domingo, 21 de julho de 2024

Dreamtime - THE CULT


 Lado A
1 Horse Nation (Astbury/Duffy)   3:39
2 Spiritwalker (Astbury/Duffy)   3:36
3 83rd Dream (Astbury/Duffy)   3:36
4 Butterflies (Astbury/Duffy)   2:57
5 Go West (Astbury/Duffy)   3:55
 Lado B
1 Gimmick (Astbury/Duffy)   3:32
2 A Flower In The Desert (Astbury/Jepson/Burroughs/Nawaz)   3:40
3 Dreamtime (Astbury/Duffy)   2:45
4 Rider In The Snow (Astbury/Duffy)   3:09
5 Bad Medicine Waltz (Astbury/Duffy)   5:52

Numa primeira fase, foram The Southern Death Cult. Depois foram Death Cult. À terceira aparição, seriam definitivamente The Cult. O elo de ligação entre as três bandas é o carismático e excêntrico vocalista Ian Astbury, influenciado, desde muito cedo, pela cultura do índio (nativo) norte-americano, mas a assinatura como The Cult apenas seria definida com a entrada do guitarrista Bill Duffy, ainda durante a fase Death Cult, e o percurso da banda passaria sempre pela ativa colaboração desta parelha.

Editado em 1984, 'Dreamtime' marca oficialmente o arranque dos The Cult, ainda em solo britânico, sob a égide das novas cores do post-punk. O registo é normalmente associado com o emergir do rock gótico, devido, em grande parte, ao período inicial da banda como Southern Death Cult, mas a sonoridade do álbum de estreia apresenta-se em formato de rock convencional, algo imberbe mas já bem delineado pela clareza das límpidas linhas de guitarra de Bill Duffy, adornadas por uma distinta singularidade dos efeitos de chorus e delay, e apoiado pela coesão da secção rítmica em que pontuam o baixista Jamie Stewart e o baterista Nigel Preston. Ian Astbury é ainda um jovem vocalista, com um registo vocal nítido e controlado, a definir o seu estilo de forma eficaz e convicente. 

O registo evidencia ainda ecos da fase anterior, como Death Cult, com novas leituras para "Horse Nation", "A Flower In The Desert", "Butterflies" e "Rider In The Snow", intitulada, nessa fase, como "Too Young". Num outro sentido, há também uma antecipação ao próximo álbum, com "Bad Medicine Waltz" a anunciar o espírito de "Brother Wolf, Sister Moon".

Pormenor interessante acerca da edição aqui apresentada; trata-se da única edição Portuguesa para este álbum, lançada em 1985 pela editora independente Dansa do Som, criada especificamente para divulgação e promoção de bandas finalistas do Concurso de Música Moderna do Rock Rendez Vous, em Lisboa. A editora experimentou lançar-se também na edição de álbuns de artistas internacionais independentes, que na altura dificilmente entrariam no mercado discográfico nacional, mas só o fez com duas edições - 'Promise' dos Gene Loves Jezebel e este 'Dreamtime' dos The Cult, ambos relevantes como álbuns de estreia para ambas as bandas. De resto, a Dansa do som manteve o foco no seu objetivo inicial continuando discretamente ativa até ao final do concurso em meados dos anos 1990.

domingo, 7 de julho de 2024

Naked - TALKING HEADS

 

Lado A
1 Blind (D. Byrne/C. Frantz/J. Harrison/T. Weymouth)   4:58
2 Mr. Jones (D. Byrne/C. Frantz/J. Harrison/T. Weymouth)   4:18
3 Totally Nude (D. Byrne/C. Frantz/J. Harrison/T. Weymouth)   4:03
4 Ruby Dear (D. Byrne/C. Frantz/J. Harrison/T. Weymouth)   3:48
5 (Nothing But) Flowers (D. Byrne/C. Frantz/J. Harrison/T. Weymouth)   5:14
 Lado B 
1 The Democratic Circus (D. Byrne/C. Frantz/J. Harrison/T. Weymouth)   5:01
2 The Facts Of Life (D. Byrne/C. Frantz/J. Harrison/T. Weymouth)   6:26
3 Mommy Daddy You And I (D. Byrne/C. Frantz/J. Harrison/T. Weymouth)   3:58
4 Big Daddy (D. Byrne/C. Frantz/J. Harrison/T. Weymouth)   4:01
5 Cool Water (D. Byrne/C. Frantz/J. Harrison/T. Weymouth)   5:08

Capítulo final para os norte-americanos Talking Heads, em 1988, com a banda já totalmente imersa no doce e aromático exotismo dos tons coloridos da world music. O registo começa por abordar o contagiante e irresistível balanço dos calorosos ritmos africanos e latinos, acabando por fundir-se depois com a característica textura de instrumentos norte-americanos como a pedal steel guitar, o dobro e a harmónica de blues. Em consequência desta combinação de géneros, 'Naked' é um registo de leveza tropical que acaba por se "perder" nas densas poeiras que assolam as bermas das estradas secundárias norte-americanas ... mas foi gravado em França ...

A gravação deste álbum reuniu imensos colaboradores para darem vida, cor, alegria e ritmo às dez composições originais dos Talking Heads. A música fervilha numa fusão bem equilibrada e orgânica, a que não será alheia a notória presença de três naipes de sopros - em "Blind, "Mr. Jones" e "Big Daddy" - muitos percussionistas e uma presença bem vincada do guitarrista britânico Johnny Marr (ex-Smiths). As participações repartem-se ao longo do disco enquanto os estilos se combinam num resultado escaldante e genial ao nível dos melhores trabalhos da banda.

"Naked" não foi planeado como uma obra de despedida, o anúncio oficial do fim da banda apenas seria feito em 1991, e apesar de todos os elementos terem os seus próprios trabalhos em paralelo com o percurso dos Talking Heads, percebe-se a sua evolvência como um todo na estrutura final do álbum. A frescura rítmica que impulsiona o registo logo de início, apenas interrompida por um momento mais rock 'n' roll, sem o chegar a ser realmente, com "Ruby Dear", move-se depois, no lado B, para uma paisagem mais norte-americana, carregada de um semblante mais tenso e sério.

Com exceção para a já referida "Ruby Dear", o lado A detém uma toada bem animada onde pontua o single "(Nothing But) Flowers", uma interessante alusão a um mundo tomado pelas flores, em que estas preenchem todos os espaços criados pelo progresso humano. A música é dominada pela maravilhosa combinação das guitarras elétricas de David Byrne, Johnny Marr e Yves N'Djock. A dinâmica do lado B sofre algumas alterações estéticas e apresenta-se com uma abordagem de temperamento mais fechado mas o registo permanece impecável e atento. O ritmo automatizado de "The Facts Of Life" contrasta com a naturalidade rítmica que impulsiona a generalidade de todo o alinhamento mas impõem-se num dos momentos chave do registo.  Menção especial para "Cool Water", a última faixa do registo, que agora parece ter sido uma boa ponte para a sonoridade de algumas bandas bem significativas nos anos 1990 (nomeadamente a rapaziada de Oxfordshire, Inglaterra, que até sacou o nome da sua banda a uma música do álbum anterior a este.) 

Para fãs mais acérrimos e defensores do período mais criativo dos Talking Heads, este não seria o trabalho que se podia esperar para encerramento de carreira de uma banda tão distinta e inovadora. 'Naked' pode não ser tão inventivo e vanguardista como alguns dos trabalhos mais relevantes da banda mas é certamente um dos mais musicais e refrescantes.