gonçalves/S. Tavares)   5:13
3 Ouvir (N. Gonçalves/S. Tavares)   4:25
4 La Folie (N. Gonçalves)   3:09

Em 1997, os Alcobacenses The Gift esmeraram-se na preparação da sua primeira prenda em formato físico. Foi-lhe atribuído o título de 'Digital Atmosphere' e tinha o intuito de servir como uma simpática amostra do seu trabalho. Constava de um CD, gravado em casa, composto por seis músicas originais e algum conteúdo multimédia, que inclui um vídeo para "Dream With Someone Else's Dream". Era uma apresentação original, honesta e determinada, algo formal, que pretendia mostrar a existência dos The Gift e divulgar a sua enorme vontade em fazer música. No entanto, nenhuma editora se interessou pelo seu conteúdo, apontando muitas vezes ao facto de a banda se expressar em Inglês como sendo um contratempo editorial ... 

Mas um dos grandes trunfos dos The Gift assenta na firme crença que o grupo nutre pelo valor da sua música. Acreditaram sempre que a sua música era especial e foi essa mesma determinação que serviu de impulso e motivação para prosseguirem na demanda em mostrar o seu trabalho; e era na estrada que os The Gift recebiam genuínos louvores de reconhecimento pela sua música.

Editado em 1998, 'Vinyl' corresponde, oficialmente, ao primeiro álbum dos The Gift. Apesar de tão sugestivo título, o registo foi apenas editado em formato de CD - em edição de autor - sendo alvo de uma reedição em formato de duplo vinil em 2008, correspondente à edição aqui exposta. Os The Gift iam crescendo na estrada e o álbum, de forma natural, ia também ganhando o seu espaço. Tal como 'Digital Atmosphere', 'Vinyl' foi gravado em casa mas sentia-se então que estava na altura de ir mais além e era necessário levar o álbum para estúdio para ser montado e concluído sob a supervisão de um produtor exterior à banda. Joe Fossard foi o nome escolhido para assumir o cargo.

Dependendo, unicamente, deles próprios, os The Gift começaram por procurar inspiração na contemporaneidade de bandas da sua afeição, de forma a criar um som moderno e atual. Atraídos pelas cores, aromas, ambiente e ritmo, do trip hop, downtempodrum 'n bass, fundiram habilmente os estilos correntes e maquinais com a orgânica classicista das cordas e dos instrumentos de sopro, e assim criaram a singular e inebriante estética que 'Vinyl' irradia. Não é por isso de estranhar que ao longo do registo surjam apontamentos que remetam para nomes como, Portishead, Smoke City, Björk ou Michael Nyman. 

No primeiro disco desta dupla edição em ... vinil, "Nowadays" assinala um arranque destemido e ousado, já revelador da fusão maquinal/orgânica que carateriza o registo. Segue-se a íntima cumplicidade de "My Lovely Mirror" que cola com a ingénua graciosidade de "Time", faixa que ainda remete ao cândido ambiente de 'Digital Atmosphere'. O lado A conclui de forma curiosa com o cativante aroma latino de "Real (Get Me For)", fortemente estimulado pela vivacidade do arranjo dos instrumentos de sopro, com assinatura do saxofonista Mário Marques. 

O lado B inicia com a dinâmica neo-classicista de "Love Boat", que acrescenta uma nova estética ao álbum, e passa logo para "Dream With Someone Else's Dream", um dos diamantes em bruto de 'Digital Atmosphere', devidamente polido para esta edição. "Ouvir" assinala a única música do registo cantada em Português e surge sob o embalo de uma leve brisa jazz mas conclui-se na dissonância das cordas. A última peça do primeiro disco é "La Folie", que na edição em CD está estrategicamente posicionada a meio do alinhamento. Um pequeno instrumental, de caráter minimalista, com função de servir de separador e de desanuviar, ligeiramente, a sequência do álbum. O nome La Folie seria depois adotado (oficialmente) pela banda para a sua denominação empresarial.