sexta-feira, 31 de janeiro de 2025

Überjam - THE JOHN SCOFIELD BAND


1 Acidhead (Scofield/Bortnick/Murphy)   6:33
2 Ideofunk (Scofield)   4:44
3 Jungle Fiction (Scofield)   5:39
4 I Brake 4 Monster Booty (Scofield/Bortnick/Murphy/Deitch)   4:02
5 Animal Farm (Scofield)   5:36
6 Offspring (Scofield)   6:27
7 Tomorrow Land (Bortnick)   3:58
8 Überjam (Scofield/Bortnick/Murphy/Browden/Rodgers/Hart)   6:53
9 Polo Towers (Scofield)   5:29
10 Snap Crackle Pop (Scofield)   6:02
11 Lucky For Her (Scofield/Bortnick/Murphy)   3:12

Em 'Überjam', editado em 2002, o guitarrista norte-americano John Scofield e a sua jovem banda propõem uma viagem musical eclética que se desenvolve através de um diálogo transcendental entre a espiritualidade de elementos psicadélicos, a destreza da habilidade rítmica do funk e uma definida ideologia de fusão com novos elementos, como o drum'n' bass, o hip-hop e o sampler, em que o jazz serve como um ponto de união determinante, capaz de propiciar a fertilidade de um terreno imensurável para o improviso e para o desenvolvimento de uma linguagem universal, expansiva e moderna, que flutua descontraidamente na espontaneidade de uma pujante  jam session

Trata-se de um registo entusiasmante, muito vívido, impulsionado pelo desejo de criar música nova, abrangendo uma multiplicidade de elementos técnicos e artísticos contemporâneos, numa sintonia perfeita entre o legado histórico de John Scofield e os atributos de uma formação jovem que já o vinha acompanhando em digressão há dois anos. Foi durante esse período de tempo, na estrada, que Scofield se apercebeu do enorme potencial de Avi Bortnick como guitarrista ritmo e um nato manipulador de samples, Jesse Murphy como um baixista com uma grande sensibilidade artística e Adam Deitch como um exímio baterista funk dotado de uma exponente sensibilidade para o jazz. O conceito desta 'Überjam' começou então a ganhar forma através da interação desta formação como banda de apoio de John Scofield ao vivo. O teclista John Medeski e o saxofonista/flautista Karl Denson, viriam a juntar-se depois às gravações em estúdio para participar com algumas colaborações no registo.

O psdicadelismo de "Acidhead" lança o mote com o seu exotismo oriental passando logo de seguida para o sugestivo riff, com algo de linguagem da animação BD, de "Ideofunk". O ritmo não se perde e o perfume drum 'n' bass de "Jungle Fiction" mantém a direção certa do registo e até encaixa bem no fulgor hip-hop de "I Brake 4 Monster Booty", com direito a um breve rap por parte do baterista Adam Deitch. O jazz mostra-se ligeiramente prudente em "Animal Farm" e depois o registo entra numa fase momentaneamente 'pop' com a 'orelhuda' guitarra acústica de "Offspring", logo seguida de uma sugestiva tranquilidade rural em "Tomorrow Land". Sente-se o retorno da pujante essência do registo na base da faixa homónima, que inclui uma curiosa referência a "Blue Moon", e daqui segue-se para o denunciado fraseado à la Weather Report de "Polo Towers", para o show de bateria de Adam Deitch em "Snap Crackle Pop" até o registo concluir com um final moderado, servido pela comedida vertente experimental de "Lucky For Her".

Em cima de tudo isto, John Scofield improvisa ao seu melhor estilo sempre munido da sua guitarra elétrica Ibanez e muitos efeitos, e ainda deixa uma dissimulada referência gráfica, na capa do álbum, a duas individualidades por quem nutre um grande carinho e uma enorme admiração, Susan Scofield, a sua esposa, e Jimi Hendrix.

sábado, 18 de janeiro de 2025

Crossroads - ERIC MARIENTHAL


1 The Sun Was In My Eyes (Patitucci/Marienthal)   5:50
2 Spoons (Ferrante)   6:42
3 Yellow Roses (Ferrante)   4:01
4 Upside Down (Patitucci/Marienthal)   6:39
5 Schmooze (Gambale)   4:28
6 Cross Country (Patitucci)   8:03
7 Hide & Seek (Patitucci)   5:01
8 Two Bits (Ferrante)   5:40
9 On The Eve Of Tomorrow (Corea)   5:51
10 Rain On The Roof (Patitucci)   6:03

Jazz da costa oeste norte-americana, com selo da prestigiada GRP, categorizado por uma sonoridade moderna, relativamente próxima do que se poderá considerar "comercial" dentro do género - estilo acessível e também denominado, bastas vezes, como smooth jazz. Normalmente, executado por músicos académicos que se prestam a execuções brilhantes com uma linguagem ordenada e muito bem produzida, executada dentro dos padrões lineares da música pop mas sempre focada no expressivo teor da sua inerente qualidade musical.   

'Crossroads' corresponde ao terceiro registo a solo do saxofonista Eric Marienthal, elemento integrante, à data, da Elektric Band de Chick Corea cuja reputada formação participa, à vez, na execução musical desta obra. Para além de Eric Marienthal, o elemento mais preponderante do álbum é o baixista John Patitucci que para além de assumir o trabalho de produção do registo com Marienthal ainda assina algumas das músicas. Os dois músicos são também os únicos elementos permanentes ao longo de todo o registo. Igual destaque para a exponencial prestação do mestre Chick Corea ao piano em três momentos chave do registo, em que o jazz se sente mais vivo através das músicas "Upside Down", "Cross Country" e "On The Eve Of Tomorrow". De entre os elementos da Elektric Band, o baterista Dave Weckl é quem acaba por ter uma participação mais discreta cingindo-se à moderada ambiência de "Schmooze", música que tem a assinatura do guitarrista Frank Gambale, o único elemento da Elektric Band que não participa neste registo. Aliás, não há lugar para guitarras neste álbum.

Mas nem só os elementos da Elektric Band são fundamentais para o admirável resultado final desta obra. O pianista Russell Ferrante, membro fundador dos Yellowjackets, banda também associada ao catálogo da GRP, imprime aqui muito do seu estilo, aromatizando naturalmente o registo com alguma da essência que carateriza o teor da sonoridade dos Yellowjackets, bem percetível em "Spoons" e "Yellow Roses", duas das composições que Russel Ferrante assina para este álbum. Junta-se ainda uma terceira composição de sua autoria, "Two Bits", exposta na tranquilidade de uma peça acústica que Marienthal rasga com o sax-soprano.

A registar ainda a forte importância de John Patitucci em algumas composições, particularmente interessante na vitalidade de "The Sun Way In My Eyes" e nas já mencionadas, "Upside Down" e "Cross Country", e as fantásticas prestações rítmicas de um irrepreensível Vinnie Colaiuta e de uma segura e consciente Terri Lyne Carrigton na bateria. Dave Witham e John Beasley, ambos nos teclados, têm prestações menos evidenciadas mas bem presentes, a que se junta ainda o nome de Alex Acuña, na percussão, para complementar as participações neste registo. 

Álbum efetivamente pontuado pela referência de nomes sonantes e capazes de sustentar toda a sua relevância com uma prestação exímia, resultante de sessões de gravação ao vivo em estúdio de forma a manter o contato entre os músicos e obter uma interação musical entusiástica e espontânea. 'Crossroads' comprova o fervor de uma atmosfera vibrante que resulta da conexão destes músicos com uma linguagem universal que os une sob a forma de .. música.